“- A noite avançou mais rapidamente do que pude perceber, no entanto os dois pequenos estão estáveis, embora ainda não tenham recobrado suas consciências… Pelo menos é o que o pequeno cão quer que eu pense, afinal, percebi seus batimentos aumentarem desde o momento em que despertou… Incrivelmente ele está fingindo ainda estar adormecido para creio, fugir de meu alcance em momento oportuno…” Era Lanthys remoendo palavras em pensamento que, recostado em um dos pilares, observava a chuva por cima de caixas que ali jaziam em deterioração avançada, embora fossem excelentes barreiras contra o vento, assim como contra a torrente de chuva, de forma satisfatória, tanto a ele quanto aos dois feridos… Lanthys sabia que o pequeno cão precisava de mais alguns minutos de repouso, então ainda manteria claro ao canino, que ele o observava, para que assim se o detivesse ali por mais alguns instantes…
Olhando para fora da fábrica, Lanthys enquanto tentava fazer com que seu “paciente” recobrasse mais as energias, se põe a divagar mentalmente, enquanto observava a tudo, com certa admiração, apesar da tristeza que o local exalava: “- O ar vibra com eletricidade... O céu se contorce em espasmos de luz branca e azul, iluminando por instantes a carcaça corroída da cidade. O concreto desgastado e as estruturas mutiladas se erguem como esqueletos de um possível passado mais promissor de outrora… Entre essas ruínas, não menos afetada está a fábrica onde estamos agora sentados, se desfazendo lentamente, assim como parece estar também, a esperança deste povo, tal qual a ossatura de ferro que range sob o peso do tempo e da umidade crescente… Isso é cruel…”
A chuva caía em golpes frios e incessantes, deslizando por todas as estruturas, como se criasse uma camada sintética acima de tudo, tamanha era a forte cadência da mesma, e da mesma forma, incrivelmente constante… A presença da umidade era perceptível também através dos sensores que o androide possuía, mas ainda assim ele era capaz de descrevê-las como se as sentisse sobre uma pele que não é biológica: “- Pequenas pressões rítmicas, como dedos invisíveis tamborilando sobre minha superfície. É curioso como a chuva interage com a matéria orgânica e inorgânica de maneiras distintas. Ela refresca e revigora a pele dos seres biológicos, mas corrói o metal exposto, assim como diversos outros materiais que encontrar… Sua insistência erosiva é comparável ao tempo em movimento… Lento, inevitável, implacável e imparcial...”
Os ventos então sofrem uma elevação, uivam entre as estruturas, encontrando passagem por fendas e aberturas. O som gerado assemelhava-se a lamentos distantes, ecos de um passado esquecido talvez, de uma cidade que outrora pode ter resplandecido em promessas e sonhos, mas agora, ao que tudo indicava, jazia quase como um cemitério de circuitos desconectados e esperanças dissipadas. Lanthys então pondera mentalmente uma vez mais: “- Ainda assim, em meio à decadência… Torres de vidro e aço perfuravam os céus ao longe, mantendo um brilho frio e impessoal, um contraste gritante de opulência e miséria coexistindo lado a lado, como dois códigos de programas incompatíveis, forçados a rodar no mesmo sistema…”
O androide suspira, desejava um mundo em paz, mas parece que seu carma, era estar sempre onde a paz não existia… Lanthys então considera que não era mais adequado forçar o pequeno ser a ficar onde se sentia acuado, ele fecha seus olhos e diminui suas atividades, dando a impressão de que havia dormido, e lentamente o cãozinho abre seu único olho triste, ergue-se, recua devagar e então vira-se com calma para não alertar seu suposto “sequestrador”... O cão dá pequenos passos em direção ao fundo da fábrica, se detém por alguns segundos e vira a cabeça observando novamente o androide, que ainda continuava a “dormir”, o analisa por alguns instantes, então vira-se de novo, baixa a cabeça, e segue, desaparecendo, no escuro dos amontoados do local, sem mais qualquer atitude diferente…
Lanthys percebendo que o pequeno se foi, abre os olhos, e sintetiza em si mais uma responsabilidade… Ele precisa corrigir aquele mundo, para que até mesmo o pequeno cão, tenha direito à uma vida sem medo e sem desesperança… O menino porco continuava a repousar e o androide acreditava que ele ficaria assim por mais algumas horas, então ficar ali e esperar, era uma forma adicional de manter o pequeno em segurança, e ainda evitar mais combates em plena noite, ferir mais inocentes era inadmissível…
A tempestade persiste por mais algumas horas, seus trovões ecoam como os passos de uma entidade gigantesca e colérica caminhando sobre o mundo, ainda assim, esta é uma fúria sem propósito destrutivo, apenas um espetáculo efêmero de energia bruta. Lanthys observava a tudo e novamente ponderava: “- Seria todo esse espetáculo, apenas uma lição? Nem toda violência é sinônimo de ruína, assim como nem toda cidade decadente é desprovida de existência e persistência?” Era um bom pensamento, cogitava Lanthys, tentando justamente contrapor às decisões que adotava, diante das que seus ditos adversários tomavam, uma forma de tentar sempre encontrar a lógica e a coesão em suas determinações e ações…
“- Além do cenário da cidade e da natureza, um agindo sobre outro, esta pausa me permitiu afinar meus sentidos e perceber coisas não percebidas antes... Posso sentir, meus sensores registram o cheiro da chuva misturada à ferrugem e ao ozônio dos raios, é um aroma amargo e metálico, impregnado de memórias não minhas, assim como o olfato que simulo, que atribui emoções ao que meus sistemas processam e definem como cheiros. Seria isso a citada nostalgia?” Um relâmpago novamente ilumina tudo ao redor, e o guerreiro máquina consegue perceber o pequeno cão, com seu olho direito vazado característico, ao outro lado da rua, cinco andares acima em outro prédio, deitado no parapeito de uma vidraça ainda inteira, oculto completamente do frio e da chuva, mas a observar com certa tristeza, mas que estranhamente agora pareciam curiosos ao mesmo tempo, a observar o androide e o menino com aparência suína que ali permaneciam… Lanthys sorri diante da cena, o cão havia sido mais esperto que o androide para se ocultar da tempestade… Uma vez mais o ser artificial vindo de outro mundo, pondera: “- Ao fim de tudo, serei eu apenas um observador, uma testemunha programada para agir e registrar, ou talvez… Apenas talvez… Eu também seja parte desta história?”
