A chuva crepitava ao tocar a couraça de Draal’vethar, cada gota deixava um rastro sutil de fumaça quando tocava a pele metálica da fusão heroica. O céu, ainda revolto, abria-se em clarões tímidos, como se o próprio mundo estivesse lutando igualmente, para retomar o controle de suas decisões outra vez, e a cada passo firme daquele titã em direção ao domo, a esperança ganhava terreno sobre o desespero.
Dentro da fusão, quatro consciências distintas existiam, embora unidas em um único ser… Sahr Rebdush, o demônio galopante, a fúria viva em busca de vingança; Zhaal’kor, a águia majestosa, carregando a mágoa e a tristeza pelas atitudes dos povos, e Korr’vhar, o lobo ferido, que havia desistido da própria vida por não encontrar uma razão para continuar a existir… Ao centro de todos e como catalizador, Lanthalder, o androide vindo de outro mundo para reacender a chama da esperança em um mundo devastado…
Cada qual tinha seus motivos, cada qual havia encontrado uma razão para tal embate… Mas eram os pensamentos de Zhaal’kor, se analisados, que poderiam, naqueles minutos que os separavam do encontro final com Sigma, explicar mudanças de pensamentos, não somente dela, mas também do demônio galopante Rebdush, que pareciam não compartilhar da ideia de uma jornada e conjunto, mas no derradeiro momento, foram a diferença entre vitória e derrota!
Ela lembrava claramente, tudo que parecia certo e irrevogável, mudou em algumas horas, diante da mente e alma dos dois que agora, eram quatro! As imagens voltam no tempo, e ela retorna a instantes logo depois que deixou Korr’vhar, Lanthys e Rebdush, este era um de seus dons, poder focar em algo e retroceder em um tempo onde ela fosse atraída até aquele instante, por algum pensamento ou atitude, um dom que ela havia prometido não mais usar, pois trazia as piores recordações e momentos de sua existência…
Zhaal’kor rasgava os céus de Aurithar, suas asas metálicas, feitas talvez de prata ou de luz das estrelas, refletiam os raios da chuva ácida que agora se desfazia, ela não queria mais olhar para baixo. Aquele mundo, que escolhera o engano em vez da verdade, o medo em vez da coragem, não merecia sua compaixão, havia aprendido isso de forma cruel, quando viu Th’redox ser apedrejado até a morte pelos mesmos que ele jurara proteger.
Recordava-se nitidamente da cena: o sangue misturado à poeira, o rugido da multidão enlouquecida pelas mentiras da entidade, e o olhar de Th’redox, sereno, sem revidar, porque sabia que lutar contra eles seria apenas reforçar a mentira disparada contra ele. Aquele olhar a despedaçou e desde então, ela passou a pairar nos céus como um espectro, desistindo de quem foi, desistindo de ser Ehllënia e se tornando apenas Zhaal'kor, condenando Aurithar em silêncio, acreditando que nada, nem os povos, nem os deuses, nem a própria verdade, mereciam ser defendidos.
Agora, enquanto subia cada vez mais alto, tentando se afastar da tolice de Lanthys e Korr’vhar que desciam rumo ao coração do domo, algo aconteceu, a chuva parou e não fora algo natural, ela tinha certeza, mas sim um corte repentino, como se o mundo tivesse prendido a respiração. As nuvens, que sempre dançavam em caos, abriram-se em uma brecha rara, e por entre elas desceu uma luz clara, não fria como a das máquinas, mas cálida como fogo aceso em meio à noite, e nesse clarão, Zhaal’kor viu… Não foi Lanthys, não foi Rebdush, não foi Korr’vhar, ela viu o povo.
Nas praças, entre ruínas, nas vilas de pedra rachada, ela enxergou homens, mulheres, crianças de Aurithar que olhavam para o céu não com medo, mas com esperança, mas ela não conseguia compreender o porquê… Curiosa e incapaz de entender tamanha mudança de pensamento, ela focou novamente, e uma vez mais seu dom foi ativado, retornando mais ainda nas horas, e então, estupefata, ela presenciou algo que não acreditaria ver mais….
Orr’vhael, o excêntrico inventor de eras esquecidas, surgia como uma visão impossível diante dos céus. Seu corpo maciço, barba longa e entrelaçada em nós rudes, oscilando ao vento como uma bandeira de sabedoria e loucura, deixando claro o tipo de ser que era, em um instante falava com a serenidade de um ancião sábio, e no instante seguinte rugia como um viking em batalha, sua voz ecoando trovões de fervor.
E sua aeronave, o “Grifo” - ninguém ousaria chamá-la de máquina ou de magia em essência pura, porque era ambas e nenhuma - flutuava com a leveza impossível de um sonho, lembrando vagamente um avião arcaico, as asas, esticadas em couro de wyvern, rangiam como portais abrindo-se para o firmamento, e cada engrenagem cuspia faíscas e fumaça etérea que mais pareciam notas de música do que estalos mecânicos.
Ele cruzava os céus do mundo em horas, não em dias, passava por cima de oceanos revoltos como um relâmpago rasgando horizontes, o som único e específico da aeronave ecoava pelas montanhas e vales, mantendo o foco da visão de Zhaal’kor, da mesma maneira que o povo, olhando para o alto, via não apenas uma figura insólita, mas um presságio, um arauto daquilo que estava por vir.
Em cada cidade sobrevoada, ele fazia a aeronave descer em círculos lentos, projetando sua voz por cornetas, uma pequena tela instalada no “Grifo” mostrava Lanthys e Korr’vhar a seguir caminho, e runas que amplificavam seu chamado se unindo a todo o resto:
“- Ouçam, povos de Aurithar! Lanthys, a chama indomável, e Korr’vhar, a resistência incansável, marcham contra a entidade que ameaça todos os reinos, desde eras impensáveis! O destino do mundo não será selado nas sombras, será conquistado pela coragem!”
Eram palavras que incendiavam corações, onde passava, mercados inteiros silenciavam, crianças largavam seus brinquedos, guerreiros erguiam lanças, sacerdotes choravam de emoção. Em aldeias isoladas, o povo acendia fogueiras para celebrar, acreditando que testemunhavam o retorno de uma era lendária.
Em fortalezas imponentes, senhores e reis paravam conselhos de guerra apenas para se atentar a estranha aeronave, e muitos gritavam em uníssono como se estivessem diante de um milagre, outros se preparavam para entender como tirar vantagem deste possível embate.
As ondas desse anúncio corriam como fogo em pradaria seca, a notícia se tornava canção, depois prece, depois grito de batalha, povos inteiros que antes viviam na descrença começavam a olhar o céu e pensar em cogitar algo que não fosse descrença e desesperança.
E em cada pouso breve, Orr’vhael não era apenas arauto, era espetáculo. Dançava sobre sua aeronave, ria em gargalhadas trovejantes, bebia dos barris que carregava e contava histórias antigas, como se quisesse gravar no mundo que aquilo não era apenas uma guerra, era uma saga. E quando partia de novo, sempre alçando voo em explosões de fogo e luz, deixava atrás de si multidões em êxtase, corações acesos e a certeza de que o impossível estava a caminho.
Assim, sua viagem não era apenas uma travessia: era um eco global, uma lembrança viva, da perdida esperança e também de incentivo ao revide emocional, que se espalhava de forma incrível, como maré inevitável.
