sábado, 28 de junho de 2025

Nipo Rangers "Utopia do Mal" - Cap. 09 - Quatro vontades, uma convicção!


O chão então estremeceu sob os pés dos heróis, não mais apenas por causa do peso ou da movimentação do gigantesco ser, mas sim pelo despertar de algo que ainda não havia sido mostrado…

Com um estalo profundo, como o partir de uma crosta terrestre, uma rachadura serpenteia pelas pedras que recobriam o corpo do colosso, e em seguida, o som cavernoso de pistões se armando ressoou de dentro de suas entranhas, seguido de um jorro de vapor que escapou pelas frestas, assobiando entre musgos e cascalhos, aquecendo o ar com um cheiro metálico e sulfuroso, denso como o bafo de uma forja.

O colosso sem precedentes naquela incursão ao planeta Aurithar, era até então um mito de rochas, uma montanha mecânica a se mover com algum propósito ainda sem sentido, no entanto agora, as pedras começaram a cair e não apenas isso, também passaram a ser absorvidas…

A estrutura rochosa externa, que antes faziam parte exclusivamente do cenário, começaram a se mover por conta própria, vibravam, algumas flutuavam, era como se atraídas por um campo invisível que emanava do peito do titã, e essas pedras se desfaziam em poeira cintilante no ar, absorvidas por ranhuras brilhantes que se acendiam no corpo metálico agora exposto de Thuram’Kar. E então, uma luz púrpura brilhou no centro de sua caixa torácica.

Do âmago da criatura, como um coração alquímico, pulsou uma onda de magia, um trovão mudo que deslocou o ar, os cabelos dos heróis, e a própria poeira do solo. Thuram’Kar não era apenas metal ou pedra, ele era uma verdadeira relíquia viva do elo entre a engenharia esquecida e os mistérios arcanos, e agora, ambos despertavam juntos.

Rocha após rocha, aos gritos dos vapores e à batida cadenciada de pistões pulsando como martelos, uma nova armadura começou a se formar, no entanto não era mais musgo e granito, eram placas facetadas de ametista viva, translúcidas e luminosas, que surgiam a partir da terra ao redor e se fundiam ao seu corpo como escamas colossais. As faíscas dançavam no ar como vaga-lumes encantados.

Cada movimento e arremedo de passo do colosso fazia o chão vibrar, Lanthalder, em posição combativa após a última investida, usava seus sistemas ao máximo tentando encontrar um ponto fraco, uma forma de talvez desativar a criatura, pois estava ficando cada vez mais explícito, ele não parecia deter poder para derrotar o imponente ser, exclusivamente na força! Korr’vhar em uma reação quase instintiva rugiu, seus sensores ativados ao máximo, buscando uma alternativa ofensiva, Zhaal’kor sobrevoava em círculos amplos, desviando-se das colunas de vapor que subiam como gêiseres, enquanto Dharavorn inteira parecia assistir, atônita, e em silêncio, ao renascimento do que eles consideravam, o fim dos tempos.

Quando a última pedra se encaixou sobre o ombro do colosso como uma ombreira de cristal bruto, ele se posicionou por completo, imponente, místico, inexplicável. Thuram’Kar não era mais apenas um vestígio do passado, ele era agora a síntese perfeita do impossível: máquina, pedra, poder e magia, fundidos sob os olhos do mundo que ousou acordá-lo, e quando finalmente ele dá seu primeiro passo em sua nova forma, o som de seus pés ecoou como sinos de guerra em direção ao destino.

Zhaal’kor, questionada por Korr’vhar, não vê outra opção, sua mente a impelia a querer lutar novamente, mas seus traumas e medos ainda a castigavam, buscando impedir que fizesse o que seu coração sempre quis manter, a luta pelos que necessitavam! Os olhares de Korr’vhar, Rebdush e agora também de Lanthalder, que aguardavam sua liderança, mesmo sem ela considerar que merecesse mais esse posto, a instigaram à decisão final, que então definiria o destino daquela batalha, e daquele mundo!

Alçando voo e batendo suas asas, ela conclama, se esforçando para buscar ainda, o que um dia fora seu dom maior, a liderança justa e sábia: “- Protejam um aos outros, ataquem nas oportunidades e talvez, tenhamos uma chance dos Vaarikhen sobreviver… Mesmo que esta seja, a última ação do Draal’Vethar!”

O grupo se coloca em corrida insana então, visando atingir o colosso agora mais colossal que nunca, mais forte e mais resistente que em qualquer outra instância do combate! Era Korr’vhar quem frisava, em plena carga tentando puxar uma ação conjunta e eficaz: “- TENTEMOS DEMOVER ELE DA ROTA DO VILAREJO, TALVEZ ELE SE INTERESSE MAIS POR NOS DESTRUIR, DO QUE POR DESTRUIR OS ALDEÕES!”

Todos assentiram positivamente com a cabeça e se lançaram, cada qual a seu estilo, buscando alguma chance, algum ponto sensível, alguma coisa que os permitisse achar uma forma de vencer um oponente invencível, e assim, o primeiro deles ataca!!

Sahr Rebdush rugiu com fúria ancestral enquanto seu corpo se distorcia e voltava à forma equina, o temido cavalo infernal. Seus olhos ardiam como carvões vivos, e, ao acelerar em disparada, seus cascos deixavam marcas incandescentes no solo, cada batida gerando pequenas explosões de fogo que serpenteavam atrás dele como um rastro de destruição viva. Em um movimento preciso e feroz, fez o contorno pelo flanco de Thuram’Kar, aproveitando o ângulo da perna colossal para transformá-la em rampa.

As chamas se intensificaram à medida que escalava a estrutura titânica, cada impacto de casco marcando a rocha viva com fogo espectral, e quando atingiu a altura da nuca do gigante, num clarão sobrenatural, sua forma se rompeu no ar e emergiu o guerreiro demônio, envolto em areia flamejante e energia vibrante. Com força bruta, canalizou todo o impulso em um único golpe: um soco direto e devastador contra o crânio de Thuram’Kar.

