O vento ressoava pelas laterais
do imenso espaço que servia de palco de reuniões do Povo Sucata, onde naquele
momento um clima estranhamente tenso se desenrolava… ConstructHonor conhecia o
guardião que o desafiava havia muito tempo, nunca julgou que o mesmo tomaria
uma atitude similar, principalmente sabendo o referido guardião de todo o
passado de Honor até o surgimento dos exilados ciborgues que ali viviam…
Ao redor da recém formada arena,
se aglomeravam esses mesmos exilados, que aliás demonstravam um comportamento
calmo e sereno além do natural devido suas baixas capacidades de entenderem
emoções uma vez que eram ciborgues no sentido de não serem apenas máquinas,
eram inteligências artificiais muito evoluídas e capazes de aprender a base dos
sentimentos humanos se, uma convivência adequada tivessem ao lado dos seres
vivos... O termo androide, embora fosse o mais correto pela composição 100%
artificial da maioria esmagadora de todos eles, era inapropriada aos ciborgues
desse nova era, que eram construídos para se tornarem humanos praticamente
perfeitos nas ações e reações caso pudessem acompanhar o desenrolar dos
relacionamentos dos seres aos quais eles supostamente deveriam fazer parte no
dia a dia...
Esses seres, complexos e ao mesmo
tempo praticamente sem vida, se observavam e tentavam entender o que estava à
acontecer ao redor deles… Todos eles seguiam ConstructHonor desde o início
porque ele os protegia das maldades dos vivos e os mantinha como uma sociedade
isolada, para que pudessem viver sem correr o risco de serem exterminados como
lixo desnecessário à sociedade, o que eram considerados nos dias de hoje… Mas
agora, alguém parecia afrontar essa liderança que Honor exibia e o povo,
humilde em pensamentos e atitudes, ficava a observar os dois tentando descobrir
como reagir…
Do alto de sua estrutura, que o
colocava mais alto que os demais para poder falar à todos durante as reuniões,
Honor olhava para seu povo que ele tanto prezava ao mesmo tempo que baixava a
visão e observava o guardião em pose de saque de espada, aguardando por seu
movimento… O que passaria pela cabeça daquele ser pensava o líder do povo
ciborgue, para estar agindo assim, afinal, pelo menos até aquele dia, se consideravam
amigos… Intrigado e ainda não acreditando na cena, ele uma vez mais tenta: “- Nossa amizade vale tão pouco para você, a
ponto de me tirar a única coisa que me restou velho amigo?”
O guardião ao centro da arena
baixa a cabeça e em tom de deboche responde: “- Pare de achar desculpas para fugir da luta e venha me enfrentar
Honor!”
As palavras do guardião despertam
ira em ConstructHonor que, apesar de ser uma inteligência artificial implantada
em pedaços de um corpo humano, tinha a capacidade de sentir emoções mais
intensas que a maioria dos ciborgues e, em um ímpeto de revolta e atitude de
resposta, salta de seu local de pronunciamentos, pousando pesadamente ao chão à
frente do desafiante, abrindo um rombo a seus pés, tamanho o peso do ciborgue
desafiado… O líder do Povo Sucata se ergue, aponta para o guardião que se
mantinha imóvel e sentencia: “- Não
esperava tamanha indignidade de sua parte, embora seja um vivo… Existe muito
mais do que o título que me obriga a lutar por esta liderança, se prepare para
ser destruído!”
A moça protegida em meio aos
demais ciborgues observava a tudo atenta e preocupada, começava a duvidar das
intenções de seu guarda-costas... O guardião por sua vez se prepara e ConstructHonor
com uma explosão de movimento se lança em carga contra o espadachim, e embora
seu corpo grande e pesado, sua força era descomunal a ponto de surpreender
qualquer um que observasse seu deslocamento!
O desafiante então vai se
lançando para trás conforme o líder do Povo Sucata se aproximava desferindo
golpes devastadores com os punhos enquanto tentava atingir o oponente; com
saltos e recuos precisos, o guardião evitava os mesmos, mantinha sua espada
embainhada até praticamente chegar ao final das centenas de metros que eles
tinham como arena quando então em um movimento praticamente impossível de se
crer ser possível executar, o espadachim saca sua espada e ataca o ombro de Honor
com força e técnica perfeita! No entanto, apesar de todos acreditarem que seria
um golpe preciso e poderoso que deceparia o braço mecânico do líder, ao invés
disso, se viam faíscas de metal contra metal, sendo a espada embainhada
novamente com extrema velocidade sem nenhum arranhão visível ao corpo do líder ConstructHonor!
Tão rápido quanto o golpe de
espada foi a sequência do movimento, pois como um relâmpago o espadachim
realiza um deslocamento para a esquerda com vigor, fazendo Honor apesar de seu
peso bruto e do impacto que se mostrou ineficiente, girar seu corpo gigante
sobre a perna direita e seguir atacando com a mesma tática de ataque sem fim,
buscando não perder o espaço que acreditava ter conseguido conquistar, tentando
manter seu desafiante pressionado com o ataque sem fim!
O Guardião então reinicia sua
aparente estratégia e continua à recuar entre saltos, deslocamentos, recuos de
passos e até mesmo acrobacias enquanto Honor segue para cima como um búfalo
desenfreado, atacando com golpes de braços sem parar até que chegam à outra
extremidade do palco de batalha quando novamente o guardião saca sua espada,
ataca o mesmo braço que atacou anteriormente, novamente sem efeito e uma vez
mais guarda a espada, se desloca para a esquerda velozmente e Honor, tentando
manter o ritmo até conseguir algum resultado, buscando manter o que vinha
fazendo, executando a mesma reação, detendo seu movimento com força, gira sobre
a perna direita e continua seu ataque sem dar tréguas ao guardião!
A cena continua a se repetir, o
Povo Sucata que não era amante de violência, assistia à tudo em silêncio e
ficava a tentar entender o que viria após o combate, fosse qual fosse o
resultado, o que mudaria em suas vidas… Por sua vez, AngryHurricane observava
com frieza e expectativa pois torcia pela derrota de Honor afinal de contas,
tomar a liderança do Povo Sucata tendo de disputar com um vivo seria muito mais
fácil, a sociedade deste povo guardava muita mágoa e temor dos vivos, além de
que Honor tinha prestígio coisa que um recém chegado não teria… Se Honor
caísse, preparar a queda de um vivo seria muito mais fácil e ele comemorava o
momento de talvez finalmente se tornar o líder que buscava ser!
A batalha pela liderança dos
Sucatas continuava, os desafiantes chegavam novamente ao final da linha e o
guardião uma vez mais sacava sua espada, golpeava o ombro de Honor, faíscas
elevavam-se aos céus sem qualquer efeito físico ao líder robusto, e uma vez
mais o espadachim veloz muda a trajetória se jogando para a esquerda
velozmente, enquanto o pesado líder sem desanimar e ainda enfurecido, trava seu
movimento violentamente de novo, gira sobre a perna direita e uma vez mais
saindo em perseguição ao guardião que novamente tinha sua espada embainhada e
continuava à recuar… “- Até seu estilo de
luta mudou covarde? Vai ficar fugindo o combate inteiro milenar?”