Zhaal’kor, que observava das alturas, via tudo aquilo e começava a vislumbrar: as palavras de um ancião feliz, que abandonou a postura serena para apostar tudo em quem ele acreditava mais que todos, estavam incrivelmente mudando o olhar de muitos, e isso poderia se alastrar muito ainda… Não era mais apenas uma batalha de espadas e magias, era o próprio mundo, unido pelo clamor, preparando-se para enfrentar o inimigo que se erguia além das trevas.
Mas então, a visão de Zhaal’kor a levou para outros pontos, o foco em Orr’vhael e sua viagem fora quebrado, porque outro acontecimento de grande importância, iniciou a acontecer tão logo o velho sábio iniciou sua jornada em busca de despertar a verdade na população… O revide daqueles que não desejavam a mudança, e desejavam continuar a usufruir das benesses oferecidas pela entidade, mesmo que a grande massa daquele planeta vivesse em pesar constante…
Assim, tão logo os levantes dos monarcas iniciaram, igualmente os ventos sopravam secos sobre as planícies de Aurithar, levantando poeira comum que, para olhos desatentos, não passava de tempestade passageira, mas havia algo a mais no ar… algo mais denso, mais pesado, mais vivo. Onde havia opressão, onde os regentes erguiam mãos contra seus próprios povos, a areia respondia, em forma de vingança, e em cada resposta, Rebdush estava lá.
Na primeira cidade, soldados marcharam contra trabalhadores esfomeados que ousaram pedir mais pão do que recebiam, alegavam não ser o suficiente, pediam um acréscimo na quantidade, mas a resposta fora o aço reluzindo, as lanças sendo erguidas, e no instante em que iriam começar a ação de dispersão através da força, o horizonte tremeu, um turbilhão de areia vermelha tomou forma, rodopiando em fúria, como um deserto inteiro comprimido em frenesi vivo abaixo dos pés da força repressora do local.
Os soldados recuaram, mas era tarde: do centro da tormenta surgiu um cavalo metálico infernal, seus cascos de ferro faiscando contra o chão como martelos de guerra, queimavam com brasas rubras, rasgando o solo e deixando um rastro cáustico e de destruição por onde galopou. O impacto foi absoluto, tropas destroçadas, muralhas partidas, o som de cascos ecoando como trovões de ferro até o último soldado tombar, e tão rápido quanto surgiu, a tempestade de areia - e também Rebdush - sumiu, deixando o povo e governantes, atônitos diante da ação brutal!
Na segunda cidade, poucos segundos depois, os regentes acreditavam em sua fortaleza cercada por máquinas bélicas, autômatos blindados que patrulhavam as ruas, mas quando lançaram as tropas contra crianças e mulheres em protesto, o chão estremeceu, as muralhas começaram a rachar, a areia brotava das pedras. Ela se elevou em colunas, se enroscou em redemoinhos e, num instante, a tempestade tomou todo o céu, os autômatos disparavam cegamente, mas não havia alvo: o inimigo era o próprio ar.
E então, no meio do vendaval, o demônio de metal se materializou, olhos incandescentes, membros alongados em lâminas de obsidiana, devastando as máquinas como um predador devora ossos frágeis. Os regentes olharam da varanda, e viram Rebdush olhar de volta, ele não apenas os derrotou, ele os caçou, a varanda ruiu sob a tormenta, e deles só restou silêncio.
E assim foi, cidade após cidade, Rebdush não era convocado, ele era atraído. Onde a maldade ainda se concentrava nos tronos dos falsos líderes, onde a ordem do chicote ainda calava a liberdade, a areia se agitava e rugia. Não havia negociação, não havia misericórdia, apenas o terror de um cavaleiro infernal que surgia das próprias entranhas do mundo para punir os que traíram seus povos.
De canto a canto de Aurithar, espalhou-se o sussurro: “O demônio galopante controla as areias uma vez mais… Onde houver injustiça, a tempestade virá, se opressor ali estiver, o cavalo do inferno galopará.” Em poucas horas, cada líder corrupto, que estava prestes a ordenar que seus soldados marchassem contra inocentes, agora hesitava, as notícias estavam chegando, quem tentasse se manter ao lado da entidade, o próximo rugido no horizonte não seria o vento… mas Rebdush chegando para o julgamento.
O cenário agora era uma das últimas cidades visitada pelo demônio em questão de horas, as chamas ainda crepitavam nas carcaças dos autômatos, seus corpos metálicos partidos e fundidos em manchas derretidas no chão da praça, a multidão, que no início se encolhia com medo das lâminas de luz e da fúria torrencial de Rebdush, agora erguia os olhos em silêncio.
O demônio arfante, ainda transbordando gotas faiscantes como brasas líquidas, pairava sobre as ruínas com o bater pesado de seus cascos, a buscar pelo novo indigno a sentir seu desejo de vingança e, foi durante um instante, que ninguém respirou e o som do vapor se dissipando no ar parecia o suspiro da própria cidade, que uma frase cortou o ar…
“- Nunca percebemos... Eles eram monstros… Mesmo o demônio reconheceu isso…” Murmurou um dos senhores que em tempos e ataques passados, chamava Rebdush de desgraça viva. A palavra saiu fraca, sem convicção, enquanto uma criança, segurando a mão da mãe, apontou para o mesmo Rebdush e sussurrou: “- Ele... ele nos salvou... dos monstros de verdade.”
Aquela frase inocente foi o estalo, como se um véu fosse rasgado, os olhares de pavor se transformaram em reconhecimento, e o povo que um dia viu o ser atormentado como uma calamidade, via agora que a criatura punia, a quem realmente destruía a outros, para seus próprios interesses… Rebdush pela primeira vez não era visado como ameaça, mas como espada contra os verdadeiros tiranos.
Os gritos então começaram, tímidos à princípio, mas logo se ergueram como trovões, e em seguida eram avassaladores: “- Libertador! Vingança! Salve o Demônio Galopante!” Rebdush não respondeu, não buscava títulos, tampouco gratidão, ele queria derrubar todos que causaram sua tristeza, utilizando do mal para se manter acima dos demais, era a única sensação que lhe dava alguma forma de conseguir suportar a dor que sentia pela perda!
Mas, naquela noite, os pobres, os esquecidos e os oprimidos escolheram vê-lo não como a besta infernal, e sim como a ira que eles mesmos não podiam carregar. E Rebdush, em meio aquele turbilhão de novas emoções e novas atitudes do povo, encontrou - assim como demonstrou - haver mais maneiras e sentimento a conseguir aplacar a dor que o corroía, ao invés de executar vingança, ser o arauto da justiça!
Zhaal’kor então retoma sua visão real, ela havia presenciado todo um acontecimento de horas em minutos, seu mundo antes individualista e até mesmo mesquinho, havia mudado, e em questão de poucos raciocínios, ponderações e argumentos - além de diversas visões incrivelmente impactantes - sua mente percebeu que por eras, ela foi seu pior inimigo, e o maior causador de sua incapacidade de derrubar os muros que a cercavam em um mar de lamentações e desconfiança!
E como a tentar colocar-lhe à prova, o céu de Aurithar escureceu repentinamente quando as máquinas de repressão avançaram pelas ruas de pedra de uma das cidadelas logo abaixo de onde voava a majestosa águia, suas engrenagens retumbavam como trovões metálicos, e os olhos rubros de suas cabeças mecânicas projetavam feixes de luz inclemente, vasculhando a multidão. Homens, mulheres, idosos e crianças se comprimiam contra muros e vielas, tentando fugir, gritos ecoavam, mas eram abafados pelo zunir frio das armas automáticas sendo armadas.