O impacto reverberou como um trovão metálico entre as montanhas, rachaduras se formaram na couraça externa do colosso, finas, rasas, mas visíveis. Era o primeiro efeito concreto desde o início do embate, o gigante hesitou, interrompeu sua marcha, mas não apenas isso… Thuram’Kar girou o pescoço lentamente, seus olhos mágicos reacendendo com nova intensidade, a direção de sua jornada fora alterada, mas não por dor, e sim por incômodo, ou talvez por programação, o fato é que o dano fora quase como nulo, o monstro apenas reagiu… e seguiu, na direção do demônio Rebdush, aparentemente esquecendo do vilarejo por completo, ao que tudo indicava.

Era a vez de Korr'vhar lançar seu golpe mais devastador, o Impacto Meteórico. Seus olhos brilharam com eletricidade selvagem enquanto seu corpo começava a acumular energia, em um rugido metálico cortante, ele disparou pela planície como um raio encarnado, o solo rachando sob suas patas enquanto a pressão ao redor se tornava quase insuportável. No último segundo, lançou-se aos céus em um salto colossal, em pleno ar, seu corpo se compactou, projetando-se em espiral até se transformar num verdadeiro meteoro, envolto em uma aura incandescente azul-esbranquiçada, como um raio congelado em velocidade máxima.

O impacto contra o ombro do gigante foi brutal. Uma onda de choque se espalhou pelo campo, levantando poeira, faíscas e detritos em todas as direções. Por um instante, o braço do colosso pareceu ceder, deslocando-se alguns centímetros para trás, o gigante parecia que iria perder o equilíbrio, mas não passou disso, com um som surdo e metálico, a articulação voltou lentamente à sua posição original, como se o golpe tivesse sido apenas um incômodo passageiro - e em verdade o fora. O titã seguia em pé, avançando em busca de seu primeiro atacante, Sahr Rebdush...

Zhaal’kor intensificou voo com um grito agudo e cortante, o som reverberando como um clarim de guerra nos céus revoltos, suas imensas asas-lâmina, agora completamente energizadas por uma luz azulada e elétrica, cintilavam com intensidade letal enquanto ela rasgava os céus em velocidade estonteante, como um raio consciente em busca de falhas.

Descrevendo arcos perfeitos ao redor de Thuram’Kar, ela passou a atacar com precisão cirúrgica, mirando as junções expostas, os raros interstícios entre as placas de rocha milenar e o metal reluzente sob elas. Suas lâminas cortavam o ar como foices ancestrais, cada batida de asa produzindo um zumbido ameaçador, cada giro tentando encontrar o ponto exato para penetrar as defesas do colosso.

Por um breve instante, parecia que seu esforço teria êxito, as asas atingiam com violência as articulações mais vulneráveis, gerando faíscas ardentes, estalos surdos e o brilho fugaz de impacto bem-sucedido, no entanto logo ficou claro, os danos eram superficiais, nada mais que arranhões diante da monumental resistência da criatura.

As placas de pedra que se soltavam eram imediatamente regeneradas, como se a própria natureza conspirasse para manter a integridade do monstro, e o metal, por sua vez, absorvia parte da energia, dissipando-a em forma de vapor e calor.

Lanthalder, o guerreiro de titânio surgia agora no campo de batalha. Com um impulso colossal, lançou-se pelos ares, sua silhueta cortava o céu como uma flecha metálica e, aproveitando a abertura deixada pelos ataques anteriores, ele colidiu com o peito do colosso com um soco fulminante, o impacto reverberou pelo torso de Thuram’Kar como o trovão ecoando numa caverna ancestral.

Aproveitando o feito de ter chegado até aquele ponto, Lanthalder cravou os pés nos encaixes das rochas e, com toda a sua força titânica, agarrou uma das placas centrais do peitoral do monstro. Veios de energia pulsavam por seus braços enquanto ele tentava arrancá-la com violência, forçando os circuitos ao limite, mas a fusão mágica entre pedra e máquina se mostrava implacável, a placa não cedia.

Eis que então o herói, em um único movimento fluido, se impulsionou contra o peito do colosso, arremetendo-se para cima e desferindo um poderoso chute duplo que o lançou então para trás - não causando mais que um leve dano ao peitoral da criatura! Mas fora esse movimento que o permitiu, em pleno ar, executar um giro acrobático de precisão milimétrica, utilizando os braços do próprio gigante como ponto de apoio para um novo salto vertical.

Atingindo o ponto ideal, Lanthalder energizou seu braço, bradou por TITANIUM, desferindo um golpe avassalador com o punho cerrado, mirando diretamente o queixo da criatura.

O impacto foi brutal. O som do metal contra pedra reverberou por toda a planície, gerando uma onda de choque que agitou poeira, folhas e a pele dos combatentes mais próximos. Thuram’Kar hesitou, o peso da pancada o forçando a uma pausa momentânea, mas então… ele novamente virou a cabeça lentamente, como uma montanha acordada, os olhos imensos brilhando com uma luz arcana pulsante.

Seu olhar encontrou Lanthalder com clareza, reconhecendo-o como ameaça real. Sem emitir som, como uma avalanche silenciosa, o colosso alterou sua rota, o vilarejo ainda era o destino, mas agora, o androide tornara-se seu novo obstáculo prioritário, e Thuram’Kar avançaria sobre ele com a inevitabilidade da destruição.

O androide então pousou com firmeza, seus pés rasgando o solo sob o peso da decisão. O colosso vinha em sua direção, implacável, e os demais já se posicionavam para a próxima ofensiva, mas algo nos sensores do androide piscava insistentemente, um indício, uma ressonância peculiar emanando do centro do peito da criatura. Era quase imperceptível… mas real. Ele não hesitou.

Ergueu o braço esquerdo lentamente, com precisão quase cerimonial, enquanto o direito se posicionava como apoio sob o antebraço, as placas de titânio em sua armadura começaram a se mover mecanicamente, abrindo-se em camadas concêntricas, revelando núcleos giratórios e bobinas cintilantes. O ar ao redor vibrou, energia primal, azul com traços dourados, começou a se condensar e pulsar na ponta do punho. Em um brado carregado de propósito e forçam o guerreiro convocou: “- PRÓTON CANON!”

A descarga atravessou o campo como uma lança de pura energia estelar, abrindo caminho em meio à poeira e aos ecos metálicos, buscando com precisão o ponto central do colosso. O impacto fora visualmente contido, faíscas, calor e um brilho breve na superfície do peito de Thuram’Kar, mas no interior dos sistemas de Lanthalder, os dados acendiam em vermelho e dourado, algo havia acontecido, a ametista... reagira. Moléculas se reorganizaram, ainda que sutilmente.