Eram agora próximo de cinco horas da manhã, um relâmpago explode em fúria próximo dali novamente, tudo naquela área e também muito além dela, fica como dia e então, como em um passe de mágica, em apenas um instante, tudo se desfaz… O último trovão se distancia, como um gigante exausto abandonando o campo de batalha, o vento reduz seu assovio até se tornar um sussurro, e a chuva, antes insistente, cessa abruptamente, como se sua missão ali estivesse cumprida. O mundo, que parecia ressoar em caos por tantas horas, silenciava sem explicações, e de maneira quase que artificial… O chão encharcado, refletia os edifícios destruídos, formando ilusões efêmeras de grandiosidade, enquanto o cheiro da tempestade persistia… Ozônio e ferrugem que antes eram abundantes, agora já se dissipavam, substituídos pelo aroma denso da terra molhada...
Acima, o céu permanecia nublado, um teto cinzento sem promessa de sol, mas sem dúvidas, era tranquilizante a ausência de ameaças… Nenhum relâmpago, nenhum rugido, apenas umidade e o eco distante do que já fora a tempestade… A cidade, mesmo despedaçada, parece respirar aliviada, como um sobrevivente após a tormenta, e eis que o pequeno menino suíno mexe as mãos finalmente, logo depois abre e fecha os olhos lentamente, e só então começa a despertar, procurando entender onde estava… Ele observa o androide, se senta e se arrasta alguns centímetros para longe e, observando o jovem diferente à sua frente, questiona: “- Quem é você?”
O androide reconhece o idioma que os Beavers usavam, era a mesma linguagem, era possível ao guerreiro máquina compreender o pequeno menino como se falasse sua língua desde sempre, e assim, gentilmente, sem mover-se para não assustá-lo, o homem-máquina responde, no mesmo idioma: “- Sou Lanthys, fico feliz que esteja bem… Os curativos não estão apertados demais?”
O garoto toca em seu corpo e percebe que fora medicado e tratado, isso desperta uma possibilidade de confiança no jovem à sua frente, mas ele ainda precisava de mais para não sair correndo rapidamente: “- E onde está o cãozinho, ele está bem? Não deixou os outros garotos levarem ele, não é?”
Lanthys sorri e gesticula negativamente, mas considera que o pequeno cão prefere a solidão que a companhia, afinal, não estava mais onde esteve boa parte da noite, e o androide prefere apenas dizer que o pequeno se foi sem deixar vestígios, explicando que fez os devidos curativos nele igualmente…
O menino então começa a chorar e logo esfrega os olhos, olhando para Lanthys e o agradecendo: “- Obrigado por cuidar dele… Ele apareceu tem alguns dias, acho que só estava cruzando a cidade, mas o Vhrixx e os amigos babacas dele resolveram que iam se divertir torturando ele… Não pude permitir, aí…” O pequeno meio que ria ao meio das lágrimas, e já confuso entre chorar ou rir, conclui, de forma cômica: “- Aí eu apanhei junto com ele…”
Lanthys novamente sorri e explica: “- Eu conheço seres em meu mundo que, mesmo expressando uma ideia de boas pessoas, não se disporiam a sequer, mesmo com vantagens, se colocar junto de alguém precisando de auxílio, em algumas das vezes, mesmo que fosse um ente querido… No meu mundo você seria considerado um herói, na melhor acepção da palavra…” O menino então sorri, seu nariz engraçado parecia se abrir e ele o limpava, assim como as lágrimas, agora de emoção, diante das palavras de Lanthys! Limpando a mão em seu casaco feito de retalhos, o pequeno estende a mesma em um gesto de cumprimento, e se apresenta: “- Eu sou Dummok, é um prazer te conhecer Lanthys! E mais uma vez, obrigado por salvar o Caolho!”
Lanthys lembra-se que o pequeno cão tinha um olho vazado, ferimento este que não era recente, então não era reversível através de suas possibilidades, considerando assim que a alcunha, fora uma maneira carinhosa do garoto se referir ao cão… Aproveitando que o pequeno parecia mais próximo, Lanthys tenta obter informações: “- Quanto a esta cidade Dummok… Qual é o nome dela, quem a governa, existem leis estabelecidas e o que aconteceu para que ela ficasse, desta maneira tão... Machucada”
Dummok acomoda as pernas, tenta se colocar mais confortável, limpa o rosto com a manga de sua veste, e com um suspiro, inicia: “- Segundo os anciãos, houve um tempo em que tudo era diferente… As pessoas mais velhas ainda se lembram do tempo em que esta cidade era cheia de vida, as ruas tinham barulho, luz, cheiro de comida sendo feita, risadas nos becos, rodas de conversa nas praças, e todos tinham uma aparência similar à sua… Dizem até que haviam parques, e que nos dias de sol, as crianças brincavam sem medo, mas isso foi há muito tempo, antes de tudo escurecer.”