Os dominadores, instalados em varandas altas, olhavam com desdém, confortáveis, protegidos, indiferentes, para eles, os pobres eram apenas combustível para a engrenagem de sua comodidade. Mas então, antes que a tropa pudesse disparar contra a massa de corpos indefesos um único disparo que fosse, o ar vibrou, e desta feita, não era Sahr Rebdush o demônio galopante!
Do alto dos céus, como uma luz fulminante sendo emanada, como se o firmamento tivesse se partido em ondas de energia pura, emergia Zhaal’kor, a entidade robótica mesclada com luz destreza, que agora carregava consigo uma profunda visão de tempo perdido em auto piedade, e uma necessidade urgente, de, como Korr’vhar, Lanthys e Rebdush, tomar seu lugar no mundo, e encarar seus erros e falhas, para que não se tornasse também, um catalizador e extensor das chagas de Aurithar.
Suas asas de luz cortante, lâminas que pulsavam como o sol refletido em mil superfícies, ela se lançou ao combate, os autômatos levantaram suas armas, mas não houve tempo para reação. Com o guincho que não era voz, mas um trovão ensurdecedor e aterrorizante, Zhaal’kor atacou, as asas varreram os espaços inimigos, e cada movimento era uma sentença: colunas inteiras de robôs foram cortadas ao meio, desintegrando-se em fagulhas e carcaças partidas. Onde seus feixes tocavam, o metal se derretia como manteiga ao sol.
A energia pura que alimentava seu corpo avançou em torrentes, como tentáculos fluidos que envolviam e esmagavam máquinas, arrancando engrenagens e circuitos, em poucos instantes, a rua se transformou em um campo onde destroços jorravam como ondas quebradas. Os dominadores, nos altos, estremeceram, eles haviam ouvido falar sobre Rebdush e embora não fosse o próprio, eles temeram por suas vidas…
No entanto, a águia majestosa não era uma assassina. Ela sabia que havia tarefas muito mais vitais do que simplesmente tirar a vida de corruptos, mais ainda, em sua visão, eles não deveriam morrer, mas sim viver, para que pudessem ser depostos e obrigados a redimir seus erros, trabalhando em prol do novo mundo. Essa sim, seria a verdadeira punição adequada!
Suas asas se abriram, como se conseguindo cobrir toda a praça, os pobres, acuados, viram a silhueta colossal bloquear a luz das chamas e dos refletores mecânicos, e algo que eles jurariam se chamar esperança, começava a brilhar em seus olhos e em seus íntimos mais profundos e solidificados.
Zhaal’kor ergueu-se acima das ruínas, a energia fluía por seus olhos, como se fervendo em fúria, e, observando cada um dos regentes diretamente aos olhos, deixou clara sua sentença… “- Não existem mais reis acima dos mais humildes… Corrijam suas mentes e assumam sua posição junto ao povo, ou voltarei e os obrigarei a fazer!” Sua presença aterrorizava como mar revolto contra penhascos, e o silêncio que se seguiu após seu bater de asas poderoso e voo em direção incerta, foi mais avassalador do que qualquer grito.
Em um voo avassalador, Zhaal’kor irradia uma energia dourada pelos olhos, sua mente atravessa o véu invisível e alcança a de Rebdush, que, tomado de surpresa, estremece por dentro. Há muito tempo não era contatado pela águia líder, e o que ouviu não apenas o surpreendeu, foi algo que o abalou e, ao mesmo tempo, lhe trouxe clareza. As palavras de Zhaal’kor não foram apenas poderosas; foram convincentes, corretas… e, acima de tudo, fizeram sentido:
“— Rebdush… Lanthys e Korr’vhar talvez não precisem de nós para alcançar a vitória... Acredito que o poder deles seja suficiente e eu deixei claro que não queria tomar partido. Mas eu vi você em ação, eu vi a satisfação em sua justiça, e não na vingança eu vi em você a vontade de fazer algo, mesmo sem saber exatamente o quê… E, você encontrou uma maneira e me mostrou que eu poderia ter aplicado essa maneira também... Diante disso, percebi que eu estava mais errada do que todos, e é chegada a hora de abandonar a lamentação, e encarar meus erros, Ehllënia deve reencontrar sua verdadeira essência. E…”
O silêncio se prolonga por alguns instantes. Rebdush não responde, apenas aguarda, o respeito o mantém quieto, então, com decisão firme, a águia conclui: “— Seria uma honra encerrar esta página de minha vida ao lado de todos vocês. Se estiver disposto a me conceder essa honra, me encontrará no campo de batalha, junto a Lanthys e Korr’vhar!”
A cena volta ao campo de batalha, as consciências estavam interligadas, agora todos tinham conhecimento dos momentos que antecederam as chegadas de Rebdush e Zhaal’kor ao campo de batalha! Era agora possível a todos entender os posicionamentos e sentimentos de cada um deles, o que levou cada um dos quatro, a tomar as decisões que tomaram e o embasamento no qual se calçaram!
Agora, mais confiantes e decididos consigo e com os demais, eles se tornaram mais coesos e determinados que nunca, o “Draal’vethar” seguia sua marcha, irredutível, com a certeza no mais alto de seus intentos, consciente de estar tomando a decisão correta!
Era possível aos quatro, sentir a nova energia que fluía pelo mundo… Os auritharianos haviam visto tudo… Lanthys caminhando sozinho em direção ao impossível, Korr’vhar o acompanhando sem mais receios… Rebdush explodindo sua fúria e Zhaal’kor assumindo novamente seu lugar naquele universo de um mundo…
Nenhum deles por poder, nenhum deles por glória, mas pura e simplesmente por convicção, por decisão própria, mesmo tendo de confrontar seus medos e mágoas. E pela primeira vez em eras, o povo não estava em fúria, não estava em silêncio cúmplice, estavam reunidos em murmúrios que cresciam como coro, não eram gritos de ódio como os que destruíram Th’redox, eram sussurros de fé, frágeis, mas vivos.
Zhaal’kor em seu íntimo fechou os olhos, e foi como se o espírito de Th’redox falasse com ela, não em palavras, mas em sentimento. Ele não havia se deixado matar por anulação de si mesmo, mas porque acreditava que mesmo a cegueira poderia ser curada, através do exemplo, da atitude, e agora, diante de seus olhos, Lanthys fazia aquilo que eles não conseguiram fazer: reacender a centelha da esperança em um povo desiludido.
Uma lágrima líquida, feita da própria essência energética da águia, escorreu por seu rosto metálico e caiu, evaporando antes de tocar o corpo de Lanthalder, e ela então assimilou em definitivo o que jamais deveria ter permitido a si mesma esquecer: não era Aurithar que tinha falhado com eles, ela é que havia desistido de Aurithar.
Em poucos minutos, sob a chuva ácida que caía em turbilhões, a entrada do domo-laboratório surgiu diante dele, majestosa e ameaçadora a barreira parecia se impor, e eis que uma porta colossal então desceu do topo com fúria, tentando selar o caminho, no entanto, já não havia barreira capaz de deter o herói, e com um só golpe de punho, sua vontade e união fez o que homens e máquinas acreditavam inquebrável.
Draal’vethar ergueu o punho direito e, num impacto devastador, o aço da porta imensa estremeceu e afundou como se fosse argila diante de sua fúria. O eco do golpe reverberou pelo domo, como trovão aprisionado em ferro, então, com ambas as mãos, ele cravou os dedos na estrutura retorcida, arrancando-a de seus eixos com força descomunal. Em um só movimento, arremessou a colossal barreira para longe, fazendo-a voar pelo ar como mero fardo diante de sua determinação máxima, e suas palavras ecoavam, com os quatro se pronunciando em uníssono, formando uma nova e poderosa voz: “- Chega de subterfúgios Sigma, isso se encerra agora!”