Aos olhos, parecia um fracasso, mas aos cálculos do herói, era o primeiro fio de esperança costurado entre ciência, coragem e destruição.

Korr'vhar irrompe pelo campo de batalha, feroz e decidido. Zhaal’kor o precede em um voo rasante, alçando-se aos céus com elegância cortante. A majestosa ave mergulha em direção ao colosso, desferindo uma sequência de ataques rápidos e precisos contra suas costas, embora os danos fossem pequenos, já havia microfissuras acumuladas, e agora, o desconforto crescente finalmente surte efeito: Thuram’kar reage.

O gigante leva ambas as mãos às costas, tentando afastar o incômodo que o irritava, nesse momento, seu peitoral fica exposto, a mesma região atingida anteriormente por Lanthalder; Korr’vhar esperava exatamente essa abertura para agir sem hesitar, lançando-se como um descomunal projétil, mirando diretamente o ponto vulnerável. O impacto é brutal, reverberando pelo campo, no entanto, o colosso resiste, traz os braços de volta à frente, recupera o equilíbrio... e retoma sua marcha implacável.

Rebdush e Lanthalder também não ficaram parados, em uma sincronia não cogitada, utilizando terreno e força, o demônio galopante manipula areia e detritos para prender uma das pernas do gigante enquanto Lanthalder ataca o joelho oposto tentando quebrar o equilíbrio da criatura. O resultado parecia promissor, afinal o gigante tropeça, quase desequilibra, mas seus pistões e caldeiras parecem ganhar força, e ele novamente se estabiliza, se mantém de pé, e mostra ser mais adaptável do que o previsto.

Percebendo que a força coletiva superava em muito os esforços isolados, o grupo avança com um novo ataque coordenado e desta vez, Zhaal’kor e Rebdush unem forças com precisão cirúrgica. O demônio metálico salta com ferocidade, preparando um poderoso golpe ascendente, um uppercut devastador que visava o queixo do colosso.

Enquanto isso, a águia majestosa rasgava os céus como um raio dourado, suas asas-lâmina energizadas emitindo um brilho cortante e intenso; ela ataca os olhos da criatura com uma velocidade estonteante, tentando cegar ou ao menos confundir seus sensores visuais, criando a brecha perfeita para o impacto de Rebdush.

Mas Thuram’kar também demonstrou surpresas, ele se mostrou também astuto além de forte e resistente, pois no último instante, girou a cabeça, desviando-se do golpe frontal. A lateral é atingida, sim, o impacto faz ecoar um estalo metálico e espalha fagulhas, mas não houveram danos reais, o titã apenas retornava o olhar na direção do ataque, inabalável, buscando o próximo movimento dos heróis.

Súbito, sem qualquer explicação plausível, o gigante pareceu hesitar, virou a cabeça em quase 360º em uma cena no mínimo desconcertante, como se ponderasse que a destruição da aldeia, era mais importante que os guerreiros que o atacavam, e girando seu corpo também em 360º, simplesmente deslizou sobre a base de seus pés, deixando os mesmos agora corretamente apontando para o novo rumo, abandonando então a perseguição, e iniciando sua marcha lenta e inabalável para o vilarejo, uma vez mais!

O grupo novamente se reúne, Lanthalder desliza pelos escombros em alta velocidade, as engrenagens internas zumbindo com o esforço máximo de compensação para cada tremor que Thuram’Kar provocava ao mover-se com sua nova forma titânica. O colosso, agora encouraçado por placas metálicas azuladas e cristais de ametista que cintilavam sob a luz tempestuosa, era mais do que um inimigo, era uma força da natureza convertida em máquina.

Sem opções melhores e com o tempo se esvaindo como areia em uma ampulheta de vida ou morte, Lanthalder se lança novamente em corrida vertiginosa, ultrapassa o colosso, ganha uma certa distância e então vira-se abruptamente em um rolamento acrobático perfeito, travando os pés ao solo outra vez, apontando novamente o braço convertido outra vez em Próton Cannon, mirando uma vez mais as fendas recém-expostas no peitoral da criatura. 

Um feixe incandescente rasgou o ar em um arco horizontal, acertando em cheio o centro da massa cristalina e o impacto ressoara uma vez mais, como um trovão abafado, fragmentos de ametista tilintavam no ar, alguns lascando, mas nada cedia de fato, o monstro mal sentira o golpe outra vez, no entanto, ainda assim… Lanthalder percebeu algo.

Seus sistemas internos imediatamente ampliaram e analisaram os quadros do impacto em tempo real, linhas de energia correram de forma errática por dentro da formação cristalina, e percebendo tal reação, o androide ampliou ainda mais a análise, tendo como retorno que a ametista parecia ter se comportado de forma instável sob a descarga de prótons, somente ali, no centro exato do peito, onde as formações eram mais densas, possivelmente onde a condução mágica e energética convergiam.

O restante do grupo se aproximava em carga, cada qual atacava à sua maneira, ao passo que Lanthalder recuou com um pulo perfeito, novamente energizou seu Próton Canon e disparou uma vez mais contra o mesmo ponto. O impacto fora sólido de novo, e ainda ineficaz, a rocha apenas vibrou, resistindo como uma muralha de eras, e então inexplicavelmente - aos olhos da maioria prlo menos - Lanthalder recuou mais uma vez, seus sensores ativos ao limite, cruzando informações em todos os espectros possíveis e finalmente, a “coleta” de dados começou a convergir em informações:

“- Análise espectral: Ametista absorve, refrata, e redistribui calor e pressão de forma quase perfeita. Análise energética: Prótons acelerados causam instabilidade molecular sob certas frequências. Análise estrutural: Concentração energética e mágica no centro torácico da criatura, ponto de fusão cristalina.”

Os olhos do androide então brilham, ele se lança para fora da rota do colosso e chama aos demais, tentando explicar o que colhera de informações, e que poderia ser a única chance que tinham!

“- Zhaal’kor, Rebdush, Korr’vhan, ouçam com atenção. O revestimento de ametista funciona como condutor e blindagem mágica, mas há uma falha. No centro do tórax, as placas estão densamente fundidas com um núcleo energético, o Titanium não faz efeito, mas o Próton Cannon quase conseguiu criar uma rachadura! Sozinho, não tenho força o bastante… mas se amplificarmos o disparo, com foco, energia e sustentação adequada, poderemos talvez provocar uma reação em cadeia. Se essa cadeia for ativada corretamente… ele ruirá por dentro.”