Era Honor quem esbravejava e
avançava, ao passo que a moça disfarçada de homem em meio à multidão observava
a luta com atenção e certo receio, afinal se seu guardião fosse derrubado, o
que seria dela, pensava aflita... E apesar de não entender nada de estratégias
de luta ou mesmo de lutas em si, chamava-lhe a atenção que alguém tão
experiente e tão brutal em combate como ela tinha visto até então, estivesse
apenas recuando e sequer conseguia atacar ConstructHonor… Intrigada e curiosa,
ela cogitava em voz baixa como se fosse um pensamento escapando em palavras… “- Ele realmente planejou tudo tão mal a
ponto de sequer perceber que sua espada não podia perfurar a blindagem do
líder? Isso… Isso não faz sentido algum com tudo que já vi dele… O que… O que
está acontecendo aqui afinal…”
O fim da linha chega novamente,
os olhos do guardião brilham e ele sorri… Honor chega com seu golpe mais
poderoso... O guerreiro espadachim saca a espada, ataca, novamente sem surtir
qualquer efeito e se desloca violentamente para a esquerda e quando ConstructHonor
repete o movimento de sempre, eis o resultado da estratégia do guardião… Ao
girar sobre a perna direita, perna essa que já havia executado sem parar o
mesmo movimento, sob absurda movimentação e velocidade, a mesma não consegue
mais suportar o peso e a pressão gigante exercida pela batalha repetidamente,
vindo sob impacto sonoro assustador a se partir por completo, saltando pedaços
da mesma para diversos lados, separando-se por completo do corpo do gigante,
ficando fios, circuitos, processadores e sistemas hidráulicos totalmente
expostos!
ConstructHonor cai por terra,
arrastando-se com a força da velocidade e do ataque com que vinha em direção ao
guardião, parando a dezenas de metros do desafiante, caído, sem sua perna
direita, esfacelada na altura da virilha e por consequência completamente
indefeso, pelo menos era assim que viam o resultado os presentes... AngryHurricane
chega esboçar felicidade com o acontecido, deu-lhe prazer ver a derrocada de ConstructHonor,
em sua visão agora era esperar o momento certo e destituir ou sumir com o novo
líder…
O guardião então, observando a
cena de Honor caído sem mais poder combater, energiza seus olhos e desaparece,
aparecendo sobre o peito de Honor encostando sua espada na testa do líder
Sucata, esperando que ele reconhecesse abertamente a derrota… Honor por sua vez
urra em fúria e aciona todos os armamentos que possuía, disparando micro
mísseis e feixes de próton que rasgaram o vazio em direção ao céus, tentando
atingir o oponente com um último ataque, mas infelizmente tudo em vão, visto
que o guardião novamente desapareceu, aparecendo atrás dele com a espada sobre
seu pescoço, desta vez com expressão séria, esperando as palavras de Honor que
ele queria ouvir… O gigante líder, visivelmente decepcionado consigo mesmo,
brada em tom alto respeitando a honra que fazia parte de seu ser… “- O combate está encerrado… O Povo Sucata
tem um novo líder…"
O guardião então guarda a espada
e vai caminhando até o centro da arena onde com voz poderosa, abre os braços e
enquanto dialogava, ia virando-se conforme era possível para analisar e
observar a todos ali presentes… “-
Estimado Povo Sucata… Como seu novo líder, tenho já de saída algumas exigências
à serem feitas… A primeira delas é, que AngryHurricane se apresente ao centro e
fique frente à frente comigo…”
Todos ficam sem entender o que o
espadachim estava pretendendo, a própria moça cogitava que não fazia parte da
personalidade que ela conheceu, que aquele que a guarnecia fizesse tanto
esforço apenas para resolver uma desavença com um ciborgue… De qualquer forma,
sob os olhares curiosos de todos, principalmente de ConstructHonor, Hurricane
com olhar debochado faz o ordenado, e chega até a frente do novo líder, de
braços cruzados como se desdenhasse do espadachim… “- Tudo isso só pra se vingar de mim? Vocês vivos são realmente
prepotentes…”
Um risco então, quase como um
relâmpago é pressentido mas impossível de ser visto ou sequer evitado e eis que
AngryHurricane caía ao chão, sem sua perna direita, totalmente avariado soltando
faíscas e esbravejando em fúria… Honor, a moça e os demais ficam espantados com
a atitude gratuita e sem qualquer necessidade segundo a visão de todos, mas,
ainda observam em silêncio, obedecendo as leis que regiam aquela sociedade
excluída daquele mundo completamente sem empatia ou piedade… O guardião anda ao
redor de um Hurricane esbravejante e brada à plenos pulmões: “- ConstructHonor… Como novo líder do Povo
Sucata, ordeno que conte à todos sobre o problema que você vem tentando
resolver há meses…”
O ex-líder do Povo Sucata,
expressando real sentimento de não entender do que se tratava, pois não havia
como o guardião saber de algo tão secreto, e sem querer dar pistas que levassem
o povo a perceber o problema que tinham em mãos, argumenta: “- Não sei do está falando andarilho…
Realmente não sei onde quer chegar com tudo isso…”
O guardião por sua vez, embainha
sua espada novamente enquanto caminhava e insistia, sabendo que o honrado
ciborgue apenas estava tentando manter a verdade oculta ao máximo que pudesse…
“- Vamos Honor, não temos o dia todo, eu
tenho uma jornada para empreitar… Conte a seu povo, a tragédia que vocês têm
vivido nos últimos meses e que você tem evitado que seu povo sofra mais ainda
sabendo de tal ferida em meio sua sociedade…”
ConstructHonor não via mais
possibilidade de esconder, estava claro que o guardião de alguma maneira sabia
do que estava falando, e agora, pelas leis, ele era um subordinado ao novo
líder, deveria obedecer… Entre faíscas e pequenas micro explosões em seus circuitos
na perna direita, ele inicia sua narrativa…
“- Há alguns meses, um integrante novo de nossa sociedade, ao qual
batizei como Without Esteem, foi recebido por nossos socorristas assim que o
recolhi à beira de um lixão quase em pedaços… Infelizmente, no dia seguinte não
o encontramos dentro da Gear Cradle e cogitamos que tivesse saído por conta
própria… Mas também desapareceram na mesma semana Engine Stopped e logo depois
Sound Whistle… Montei uma equipe de buscas e por dias vasculhamos os
territórios que ocupamos em busca de nossos irmãos… Até então não tínhamos
qualquer ideia do que estava acontecendo, mas os desaparecimentos continuaram,
e hoje… Infelizmente somamos cento e vinte e oito Sucatas à menos em nossa
comunidade… Desaparecidos sem qualquer vestígio…”
O guardião então vira-se e
caminha pelo local, com calma, como se analisasse tudo, ponderando e pensando
qual a melhor maneira de expressar o que tinha pra dizer… Ele aproxima-se
novamente de Hurricane que entre bravatas e reclamações indagava o que ele
tinha à ver com o assunto e eis que o espadachim para diante dele colocando o
pé em seu peito e com tom de voz seco e imperativo apenas o observa por alguns
segundos para logo em seguida sugerir, como que se contendo seu corpo e
movimentos… “- Nos conte sua parte nessa
história… AngryHurricane…”
O androide então observa o homem
à sua frente com seus olhos amarelos à observa-lo, olha ao redor observando
todos que o encaravam sem entender o que acontecia, e valendo-se desse
sentimento é que ele tenta resolver a situação: “- Irmãos, eu não sei do que esse homem fala… Ele é um ser vivo, entrou
em nosso mundo, derrubou nosso líder e agora me pede para falar sobre coisas
que desconheço… Isso é justo irmãos?”