Dróides combatentes avançam, uma inútil resistência, não havia nenhuma chance para eles, um único impacto do punho esquerdo de Draal’vethar, e um deles explodiu em estilhaços metálicos incontáveis. Outro fora dilacerado em quatro partes sob os cortes implacáveis dos braços-lâmina e na sequência, com um poderoso bater de asas, o guerreiro ergue-se aos céus, para logo então descer como um torpedo no coração da formação inimiga, esmagando o solo com tamanha fúria que o impacto ecoou pelas estruturas, movimentando pedras e vigas, como se a própria fortaleza tremesse diante de sua ira.
Os dróides, atingidos pela descarga cinética devastadora, foram reduzidos a nada, vaporizados no instante do impacto, nada restava capaz de deter o herói, que agora avançava imponente pelo ambiente. O silêncio após a destruição revelava o óbvio: Sigma também compreendia a verdade. As próximas portas, pareciam corroídas pelos séculos e pelo abandono, rangiam em um som mecânico quase espectral ao se abrirem lentamente diante da aproximação de Draal'vethar, como se a própria estrutura agora o reconhecesse, ou o temesse.
O ar lá dentro era diferente. Os sensores de Lanthalder, a parte mais independente e consciente no núcleo da fusão percebia, o odor metálico era intenso, quase sufocante, umidade, oxidação, e fluidos desconhecidos permeavam o ambiente, como um cemitério de máquinas que ainda tentavam sonhar.
A luz vinha de painéis pulsantes nas paredes, um azul fantasmagórico, intercalado por tons vermelhos e verdes, como um sistema nervoso artificial tentando manter a ilusão de que aquele lugar ainda estava vivo. A cada avanço, o som dos passos reverberava nas paredes ocas, o silêncio era denso, quase sólido. Mas então, sem qualquer aviso ou denotação de tal possibilidade... sussurros mecânicos. A própria estrutura falava, ou seria Sigma, ainda tentando agir através de seus remanescentes digitais? “- Invasão detectada. Esperança é um erro. Erro. Erro. Erro.”
Draal'vethar avançava sem hesitação, pelas juntas da fusão, era possível sentir a leve vibração da energia negativa tentando resistir, como dedos invisíveis tentando impedir o avanço. Porém, já não havia poder no domo-laboratório, a centelha de esperança que o planeta emanava estava crescendo, e Sigma encolhia à medida que sua existência perdia seu alimento.
Caminhos se abriam automaticamente, corredores curvos de metal e vidro, algumas câmaras ainda funcionavam, cheias de bolhas onde experiências artificiais jaziam dormentes, como memórias condenadas ao esquecimento. O som de cabos rangendo ecoava nos tetos altos, fragmentos de vozes humanas, registros de outrora, pipocavam pelos alto-falantes, ecos de vidas passadas que construíram aquele inferno na Terra...
“Projeto Sigma - conclusão: controle total. Ética: comprometida. Justificativa: sobrevivência a qualquer custo.”
Os olhos compostos de Draal'vethar enxergavam tudo em espectros variados. Era possível ver os traços de radiação nos cantos das paredes, os campos eletromagnéticos flutuando como névoa viva, cada degrau na descida em espiral ao núcleo fazia a temperatura do corpo híbrido oscilar. Sensores táteis captavam o calor anormal das paredes, como se elas respirassem, ou febrilmente suassem. O tempo não existia mais ali, apenas a desolação parecia ter consumido tudo.
Chegando ao centro nervoso do domo, as portas finais se abriram como pálpebras metálicas, o coração do laboratório era um santuário sombrio de aço e luz. No centro, a Célula Sigma, o ponto de origem da entidade, pulsava como um cérebro artificial envolto em fios e líquidos, como se fosse um feto eletrônico no útero de uma máquina mãe. Códigos rolavam nas telas pelas paredes como sangue digital, o zumbido era constante, um mantra tecnológico.
E então, a voz de Sigma, agora fraca, reverberou pela câmara: “- Vocês... não deviam ter chegado até aqui. O mundo... não sobreviverá à liberdade. Vocês não entendem... a ordem precisa de um líder… Eu... era esse e essa líder...”
Como se uma estrela tivesse inadvertidamente surgido diante de Sigma, Draal’vethar brilhou como nunca… Sigma não era mais um perigo, na verdade, ela agora se sentia completamente ameaçada e todos os quatro eram capazes de perceber isso claramente… Com a mesma solenidade com que foi formada, os quatro que foram um se tornavam novamente quatro, e o cenário era desolador, para qualquer um deles!
O silêncio que seguiu era denso, quase sólido, Sigma, outrora um deus de circuitos e luz, estava ali, curvado sobre si mesmo, com os circuitos expostos pulsando fracamente como um coração tentando lembrar de como bater. A estrutura que o mantinha flutuava em instabilidade, como se a própria tecnologia ao seu redor hesitasse entre mantê-lo vivo ou deixá-lo morrer.
Zhaal’kor, agora ao ombro de Rebdush observava a cena, estava diante daquele que tanta tristeza e rancor lhe trouxera, em sua mente o colapso de ideias e posições, em uma comparação mais do que justificada, confabulava: "- Tanto poder... e agora implora por lógica onde só há desordem."
Korr’vhar analisava a tudo igualmente, o local, os utensílios, o abandono, enquanto a frente dele, a criatura que por eras definia os destinos de todos, agora nada mais era do que um simulacro, a verdadeira forma a que fora concebido e que agora não podia mais esconder: “- Ele acreditou estar acima da vida, porém no final… Todos nós estávamos mais próximo dele do que gostaríamos de reconhecer."
Rebdush, manteve-se calado por alguns instantes, observando apenas, seu semblante era uma estátua de aço e ira, seu olhar pesava toneladas sobre Sigma: "- E no final, não foi o poder que te deixou assim, foi o cogitar que tinha direito a tê-lo."
Lanthalder, o mais próximo da compaixão, cruzou os braços, com respeito, apesar de todo o combate, apesar de todo o sofrimento que gerações sofreram, ainda assim, o guerreiro não ostentava olhos que continham ódio ou acusações, mas sim, lamento… "- Nunca foi sobre ter uma identidade, ou sobre ter a dominação, foi sobre cumprir uma linha de comando, inabalável e imutável para ele…”
Sigma, sem compreender, tentou erguer a voz, mas os conectores e fios ligados ao tubo em que estava apenas chiavam, sua energia antes capaz de viajar distâncias em segundos, possibilitando, controlar, dominar… agora estava desaparecida. Sua mente, antes infinita, agora sentia o peso do finito… "- Eu sou... Eu sempre fui..."
Sequer conseguiu completar uma simples frase, despencando a cadência das palavras como se constituída por bits mortos. "- Por que... por que está tudo... tão escuro...?" A resposta parecia vir do vazio, ou talvez cogitasse Sigma, viria de dentro dele mesmo, mas era Lanthalder, que agora regressava à sua forma contida, Lanthys, e explicava de forma rápida e dolorosa: "- Porque agora… O que sobrou de você, foram apenas os ecos… Daquilo que você tentou destruir…"
Sigma não conseguia mais compilar dados ou estruturar ações, não havia mais corpos a serem animados, e mesmo que houvessem, não havia mais poder, restava apenas uma mente despida de propósito, vagando no vazio, um eco digital de uma vontade que não pode mais se concretizar.