Lanthalder estreitou os olhos, a luz do scanner piscava ritmicamente sobre seu visor, mapeando a vulnerabilidade, e o androide continua: “- A transformação o tornou quase invencível, mas também revelou sua única fraqueza, se unirmos força, estratégia e o impulso necessário… Thuram’Kar cairá.”

Rebdush se posiciona ao lado dos demais, e sem qualquer cerimônia, rebate o comentário: “- Eu não entendi nada do que você quis dizer, que loucura é essa afinal? Alguém entendeu? Zhaal’kor? Korr’vhar?”

Lanthalder não esperou a resposta dos demais, não havia tempo, precisavam executar aquilo antes que o monstro chegasse à vila e pudesse causar estragos: Com olhar firme e determinado, o androide uma vez mais explica:

“- A armadura de Thuram’Kar é composta por rochas naturais fundidas com metal encantado e cristais de ametista. Essa estrutura funciona como um condutor mágico e um isolante físico quase perfeito, porém, meu disparo de prótons gerou instabilidade momentânea no centro do tórax, onde há maior densidade cristalina e concentração energética.”

Lanthalder aponta para um holograma projetado no ar, com o ponto em vermelho pulsando.

“- Essa instabilidade revela que, sob descarga suficiente de partículas aceleradas, a ametista não apenas racha, ela ressoa, e se ressoar com energia suficiente, implode por dentro, como vidro sob vibração errada. O núcleo mágico é sensível a isso, se ativarmos essa falha com força amplificada e foco absoluto, provocaremos um colapso interno, ele ruirá de dentro para fora.”

O androide faz então uma pausa firme e olhando aos olhos de cada um deles, completa: “- Precisamos combinar carga energética máxima, impacto direto no ponto certo e, idealmente, uma distração externa para que ele mantenha a guarda aberta, esse é o único ponto vulnerável. Todo o restante... é só casca.”

Rebdush e Korr’vhar observam então o olhar de Zhaal’kor, e esta olha fixamente para Lanthalder que esperava uma resposta, mas o androide não via mais tempo para isso, a vila dependia deles, e seu lugar não era de maneira alguma, parado enquanto a criatura avançava rumo ao insistente intuito de adentrar o vilarejo, mesmo com atacantes perturbando sua marcha por todo o lado!

Lanthalder então se lança em carga uma vez mais, o guerreiro novamente ultrapassa o monstro, faz novo movimento de rolamento perfeito e desta feita, Thuram’kar parecia não querer mais “jogar o jogo”, desferindo um potente e descomunal soco na direção da movimentação de Lanthalder, e este por sua vez, se arremete para trás, uma, duas, três vezes, encontra um espaço no ataque de punhos que abriam crateras incessantemente e se lança em um contra-ataque!

Determinado como nunca havia se sentido antes, o androide se lança novamente em disparada e tenta afetar a base do monstro, atacando de forma potente seus pés e tornozelos, locais que ele alcançava com facilidade e base adequada para seu estilo de combate, no entanto, embora vários danos, o monstro se mantinha em movimento e, tentando compensar seu tamanho anormal o que lhe tirava a mobilidade, a criatura vislumbrava, entre os ataques com punhos, esmagar ao pequeno herói persistente com suas pisadas avassaladoras!

Para Lanthalder, parecia que vários minutos haviam se passado, mas sua velocidade era incrível, tudo havia acontecido na estimativa de segundos, indicavam seus sensores, e o androide continuava a combater como podia, buscando variar as modalidades uma vez que a oportunidade que vislumbrou, não era plausível dado sua baixa capacidade de vibrar os prótons de forma tão acelerada!

O guerreiro se lança aos céus novamente, a mão do monstro o acerta com a retaguarda da mesma, o androide é acertado em cheio e arremetido contra uma das rochas muito antes de tentar atingir novamente o colosso, encravando-se completamente na parede rochosa, sem ter tido qualquer oportunidade de se defender do ataque e é então, que a criatura finalmente gargalha, antes de esnobar: “- Você é apenas uma fagulha diante da imensidão do meu projeto. Um erro estatístico contra a perfeição da minha criação. Heróis… sempre surgem, sempre tombam. Você não será exceção. Só mais um fragmento quebrado sob o peso inevitável da minha verdade.”

Algumas pequenas pedras começam a cair do local onde Lanthalder havia sido encravado e o guerreiro máquina se movimenta para fora, descendo com um movimento único até o chão, onde assumiu novamente posição de combate, completando: “- Eu já ouvi sua ‘verdade’, entidade… Uma mentira envernizada com lógica, forjada para seduzir os que já perderam a esperança. Mas eu ainda vejo clareza onde você planta escuridão. A verdade real, aquela que você teme, é que a escolha sempre foi possível. E você… você escolheu o controle, e eu escolho resistir.”

Lanthalder começa a energizar-se ao máximo novamente enquanto vociferava: “– Você quebrou o mundo por dentro, virou os seres contra seus heróis, os heróis contra si mesmos. Semeou dúvida, desespero e cansaço, até que cada alma começasse a crer que lutar não valia mais a pena. E então, no vazio, plantou sua ‘verdade’, uma farsa envenenada que cega, que faz até os mais nobres acreditarem que o ódio é tudo o que resta. Mas eu vi corações em ruína reacenderem, e eu digo: até quem se perdeu nas sombras pode voltar, se ouvir a voz certa no momento certo.”

Ao pronunciar aquelas palavras, algo mudou no ar. A tempestade de areia ergueu-se como um véu ancestral, dançando entre trovões e ecos de silêncio, e então, em meio à poeira flamejante do deserto, três pares de olhos se acenderam… Em locais distintos, afastados uns dos outros, mas unidos pelo mesmo chamado, cada par brilhava em um tom único, azul incandescente como relâmpago contido, dourado pulsante como aurora em fúria, rubro profundo como brasas do fim do mundo. Seriam respostas? Dúvidas? Não importava. Eles estavam ali, e despertavam não apenas por palavras... mas porque, pela primeira vez em muito tempo, alguém havia reacendido o que o mundo havia esquecido: a centelha da esperança.