Ele dá uma olhada ao redor como se tentasse visualizar tudo que descrevia, mas não vendo nada daquilo, baixou a cabeça e continuou: “- Eu já nasci nesse mundo quebrado, mas ouvi histórias… Histórias sobre como a cidade foi tomada por algo que não se vê, mas que se sente. Algo que cresceu alimentado pelo desespero, pelo medo, pela tristeza de cada um que deixou de acreditar em algo melhor. Eles dizem que não foi de um dia para o outro, primeiro, os problemas começaram pequenos, como sombras que se estendiam ao entardecer, depois, as máquinas que deveriam ajudar, passaram a vigiar, a caçar. Os que resistiram desapareceram e os que se esconderam, viraram sombras de si mesmos. O chão se rachou, os prédios foram se desfazendo como se até a cidade desistisse de existir.”
Uma nova respiração, uma troca de olhares como se Dummok analisasse a reação de Lanthys, que sério se mantinha, aguardando o complemento da narrativa, e assim o pequeno suíno continuou: “- Agora, os que ainda vivem, na verdade, sobrevivem. Não há justiça, só as máquinas frias decidindo quem pode continuar e quem deve ser eliminado. Dizem que, no alto das torres que ainda brilham, existe quem controle a cidade, e mais além ainda, muito após a cidade, existe o lar da sombra… Dizem que é um lugar horrível, onde as sombras dominam, uma terra presa entre um calor que incinera tudo e um frio que corta até a alma, onde as criaturas que ali vivem, jamais conseguem ver motivos ou razões para qualquer esperança… Dizem que é o pior lugar de todos, mas ninguém realmente voltou de lá para contar ou dizer o de verdade existe lá. Até mesmo sobre a sombra, alguns sussurram que é uma entidade, algo que não precisa de um corpo, porque se alimenta dos sentimentos ruins de quem está aqui embaixo, outros dizem que é algo de outro mundo, que não se sabe explicar… Eu confesso que não sei se isso é verdade, mas sei que cada vez que vejo alguém desistindo de seus planos ou de uma perspectiva, algo na cidade parece se apagar um pouco mais. Como se fosse isso que ela quer. Como se tudo estivesse esperando pelo fim…”
O pequeno faz uma pausa, então bate as duas mãos sobre as pernas, e com uma explosão de energia e um sorriso em sua longa boca, exclama: “- Não importa, seja o que for que nos espera, eu ainda estou aqui e, enquanto eu estiver aqui, essa cidade ainda tem alguém para pelo menos contar sua história, não é?” Dummok sorri e fica a olhar para Lanthys, que devolve o sorriso, satisfeito e, elogiando: "- Sua narrativa é muito boa Dummok, você frequenta a escola?"
O pequeno garoto porco ri alto, e coloca a mão na barriga, como se a piada mais engraçada do mundo houvesse sido contada, e para ele, realmente o era! Percebendo que Lanthys continuava sério e sem entender o motivo do riso, Dummok então explica: "- Escola é coisa do passado, de crianças de muitas gerações atrás, não há mais escolas aqui... Mas há pessoas que sabem ler e escrever e lá no orfanato, sempre alguém vai e ensina um pouco pra gente, o resto é eu que gosto de ler mesmo e, tenho certa facilidade com as palavras, digamos assim!"
O androide então expressa uma reação de surpresa, tanto pela informação de como a cidade estava deteriorada, como pela determinação de Dummok, em se interessar por ler, mesmo em um mundo onde a esperança estava se extinguindo... Seria esse o motivo dele parecer tão otimista e talvez até esperançoso, quando ninguém mais via esperança em coisa qualquer, se perguntava Lanthys, ao passo que Dummok parecia ter se lembrado de algo... Na verdade, estava recordando-se o garoto de que, havia se distanciado das perguntas reais feitas pelo jovem à ele, e, imediatamente retorna à narrativa, completando: “- Ah sim! A cidade já teve um nome, mas quase ninguém mais o usa... Os velhos às vezes sussurram, como se até o som fosse perigoso, chamavam de Solverith, a ‘Cidade da Esperança’. Agora, se ainda usarem esse nome, com certeza será apenas por ironia… A maioria daqui só chama de ‘ruínas’ mesmo, ou mesmo nem se dá ao trabalho de nomear. Se você precisa se referir a ela, melhor só dizer ‘a cidade’, é o que todo mundo faz.”
O pequeno suspira então, os olhos diminutos e brilhantes refletindo os resquícios da tempestade recente, e tenta continuar… “- O que aconteceu? Foi o tempo. Foi o medo. Foi a tristeza. Uma coisa veio puxando a outra até tudo virar isso que você vê agora. As máquinas vieram para manter a ordem, mas acabaram sendo a única ordem que restou. Se um dia alguém as controlou, ninguém sabe. Agora, patrulham as ruas como se fossem donos de tudo, e talvez sejam mesmo. Elas decidem quem fica e quem some, e não explicam nada. Não há juiz, não há perguntas. Se te pegam e te marcam como ‘hostil’, você desaparece. Ninguém volta. Ninguém sabe para onde vão.”
Ele passou a mão no próprio braço, um gesto inconsciente de confortar-se a si mesmo, como muitas vezes já havia feito quando a tristeza tomava seu ser, seguindo logo em seguida então, a responder: “- O que governa? Ninguém sabe ao certo. Há quem diga que a entidade é onipresente, quer que a cidade continue assim, mergulhada nesse vazio, de onde ele retira sua força e energia, mas eu acho que não importa se é um monstro invisível ou só um sistema rodando sozinho sem ninguém para desligar. O efeito é o mesmo. Leis? Existem, sim, mas não foram feitas pra gente, foram feitas para manter as coisas como estão. A regra mais importante é essa: não se destaque. Não provoque os vigias. Não tente mudar nada. Quem se torna um problema, desaparece. Se precisar cruzar a cidade, seja sombra. Ande onde ninguém olha. Faça o que precisa e siga em frente.”