Mais um deslocar de ar, um raio
risca o dia de novo e o braço esquerdo com um pedaço do ombro de Hurricane voa
pelos ares… Sequer foi possível notar o saque de espada, sequer se pode ver a
lâmina voltar à bainha, mas o golpe havia acontecido, e havia sido brutal… O
guardião então insiste antes de mais reclamações por parte de Hurricane: “- Não irei dizer qualquer coisa além de
pedir a verdade... Não te darei o prazer de alegar que estou te obrigando a
dizer coisas... Quero a verdade sobre tudo isso... Quero a resposta certa, o
assunto certo e você sabe qual é... Ainda temos partes de seu corpo que podem
voar…”
AngryHurricane então percebe a
situação a qual se encontrava, ele olha para Honor que tem uma expressão de
quem não acredita no que estava começando a se desvendar diante de todos... O
ciborgue então tenta uma vez mais argumentar, mas antes que falasse, seu braço
direito voa para cima em três partes e por final a perna também é decepada e
empurrada para longe…
AngryHurricane urra de indignação
e por final dá-se por vencido não vendo outra saída à não ser obedecer ao
guardião uma vez que restavam-lhe tão somente cabeça e tronco do que já fora seu
corpo... Em frações de segundos ele pondera sobre contar a verdade o que com
certeza seria o fim de seus planos, porém antes que pudesse ponderar uma
segunda opção, praticamente começou a entrar em pânico quando a ponta da espada
do guardião encostava em sua testa, segurada pela mão direita do guerreiro ao
cabo e a esquerda sobre o cabo, pronto para empurrar e perfurar seu crânio… A
voz do guardião, fria como a neve, disparava uma vez mais… “- Não estou com paciência para mais
brincadeiras Hurricane... Cinco segundos e ninguém mais vai poder te consertar
de novo..."
Assustado, diante do público que
se mesclava entre estar curioso, confuso e atento, inclusive o avariado ConstructHonor,
AngryHurricane então em atitude impensada começa a finalmente contar o que ele
sabia sobre os desaparecimentos mencionados: “- Fui eu... Por favor não me destrua... Eu fiz isso, é culpa minha eu
reconheço... Eu os vendi, eu os entreguei diretamente aos compradores... Por
favor não me destrua, eu só quero ter uma existência melhor, isso não é um
crime... Por favor, me deixa viver...”
A Gear Cradle inteira expressava
o mesmo sentimento de surpresa... A moça, oculta entre os Sucatas estava
impressionada com a situação… Nada disso havia sido falado, mas seu guardião
percebeu tudo e estava resolvendo a situação de forma brutal como ele sempre
fez e algo ainda maior e mais surpreendente estava para acontecer, ela podia
sentir nos pelos de seus braços, a tensão era gigante... O Povo Sucata ainda
esperava uma ideia para seguir em frente, pois seu líder tombou, um novo estava
à desmembrar um irmão, mas esse irmão se declarava o próprio carrasco de seu
povo…
ConstructHonor então baixa a cabeça e
completa, percebendo que seus temores eram reais… “- Descobrimos marcas que indicavam que alguém havia sido arrastado... E
sempre que alguém desaparecia, novas marcas similares eram encontradas e... E
em todas elas… Sempre haviam pegadas idênticas acompanhando a trilha, era fato
que o mesmo ser estava carregando todos… Alguém estava carregando nossos irmãos
para fora daqui e o mais triste é que... Um de nós sumia sempre que alguém
desaparecia…"
O guardião ergue sua espada, gira
a mesma na mão a colocando-a novamente na fronte de Hurricane, e então
vocifera: “- Queremos os detalhes, AngryHurricane!”
Temeroso, o ciborgue Hurricane se
agarrava a um fio de esperança, de que a verdade dita em seus detalhes pudesse
render-lhe algum crédito e quem sabe assim salvá-lo…“- Eles pagam bem… Eu só vendia os que estavam deteriorados já… Eram um
problema pra nós e não iam ajudar em nada… Com o retorno que eu estava tendo
dessas vendas, eu poderia comprar peças de reposição e melhorar a vida pra quem
ficava… Fiz pensando no nosso lar, o lar dos Sucatas…”
O guardião com seus olhos
amarelos brilhando forte, vira para o lado, olha para o horizonte como se
buscasse força para suportar a raiva que o consumia, virando-se de novo para
Hurricane, quase rosnando ao perguntar: “-
Agora diga… Quem são seus compradores?”
O ciborgue temente pelos próximos
momentos, pois sabia que essa resposta seria definitiva para sua sobrevivência,
divaga e tenta achar um meio, uma resposta que o salvasse, mas os olhos do
guardião irradiam-se ao máximo como que sentenciando o mesmo a falar a verdade,
e ficava claro que o espadachim sabia a verdade e podia identificar a mentira
caso ela viesse: “- Em tom claro e alto,
para que todos o ouçam Hurricane…” Finalizava o recém nomeado líder dos
Sucatas…
Sem opções e agora acreditando
que talvez Honor pudesse intervir por ele, Hurricane revela a verdade fatal não
tendo mais como adiar a resposta… “- Para
donos de arenas… Eles são colocados dentro dela para serem destruídos das
formas mais diversas para que os demais se divirtam… Eu os vendi para arenas de
demolição!”
O Guardião praticamente urra em
fúria olhando para os céus e então a espada do mesmo se finca até o cabo na
fronte de AngryHurricane atravessando a cabeça do mesmo e avançando chão à
dentro, momento esse em que o guardião fica cara à cara com o ciborgue já em
colapso quase completo de seus sistemas, tendo como uma de suas últimas visões,
os olhos em intenso amarelo do ser que profere suas últimas palavras antes do
maquiavélico Hurricane deixar de existir: “-
Trair sua família, aqueles que te receberam como um irmão… Não há crueldade
pior que essa!”
A espada então é girada para a
esquerda, depois para a direita destroçando todo o interior da caixa craniana robótica,
dando fim à existência do ciborgue AngryHurricane de forma selvagem… A lâmina
então é retirada com brutalidade e logo depois, com um chute potente desferido
pelo espadachim, o que restou da carcaça sem qualquer vida ou energia devido o
cérebro positrônico do ciborgue ter sido destruído, rolou por metros pelo chão
do local…
Todo o local estava em um
silêncio sepulcral… O guardião não movia um único músculo… ConstructHonor
baixou a cabeça, desiludido, decepcionado, ele suspeitava, mas não quis acusar
sem provas e por sua culpa, seu povo continuou desaparecendo… A jovem, que
camuflada em suas vestes à tudo observava, escorria uma lágrima de seus olhos,
reflexo de seus sentimentos de tristeza, revolta, surpresa, comoção… O Povo
Sucata se mantinha estático, mas se via neles sentimentos se manifestando mesmo
que de forma lerda, como se não conseguissem expressar tal coisa sem
dificuldade…
Então passos lentos são ouvidos,
e uma ciborgue, do tamanho e aparência de uma criança, fica à frente dos demais
com olhos estáticos que praticamente não conseguiam definir o misto de emoções
que explodia dentro da pequena autômata, muito provavelmente construída para
ser amiga de alguma criança, ou a filha substituta de algum casal sem filhos,
posteriormente abandonada quando não necessitavam mais de seus serviços… Com
vários de seus mecanismos expostos, a pequena segurando as duas mãozinhas,
olhando para o guardião pergunta: “- KindWill
foi levado para ser destruído então?”
O guardião olha para a pequena,
baixa a cabeça como se reunisse palavras, vira-se e vai até ela agachando-se
perto da ciborgue já com sua espada na bainha e, segurando as mãozinhas frias
da menina, por assim se dizer, com uma feição meiga e protetora, responde
calorosamente a ela: “- Não se desespere…
Você pediu com todas as forças para que seu protetor KindWill voltasse em
segurança não foi? Então continue acreditando, continue pedindo, suas preces
serão ouvidas pequena e em breve estará com ele novamente… Acredita em mim?”