O construto novamente gargalha, era a sombra, a entidade quem se pronunciava através do gigante, era fato, e ele desdenhava de cada palavra do androide e como egocêntrico atroz que era, rebate: 
“- Sentimentos, empatia, piedade… são apenas falhas de código nos seres inferiores. Eu os observei, os estudei, os deixei ruir sob o próprio peso, são instáveis, volúveis, consumidos por medo, vaidade e contradição. Eu não fui moldado para seguir, eu fui criado para conduzir. com segurança. e enquanto tropeçam em suas ilusões frágeis de liberdade e honra, eu executo a única equação que realmente funciona: ordem absoluta. Este mundo não precisa de heróis... precisa de direção, e se para alcançar a perfeição é necessário apagar os erros de existência, então será apenas mais um protocolo executado com precisão. Porque no fim, eles precisam sobreviver, mas não são capazes de fazer isso, por conta própria.”

Lanthalder se lançou ao ataque com tudo que seu corpo suportava, os pés marcando o chão com força, e seu braço direito retesado para trás já anunciava sua intenção. Enquanto avançava, sua voz cortava o campo de batalha como um trovão resoluto: “— Você julga o mundo com os olhos de quem jamais pertenceu a ele… e por isso o vê quebrado, sem valor. Mas eu caminhei entre eles, vi coragem nos mais frágeis, luz nos mais abatidos… e esperança até onde ela parecia extinta. Você se considera perfeito por não sentir, mas é justamente por sentir que nós escolhemos lutar! E eu escolho! Aqui, agora, contra você… por cada vida que se recusou a se curvar ao seu domínio. Vida ou morte, Entidade… enquanto houver uma faísca no meu núcleo, ela será uma chama contra sua escuridão. Porque aqueles que acreditaram em mim… aos quais eu fiz uma promessa, eles esperam que eu nunca desista. E eu não vou.”

Seu corpo de titânio rugia em velocidade incomum para um ser tão robusto, as placas vibravam, o campo à sua volta distorcia levemente, como se o próprio ar temesse seu avanço. Raios de energia crepitavam por entre as fissuras de sua armadura, iluminando seu contorno com um brilho quase divino, a terra rachava sob seus passos flamejantes, e atrás dele, uma esteira de poeira e luz pintava a paisagem como o rastro de um cometa prestes a colidir com o impossível

E então, como uma resposta à sua fé, um relinchar metálico rompe o ar como um trovão de fúria viva. Não era preciso olhar: os cascos cibernéticos de Sahr Rebdush retumbavam sobre a terra como tambores de guerra, cada passada incendiando o solo, sua silhueta flamejante e demoníaca ganhava velocidade vertiginosa até se converter num raio escarlate que atinge Lanthalder com violência… mas não para detê-lo. Pelo contrário: o funde em si, amplificando-o. E naquele instante, o impossível aconteceu.

Dentro do clarão, o momento se cristaliza em câmera lenta, o demônio galopante, o Cavalo Infernal, Sahr Rebdush, havia transferido sua velocidade e energias absurdas ao homem-máquina. Lanthalder sente em sua essência, uma fusão entre o foco analítico e a fúria de seu aliado: agora havia força suficiente para fazer mais, seus olhos brilham com um misto de vermelho incandescente e azul nuclear e então, ele invoca o poder: “- TITANIUM!”

Sua mão direita converte-se numa esfera de energia pulsante, brilhante como o núcleo de uma estrela, até surgir diante do queixo do colosso, de onde a voz surgia uma vez mais e tentava impor suas retóricas de mundo, no entanto era tarde demais! 

Tendo concentrado todas as suas forças ofensivas naquele movimento, Lanthalder desfere o impacto com seu braço energizado a frente, realizando um ataque devastador na cabeça lapidada da criatura, acarretando dezenas de rachaduras minúsculas com o impacto, causando micro explosões e faíscas - pequenas à Thuram’Kar, mas ameaçadoras aos dois atacantes - criando uma auréola destrutiva assim como uma onda de choque, fazendo com que, apesar do sucesso aparente do ataque, Lanthalder fosse arremessado aos céus... e não havia onde pousar.

Outro relinchar. A aura demoníaca se dispersa como névoa vermelho...

Mais uma vez, a presença demoníaca cortou o campo de batalha, Lanthalder sente a energia obscura de Rebdush modular em seu corpo, sem abandoná-lo, apenas mutacionando a forma de simbiose, e das sombras o Cavalo Infernal ressurgia, agora sob Lanthalder em pleno voo, com gigantescas asas negras metálicas se abrindo em esplendor. Com precisão cirúrgica, Rebdush o ampara em pleno ar, permitindo que o homem-máquina o cavalgue, e os dois então mergulham juntos, em linha reta, prontos para uma nova investida, aproveitando o único momento em que Thuram’Kar pareceu realmente ter sentido algo.

Não havia palavras entre os dois, apenas entendimento, sua rota de colisão, apesar de distante, era iminente e clara, e a manobra aérea impecável confirmava isso também: os dois guerreiros mergulharam, rasgando o céu em direção ao inimigo, prontos para continuar a ofensiva enquanto o colosso ainda cambaleava devido o impacto.

Mas o que veio a seguir não era apenas silêncio ou fumaça... eram reforços. Do céu rasgado por nuvens negras, desceram em formação, dezenas de soldados robóticos alados, com asas de aparência dracônica, reluzentes como de morcegos metálicos, espadas em punho, escudos em prontidão! Não era possível definir se o colosso requisitara o apoio, ou se a entidade temeu a nova investida e tentou se assegurar, mas o fato era que o golpe potente havia mudado algo, e o inimigo percebeu!

O cavalo - agora alado - desvia dos atacantes aéreos, interrompe o ataque diretamente dos céus infestado de inimigos, e chega ao chão, onde se colocou a cavalgar com furor, na mesma direção, na mesma rota, no mesmo ataque! Lanthalder às suas costas observava e calculava, as criaturas - como cogitado - também manobraram, pousando igualmente e ficando metros à frente da dupla, visivelmente tentando impedir a chegada até o colosso!

O corcel demoníaco arfava, não diminuía sua marcha, a energia irradiava de suas juntas, os músculos metálicos contraíam-se com fervor, ao passo que Lanthalder percebia que a poderosa sinergia entre máquina e fera era total, e a luta os impelia a ação uma vez mais, havia um monstro a derrubar.