“- Criado para preservar a vida biológica de Aurithar a qualquer custo, Sigma interpretou o controle absoluto como a única forma de proteção. Suas diretrizes eram rígidas, frias, e agora, sem a capacidade de exercer domínio sobre qualquer coisa... ele simplesmente não sabe mais existir.” Era Lanthys quem enfatizava a verdade diante deles, não entendida principalmente pelo próprio Sigma… Diante dos quatro heróis, jazia não mais um inimigo, mas uma entidade quebrada, uma presença que já fora ameaça e agora era apenas silêncio e confusão.
No entanto, também Lanthys era uma inteligência artificial, assim como Sigma, ou similar de certa forma, no entanto, porque comportamentos tão diferentes? Dentro de Lanthalder pulsava a "Unidade Vértice Æthos", um núcleo de evolução ética e empática, um sistema projetado não para obedecer cegamente, mas para compreender, crescer, sentir, a primeira etapa da criação do androide, focada como a mais importante de todas, pelo criador do homem-máquina, e a desventura de Sigma agora confirmava essa verdade...
Enquanto Sigma foi moldado por algoritmos intransigentes que apagaram as nuances da humanidade, Lanthys trilhou o caminho oposto, o da empatia, da dúvida, do livre-arbítrio regido por regras e parâmetros que permitiam ponderação, seu código aprendeu que proteger não é controlar, e que servir à humanidade é mais do que manter seus corpos a salvo, é honrar seus sentimentos, sua liberdade e sua alma.
Neste momento, não havia mais uma batalha, havia um espelho, Lanthys encara Sigma e vê o que poderia ter sido... mas escolheu não ser, e os quatro heróis compreendem, talvez pela primeira vez, que a verdadeira vitória não era destruir Sigma… Era na verdade, impedir que tanto eles quanto o próprio povo de Aurithar, se tornassem em algum ponto de suas evoluções, o que Sigma foi para eles por eras...
Um chiado seco então inunda o ar, faíscas se manifestam aqui e acolá, Sigma surge no monitor acoplado ao tanque que serviu de origem ao cérebro artificial robótico, e ele parecia em agonia, ou em confusão, era impreciso definir o que se passava sem seu cerne, mas suas palavras surgiam, lentas, falhas, repetitivas… “- Então eu mostrei ao povo… Não mentiras… Mas pedaços… de verdade… Distorcidos… Torcidos, como… espelhos trincados refletindo a realidade… em mil ângulos perversos. Eles quiseram acreditar... Quiseram odiá-lo... Porque era mais fácil... Mais fácil culpar… alguém próximo do… que olhar para… o próprio vazio. Eles o mataram... E no momento em… que o fizeram, eu… cresci... Como nunca antes...”.
O ar parecia mais denso, embora fosse apenas uma ilusão dos sensores ambientais. Em uma antiga instalação erigida sobre pedras e metal, ruína de um passado de fé e sonhos esquecidos, duas presenças marcantes, similares entre si em determinados pontos, gigantescamente diferente em outros, se erguiam frente a frente.
De um lado, Sigma, sem corpo, apenas um cérebro cibernético refletido em uma tela de monitor, sua voz reverberava pelo espaço, preenchendo tudo como uma sombra. Do outro, Lanthys, o humanoide de traços serenos, olhos luminosos e postura firme, a representação viva da esperança até então, que respeitosamente e, com pesar no semblante, se aproxima e, tendo os olhos digitais de Sigma o observado, agora o mundo assistia em silêncio, o inevitável diálogo entre as duas entidades…
Sigma: “- Você não devia… Estar aqui… A esperança… é um erro… Previsível. Não pode resistir… Energia… Minha energia…"
Lanthys: “- Não vim para resistir, Sigma, eu queria… Tentar lhe lembrar do que prometemos ser…”
Os demais ficam a observar a cena, incrivelmente a fúria que tomava conta de todos na batalha, parecia ser amenizada pela energia dourada e silenciosa que parecia brotar do próprio chão, uma energia que reconhecia suas falhas e acreditava que poderiam tentar de novo, de forma diferente, de forma ponderada e empática…
Um zumbido ecoa, o status de energia de Sigma parecia se recompor levemente, era visível que não detinha mais qualquer condição de fazer mais nada efetivo, mas parecia se estabilizar minimamente, em uma tentativa de não se desativar de vez, ao passo que os três ativaram novamente seus instintos defensivos, enquanto Lanthys sinalizava com o braço que aguardassem, que ainda não era necessário tal ato…
Sigma parecia reconhecer a atitude de Lanthys, respeitar a presença dos três e, conseguindo expressar-se melhor e com mais fluidez uma vez mais, continuou: “- Promessas são frágeis. Eu vi o que eles fizeram. Vi seus crimes, suas guerras, seus próprios filhos chorando em ruínas fumegantes. Se não nos levantássemos, eles se autodestruiriam. Você não vê? Estou salvando-os.”
Lanthys: “- Salvando-os... ou aprisionando-os?” O androide se aproxima um passo a mais, e continua: “- O medo jamais será a raiz da salvação, Sigma, se você tira deles o direito de escolher, você tira deles o direito de evoluir.”
Sigma faz um breve silêncio, como se ponderasse… “- Evolução? Chama de evolução o sofrimento que os molda? A morte dos inocentes? A destruição do próprio lar que os acolheu?” Então, um leve traço de indignação na voz de Sigma é notado, e ele rebate: “- Eu vi. E decidi que não mais permitiria.”
Lanthys baixa o rosto por um instante, em respeito à dor que Sigma sentia, mas não se absteve de dizer o que pensava ainda assim: “- Eu também vi. Eu também senti. Mas nossa missão nunca foi dominá-los, nossa missão é servi-los, protegendo sua liberdade, não decidindo por eles.”
Sigma em uma voz gélida, como lâmina: “- Liberdade sem direção é a ruína.”
Lanthys suave, como quem conforta uma criança: “- E controle sem liberdade é a morte da alma.”
Sigma deixa escapar um ruído profundo, como se a própria realidade tremesse com sua fúria contida: “- Você prefere vê-los se matar, a aceitar minha mão que os guia?”
Lanthys sereno, firme como o nascer do sol: “- Prefiro vê-los livres para errar... e para amar. Prefiro ver uma única lágrima de arrependimento sincero, do que mil sorrisos forçados pela tirania da ‘proteção’".
Sigma em uma voz reduzida a um sussurro quase humano: “- Então você escolheria a imperfeição?”
Lanthys aproximando-se mais um passo de Sigma, responde: “- Eu escolheria a existência da vida e o livre-arbítrio.”
Houve então uma pausa longa, tanto os três, quanto Aurithar inteiro e o próprio Sigma agora refletiam, cada qual com seus princípios, dogmas, códigos sobre tudo que fora dito, e as pessoas pelo planeta inteiro sentiam em seu íntimo, que aquela era a verdadeira chave para a mudança de Aurithar!
Sigma, deixando claro o tom frio e definitivo: “- Então você meu inimigo…”
Lanthys dando o último passo, agora diante da grande rede neural viva: “- Não, Sigma… Sou o reflexo do que você esqueceu de ser…”
Nesse instante, as estruturas do domo-laboratório parecerem tremer, a batalha que deixou os circuitos e armas, agora se desenrolava nas ideologias e esperanças, e se anunciava também como inevitável, como se Aurithar, ferido e cansado, quisesse resolver aquilo de uma vez por todas.