A pequena sorri, e volta correndo
para próximo dos outros com quem ela estava ao passo que o guardião toma o
centro do lugar e conclama à todos que ouçam suas palavras: “- Há meses seu líder ConstructHonor, está
tentando resolver o mistério de irmãos da sociedade de vocês que estavam
desaparecendo… Minando suas buscas e seus esforços para impedir e resgatar seus
amigos, estava este lixo, AngryHurricane… Banido como vocês da convivência da
sociedade comum mas sem o mesmo espírito de gratidão por aquele que os reuniu e
por vocês mesmos, pensou em conseguir dinheiro para reparar seu corpo e seus
mecanismos, saindo daqui assim que pudesse… Usou e abusou de suas boas vontades
e de suas confianças assim como de suas vidas…”
O guardião caminha pela arena e
então aponta para ConstructHonor, caído ao chão, continuando: “- Este líder foi quem tentou descobrir e
resolver tudo, sem deixar que percebessem a tragédia que se abatia sobre vocês…
Os tendo como irmãos e alguns como filhos e filhas, sofreu sozinho enquanto
este lixo do Hurricane vendia vocês… Isso agora terminou e se alguém aqui
simpatizou ou participou de tais ações, tem a chance de se redimir agora,
trabalhando em prol do Povo Sucata assim como Honor trabalha e vive em prol de
vocês…”
Fazendo uma breve pausa, tendo
toda e qualquer atenção voltada para si e suas palavras impactantes, o
espadachim então vai até ConstructHonor e o ajuda à se levantar, ficando abaixo
de seu braço direito para lhe dar sustentação, atitude essa que Honor não
conseguia entender por sua vez e enquanto começavam a se mover, o guardião
ciente de que o derrotado não estava à entender nada do que acontecia,
cochicha: “- Eu não poderia usar com
força a espada sem te despedaçar, nem poderia te derrubar de verdade pois isso
não ajudaria para conquistar o respeito de seu povo… Precisei que você mesmo
caísse por conta para não ser derrotado por mim... Me desculpe por sua perna…”
Enquanto o ser de olhos amarelos
ajudava o ex-líder do Povo Sucata à chegar novamente ao centro do local, a
jovem protegida, que a tudo assistia profundamente comovida com os
acontecimentos, corre em direção aos dois mesmo sem ter a mínima ideia se seria
bem recebida e, segura firmemente a cintura de Honor, num esforço inútil
fisicamente de fazer alguma diferença, mas que ela se sentiu impelida a fazer
ainda assim... Sua ação na verdade externava seus sentimentos que não cabiam
mais dentro de si assim como afeto e concordância com a postura de seu guardião
e eis que chegando ao centro do lugar, uma nova surpresa esperava à todos…
O espadachim servindo como
suporte ao lado de ConstructHonor, ergue o braço do gigante e brada à todos
fazendo com cada ser que ali estava prestasse a atenção máxima à si e suas
palavras: “- Como líder atual do Povo
Sucata, minha ordem é suprema… Assim sendo, eu apresento à vocês aquele que eu
julgo o mais digno dessa posição… Porque qualquer um portando uma espada e com
muitas fontes de informação, pode matar ou descobrir mistérios, mas somente
alguém com uma alma pura de verdade e empatia por seu próximo, pode liderar um
povo incrível e único como vocês… Saúdem ConstructHonor, o verdadeiro líder do
Povo Sucata! E se alguém discordar dessa ordem, hoje ou no futuro, minha espada
e eu estaremos prontos para resolver tais diferenças!”
Em uma manifestação que começou
lenta, mas ao mesmo tempo intensa e emotiva, todos os mais de 3000 ciborgues
presentes, começaram a ovacionar aquele que conheciam como líder e que agora
voltava a seu lugar… Sentando o pesado ciborgue ao chão, antes que o mesmo
pudesse ser encostado ao solo, as palavras surgiam da boca de Honor, tentando
entender: “- Porque… Para que tudo isso?”
O espadachim assim que o deixou
confortável da forma que era possível, olhou para a protegida que o acompanhava
e voltando a olhar para Honor, falou em tom que somente eles ouvissem… “- Eu descobri a traição de Hurricane tem
tempos… Não poderia fazer nada contra ele porque sem provas até você ficaria
contra minhas atitudes… Com este teatro eu pude fazer o maldito confessar tudo
e provei ao seu povo e a você, que ele era o criminoso! Assim como líder, pude
ser júri e carrasco executando seu julgamento e execução! Sei que sua índole
meu amigo Honor, não permitiria matar um de seu povo, mesmo sendo Hurricane,
então tomei seu lugar para que não carregasse esta culpa… Me desculpe pelo show
bizarro, mas era o jeito de resolver tudo que estava pendente sem prejudicar
você e sua gente…”
O samurai se ajoelha e faz uma
reverência pedindo o perdão ao robusto ciborgue enquanto Honor e a moça ficam
sem ação... Era incrível perceber só então como tudo tinha sido conduzido à
fazer todos chegarem à revelação e que houvesse poder de decisão nas mãos do
samurai para tomar as atitudes necessárias... Aliado à isso, ainda existia uma
preocupação com a honra de Honor, que fatalmente refletiria nos demais, em seus
sentimentos, anseios e continuidade de sua sociedade… O espadachim então desfaz
a pose de reverência e puxa de sua mochila uma caixa, uma espécie de maleta
bastante espessa e tecnologicamente avançada, entregando-a nas mãos de ConstructHonor,
completando sua frase final: “- Isto vai
ajudar não só com sua perna, mas irá resolver o problema do seu povo se bem
administrado… Tenho certeza, ninguém saberá administrar isso melhor que você!”
ConstructHonor olha para a maleta
recebida, sua expressão era de comoção, não por ele, não por sua perna, mas por
ali estar contido praticamente a salvação de seu povo, algo que ele tanto
almejava e não via meios de atingir… Como se puxasse o fôlego supremo ele berra
à plenos pulmões fazendo até mesmo o espadachim e a moça se ocultarem atrás dos
braços: “- IRMÃOS… PREPAREM OS HORSETECHS, QUERO OS DOIS MELHORES EM FUNCIONAMENTO
PERFEITO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL!”
O Povo Sucata começou à se mover
rapidamente e partiram todos para cumprir as ordens de Honor enquanto sentado
ao chão, o gigante líder dos Sucata estende a mão emocionado ao guardião que
responde o cumprimento e era Honor quem expressava o sentimento dos dois: “- Me desafiou para conquistar o poder para
julgar Hurricane e assim me livrar da agonia de matar um dos meus… Teve a
decência de não me humilhar diante de meu povo no combate, mantendo minha honra
diante deles… Resolveu um mistério que estava destruindo minha paz e trouxe
justiça aos injustiçados... E agora me entrega a chave da salvação para meu
povo… Não tenho como agradecer nem que passe a eternidade à tentar fazê-lo… Meu
amigo!”
O guardião sorri levemente, se
sentia satisfeito com o desfecho daquele dia e assim a noite vinha chegando e, como
convidados de honra o guardião e a protegida que ainda se passava por homem,
passaram a noite no local de forma agradável e tranquila! Na manhã seguinte,
antes do sol nascer se colocavam em marcha agora devidamente montando um cavalo
mecânico, os chamados “HorseTech”,
movidos à energia solar, capaz de cruzar grandes distâncias sem precisar de
qualquer reparo ou descanso…
Chegando até ao topo da colina
que cercava o local da Gear Cradle, eles detém seu movimento para verificar o
último evento que o guardião queria assistir… A jovem também para e fica
olhando para o local tentando buscar algo e eis que então avista uma
movimentação mais ao longe, como se várias pessoas estivessem chegando ao local
sagrado dos Sucata… O espadachim entrega o binóculo à jovem que olhando pelo
mesmo, percebe na verdade se tratar de Hoshino seguido de vários ciborgues…
Ela olha para seu guarda-costas
sem entender do que se trava e este, com um semblante de tranquilidade explica…
“- Quando soube dos crimes de Hurricane
ele já tinha vendido três, e eu infelizmente não fui capaz de localizar em qual
arena eles estavam antes de suas destruições… À partir de então monitorei seus
passos e uma vez que ele entregava um ciborgue, eu interceptava o atravessador
sem que ele percebesse que eu estava agindo e com isso consegui resguardar cento
e vinte e cinco dos cento e vinte e oito que o maldito vendeu, os escondendo no
depósito de um amigo lá no vilarejo… Quando saímos ontem, pedi à Hoshino que
hoje pela manhã os conduzisse de volta ao seu lar, eles são muito amistosos e
atenderam à ele desde o primeiro momento com boa receptividade… Veja…”
O espadachim aponta para um local
mais à esquerda onde uma pequena figura corria e se abraçava em alguém e com o
binóculo a jovem pode confirmar, era a pequena ciborgue do dia anterior,
abraçando-se provavelmente a seu esperado KindWill, e lágrimas fartas
escorreram pelos olhos da moça ao observar a cena calorosa…
O homem de olhos amarelos então
vira seu HorseTech e começa à retomar a marcha enquanto ela ainda admirava a
cena incrível que acontecia no local… Questão de segundos apenas para se
despedir de um local que ficou tão pouco tempo mas viveu tão fortes emoções, e
então ela vira-se e acompanha seu guarda-costas contratado com algumas dúvidas
ainda em mente... Arriscando já ter liberdade para tal, ela questiona: “- Quanto a maleta que entregou à ConstructHonor…
Pode me explicar o que continha nela que o deixou tão feliz?”