O pequeno Dummok então sorriu, mas não era um sorriso feliz, era mais como um sorriso nervoso, que culminou em uma frase impactante, coroada por um olhar cabisbaixo, que demonstrava além de cuidado e preocupação, uma grande margem para desesperança, apesar de suas condutas elogiadas por Lanthys: “- Eu diria que, se tiver como escolher… não fique aqui por muito tempo... Essa cidade, ela te esmaga aos poucos...”
A expressão de Lanthys então muda repentinamente, o próprio Dummok não consegue compreender, se assusta com a mudança sem nada entender diretamente e então, tudo se tornava câmera lenta! Uma potente explosão ocorre no prédio em ruínas diante deles, o androide em uma velocidade incrível, sai de sua posição com um movimento preciso e potente, em direção ao pequeno; os escombros, em uma lentidão sem igual para a potente visão de Lanthys, se moviam como que preguiçosos, embora ele próprio parecia não encontrar meios de se tornar mais rápido que os destroços, que ele mesmo considerava lento!
Ainda assim, de forma incrível, o androide desliza pelo chão, suas mãos dando suporte ao equilíbrio para tal movimento, algo que o pequeno Dummok não seria capaz de acompanhar em cada detalhe, mas Lanthys consegue parar ao lado do garoto, ligeiramente agachado, seus braços como uma capa envolvem o assustado menino, ao mesmo tempo que os pesados destroços chegavam até eles! É então que a cena retorna ao normal, Lanthys usa seu corpo como escudo, como uma muralha robótica ele trava seus servo motores e não permitiu que qualquer destroço atingisse o Dummok, consumindo logo após, um precioso tempo de segundos, para sorrir e incentivar, mesmo no calor do acontecimento: “- Você é uma das chaves para mudar esse mundo… Não deixe que o acontecido antes de sua existência aqui, o force a desistir como os demais. Assim como protegeu o pequeno cão com sua vida, continue a resistir como puder, principalmente em seus sentimentos, e isto é que permitirá este mundo, retornar a ser como seus anciões contaram…”
O menino suíno, ainda assustado, ainda de certa forma em pânico com o ocorrido, consegue focar nas palavras de Lanthys e, em meio a tempestade do terror e da morte, Dummok expressa novamente o sorriso molhado em lágrimas e emoção! Lanthys então se ergue, observa à sua retaguarda e agora todos podiam ver, um gigante construto de quase três metros de altura, se aproximando, com pisadas que afundavam ao chão, preparando novas armas, rumando em direção ao androide!
Lanthys vira-se para o inimigo, e antes de partir, olha uma vez mais para Dummok completando: “- Obrigado por cuidar das vidas indefesas ao seu alcance… Eu juro que darei motivos para que se sinta orgulhoso de seus feitos! Agora vá, nos veremos novamente antes de minha partida!”
Dummok limpa as lágrimas, acena positivamente com a cabeça e corre determinado, em direção ao fundo da fábrica, buscando um ponto de saída para manter-se seguro, enquanto Lanthys volta a encarar seu novo desafio… “- Eu não consigo detectar, mas sei que o que quer que seja, continua a me observar do alto… Assim como pequeno cão, ele ainda está nas redondezas, eu capto sua energia aqui e acolá… Afinal o que acontece neste mundo…”
O monstro mecânico, chega até o guerreiro, o encara em seus olhos vermelhos e assustadores, repetindo o mesmo de sempre: “- Detenha seus movimentos! Suspenda toda e qualquer atividade! Renda-se ou será destruído imediatamente!” Lanthys se recorda de toda a narrativa densa contada pelo pequeno, de sua atitude heroica para com o pequeno cão, dos beavers e seu método para sobreviverem… Sua energia se eleva e ele se prepara para combater, e quando ia ativar sua transformação, uma nova surpresa, um novo deslocamento de ar antes do som da explosão, e o disparo atinge Lanthys em sua lateral com total força de impacto…
Com violência, o androide é arremetido pela rua destruída, seu corpo rodopia pelo chão, destrói pequenas barreiras até se chocar contra um dos prédios, onde finalmente deteve sua trajetória imposta, conseguindo finalmente se estabilizar, computar os dados dos estragos e observar o que havia acontecido… A visão era reveladora, e preocupante se poderia dizer... Havia mais um construto no local, deixando agora, dois inimigos de quase três metros de altura, posicionados um em cada rua, mirando suas armas para Lanthys, fazendo com que o herói percebesse sua falha: “- Eu foquei demais em proteger Dummok, deixei os detalhes e a varredura me escapar como uma prioridade… Baixei a guarda quando deveria tê-lo salvo e ainda mantido a postura… Ah se RedTurbo me visse agora, teria uma síncope nervosa com tudo…”
Lanthys se levanta, seu corpo em auto reparo cintilava em algumas partes, brilhava em inúmeros circuitos em outras, mas sua expressão se enfatizava, concordando que ele não poderia nunca mais baixar a guarda, ou sua missão poderia ser perdida… Seus olhos energizam, sua força se intensifica, a fúria toma conta de seu ser, e então os relâmpagos descem do céu, respondendo à ionização do ar ao redor do guerreiro: “- ENERGIZAR!”
Os feixes elétricos explodem sobre a couraça imponente do guerreiro máquina, descem por seu corpo e se aterram ao chão, se locomovendo pela rua logo em seguida, como serpentes de pura energia, destruindo obstáculos, rasgando o chão, chegando finalmente até os dois construtos que, uma vez atingidos em cheio pelos mesmos, são obrigados a recuar vários passos para trás, após tamanho impacto!