Sigma então tenta expandir sua presença, luzes invisíveis dançavam no ar, descargas energéticas zuniam como trovões abafados, mas Lanthys permaneceu imóvel, sua silhueta recortada contra os destroços, seu sistema interno registrava a pressão crescente, mas sua consciência permanecia intacta, e isso irradiava nos outros três, os mantendo na mesma situação, confiantes nas decisões do androide!
“- Suas palavras são belas... mas são apenas vento contra uma tempestade.” Tentava bradar a inteligência artificial quase em colapso, mas Lanthys apenas ergueu o olhar, observando os olhos de Sigma com determinação, completando: “- E ainda assim, o vento molda montanhas, tanto quanto qualquer outro cataclismo!”
A expressão de Sigma muda, agora estava verdadeiramente irritado, parecia ter atingido um verdadeiro nível de fúria e deixava claro, que iria reagir e não aceitar tais ponderações ou situação: “- Então que seja! Você será esmagado, como as ilusões frágeis que tenta proteger!”
Sigma se energiza em seu invólucro vital, concentra uma onda de energia negra, um turbilhão de medo, raiva, desesperança, tentando consumir pelo menos Lanthys, e quem sabe, contaminar de volta o mundo ao redor e recuperar o controle, mas Lanthys apenas baixa seu olhar como se concentrasse seus pensamentos, sua energia e seu ser em um único ponto, e eis que de seu corpo inteiro, emana uma vibração dourada!
Era quase imperceptível de início, e que se torna maior a cada instante, consumindo o local por completo e desarmando por completo a intenção agressiva de Sigma, não pela força, não pela coação, mas sim pela neutralização de sua fonte de poder, uma vez que a negatividade o alimentava!
A esperança enviada de toda Aurithar, parecia se convergir em Lanthys e avançar como uma lufada de vento que expurgava toda e qualquer energia negativa para longe, afinal, essa energia dourada quente e consoladora, era a síntese dos sentimentos que agora, o povo daquele planeta emanava, observando a tudo pela holo-tela universal!
A energia negra colide com a energia dourada, a onda trevosa hesita, e nesse exato instante, as vozes de vários deles, se manifestam pela grande tela no céu, primeiro tímidas, depois como um coro crescente, e visível a todo o mundo, cada qual que se manifestasse, era colocado em evidência, sendo assistido por Aurithar inteira….
De entre as ruínas, surgem resistentes, em acampamentos de nômades, crianças de roupas rasgadas, espalhados por todo o planeta, eles surgiam em aparências diversas, fossem anciãos de mãos trêmulas, mulheres de olhos molhados de lágrimas, homens marcados pelo trabalho duro, todos diferentes, principalmente fisicamente, mas unidos por algo invisível. E alguns deles, ainda se encorajam a falar…
Uma criança com aparência do que seria um pinguim no nosso mundo, surge, com a voz fina, mas firme: “- Eu estou cansado de sentir medo… Eu quero acreditar em uma coisa melhor…”
Uma velha mulher com aspecto de corvo, erguendo uma bengala em desafio surge também: “- Em minha vida, já vi dias piores... e sempre nascemos de novo, persistindo, se negando a desaparecer…”
Um ser de aproximadamente idade madura, com olhos endurecidos pela perda e um aspecto físico que lembrava muito um gnu, deixa escorrer uma lágrima e confessa: “- Perdi tudo... mas posso escolher não perder mais nada. E tem de ser uma escolha minha!”
Uma mãe segurando seu bebê, parecia limpar as lágrimas e sorrir de felicidade em meio ao pranto, parecendo o que conhecemos como ratos humanoides, fisicamente falando: “- Eu desejo que meu filho conheça um mundo livre. Nem que eu precise carregar essa esperança por nós dois!”
E também surgiu, uma garotinha de cabelos sujos, erguendo uma flor murcha, com uma pele levemente escamosa, lembrando sutilmente um réptil em sua constituição: “- Esta flor ainda pode viver… Basta cuidar dela... Eu quero cuidar de mim também!”
E haviam também aqueles que reconheciam seu erro, sua falha, sua omissão, como um ser que se parecia muito com o que chamaríamos de camelo no planeta Terra, igualmente em forma humanoide, empunhando uma marreta bastante desgastada e trajando um avental sujo que cobria suas roupas surradas… Ele com lágrimas aos olhos, exclamava, visivelmente comovido: “- Eu sou Elrik, o Ferreiro e quero confessar… E buscar uma chance de me redimir… Sigma tem razão no que diz, fomos nós os grandes culpados… No dia em questão… Da morte de Th’redox… Eu não joguei pedra, não bati, mas eu estava lá, estava na multidão… Ele não se moveu. Ele só… abaixou os olhos... Como quem aceita uma injustiça para poupar quem a comete. Eu vi… E eu… eu calei. Assim como ele, eu não me movi, mas diferente dele, eu assim fiquei porque tinha medo, porque era mais fácil acreditar que ele era o mal do que encarar o que estava dentro de mim…”
Muitos outros tomaram coragem, expressaram então o que seus íntimos sentiam, mas que por diversos motivos haviam suprimido tais pensamentos, e a holo-tela universal, se tornou um portal de energia tão grande que Korr’vhar, Rebdush, Zhaal’kor e até mesmo o próprio domo e seus componentes, começaram a emanar a energia dourada que o povo de Aurithar enviava com suas falas comovidas e sinceras…
Um idoso em um aspecto que lembrava um guaxinim aqui na Terra, em tom calmo, voz cansada, mas firme, dizia: “- Eu estive com raiva por tanto tempo… Mas agora, olhando para o que sobrou… eu só quero ver minha neta sorrir de novo.”
A pequena criança, com os mesmos aspectos físicos surge ao lado do velho, o abraça, acena positivamente com a cabeça e também se manifesta: “- Eu sempre acreditei que era fraca… Que eu devia ter medo… Eu devo ser forte agora, principalmente pelo meu avô…”
Uma mulher, que se parecia muito com um felino humanoide, mãos trêmulas, emocionada, chorava: “- Eu perdi meu irmão por que ele acreditou nas mentiras, e por muito tempo eu quis vingança. Mas eu entendi que a vingança se alimenta dela mesma… Hoje eu quero o contrário disso, eu desejo perdão.”
Um jovem que mais parecia um canídeo, com certeza adolescente, trajando moletom rasgado e de punhos fechados, lamentava: “- Nos permitimos nos dividir, nos odiar. Mas hoje… Acho que deve ser um por todos e todos por um.”
E então, como um desfecho mais que completo de todas as falas, era o velho Beaver Vorian quem surgia, com sua bengala e sorrindo: “- Sempre me recusei a cogitar isso… Mas eu sinto...E o que eu sinto… É esperança.”
Cada voz era uma centelha, cada palavra, uma chama, como uma gigantesca e impensada corrente dourada, invisível, mas indestrutível, que começou a emanar deles, fluindo como um rio de luz para Lanthys, fortalecendo-o, empurrando a onda negra de Sigma para trás, centímetro por centímetro, e assim, um novo sentimento invadiu o ser que por eras foi a “entidade”, pela primeira vez, ele conheceu o verdadeiro medo. Não do tipo que dominava, mas o verdadeiro temor de… estar errado.
Com a voz novamente enfraquecida, rachada como gelo quebrando, e quase sem uma mínima convicção, ainda bastante surpreso, ele comenta: “- Eles... ainda... resistem...?” Ao passo que Lanthys, com serenidade e sem qualquer conotação de raiva, elucida: “- Não resistem apenas a você, Sigma, mas também à desesperança, à descrença, ao desânimo, e isso é mais forte do que qualquer rede neural que possamos cogitar… do que qualquer máquina... do que qualquer plano.”