O guardião com seu “kasa” abaixado diante dos olhos sorriu e
explicou: “- Nanobots… Espécie de seres
microscópicos completamente tecnológicos que assim como nossas células tem a
função de reparar mecanismos… Falando mais claramente são recipientes com uma
espécie de pasta que se espalhada sobre um mecanismo com defeito, reconstrói o
mesmo como nosso corpo faz com nossos ferimentos... Tem o suficiente ali para a
perna do Honor e para restaurar o funcionamento perfeito de todo seu povo… Bem
administrado como sei que ele fará, poderão viver em paz e em bom funcionamento
por muito tempo…”
A moça sorri finalmente, era
reconfortante saber com que tipo de pessoa ela estava a viajar… As atitudes
dele nem sempre tinham uma explicação nítida ou instantânea, mas era inegável
que ele tivesse cometido alguma injustiça até agora… A jovem olha para trás uma
vez mais e como se confirmasse as palavras do guardião, ela avista ConstructHonor,
caminhando, em direção aos que chegavam… Sua atenção só foi removida da vila do
Povo Sucata ao ouvir a voz de seu guia que dizia…
“- Seijuro… Nishimura Seijuro é meu nome… E o seu?”
Sem acreditar no que estava
ouvindo, afinal ela havia feito essa pergunta tinha quase um dia de intervalo,
a jovem vira-se para olhar no rosto de seu guardião e o mesmo seguia sua
marcha, seu “kasa” abaixado, sem
expressar qualquer outra palavra ou expressão… Um sorriso e uma esperança de
que algo diferente do que abusos e escravidão poderia estar acontecendo em sua
vida mesmo que por pouco tempo, estampava o rosto da jovem protegida que se
anima em vencer a timidez e responde:
“- Sayuri… Noguchi, Sayuri…”
O guardião então sorri por
debaixo de seu “kasa” e completa,
satisfeito: “- Belo nome… Agora que fomos
oficialmente apresentados, acho que poderemos ser bons amigos… Seja bem-vinda
Sayuri! Aliás, bela atitude a sua de me ajudar a levar o grandalhão para o
centro da Gear Cradle!”
Sayuri sorri, principalmente por
saber que com seu porte físico e altura ela não ajudou em nada, mas o
reconhecimento de seu guardião, era algo muito bem-vindo, principalmente para
alguém com sua história passada...
Os dois seguem por alguns
segundos com os cavalos cibernéticos em passo lento, um sorriso em seus rostos
e o sol a nascer à frente deles como a brindar o começo daquele novo dia,
aquele novo começo... Ambos, embora não pudessem ler o pensamento um do outro,
se sentiam estranhamente satisfeitos por estarem conversando, algo que não
fazia parte do cotidiano de nenhum dos dois em seus dias anteriores, mas que se
tornava mais comum à cada momento...
O mundo estava mudando para os
dois e ambos recebiam muito bem essas mudanças em seus íntimos...
O vento ressoava pelas laterais
do imenso espaço que servia de palco de reuniões do Povo Sucata, onde naquele
momento um clima estranhamente tenso se desenrolava… ConstructHonor conhecia o
guardião que o desafiava havia muito tempo, nunca julgou que o mesmo tomaria
uma atitude similar, principalmente sabendo o referido guardião de todo o
passado de Honor até o surgimento dos exilados ciborgues que ali viviam…
Ao redor da recém formada arena,
se aglomeravam esses mesmos exilados, que aliás demonstravam um comportamento
calmo e sereno além do natural devido suas baixas capacidades de entenderem
emoções uma vez que eram ciborgues no sentido de não serem apenas máquinas,
eram inteligências artificiais muito evoluídas e capazes de aprender a base dos
sentimentos humanos se, uma convivência adequada tivessem ao lado dos seres
vivos... O termo androide, embora fosse o mais correto pela composição 100%
artificial da maioria esmagadora de todos eles, era inapropriada aos ciborgues
desse nova era, que eram construídos para se tornarem humanos praticamente
perfeitos nas ações e reações caso pudessem acompanhar o desenrolar dos
relacionamentos dos seres aos quais eles supostamente deveriam fazer parte no
dia a dia...
Esses seres, complexos e ao mesmo
tempo praticamente sem vida, se observavam e tentavam entender o que estava à
acontecer ao redor deles… Todos eles seguiam ConstructHonor desde o início
porque ele os protegia das maldades dos vivos e os mantinha como uma sociedade
isolada, para que pudessem viver sem correr o risco de serem exterminados como
lixo desnecessário à sociedade, o que eram considerados nos dias de hoje… Mas
agora, alguém parecia afrontar essa liderança que Honor exibia e o povo,
humilde em pensamentos e atitudes, ficava a observar os dois tentando descobrir
como reagir…
Do alto de sua estrutura, que o
colocava mais alto que os demais para poder falar à todos durante as reuniões,
Honor olhava para seu povo que ele tanto prezava ao mesmo tempo que baixava a
visão e observava o guardião em pose de saque de espada, aguardando por seu
movimento… O que passaria pela cabeça daquele ser pensava o líder do povo
ciborgue, para estar agindo assim, afinal, pelo menos até aquele dia, se consideravam
amigos… Intrigado e ainda não acreditando na cena, ele uma vez mais tenta: “- Nossa amizade vale tão pouco para você, a
ponto de me tirar a única coisa que me restou velho amigo?”
O guardião ao centro da arena
baixa a cabeça e em tom de deboche responde: “- Pare de achar desculpas para fugir da luta e venha me enfrentar
Honor!”
As palavras do guardião despertam
ira em ConstructHonor que, apesar de ser uma inteligência artificial implantada
em pedaços de um corpo humano, tinha a capacidade de sentir emoções mais
intensas que a maioria dos ciborgues e, em um ímpeto de revolta e atitude de
resposta, salta de seu local de pronunciamentos, pousando pesadamente ao chão à
frente do desafiante, abrindo um rombo a seus pés, tamanho o peso do ciborgue
desafiado… O líder do Povo Sucata se ergue, aponta para o guardião que se
mantinha imóvel e sentencia: “- Não
esperava tamanha indignidade de sua parte, embora seja um vivo… Existe muito
mais do que o título que me obriga a lutar por esta liderança, se prepare para
ser destruído!”
A moça protegida em meio aos
demais ciborgues observava a tudo atenta e preocupada, começava a duvidar das
intenções de seu guarda-costas... O guardião por sua vez se prepara e ConstructHonor
com uma explosão de movimento se lança em carga contra o espadachim, e embora
seu corpo grande e pesado, sua força era descomunal a ponto de surpreender
qualquer um que observasse seu deslocamento!