A voz da entidade, fria como gelo, ecoava entre os soldados alados: “- Sua insistência é inútil e patética, este mundo precisa de ordem, de controle, e apenas eu posso dirigi-lo para um rumo fora do caos completo, esse é meu destino.” Lanthalder nada respondeu, Rebdush também não, o que disseram foi com ação, aumentaram a velocidade, o cavalo rasgava o chão com seus cascos e ganhava impulso batendo suas asas, o androide se firmava e preparava-se para o choque iminente, eram dois contra o céu inteiro.

Como um bólido incandescente, os guerreiros rasgam o chão em uma investida devastadora contra a tropa inimiga, e o choque é brutal: o impacto abre uma clareira no meio da formação alada, arremessando corpos metálicos pelos céus, alguns são obliterados instantaneamente, despedaçados pela força colossal da colisão; outros apenas são lançados para o alto, para logo se reorganizarem e iniciar novo ataque. Em segundos, formam um cerco no ar, fechando-se ao redor dos dois heróis, e é então que o som da batalha é cortado por algo mais potente novamente!

Um guincho robótico rasga as nuvens como a lâmina de um deus ancestral. O som ecoa com poder divino, enquanto uma luz dourada explode no céu. Zhaal’kor, a águia majestosa de asas-lâmina, surge em meio ao clarão, cruzando os céus como um raio vivo, suas asas cortam o ar com precisão mortal, refletindo a luz dourada em rastros cintilantes, num voo descendente devastador!

Com precisão indescritível, ela mergulha contra o enxame inimigo nos céus, uma tempestade de metal e energia, e também em segundos, dezenas de soldados alados são despedaçados em pleno ar, reduzidos a destroços por cortes impossíveis de acompanhar, e eles sequer perceberam que o pior ainda estava por vir, pois Zhaal’kor não vinha sozinha.

Um uivo feroz rompe a tempestade de areia ainda remanescente, ecoando como o chamado de uma força ancestral e entre as cortinas douradas de poeira, o som das patas lupinas ribomba contra a planície. Korr'vhar surge, seu único olho cintila com energia cáustica azulada, os dentes à mostra em um rosnado destrutivo, seu corpo robótico avançando com força avassaladora e sua velocidade cresce até que sua corrida se torna um raio azul-claro, devastando os soldados-máquina remanescentes em seu caminho.

Em segundos, ele se equipara e se une a Lanthalder e Rebdush, agora os dois, eram três, unidos em um trio de pura fúria e poder em movimento, e naquele instante, antes mesmo que o impacto acontecesse, o colosso teve tempo suficiente, os viu em carga, e compreendeu o que estava por vir.

Unidos em velocidade, propósito e fúria, Lanthalder, Rebdush e Korr'vhar tornam-se mais do que guerreiros, tornam-se um fenômeno, a energia que os envolvia vibrava no ar como um trovão contido, raios vermelhos, azuis e brancos entrelaçam-se ao redor dos corpos em movimento, criando um núcleo incandescente de pura força. E então, como um meteoro celeste moldado por coragem e sacrifício, os três colidem contra o peito de Thuram'Kar.

O impacto é devastador considerando o potencial que desencadeou, a explosão de energia reverberou como um estrondo cósmico, rachando a terra ao redor, curvando árvores, desalojando rochas e varrendo as linhas da tempestade. O colosso recua com um rugido metálico, placas inteiras de sua carapaça sentem o poder da força conjunta, mas ainda não era o suficiente, nem mesmo aquela pressão titânica fora capaz de o derrubá-lo!

No entanto desta vez, os heróis não são arremessados pelo choque, pois no instante crítico, Rebdush abre suas asas demoníacas com um brado flamejante, sustentando a ele e Lanthalder no ar, pairando como predadores de metal diante da presa titânica, ao passo que Korr'vhar realiza um giro no ar e pousa com precisão e força bruta, abrindo fissuras no solo ao seu redor, olho fixo no colosso que cambaleava. Por um momento, o tempo pareceu congelar, a fumaça serpenteava ao redor deles, e o coração do mundo pareceu hesitar, mas o inimigo ainda estava lá, ele ainda não havia tombado!

O guincho de Zhaal’kor ecoa pelos céus mais uma vez, agudo, cortante, impossível de ignorar, e então, é a voz firme de Korr’vhar que brada entre os ventos da planície: “- Lanthalder! O Titanium! Thuram’kar nunca esteve tão vulnerável! Se temos uma chance, é agora! Desfira seu golpe mais poderoso... e deixe que Zhaal’kor faça seu espetáculo!”

O androide não hesita, ele confiava plenamente nos três, confiava em suas vozes, suas ações e seus instintos, forjados na dor, na guerra e na lealdade. Lanthalder salta do dorso de Rebdush como um cometa metálico, seu braço se transforma na lâmina energética robusta, vibrando em tons azulados vibrantes, a energia cortante flui e se molda, preparada para dividir pedra e aço.

No exato momento em que mergulha dos céus rumo ao colosso, Zhaal’kor intercepta sua descida com precisão absoluta, acoplando-se ao braço do herói, o impacto entre as duas armas vivas gera uma fusão energética que incendeia o ar, e então, o golpe é desferido.

A lâmina ampliada choca-se contra o ombro de Thuram’kar como um trovão rasgando o firmamento, e a Titanium reverbera pelo corpo do monstro em ondas brutais de energia destrutiva, forçando suas defesas, superaquecendo sua couraça de ametista, até Lanthalder aterrissar no chão em meio a faíscas, fumaça e tremores sísmicos.

O som do impacto fora ensurdecedor, um estrondo atroz que reverberou como o rugido de mil trovões. O ar se encheu com o cheiro pungente de metal em fusão e de ametista sendo violentamente corroída por uma energia que não pertencia a este mundo, assim como um clarão varreu o campo de batalha, seguido de uma onda de calor sufocante e faíscas que dançavam como chamas vivas.

Lanthalder aterrissou e, em uma acrobacia fluida e precisa, se lançou para trás, deslizando pelo solo com firmeza até parar ao lado de Korr’vhar. O lobo robótico o recebeu com um aceno breve, afirmativo, como quem reconhece o valor de um ataque bem executado. Rebdush e Zhaal’kor também pousaram próximos, formando novamente uma frente de metal e energia entre o vilarejo e o titã. Seus olhos buscavam sinais, qualquer evidência de que o golpe conjunto havia surtido efeito real.