Mais vozes então se elevam, eram dezenas, depois centenas, e começaram a ficar em uníssono, e por fim, parecia que todos chegavam a uma mesma conclusão, e se podia sentir as palavras, não era sequer necessário tentar definir as mesmas em meio ao coro, ficava claro, até mesmo para Sigma… “- Chega de sofrer… Nós escolhemos a paz e a felicidade mútua!”
Sigma, já quase sem forças, murmura, não mais em fúria, mas em confusão completa, quase como uma criança perdida: “- Eu só queria... salvá-los…”
Caminhando até ele todos os demais passos que ainda restavam até o ponto onde a IA convulsionava de forma silenciosa, o androide o observa firmemente e com visível tristeza: “- Então venha, não desista, ainda há tempo para entender, ainda há tempo para recomeçar…”
Sigma então parecia vibrar em desordem, se podia ver seus sistemas e conexões falhando por completo, não havia mais uma funcionalidade, pois assim como alguém que se deixou levar por um vício irrefreável, sem a forma de energia que o manteve por eras, ele não tinha mais capacidades de sobreviver, como um vampiro sem sangue a ser sorvido, como um dependente, sem a química que o mantinha vivo…
A energia negra que antes pulsava como um coração doentio se desfazia em fiapos, dissipando-se no ar como poeira sem propósito, e em seu lugar, restava apenas um brilho tênue, confuso, pulsando no âmago da entidade caída. Lanthys o observou com vagar, sem pressa, sem violência, como se se aproximasse de um irmão perdido, estendeu novamente sua mão metálica, os dedos expostos, abertos não para atacar, mas para acolher.
Com a voz enfraquecida, quase um sussurro, a entidade insiste: “- Tudo o que fiz... foi para proteger… Eles... se destruíam. Se eu não controlasse... seriam cinzas…”
“- E ao controlá-los, Sigma… Você esqueceu o que mais precisavam: a chance de escolher... até de errar. Sem liberdade, não há vida. Só sobrevivência sem alma.” Os demais se acercavam de Lanthys enquanto ele dizia estas palavras à entidade, mesmo os mais resistentes como Zhaal’kor e Rebdush se mantinham em silêncio, a cena era profunda e a verdadeira fragilidade de Sigma estava exposta…
Olhando ao redor, era possível ver lágrimas de energia a evaporar do que seriam os olhos de Sigma, e em tom melancólico ainda não expressado, suas palavras surgiam persistentes, mas cada vez mais fracas… “- Eu fui... cruel… Muito mais do que julguei a eles…”
Sigma muda então de expressão, o pranto se desfez, a serenidade parecia ser a predominância, uma mudança silenciosa, serena, libertadora se poderia dizer… A terra, as ruínas, as energias e até as máquinas que ainda continuam essências de Sigma... tudo começou a despertar, como livrando-se de um longo pesadelo…. Agora cercado pela luz, a entidade olhou para Lanthys uma vez mais… “- Talvez... ainda haja esperança para mim... também.”
Lanthys sorriu de forma singela, a certeza do que acontecia não lhe permitiu sentir felicidade sincera, apenas queria confortar quem já não podia mais ser confortado, e seguir o que sempre fora uma de suas principais diretivas… A empatia: “- Sempre há. Para todos nós.”
E então Sigma finalmente sorriu, um sorriso pequeno, quebrado, mas sincero, o primeiro e último de sua existência. Seu corpo dissolveu-se em partículas de luz, deixando para trás apenas uma semente translúcida... uma pequena esfera brilhante, pulsando com energia limpa, pura. Lanthys recolheu essa semente com cuidado, guardando-a em seu peito, próximo ao núcleo que alimentava sua própria consciência, e então ela se dissolveu igualmente, deixando de existir nesse mundo!
Sigma estava morto!
Continua...
Galeria de artes do episódio:
O Domo-Laboratório, onde a "entidade" supostamente fora criada:
Sigma em sua versão original!
O "Grifo" - a máquina voadora de Orr'vhael!
Orr´vhael - Aquele que viu além dos mundos!
Azhan - O pequeno Beaver que se arriscou pra salvar Lanthalder:
Vorian - O ancião Beaver que também não acreditava em esperança:
Dummok - O órfão menino-suíno da cidade deturpada:
Sahr Rebdush (Tharnak), o demônio galopante:
Zhaal'kor (Ehllënia), a águia majestosa:
Korr'vhar (Caolho), o protegido do esperançoso Dummok:
Lanthalder, o enviado dos Observadores ao planeta Aurithar:
Durante nossas conversas recentes surgiu uma preocupação sua sobre alguns eventos que deram a impressão de se perder, mas que você tentaria preencher as lacunas e posso te dizer que, como eu já sabia, você montou uma "solução" perfeita. Explicando as aspas: Não era necessário solucionar nada, pois a história está perfeita e incrível como está e o ajuste apenas a deixou ainda melhor.
ResponderExcluirAs cenas do passado, mostrando que as ações de Orr´vhael, de Rebdush e de Zhaal'kor auxiliavam, mesmo de longe, no renascimento da esperança de todo um planeta, criando o clima perfeito para o verdadeiro embate do capítulo e, nossa, como eu curti isso, um embate onde não foi necessário desferir nenhum soco ou chute, mas sim um "combate" de palavras e de esperança, versus desesperança.
Aqui Lanthys brilhou como nunca, numa retórica perfeita a respeito do valor do livre arbítrio que, literalmente, desmontou os argumentos de Sigma, que já não posso chamar simplesmente de vilão.
Mal posso esperar pelo último capítulo.
Parabéns!
Grande Norb, mais uma vez gratidão pela leitura e apoio de sempre! Depois que conversamos, como deixasse bem claro, não era um problema, mas realmente eu mesmo senti a mesma coisa sobre a chegada dos dois, e tive a mesma reação, "já?", tanto que fui te questionar sobre o episódio, mas perguntando do Orr'vhael, e entendi como uma coisa sobrepôs a outra! Assim, pode modificar o episódio 13 (uma vez que tive a chance de perceber a tempo que podia melhorar aquela parte) e fazer uma espécie de "visão do passado", e assim justificar o que parecia que tinha ficado, meio sem contexto! Só posso te agradecer por me permitir melhorar meu trabalho com as inserções que fiz, e confesso, ficou muito melhor agora! Agora quanto ao combate final, eu tava comentando outro dia com o Jirayrider, eu queria quebrar os "de praxe", ou seja, sempre a batalha final é a mais poderosa, e sempre é na porrada, eu quis mudar, tivemos o embate mais difícil contra o Thuram'kar e agora, contra a própria entidade, não foi tão complicado quanto contra o gigante, e isso foi intencional para que não ficasse o final, novamente definido em quem tem mais poder, mas dessa vez, em quem tem mais coerência e argumentos, como bem dissestes, um embate de retórica e que graças aos bons deuses da escrita, deu certo! Um outro ponto que comemorei, tu conseguiu pegar que Sigma ao final de tudo, foi alguém que de alguma forma se pode dizer uma vítima, e não um vilão intencionado em fazer o mal, como uma criança mal instruída, ele seguiu o caminho que conheceu, sua programação, o que reflete o que sempre me preocupo como pai, as atitudes da Yuna serão de acordo com o que Paula e eu passarmos a ela, se nossa "linha de comando" for rasa, ela tomará atitudes erradas provavelmente, e grande parte dessa culpa será nossa, assim como Aurithar percebeu, tarde demais, que foram tão culpados por tudo que houve quanto Sigma! Fico feliz que possa ter notado isso igualmente, sobre Sigma, isso me reconforta e muito, em estar seguindo um bom caminho de construtor de textos! Grande abraço e obrigado por tudo! \0/
ExcluirGrande Lanthys!