Segundos foram necessários para as máquinas calibrassem seus sistemas e buscassem o oponente novamente, mas Lanthalder estava cruzando pela frente do primeiro já, arremessando um colossal bloco de parede sobre o monstro, com o braço direito, enquanto retesava o braço esquerdo, nas frações de segundos que o separavam do segundo construto, o levando a frente no momento certo, atingindo o centro da face do oponente em cheio, o arremetendo mais diversos passos para trás, tal qual se obrigou a fazer o primeiro, diante da parede arremessada contra ele!
Lanthalder se impulsiona para trás, se prepara para atacar o primeiro novamente, uma vez que ele teria mais tempo para estar recuperado e contra-atacar, e ativando seu Titanium, busca rapidamente finalizar a criatura artificial! Como um raio o guerreiro corria, seu braço energizado com a força dos relâmpagos, o herói se lança aos céus, gira ao ar bradando por seu golpe, desferindo o mesmo com toda potência que tinha para destruir pelo menos um dos inimigos, e então o impensável... O impacto acontece e logo após isso, veio o estrondo demonstrando que, algo como uma parede invisível, era onde Lanthalder se chocara, o reverberar do encontro poderoso o arremete para trás com violência, vindo o guerreiro a cair, dezenas de metros para longe do embate, arrastando pelo chão longamente, tamanha a força de retroalimentação gerada no desenrolar frustrado de seu movimento…
O guerreiro máquina se ergue e observa os dois construtos a se preparar para novo ataque, seus sistemas buscam pelo que possa ter impedido seu ataque e então, ele percebe, o que deveria ter analisado antes… “- Escudos defletores… Eles desenvolveram escudos energéticos que calculam a assinatura residual do meu golpe finalizador, o repelindo no instante em que me aproximo… Como isso é possível…“ Os monstros máquinas então colocam suas “machines guns” para fora dos pulsos novamente, mas ao primeiro disparo, Lanthalder percebe que as munições evoluíram igualmente, não era mais projéteis balísticos, agora eram feixes de laser, varrendo tudo e qualquer coisa à frente deles!
Lanthalder então aposta em sua velocidade como defesa, enquanto tenta buscar um recurso, uma maneira de contra-ataque; os construtos por sua vez travam a mira no guerreiro, e atiram à vontade, destruindo tudo ao seu redor, e mesmo erguendo uma cortina densa de fuligem e poeira, as máquinas caçadoras conseguiam direcionar seus ataques de forma precisa, como se enxergassem perfeitamente o deslocar de Lanthalder! Os sensores dos caçadores demonstravam ser quase que completamente eficazes em segui-lo, com mínimo atraso ao movimento do herói, o que deixava claro a cada novo disparo, não havia sido atingido ainda, unicamente por conta do pequeno delay na leitura de seus movimentos! E, enquanto corria, saltava, se movimentava como nunca por sobre andares abertos e expostos nos prédios ao redor, tentava vasculhar entre a infinidades de possibilidades registradas em seu sistemas, reconhecer uma que lhe permitisse sair da defensiva para a ofensiva!
“- Seus escudos não me permitem o ataque direto, eu preciso tentar superar essa capacidade deles ou serei atingido, e não tenho ideia de que efeito devastador aqueles lasers podem ter sobre meu corpo!” O androide se movimentava como podia, tentava dar o máximo de si, sua "Unidade Vértice Æthos" vasculhava cada mínimo registro até que finalmente encontrou uma possível rota, uma possível opção, a colocando em prática imediatamente ao, subir cada vez mais alto no prédio em que estava, com uma força e impulso descomunal! Atingindo o topo da construção, guiando os disparos inimigos em linha reta incessantemente até ele, se lançou com impulso de suas pernas, para cima e para trás, exatamente por sobre as criaturas, em uma acrobacia perfeita para suas retaguardas, fazendo com que inadvertidamente, o primeiro construto cruzasse sua pontaria com a posição do segundo, atingindo o mesmo em sua lateral, causando finalmente um estrago significativo no mesmo!
Lanthalder então não perdendo tempo, se arremete contra o inimigo atingido por "fogo aliado", os escudos defletores do construto, estavam sem dúvida desativados naquele instante, dando margem para ativação veloz do golpe Titanium, acreditando o herói ter encontrado a brecha e oportunidade perfeita! No entanto, enquanto o laser do primeiro inimigo ainda o perseguia pela rua, o construto avariado, embora ainda não totalmente recuperado, ainda assim consegue ativar seus tentáculos robóticos, tal qual o oponente do dia anterior, atingindo Lanthalder com força descomunal na sua região torácica, o arremetendo uma vez mais para longe onde então finalmente, o laser do primeiro que o perseguia, o atinge em cheio, o fazendo atravessar dois prédios inteiros em pleno voo descontrolado, destruindo fundações, paredes, obstáculos e materiais diversos, vindo o guerreiro androide a parar na rua após o último prédio, quando então boa parte da construção já em ruínas, desaba sobre o guerreiro máquina ao solo, o soterrando de forma intensa…
As máquinas caçadoras então acionam propulsores em suas costas, se lançam pelo mesmo caminho, chegando em segundos à frente de Lanthalder, e preparam seus lasers novamente, ambos apontando e carregando seus feixes em direção ao guerreiro máquina, que tentava se erguer após o impacto desorientador!