O desafiante então vai se
lançando para trás conforme o líder do Povo Sucata se aproximava desferindo
golpes devastadores com os punhos enquanto tentava atingir o oponente; com
saltos e recuos precisos, o guardião evitava os mesmos, mantinha sua espada
embainhada até praticamente chegar ao final das centenas de metros que eles
tinham como arena quando então em um movimento praticamente impossível de se
crer ser possível executar, o espadachim saca sua espada e ataca o ombro de Honor
com força e técnica perfeita! No entanto, apesar de todos acreditarem que seria
um golpe preciso e poderoso que deceparia o braço mecânico do líder, ao invés
disso, se viam faíscas de metal contra metal, sendo a espada embainhada
novamente com extrema velocidade sem nenhum arranhão visível ao corpo do líder ConstructHonor!
Tão rápido quanto o golpe de
espada foi a sequência do movimento, pois como um relâmpago o espadachim
realiza um deslocamento para a esquerda com vigor, fazendo Honor apesar de seu
peso bruto e do impacto que se mostrou ineficiente, girar seu corpo gigante
sobre a perna direita e seguir atacando com a mesma tática de ataque sem fim,
buscando não perder o espaço que acreditava ter conseguido conquistar, tentando
manter seu desafiante pressionado com o ataque sem fim!
O Guardião então reinicia sua
aparente estratégia e continua à recuar entre saltos, deslocamentos, recuos de
passos e até mesmo acrobacias enquanto Honor segue para cima como um búfalo
desenfreado, atacando com golpes de braços sem parar até que chegam à outra
extremidade do palco de batalha quando novamente o guardião saca sua espada,
ataca o mesmo braço que atacou anteriormente, novamente sem efeito e uma vez
mais guarda a espada, se desloca para a esquerda velozmente e Honor, tentando
manter o ritmo até conseguir algum resultado, buscando manter o que vinha
fazendo, executando a mesma reação, detendo seu movimento com força, gira sobre
a perna direita e continua seu ataque sem dar tréguas ao guardião!
A cena continua a se repetir, o
Povo Sucata que não era amante de violência, assistia à tudo em silêncio e
ficava a tentar entender o que viria após o combate, fosse qual fosse o
resultado, o que mudaria em suas vidas… Por sua vez, AngryHurricane observava
com frieza e expectativa pois torcia pela derrota de Honor afinal de contas,
tomar a liderança do Povo Sucata tendo de disputar com um vivo seria muito mais
fácil, a sociedade deste povo guardava muita mágoa e temor dos vivos, além de
que Honor tinha prestígio coisa que um recém chegado não teria… Se Honor
caísse, preparar a queda de um vivo seria muito mais fácil e ele comemorava o
momento de talvez finalmente se tornar o líder que buscava ser!
A batalha pela liderança dos
Sucatas continuava, os desafiantes chegavam novamente ao final da linha e o
guardião uma vez mais sacava sua espada, golpeava o ombro de Honor, faíscas
elevavam-se aos céus sem qualquer efeito físico ao líder robusto, e uma vez
mais o espadachim veloz muda a trajetória se jogando para a esquerda
velozmente, enquanto o pesado líder sem desanimar e ainda enfurecido, trava seu
movimento violentamente de novo, gira sobre a perna direita e uma vez mais
saindo em perseguição ao guardião que novamente tinha sua espada embainhada e
continuava à recuar… “- Até seu estilo de
luta mudou covarde? Vai ficar fugindo o combate inteiro milenar?”
Era Honor quem esbravejava e
avançava, ao passo que a moça disfarçada de homem em meio à multidão observava
a luta com atenção e certo receio, afinal se seu guardião fosse derrubado, o
que seria dela, pensava aflita... E apesar de não entender nada de estratégias
de luta ou mesmo de lutas em si, chamava-lhe a atenção que alguém tão
experiente e tão brutal em combate como ela tinha visto até então, estivesse
apenas recuando e sequer conseguia atacar ConstructHonor… Intrigada e curiosa,
ela cogitava em voz baixa como se fosse um pensamento escapando em palavras… “- Ele realmente planejou tudo tão mal a
ponto de sequer perceber que sua espada não podia perfurar a blindagem do
líder? Isso… Isso não faz sentido algum com tudo que já vi dele… O que… O que
está acontecendo aqui afinal…”
O fim da linha chega novamente,
os olhos do guardião brilham e ele sorri… Honor chega com seu golpe mais
poderoso... O guerreiro espadachim saca a espada, ataca, novamente sem surtir
qualquer efeito e se desloca violentamente para a esquerda e quando ConstructHonor
repete o movimento de sempre, eis o resultado da estratégia do guardião… Ao
girar sobre a perna direita, perna essa que já havia executado sem parar o
mesmo movimento, sob absurda movimentação e velocidade, a mesma não consegue
mais suportar o peso e a pressão gigante exercida pela batalha repetidamente,
vindo sob impacto sonoro assustador a se partir por completo, saltando pedaços
da mesma para diversos lados, separando-se por completo do corpo do gigante,
ficando fios, circuitos, processadores e sistemas hidráulicos totalmente
expostos!
ConstructHonor cai por terra,
arrastando-se com a força da velocidade e do ataque com que vinha em direção ao
guardião, parando a dezenas de metros do desafiante, caído, sem sua perna
direita, esfacelada na altura da virilha e por consequência completamente
indefeso, pelo menos era assim que viam o resultado os presentes... AngryHurricane
chega esboçar felicidade com o acontecido, deu-lhe prazer ver a derrocada de ConstructHonor,
em sua visão agora era esperar o momento certo e destituir ou sumir com o novo
líder…
O guardião então, observando a
cena de Honor caído sem mais poder combater, energiza seus olhos e desaparece,
aparecendo sobre o peito de Honor encostando sua espada na testa do líder
Sucata, esperando que ele reconhecesse abertamente a derrota… Honor por sua vez
urra em fúria e aciona todos os armamentos que possuía, disparando micro
mísseis e feixes de próton que rasgaram o vazio em direção ao céus, tentando
atingir o oponente com um último ataque, mas infelizmente tudo em vão, visto
que o guardião novamente desapareceu, aparecendo atrás dele com a espada sobre
seu pescoço, desta vez com expressão séria, esperando as palavras de Honor que
ele queria ouvir… O gigante líder, visivelmente decepcionado consigo mesmo,
brada em tom alto respeitando a honra que fazia parte de seu ser… “- O combate está encerrado… O Povo Sucata
tem um novo líder…"
O guardião então guarda a espada
e vai caminhando até o centro da arena onde com voz poderosa, abre os braços e
enquanto dialogava, ia virando-se conforme era possível para analisar e
observar a todos ali presentes… “-
Estimado Povo Sucata… Como seu novo líder, tenho já de saída algumas exigências
à serem feitas… A primeira delas é, que AngryHurricane se apresente ao centro e
fique frente à frente comigo…”
Todos ficam sem entender o que o
espadachim estava pretendendo, a própria moça cogitava que não fazia parte da
personalidade que ela conheceu, que aquele que a guarnecia fizesse tanto
esforço apenas para resolver uma desavença com um ciborgue… De qualquer forma,
sob os olhares curiosos de todos, principalmente de ConstructHonor, Hurricane
com olhar debochado faz o ordenado, e chega até a frente do novo líder, de
braços cruzados como se desdenhasse do espadachim… “- Tudo isso só pra se vingar de mim? Vocês vivos são realmente
prepotentes…”
Um risco então, quase como um
relâmpago é pressentido mas impossível de ser visto ou sequer evitado e eis que
AngryHurricane caía ao chão, sem sua perna direita, totalmente avariado soltando
faíscas e esbravejando em fúria… Honor, a moça e os demais ficam espantados com
a atitude gratuita e sem qualquer necessidade segundo a visão de todos, mas,
ainda observam em silêncio, obedecendo as leis que regiam aquela sociedade
excluída daquele mundo completamente sem empatia ou piedade… O guardião anda ao
redor de um Hurricane esbravejante e brada à plenos pulmões: “- ConstructHonor… Como novo líder do Povo