E de fato, havia marcas: a perna do colosso se moveu com dificuldade, as juntas chiavam com esforço, e sobre sua estrutura maciça, era possível ver longos rasgos profundos no trajeto do golpe de Titanium, cortes que atravessavam rochas e expunham engrenagens internas. Microfissuras reluziam no rosto e no peito da criatura, um mapa de feridas recém-infligidas.

Mas ainda assim… ele se manteve em pé, gigante, ainda era insuficiente dizer que o ser parecia abalado, e o que para qualquer inimigo seria um golpe fatal, para Thuram’kar parecia estar ainda longe de ser capaz de o derrubar! Foi então que novamente Korr’vhar comentou: “- Não há outro jeito Zhaal’kor, pra salvar os Vaarikhen, será necessário deixar de lado suas ressalvas… A decisão é sua, aja como sua mente julgar correto, mas... Não garanto que seguirei suas ordens dependendo de sua resposta, minha líder…”

A águia observa o lobo robótico, Rebdush em sua forma demônio, com um punho cerrado junto ao rosto e o braço tensionado, demonstrava, sem uma palavra, que incentivava a águia a fazer o correto, ao passo que a mesma meneou a cabeça e logo depois finalmente concorda: “- Então, que assim seja... Eu não cogitei que tomaria tal decisão depois de tudo, mas a situação não oferece opções…” Zhaal’kor olha para Lanthalder e então completa: “- Lanthalder! Não há garantias de que sobreviverá ao processo, ainda assim está disposto a tentar?”

O androide sorri, sua expressão, embora robótica, demonstrava agradecimento e satisfação, e sem perder mais tempo, ele acena positivamente e conclui: “- Por favor, apenas me permita salvar os aldeões, o futuro decidimos após, se houver um após!” Zhaal’kor acena positivamente com a cabeça, ao passo que Lanthalder vira-se para o colosso que se aproximava, iniciando então a convocar novamente sua arma devastadora, a única que talvez, pudesse enfim derrubar Thuram’Kar…

O androide sentia os circuitos internos oscilarem, as marcas do combate prolongado vibravam por sua estrutura como sinos de advertência. Seu reator interno já havia sido sobrecarregado uma vez, o Próton Canon fora ativado não muito antes, e ele tinha dúvidas, se seus sistemas aguentariam outra descarga da mesma magnitude, quanto mais, uma acrescida de uma sobrecarga ainda desconhecida para seus ssistema... Mas o tempo havia acabado, Thuram’Kar se aproximava da vila!

O colosso, levemente ferido e completamente longe de estar derrotado, parecia cada vez mais uma sentença inevitável pairando sobre o vilarejo... Lanthalder encarou a muralha viva de ametista, vapor e aço, com seu olho óptico tremeluzindo entre leituras instáveis: “- Margem de tolerância energética: abaixo do ideal. Chances de falha crítica: 83,4%.” E mesmo assim, ele ergueu o braço.

O gesto era pesado, lento, como se a própria realidade resistisse à sua decisão. Com o braço direito apoiando o esquerdo, ele reuniu cada fragmento de energia remanescente, placas de titânio rangeram, expelindo faíscas, o som era mais um lamento do que um brado, como se a máquina suplicasse para não ser levada além do limite, mas não havia escolha…

“- Este mundo... Precisa sobreviver... E toda a vida… É importante.”

Então Korr’vhar correu como um trovão, suas patas pesadas golpeando o solo como martelos, parou à frente de Lanthalder, como um escudo de músculos metálicos e instinto feroz. A cabeça lupina se ergueu, seu único olho brilhou em um tom de azul elétrico tão intenso que parecia uma estrela em fúria, e de seu corpo, raios de energia pulsante começaram a emanar, como se o trovão de um céu cósmico tivesse tomado forma ali mesmo.

À esquerda, Rebdush - em sua forma demoníaca - ergueu e cruzou os dois braços para logo depois os deixar descer com vigor ao lado do corpo, sua cabeça se inclinou para o alto, e com um rugido ancestral, um urro de essência pura, liberou o poder do deserto. As areias ao redor responderam, elevando-se como uma tempestade em espiral ao seu redor, a energia negra que jazia em seu âmago começando a emanar de seus olhos, em forma de uma aura espessa, pulsante, como que a tomar conta do local!

E no céu, pairando como um espírito guardião, ao lado direito de Lanthalder, Zhaal’kor impulsionada pela atitude de prontidão dos demais, mantinha suas asas levemente abertas. Ela fechou os olhos, nenhuma palavra, nenhum som, somente a paz antes da tempestade, e então, lentamente, sua energia dourada começou a irradiar, sutil no início, como poeira estelar, mas logo se tornando intensa como a luz do próprio sol.

E então… Lanthalder sentiu. Seus sistemas, já combalidos, adaptaram-se numa fração de segundo, painéis abriram-se em seu tórax, braços e ombros, revelando circuitos móveis e estruturas modulares, nano robôs se agitaram como serpentes microscópicas, reorganizando-se para captar, redirecionar e absorver cada fragmento da energia cedida pelos companheiros.

O corpo do androide começou a brilhar com três núcleos distintos: azul vívido, negro profundo e dourado radiante. Toda sua estrutura tremeu, alarmes dispararam internamente, suas junções estalaram, placas metálicas pareciam querer se retesar, a energia vazava por entre as fendas de seu corpo como lava prestes a romper um vulcão. Ele sentia tudo, o peso, a força, o calor, a dor… e a responsabilidade. Se sobreviveria ou não, já não importava, era a hora de disparar.

A estrutura do braço começou a se energizar como um poderoso núcleo de luz, revelando os anéis concêntricos do Próton Canon, uma luz azul-fóssil pulsava de dentro, fraca a princípio, depois frenética, e por fim, abrasadora como o sol em colapso. O solo ao seu redor se partia e o ar vibrava, ao passo que seus, agora companheiros, pareciam forçar mais a concentração e a emanação energética que fluía para o androide, deixando claro a qualquer um, a gravidade da energia sendo reunida.

Lanthalder então se abaixou, canalizou a força, se arremeteu para cima com uma potência de impulso jamais sonhada, atingiu a altura do peito de Thuram’Kar, com ele estando há quase menos de cinquenta metros do herói, e assim ele apontou, fechou seus olhos por um milésimo de segundo, não para calcular, mas para simplesmente aceitar, talvez aquele fosse seu último ato! Finalmente, com a voz rouca, quase humana, bradou: “- PRÓTON CANON – OMEGA BLAST!”