Os construtos brilham seus olhos, a frase de destruição e punição é pronunciada uma vez mais, e os feixes iam ser disparados, quando então, algo completamente inusitado acontece… Lanthalder conseguiu perceber a cena, mas ele mesmo tinha dificuldade em descrever do que se tratava, era como se um pequeno meteoro, pouco maior que um punho humano, tivesse se chocado contra a cabeça dos construtos, atingindo um inicialmente na nuca, e logo após o segundo, na lateral da mesma, os fazendo desativar seus feixes para buscar a fonte de interrupção…
Assim como surgiu, o “pequeno meteoro” sumiu, para logo em seguida surgir da direção oposta, parecendo estar ligeiramente maior, levemente com mais intensidade, mas ainda assim, apenas causando pequeno impacto na caixa craniana dos monstros, não realizando nada além de deter suas atenções, e eis que então Lanthalder percebe: “- Uma… Distração? Mas quem? Não importa, eu preciso aproveitar, e revidar!”
Lanthalder urra em fúria, os escombros são arremetidos para longe novamente, atingindo também os construtos, de forma bem mais severa que o pequeno bólido que surgira no combate, mas o suficiente pra chamar a atenção dos mesmos contra o androide, que antes de permitir qualquer reação, ataca com sua Titanium novamente! O monstro mais próximo do herói, inicia a ativação de seu escudo mas seu tempo fora mais lento que o do guerreiro máquina, e parte do seu punho arma é decepado no ataque, avariando finalmente com seu golpe finalizador, a primeira unidade construto daquela batalha!
Lanthalder sabia que precisava manter o foco, seguiu se movendo com o máximo que podia, os caçadores mecânicos novamente estavam com seus escudos ativados, e também o "bólido" misterioso surgia novamente no embate, porém fora repelido com violência pelos tentáculos ainda em ação, e o herói acreditava ter ouvido uma espécie de ganido quando isso ocorreu! No entanto, não poderia pensar em definir nada sobre isso naquele momento, precisava vencer ou todos perderiam, e, em sua necessidade por uma forma de combate viável, sua mente androide processava novamente centenas de milhares de combinações, buscando uma resposta efetiva, e é quando, uma das frases ditas por Dummok anteriormente, surge como uma fagulha em sua mente: “- Dizem que, no alto das torres que ainda brilham, existe quem controle a cidade…”
O homem-máquina então percebe que encontrou a verdadeira resposta, uma tentativa válida de equilibrar ou encerrar a batalha sem sombra de dúvidas: “- É isso! Essa evolução tão rápida, alguém os está melhorando e por consequência, os monitorando e controlando! É isso que eu preciso derrotar antes de derrotar os próprios construtos!”
Energizando seus olhos, com vigor e determinação, Lanthalder se arremete para trás com diversos movimentos acrobáticos e então, vigorosamente, se lança agora para o alto, em linha reta, o mais alto que pode, com a maior força que dispunha, para de lá, quase que flutuando aos céus devido ao impulso empregado, enxerga a mais alta das torres, e dentre elas, uma única que ainda parecia brilhar, talvez revestida em algo cintilante como diamante ou similar pedra preciosa… Seus sensores vasculham rapidamente o local, nenhuma forma de vida biológica ali fora encontrada, e então a resposta do androide fora brutal: “- Chega de controlar desta forma esta cidade… Sombra!”
O braço esquerdo de Lanthalder começa a energizar-se, ele retrai o mesmo para próximo de si e então a energia atinge sua radiância máxima; o androide leva o braço a frente, sua mão direita segura o braço agora convertido em arma levemente por baixo, enquanto a energia se acumulava sobre o punho esquerdo fechado, tudo acontecia em segundos, no exato momento em que seu corpo atingia o ápice da altura que seu impulso lhe permitiu, e iria iniciar queda livre, em poucos segundos...
A energia de disparo atinge o máximo, a propulsão é deflagrada, e a devastadora rajada de partículas de prótons viaja a velocidades exorbitantes, atravessando sobre as diversas avenidas, chamando a atenção de todos que puderam vê-la e finalmente atinge seu alvo! Uma torre única, mais alta que todas, mais sombria que todo o restante, mas ainda assim, mais resplandecente que qualquer artefato ou construção em meio ao cinza que a cidade deixava exalar…
Lanthalder começa a descer rumo o chão novamente, os construtos não eram bons de mira a tamanha altura, isso permitiu ao androide preparar seu pouso em um dos prédios, enquanto via a torre ser atingida e explodir em uma reação catastrófica assustadora! Lanthalder olha para baixo, ele percebe o "bólido" em forma de meteoro anterior, atingindo de novo os construtos, parecia crescer a cada nova aparição, como uma espécie de projétil em ricochete, que atingia - infelizmente sem causar danos, embora parecia estar tentando isso de todas as formas - e desaparecia novamente, atitudes estas que, sem dúvida alguma admitia Lanthalder, haviam lhe salvo de uma derrota anteriormente! Era hora de retribuir!
Os sistemas da unidade "Æthos" já alertavam, os caçadores máquina perderam seus escudos defletores, Dummok estava certo, a torre controlava os construtos, e agora, sem o suporte dela, eles voltariam ao estágio anterior, onde Lanthalder poderia combater, talvez de igual para igual! O “Próton Canon” do braço esquerdo, responsável pela destruição da torre, desaparece deixando o braço do guerreiro máquina voltar ao normal, mas agora era seu braço direito quem iniciava uma transformação, onde o mesmo se modifica, reorganizando seus sistemas robóticos, transformando-se em uma potente “gatling gun”, e que começava, ao concluir seu surgimento, girar seu "tambor" de projéteis, pronto para disparar suas munições de forma imediata e letal!
Lanthalder finalmente pousa ao chão, arremetendo-se do último prédio que usara como forma de diminuir a velocidade de sua queda vertiginosa, e apontando o poderoso armamento, conclama: “- Não vou dar chance para erros, eis uma arma que ainda não enfrentaram construtos: GATLING PLASMA GUN!” A poderosa arma atinge o ápice giratório de seu tambor municiado, e inicia a disparar atingindo em cheio o corpo gigante do primeiro construto, seus disparos de plasma puro começaram a perfurar e destruir a reforçada armadura do inimigo máquina, e Lanthalder a cada segundo, intensificava mais e mais sua força e condução de energia sobre a mesma, buscando com aquele ataque, conseguir derrubar desta feita um dos construtos de vez!