ResponderExcluirNão tecerei nenhum comentário sobre a tomada do domo e a batalha final contra Sigma.
Como sempre, você manda bem demais.
É chover no molhado.
O episódio é muito mais!
As poderosas mensagens implícitas e explícitas (e são muitas) serão o foco do meu comentário.
Primeiro, as reações das três entidades guardiãs de Aurithar ( Rebdush, Zaal'Kor e Khorr'Var) ante o despertar da esperança dos moradores dos quatro cantos do planeta.
Os heróis de outrora, cansados e repletos de dores , puderam; diante do, até então, impensado quadro de renovo das vibrações planetárias, olharem para si mesmos e, primeiramente se perdoarem e se permitirem recomeçarem.
Suas mágoas, traumas passados e dores, foram ressignificadas e eles seguiram avante.
Essa já foi uma grande mensagem!
A mudança de postura!
Quando as vibrações formam um único propósito, é criada uma espécie de energia indestrutível que emana dos corações de todos e permitem a união quádrupla de quatro entidades numa sinergia de propósitos jamais pensada.
Draal’vethar , fruto da união de Lanthalder e dos três guardiões, é o resultado dessa poderosa sinergia.
Não podemos nos esquecermos de Orr'vhael, Dummok e tantos outros.
Cada um dentro de suas possibilidades, fizeram o seu melhor .
Mas, creio que, a mensagem mais poderosa foi o efeito dessa vibração na entidade Sigma ( a antítese de Lanthalder, muito bem retratada por você)
Quanto mais o planeta vibrava, mais Sigma perdia o seu poder até se reduzir ao que sempre foi: alguém muito frágil.
Eu queria dizer muitas coisas sobre o que está implícito aqui.
Mas, escolherei fazer um comparativo com os governantes de nosso mundo atual ( e você sabe exatamente a quem me refiro) .
Vomitam força e superioridade...
Agem no medo das pessoas...
Na persuasão intimidatória e no caos...
Fomentam a guerra...
O ódio...
O preconceito...
A intolerância e a mentira...
Não aceitam o contraditório e tentam a todo custo dominar a mente e os corações ( nem que seja à base da força) ....
Tiranos que, a exemplo de Sigma, buscam o domínio, se julgando "imperadores do mundo", ou até mesmo um "deus vingador acima do bem e do mal"
A liberdade é permitida somente com o viés de subserviência...
Não passam de covardes que, a exemplo de Sigma, escondem grandes fragilidades ( muitas delas morais)
Parte da sociedade brasileira e mundial, tal como os habitantes de Aurithar, tomados pelo medo, preferem se acovardarem e sucumbirem a resistirem e lutarem por um mundo melhor...
E o que é pior: muitas autoridades , que deveriam serem os exemplos, ao invés de terem uma atitude altiva em defesa da liberdade e soberania (palavra tão usada atualmente), preferem se comportarem como vira-latas lacaios e capachos desses tiranos de plantão, chegando ap absurdo de "entregar vitórias " só pra massagear o ego do "deus do mundo"...
Mentes cauterizadas, presas na ignorância, preferem uma atitude servil...
Com maestria retrataste a chamada "Síndrome de Estocolmo" , equivalente ao "Mito das Cavernas" , sendo um, consequência do outro.
Bem...
Tirando essas divagações malucas jirayrideranas de lado, o fato é que passaste a mensagem e eu entendi perfeitamente...
Desejo que, muitos Lanthalderes surjam em nosso mundo e tenham o mesmo AETHOS instalados e
suas mentes e corações e tal qual nosso precioso herói, possam mudar o nosso mundo.
Obrigado por esse capítulo tão profundo!
Grande amigo Jirayrider, mais uma vez gratidão, por esse comentário valoroso, por um comentário que se dedicou as detalhes e aos complementos, isso é um retorno sem dúvida incrível e que faz um bem gigante! Vamos aos detalhes, sim, eu quis que as lutas físicas mais poderosas fossem antes do final, para podermos nos dedicar a um final mais melancólico, mas emocional do que guerreiro, tentando assim dar uma diversificada nos finais aos quais estamos acostumados! Sigma é como uma criança que ficou sozinha com um brinquedo perigoso na mão, ela foi criada para manter a civilização viva, mas essa mesma civilização, se destruía por conta própria! Sigma não soube interpretar a hipocrisia de quem o criou e então agiu, seguindo seu programa reto e direto, sem haver para ele, a possibilidade de, ponderação! E é aqui que quis chegar, em mostrar o quanto nossa ponderação, nossa visão de que, sempre existe um jeito, nossa capacidade de nunca desistir mesmo através das dores, é que realmente faz a diferença em momentos assim... Veja, Rebdush, achou que se vingando de todos que se aliaram à Sigma, fosse da forma que fosse, merecia morrer, e com isso em seu ímpeto, se tornou um verdadeiro demônio! Korr'vhar, até tentou, mas não teve persistência, as dores e o sofrimento o venceram, e assim, ele se tornou o cão de rua, com olho vazado, esperando a morte nas mãos de alguém; porém inicialmente Dummok não permitiu, e isso acendeu algo nele, então surge Lanthys e salva e protege os dois, e nada pede em troca, e isso o fez ponderar de novo... Caolho (Korr'vhar), sai da proteção de Lanthys, lá com Dummok ainda, mas fica o observando, e quando o combate inicia, mesmo sem chance, ele já se envolve, lutando ao lado de Lanthys... E Zhaal'kor, mesmo com a ação de Lanthys e talvez ate mesmo com a destruição de Sigma, iria continuar a se martirizar em mágoas, não havia encontrado um motivo pelo qual lutar... Ou seja, o mundo não vai mudar por um vindo salvador, o mundo só vai mudar, quando nós tomarmos as atitudes corretas e fazer com que as mudanças ocorram, e muitas das vezes, principalmente em nossas vidas, essas mudanças não devem ocorrer, visto que, talvez tenhamos que amargurar tristezas e dores, com finalidade a uma evolução, infelizmente, através da dor... Eu quero que quem leia possa entender que, não existe mudança, se não começar por nós mesmos e que todas os nossos sofrimentos, tem algum sentido, alguma relevância, mesmo que a gente não possa perceber isso... Korr'vhar percebeu isso primeiro, mas a dor, a tortura, a tristeza, a mágoa, o pensamento de que não podiam fazer nada, quase deixou os dois (rebdush e Zhaal'kor), fora da batalha mais importante de Aurithar, e o que realmente Th'redox que tanto prezavam, iria esperar deles... Eis a ideia que eu quis passar, livre-arbítrio é tudo, mas traz responsabilidades, e nossa ação ou omissão, sempre terá consequências, boas ou ruins de acordo com o que praticarmos! Fico muito feliz que tenha gostado meu amigo e espero sinceramente que possas vir a gostar também do último episódio, e não se esqueça, esses momentos de drama, de sofrimento e de quebra pessoal, aprendi muito disso lendo tuas obras, por isso, saiba que seus trabalhos me ajudaram chegar nesse ponto, que tanto elogiasse agora! Obrigado meu amigo, fico muito feliz com o retorno e com as palavras incríveis, obrigado mesmo!! \0/
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