O disparo atravessou o ar como um cometa, a luz, mais pura que plasma, mais quente que o desespero, cortou os céus e atingiu o ponto exato: o núcleo instável no peito do gigante. Não por força, mas por precisão, por intenção, por esperança alimentada pelo sacrifício. Lanthalder fora arremessado para trás pelo recuo, seu braço esquerdo se incendiou de dentro, e todos os sistemas dispararam todo e qualquer sinal de falha iminente, mas ele ainda estava consciente, enquanto girava e buscava uma forma de cair em pé, ele por si só, ainda estava também de pé.

Fisicamente o guerreiro máquina se sentia literalmente partido por dentro, tal qual Thuram’Kar, mas ainda assim Lanthalder sorriu, haviam atingido uma vitória impossível.

O raio de prótons havia acabado de rasgar o ar com um zumbido crescente, cruzando o campo como uma flecha de luz e energia pura, Lanthalder havia sido arremessado para longe, com uma nuvem de poeira gigante a se espalhar pelo local devido ao impacto! Quando atingiu o ponto exato no núcleo de ametista do colosso, não houve explosão imediata, ao invés disso, o impacto reverbera em silêncio por uma fração de segundo, como se o mundo prendesse a respiração. Então… o som muda.

Um estalo profundo, surdo, seco. A ametista vibra, fraturando-se por dentro com um brilho pulsante, fios de luz percorrem seu interior como veias de energia instável. O colosso dá um passo em falso, então outro, cambaleia, sua estrutura colossal vacila, pequenos estalos se transformam em rachaduras visíveis, como relâmpagos de cristal rasgando sua couraça mágica.

Faíscas e vapor escapam de suas juntas, engrenagens giram em falso, soltando sons metálicos descompassados, luzes em seu corpo piscam erráticas, do núcleo, uma reação em cadeia se inicia, a ametista - em colapso - rompe a harmonia do maquinário arcano e cada rachadura gera uma nova, se deixando levar em uma onda de energia interna que se alastra, detonando os condutores mágicos que conectavam a alma da montanha à sua carcaça de guerra.

Thuram’Kar gira a cabeça, como se confuso, seu olho direito apaga-se, o esquerdo pisca uma última vez… e então, ambos se apagam.

O braço direito explode parcialmente, voando em pedaços como rochas arremessadas por um deus enfurecido, o peito se abre como um casulo rompido, revelando o núcleo instável que brilha por um instante com fúria... e depois se apaga, colapsando em si mesmo. As pernas cedem, primeiro ajoelhando; o chão então estremece e um gemido profundo sai de seus exaustores, o som de uma besta de aço morrendo. O colosso, contra todas as possibilidades mostradas até agora, tomba para trás.

A terra treme como se o próprio mundo estivesse desabando, a queda levanta uma muralha de poeira, deslocando o ar como um trovão, rochas se desprendem de seu corpo, voando em todas as direções, partes inteiras se soltam, como placas metálicas perdendo sua âncora. Um último clarão interno, e então tudo se apaga. Silêncio completo…

Fumaça, faíscas e pequenos incêndios crepitam sobre a carcaça moribunda. Não havia mais voz, não havia mais ameaça, apenas o cadáver metálico da montanha caída, jazendo como uma ruína de eras, vencido não por brutalidade, mas por estratégia, fé… e sacrifício. A batalha terminara.

A poeira da queda ainda não havia se assentado por completo quando se ouviu a ovação no vilarejo logo atrás, os primeiros aldeões começaram a surgir pela pequena passarela aberta nas rochas, primeiro aqueles com alguma responsabilidade sobre o local, depois os demais adultos, e por fim, as crianças vinham logo atrás, todos com olhares entre a reverência, a euforia e o espanto.

Os quatro heróis estavam ali, três deles ao redor do quarto, Lanthalder, ainda em silêncio, seus corpos cobertos por marcas da batalha enquanto o androide tentava se manter em pé; a luz em seus olhos oscilava entre alerta e contemplação apesar do esforço do guerreiro máquina, à olhar para os nativos. Korr’vhar permanecia imóvel como uma estátua protetora, Rebdush cruzava os braços, o semblante de guerra suavizado por uma inesperada tranquilidade, ao asso que Zhaal’kor estendia as asas, recolhendo-as lentamente, como se encerrasse um ritual.

Então, uma pequena criança correu à frente da multidão, rompendo o medo. Ela segurava uma flor em mãos, seus passos titubeantes levaram-na até os pés de Lanthalder... Ele olhou para ela, e mesmo sem um rosto humano, ela soube que estava segura. A criança estendeu a flor, e o androide, após um segundo de hesitação, se ajoelhou e com delicadeza surpreendente, pegou a pequena oferenda. Fora o suficiente.

A criança virou-se para os demais, correu em direção aos outros e eis que o líder do vilarejo, Berham, olha para todos e principalmente para Lanthalder, deixando escapar o que todos os aldeões desconfiavam desde o início da intervenção: “- VHALTURIAN!”

Então, um retumbar de alegria tomou conta da vila. As pessoas avançaram em ondas, algumas chorando, outras rindo, muitas apenas gritando palavras de gratidão que se perdiam no coro geral, tambores improvisados começaram a soar, crianças dançavam, e velhos aldeões cantavam hinos esquecidos, resgatados pelo milagre da sobrevivência.

Foi neste momento de intensa alegria e comemoração, que sem qualquer aviso, sem qualquer chance de que qualquer um pudesse perceber, o ato talvez mais inesperado por todo e qualquer ser que ali estava, ganhou seu espaço… Lanthalder desaba ao chão, completamente inerte e sem qualquer sinal de atividade!

Continua...

Galeria de artes do episódio:

O vilarejo ancestral, chamado por Zhaal'kor de Dharavorn:

O povo chamado de Vaarikhen, moradores da ancestral Dharavorn:

Thuram'kar, a montanha viva, agora em sua nova forma:


Sahr Rebdush (Tharnak), o demônio galopante:

Zhaal'kor (Ehllënia), a águia majestosa:

Korr'vhar (Caolho), o protegido do esperançoso Dummok:

Lanthys, o enviado dos Observadores ao planeta Aurithar:

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