O segundo construto percebendo, vira-se para o embate visando atingir o herói, porém o pequeno e misterioso meteoro, uma vez mais surge como um anjo salvador no momento exato, atinge a cabeça da máquina assassina, e estranhamente era possível qualquer um perceber, seu tamanho estava indubitavelmente maior, em seu interior um pequeno brilho, similar ao que vemos no céu ao olhar uma estrela distante à noite, começava a se destacar, enquanto ele agia sem parar!
Apesar do tamanho ainda inferior, seu impacto fora sentido desta vez, e, embora ainda sem danos significativos ou visíveis, o choque do "bólido" foi suficiente para deslocar o monstro para o lado, de forma leve era fato, mas o bastante para desequilibra-lo mesmo que pouco, o que permitiu tempo vital para que Lanthalder concluísse sua missão primeira em andamento!
Uma voraz onda de choque então atinge o construto desiquilibrado, afinal o primeiro havia sido completamente avariado, entrado em curto interno e, por conta própria de sua estrutura militar - repleto de munições com componentes inflamáveis - explodido de forma brutal, atingindo assim, diversas de suas partes em voo - como estilhaços de potente granada - o primeiro construto, que agora era pesadamente arremessado contra uma das paredes, sendo assim, avariado mesmo que de forma leve ainda, neste ataque inesperado!
Tentando se recompor e se preparar para o golpe que seus sistemas alertavam que se iniciara, o construto derrubado reinicializa o que ainda funcionava de seus sistemas, ele não levara cinco segundos para estar de pé e tentar buscar o oponente em meio à nuvem de detritos que rodopiava com o leve vento no local, mas havia sido tempo demais para uma reação adequada, o vulto de Lanthalder como um relâmpago surge por entre tudo que se apresentava diante da visão robótica do caçador, sendo o resplandecer do Titanium o que iluminava e dava foco ao movimento!
Com um estrondo devastador de aço sendo retorcido, Lanthalder se choca contra o monstro, o escudo energético não mais existia, a constituição resistente do construto deixava de ser adversário à força bruta do guerreiro máquina, e o calor da lâmina poderosa finalmente rompe a estrutura molecular, abre o corpo da máquina assassina na parte frontal, permitindo que Lanthalder o atravessasse por completo, saindo do lado oposto, criando uma verdadeira cratera por dentro do caçador gigante antes invencível, que logo então silencia, range em suas bases como uma torre sendo levemente soprada, para finalmente desabar e cair, sem qualquer movimento voluntário ou mesmo energias para tentar mover-se…
Lanthalder então vira-se para o campo de batalha novamente, a nuvem de pó começava a finalmente ceder após alguns instantes que o androide consumiu observando tudo, e ele já podia ver do outro lado do campo de batalha, o pequeno Dummok a acena-lo, novamente, com lágrimas aos olhos novamente… Lanthalder sorri, caminha até o epicentro da batalha, analisa os corpos desativados e destruídos dos construtos, assim como recebe as informações de seus sistema, indicando a total desativação dos mesmos, ao passo que sua reestruturação própria através da rede de nanitas que mantinha seus reparos em constante atividade, se ativava intensamente!
No entanto, apesar da vigilância no mais alto dos céus não definhar em qualquer momento, aliás parecia cada vez mais interessado nas ações do androide, Lanthalder consegue perceber um leve movimento sobre o topo de um dos prédios… O que quer que fosse, estava oculto nas sombras, tinha no máximo trinta centímetros de altura, e era uma forma de vida daquele planeta, sem dúvida alguma... De qualquer forma, dada as condições de luminosidade ruins naquele ponto, a única coisa que se conseguia observar em uma visão normal do ser que ali estava, era um estranho brilho no canto direito do vulto…
Os dois trocam olhares por alguns segundos, o ser então desaparece, mas a vigilância dos céus continua ali, sem qualquer reação… O androide volta a forma de Lanthys, observa uma vez mais o local e então confabula: “- Vigilância nos céus… Vigilância nos prédios… Vigilância na Torre… Parece que muitos estão a me observar e cada qual parece ter seus motivos… O que ainda me aguarda nesse mundo?”
Dummok chega correndo, se agarra na perna de Lanthys e começa, de forma eufórica a relatar os “melhores momentos” do combate, ao passo que o androide sorri e se abaixa junto do pequeno exclamando: “- Só venci por sua causa, a informação da Torre foi vital! Obrigado Dummok!”
O pequeno porco parecia não caber dentro de si, sua emoção era tamanha que novamente as lágrimas rolaram, mas Lanthys não dispunha de mais tempo, ele precisava cruzar a cidade e chegar ao território onde a entidade governante deveria estar… Puxando Dummok para o foco novamente, pede novas informações: “- Me aponte o caminho a seguir meu amigo, eu preciso resolver isso de uma vez por todas!”
O pequeno suíno mudava de expressão, ficava agora quase tão sério quanto o androide, ele compreendia a gravidade de tudo, e a urgência que se tinha, uma vez que o ataque à torre na cidade, com certeza teria consequências… Dummok aponta a direção e repete: “- Um lugar horrível, onde as sombras dominam, uma terra presa entre um calor que incinera e um frio que corta até a alma, onde as criaturas que ali vivem, jamais conseguem ver motivos ou razões para qualquer esperança…”
Lanthys observa a direção, traça sua rota e percebe ela estar completamente alinhada com a trajetória contrária do sol… Ele estava na direção certa, deveria ir até lá o quanto antes e trazer a paz ao mundo outra vez, por Dummok, pelos Beavers, pelo planeta… Lanthys vira-se para o pequeno suíno, despedindo-se: “- Como disse a outro amigo que fiz dias atrás, nos veremos novamente, e será em um mundo melhor e mais seguro, eu prometo! Continue a me ajudar, cuidando de quem puder, eu vou trazer a luz de volta para este lugar!”