Sucata, ordeno que conte à todos sobre o problema que você vem tentando
resolver há meses…”
O ex-líder do Povo Sucata,
expressando real sentimento de não entender do que se tratava, pois não havia
como o guardião saber de algo tão secreto, e sem querer dar pistas que levassem
o povo a perceber o problema que tinham em mãos, argumenta: “- Não sei do está falando andarilho…
Realmente não sei onde quer chegar com tudo isso…”
O guardião por sua vez, embainha
sua espada novamente enquanto caminhava e insistia, sabendo que o honrado
ciborgue apenas estava tentando manter a verdade oculta ao máximo que pudesse…
“- Vamos Honor, não temos o dia todo, eu
tenho uma jornada para empreitar… Conte a seu povo, a tragédia que vocês têm
vivido nos últimos meses e que você tem evitado que seu povo sofra mais ainda
sabendo de tal ferida em meio sua sociedade…”
ConstructHonor não via mais
possibilidade de esconder, estava claro que o guardião de alguma maneira sabia
do que estava falando, e agora, pelas leis, ele era um subordinado ao novo
líder, deveria obedecer… Entre faíscas e pequenas micro explosões em seus circuitos
na perna direita, ele inicia sua narrativa…
“- Há alguns meses, um integrante novo de nossa sociedade, ao qual
batizei como Without Esteem, foi recebido por nossos socorristas assim que o
recolhi à beira de um lixão quase em pedaços… Infelizmente, no dia seguinte não
o encontramos dentro da Gear Cradle e cogitamos que tivesse saído por conta
própria… Mas também desapareceram na mesma semana Engine Stopped e logo depois
Sound Whistle… Montei uma equipe de buscas e por dias vasculhamos os
territórios que ocupamos em busca de nossos irmãos… Até então não tínhamos
qualquer ideia do que estava acontecendo, mas os desaparecimentos continuaram,
e hoje… Infelizmente somamos cento e vinte e oito Sucatas à menos em nossa
comunidade… Desaparecidos sem qualquer vestígio…”
O guardião então vira-se e
caminha pelo local, com calma, como se analisasse tudo, ponderando e pensando
qual a melhor maneira de expressar o que tinha pra dizer… Ele aproxima-se
novamente de Hurricane que entre bravatas e reclamações indagava o que ele
tinha à ver com o assunto e eis que o espadachim para diante dele colocando o
pé em seu peito e com tom de voz seco e imperativo apenas o observa por alguns
segundos para logo em seguida sugerir, como que se contendo seu corpo e
movimentos… “- Nos conte sua parte nessa
história… AngryHurricane…”
O androide então observa o homem
à sua frente com seus olhos amarelos à observa-lo, olha ao redor observando
todos que o encaravam sem entender o que acontecia, e valendo-se desse
sentimento é que ele tenta resolver a situação: “- Irmãos, eu não sei do que esse homem fala… Ele é um ser vivo, entrou
em nosso mundo, derrubou nosso líder e agora me pede para falar sobre coisas
que desconheço… Isso é justo irmãos?”
Mais um deslocar de ar, um raio
risca o dia de novo e o braço esquerdo com um pedaço do ombro de Hurricane voa
pelos ares… Sequer foi possível notar o saque de espada, sequer se pode ver a
lâmina voltar à bainha, mas o golpe havia acontecido, e havia sido brutal… O
guardião então insiste antes de mais reclamações por parte de Hurricane: “- Não irei dizer qualquer coisa além de
pedir a verdade... Não te darei o prazer de alegar que estou te obrigando a
dizer coisas... Quero a verdade sobre tudo isso... Quero a resposta certa, o
assunto certo e você sabe qual é... Ainda temos partes de seu corpo que podem
voar…”
AngryHurricane então percebe a
situação a qual se encontrava, ele olha para Honor que tem uma expressão de
quem não acredita no que estava começando a se desvendar diante de todos... O
ciborgue então tenta uma vez mais argumentar, mas antes que falasse, seu braço
direito voa para cima em três partes e por final a perna também é decepada e
empurrada para longe…
AngryHurricane urra de indignação
e por final dá-se por vencido não vendo outra saída à não ser obedecer ao
guardião uma vez que restavam-lhe tão somente cabeça e tronco do que já fora seu
corpo... Em frações de segundos ele pondera sobre contar a verdade o que com
certeza seria o fim de seus planos, porém antes que pudesse ponderar uma
segunda opção, praticamente começou a entrar em pânico quando a ponta da espada
do guardião encostava em sua testa, segurada pela mão direita do guerreiro ao
cabo e a esquerda sobre o cabo, pronto para empurrar e perfurar seu crânio… A
voz do guardião, fria como a neve, disparava uma vez mais… “- Não estou com paciência para mais
brincadeiras Hurricane... Cinco segundos e ninguém mais vai poder te consertar
de novo..."
Assustado, diante do público que
se mesclava entre estar curioso, confuso e atento, inclusive o avariado ConstructHonor,
AngryHurricane então em atitude impensada começa a finalmente contar o que ele
sabia sobre os desaparecimentos mencionados: “- Fui eu... Por favor não me destrua... Eu fiz isso, é culpa minha eu
reconheço... Eu os vendi, eu os entreguei diretamente aos compradores... Por
favor não me destrua, eu só quero ter uma existência melhor, isso não é um
crime... Por favor, me deixa viver...”
A Gear Cradle inteira expressava
o mesmo sentimento de surpresa... A moça, oculta entre os Sucatas estava
impressionada com a situação… Nada disso havia sido falado, mas seu guardião
percebeu tudo e estava resolvendo a situação de forma brutal como ele sempre
fez e algo ainda maior e mais surpreendente estava para acontecer, ela podia
sentir nos pelos de seus braços, a tensão era gigante... O Povo Sucata ainda
esperava uma ideia para seguir em frente, pois seu líder tombou, um novo estava
à desmembrar um irmão, mas esse irmão se declarava o próprio carrasco de seu
povo…
ConstructHonor então baixa a cabeça e
completa, percebendo que seus temores eram reais… “- Descobrimos marcas que indicavam que alguém havia sido arrastado... E
sempre que alguém desaparecia, novas marcas similares eram encontradas e... E
em todas elas… Sempre haviam pegadas idênticas acompanhando a trilha, era fato
que o mesmo ser estava carregando todos… Alguém estava carregando nossos irmãos
para fora daqui e o mais triste é que... Um de nós sumia sempre que alguém
desaparecia…"
O guardião ergue sua espada, gira
a mesma na mão a colocando-a novamente na fronte de Hurricane, e então
vocifera: “- Queremos os detalhes, AngryHurricane!”
Temeroso, o ciborgue Hurricane se
agarrava a um fio de esperança, de que a verdade dita em seus detalhes pudesse
render-lhe algum crédito e quem sabe assim salvá-lo…“- Eles pagam bem… Eu só vendia os que estavam deteriorados já… Eram um
problema pra nós e não iam ajudar em nada… Com o retorno que eu estava tendo
dessas vendas, eu poderia comprar peças de reposição e melhorar a vida pra quem
ficava… Fiz pensando no nosso lar, o lar dos Sucatas…”
O guardião com seus olhos
amarelos brilhando forte, vira para o lado, olha para o horizonte como se
buscasse força para suportar a raiva que o consumia, virando-se de novo para
Hurricane, quase rosnando ao perguntar: “-
Agora diga… Quem são seus compradores?”
O ciborgue temente pelos próximos
momentos, pois sabia que essa resposta seria definitiva para sua sobrevivência,
divaga e tenta achar um meio, uma resposta que o salvasse, mas os olhos do
guardião irradiam-se ao máximo como que sentenciando o mesmo a falar a verdade,
e ficava claro que o espadachim sabia a verdade e podia identificar a mentira
caso ela viesse: “- Em tom claro e alto,
para que todos o ouçam Hurricane…” Finalizava o recém nomeado líder dos
Sucatas…
Sem opções e agora acreditando
que talvez Honor pudesse intervir por ele, Hurricane revela a verdade fatal não
tendo mais como adiar a resposta… “- Para
donos de arenas… Eles são colocados dentro dela para serem destruídos das
formas mais diversas para que os demais se divirtam… Eu os vendi para arenas de
demolição!”