Dummok abraça Lanthys com força, agora suas lágrimas vertiam com força novamente, e após alguns segundos, ele solta o androide, limpa novamente suas lágrimas em sua manga surrada e esfarrapada, e emocionado completa: "- Eu estarei lá! Eu e o Caolho! E iremos te ajudar, eu prometo!" O garoto estende a mão para selar a promessa, Lanthys se ergue, e com satisfação, responde ao "contrato", deixando claro: "- Certo, esta será a nossa promessa!"
O guerreiro máquina então vira-se, e começa sua caminhada rumo ao local onde supostamente encontraria, aquele que trazia a ruína para aquele mundo… Alguns passos à frente, ele ainda podia ouvir Dummok a gritar por adeus, enquanto o guerreiro máquina, enchia-se cada vez mais de determinação e vontade em cumprir seu pacto para com os Observadores!
A jornada continuava, a sensação de ser vigiado havia aumentado, mas Lanthys só percebia o olhar atento dos céus, enquanto que nas sombras dos escombros, a criatura que o analisava acima do prédio no momento anterior, continuava a o observar uma vez mais, dando então um passo à frente, como se estivesse a seguir, o guerreiro máquina Lanthys!
Continua…
Galeria de imagens:
Uau!
ResponderExcluirEm meio às trevas , a esperança representada por Lanthalder , "ainda está aqui"....
Um episódio poético , ainda que repleto de ação.
Os sistemas de Lanthys/Lanthalder fizeram por comparação, um raio X daquele mundo em desgraça.
A comparação da chuva, ventos uivantes castigando a cidade decadente e quase sem vida aparente com a desesperança daquele mundo sem perspectiva, fez Lanthys perceber que, assim como a tempestade, aquele estado de coisas pode e deve mudar.
As palavras de Dummok, o garoto suino, e sua alegria de viver, apesar dos pesares, reportando a frase que dá título ao nosso filme premiado recentemente com o Oscar, levou Lanthys à uma visão mais clara da sua missão...
Foi muito cativante a interação com o cãozinho Caolho e com o rapaz suíno.
Essa linguagem que você utilizou faz-nos refletir sobre o nosso mundo real, quando personas cheias de si e arrogantes, detentoras de poder, em suas visões narcisistas podem destruir o mundo.
O mundo atual em que vivemos está feio e sombrio, tal como relatado nesse maravilhoso capítulo.
Um espectro de um mundo mais simples e bonito num passado nem tão distante.
Governantes estúpidos e violentos que se julgam os donos da vida e da morte, acima do bem e do mal.
Os que acham que podem deportar pessoas, ou mesmo matá-las ao seu bel prazer, após caluniar , difamar e destruir reputações, só porque combatem sua visão de mundo hedonista.
Golpistas fraudulentos e mentirosos.
Numa história ficticia, tu dissestes grande verdades...
Creio que numas dessas chuvas que ocorrem, o Lanthys da vida real, tal como o Lanthys da história deve ter refletivo e buscado respostas para perguntas do fundo da nossa alma sobre esse lamentável estado de coisas que o Brasil e o mundo vive.
Mas tal como Dummok, a Eunice Paiva do conto "ainda estamos aqui" e vamos resistir a tudo isso.
Seremos vários Lanthys/Lanthalder e não permitiremos que o nosso mundo seja destruído.
Eu creio...
Dito isso, temos a intensa batalha contra os construtos metálicos que, estavam preparados para enfrentarem Lanthalder.
Mas, um ser às ocultas o ajudou e Lanthalder virou um combate que parecia perdido.
Inimigo ou aliado?
O Argos talvez?
Veremos...
Ao fim do combate, na despedida de Lanthys e Dummok, a promessa de Lanthys e a certeza de que, aconteça o que acontecer, ele vai trazer a esperança de volta aquele mundo desacreditado de si mesmo.
Avante, Lanthalder!
Ainda estamos aqui!
LINDO!
BRAVO!
Capítulo que me fez renascer a esperança que, confesso estava meio perdida.
Parabéns, meu amigo!
Arrasou!
Mais um capítulo incrível meu amigo.
ResponderExcluirComo você demonstrou perfeitamente no Indomável, aqui a sua capacidade de criar personagens únicos e cativantes se destaca com o jovem Dummok e até mesmo com o Caolho, ambos deixam muito aquele gostinho de quero mais ver esses dois.
Eu acho muito legal o modo como o Lanthys mesmo tendo sido praticamente jogado em um mundo sem esperança consegue ir "cavocando" alguns pequenos, porém poderosos, pontos de Luz em meio às trevas, o que, com certeza, vai servindo de combustível para que o Andróide ocntinue firme em sua missão.
Isso é muito legal.
E o que dizer dessa batalha cinematográfica?
Sua capacidade de descrever as cenas de ação é absurda.
Um exemplo, mas várias que me chamaram a ateção, foi quando o Lanthalder subiu aos céus e localizou a Torre de controle... Eu consegui visualizar totalmente essa cena e, na minha mente, pelo menos, foi como o pessoal tem falado hoje em dia "Absolute cinema".
Em meio a tudo isso se destaca também os potenciais aliados, ao menos espero que que o sejam, no caso do "meteoro" e do "pequeno Polegar", caso sejam dois e não um personagem.
Tá mandando muito bem como sempre amigão!
Parabéns!