O Guardião praticamente urra em
fúria olhando para os céus e então a espada do mesmo se finca até o cabo na
fronte de AngryHurricane atravessando a cabeça do mesmo e avançando chão à
dentro, momento esse em que o guardião fica cara à cara com o ciborgue já em
colapso quase completo de seus sistemas, tendo como uma de suas últimas visões,
os olhos em intenso amarelo do ser que profere suas últimas palavras antes do
maquiavélico Hurricane deixar de existir: “-
Trair sua família, aqueles que te receberam como um irmão… Não há crueldade
pior que essa!”
A espada então é girada para a
esquerda, depois para a direita destroçando todo o interior da caixa craniana robótica,
dando fim à existência do ciborgue AngryHurricane de forma selvagem… A lâmina
então é retirada com brutalidade e logo depois, com um chute potente desferido
pelo espadachim, o que restou da carcaça sem qualquer vida ou energia devido o
cérebro positrônico do ciborgue ter sido destruído, rolou por metros pelo chão
do local…
Todo o local estava em um
silêncio sepulcral… O guardião não movia um único músculo… ConstructHonor
baixou a cabeça, desiludido, decepcionado, ele suspeitava, mas não quis acusar
sem provas e por sua culpa, seu povo continuou desaparecendo… A jovem, que
camuflada em suas vestes à tudo observava, escorria uma lágrima de seus olhos,
reflexo de seus sentimentos de tristeza, revolta, surpresa, comoção… O Povo
Sucata se mantinha estático, mas se via neles sentimentos se manifestando mesmo
que de forma lerda, como se não conseguissem expressar tal coisa sem
dificuldade…
Então passos lentos são ouvidos,
e uma ciborgue, do tamanho e aparência de uma criança, fica à frente dos demais
com olhos estáticos que praticamente não conseguiam definir o misto de emoções
que explodia dentro da pequena autômata, muito provavelmente construída para
ser amiga de alguma criança, ou a filha substituta de algum casal sem filhos,
posteriormente abandonada quando não necessitavam mais de seus serviços… Com
vários de seus mecanismos expostos, a pequena segurando as duas mãozinhas,
olhando para o guardião pergunta: “- KindWill
foi levado para ser destruído então?”
O guardião olha para a pequena,
baixa a cabeça como se reunisse palavras, vira-se e vai até ela agachando-se
perto da ciborgue já com sua espada na bainha e, segurando as mãozinhas frias
da menina, por assim se dizer, com uma feição meiga e protetora, responde
calorosamente a ela: “- Não se desespere…
Você pediu com todas as forças para que seu protetor KindWill voltasse em
segurança não foi? Então continue acreditando, continue pedindo, suas preces
serão ouvidas pequena e em breve estará com ele novamente… Acredita em mim?”
A pequena sorri, e volta correndo
para próximo dos outros com quem ela estava ao passo que o guardião toma o
centro do lugar e conclama à todos que ouçam suas palavras: “- Há meses seu líder ConstructHonor, está
tentando resolver o mistério de irmãos da sociedade de vocês que estavam
desaparecendo… Minando suas buscas e seus esforços para impedir e resgatar seus
amigos, estava este lixo, AngryHurricane… Banido como vocês da convivência da
sociedade comum mas sem o mesmo espírito de gratidão por aquele que os reuniu e
por vocês mesmos, pensou em conseguir dinheiro para reparar seu corpo e seus
mecanismos, saindo daqui assim que pudesse… Usou e abusou de suas boas vontades
e de suas confianças assim como de suas vidas…”
O guardião caminha pela arena e
então aponta para ConstructHonor, caído ao chão, continuando: “- Este líder foi quem tentou descobrir e
resolver tudo, sem deixar que percebessem a tragédia que se abatia sobre vocês…
Os tendo como irmãos e alguns como filhos e filhas, sofreu sozinho enquanto
este lixo do Hurricane vendia vocês… Isso agora terminou e se alguém aqui
simpatizou ou participou de tais ações, tem a chance de se redimir agora,
trabalhando em prol do Povo Sucata assim como Honor trabalha e vive em prol de
vocês…”
Fazendo uma breve pausa, tendo
toda e qualquer atenção voltada para si e suas palavras impactantes, o
espadachim então vai até ConstructHonor e o ajuda à se levantar, ficando abaixo
de seu braço direito para lhe dar sustentação, atitude essa que Honor não
conseguia entender por sua vez e enquanto começavam a se mover, o guardião
ciente de que o derrotado não estava à entender nada do que acontecia,
cochicha: “- Eu não poderia usar com
força a espada sem te despedaçar, nem poderia te derrubar de verdade pois isso
não ajudaria para conquistar o respeito de seu povo… Precisei que você mesmo
caísse por conta para não ser derrotado por mim... Me desculpe por sua perna…”
Enquanto o ser de olhos amarelos
ajudava o ex-líder do Povo Sucata à chegar novamente ao centro do local, a
jovem protegida, que a tudo assistia profundamente comovida com os
acontecimentos, corre em direção aos dois mesmo sem ter a mínima ideia se seria
bem recebida e, segura firmemente a cintura de Honor, num esforço inútil
fisicamente de fazer alguma diferença, mas que ela se sentiu impelida a fazer
ainda assim... Sua ação na verdade externava seus sentimentos que não cabiam
mais dentro de si assim como afeto e concordância com a postura de seu guardião
e eis que chegando ao centro do lugar, uma nova surpresa esperava à todos…
O espadachim servindo como
suporte ao lado de ConstructHonor, ergue o braço do gigante e brada à todos
fazendo com cada ser que ali estava prestasse a atenção máxima à si e suas
palavras: “- Como líder atual do Povo
Sucata, minha ordem é suprema… Assim sendo, eu apresento à vocês aquele que eu
julgo o mais digno dessa posição… Porque qualquer um portando uma espada e com
muitas fontes de informação, pode matar ou descobrir mistérios, mas somente
alguém com uma alma pura de verdade e empatia por seu próximo, pode liderar um
povo incrível e único como vocês… Saúdem ConstructHonor, o verdadeiro líder do
Povo Sucata! E se alguém discordar dessa ordem, hoje ou no futuro, minha espada
e eu estaremos prontos para resolver tais diferenças!”
Em uma manifestação que começou
lenta, mas ao mesmo tempo intensa e emotiva, todos os mais de 3000 ciborgues
presentes, começaram a ovacionar aquele que conheciam como líder e que agora
voltava a seu lugar… Sentando o pesado ciborgue ao chão, antes que o mesmo
pudesse ser encostado ao solo, as palavras surgiam da boca de Honor, tentando
entender: “- Porque… Para que tudo isso?”
O espadachim assim que o deixou
confortável da forma que era possível, olhou para a protegida que o acompanhava
e voltando a olhar para Honor, falou em tom que somente eles ouvissem… “- Eu descobri a traição de Hurricane tem
tempos… Não poderia fazer nada contra ele porque sem provas até você ficaria
contra minhas atitudes… Com este teatro eu pude fazer o maldito confessar tudo
e provei ao seu povo e a você, que ele era o criminoso! Assim como líder, pude
ser júri e carrasco executando seu julgamento e execução! Sei que sua índole
meu amigo Honor, não permitiria matar um de seu povo, mesmo sendo Hurricane,
então tomei seu lugar para que não carregasse esta culpa… Me desculpe pelo show
bizarro, mas era o jeito de resolver tudo que estava pendente sem prejudicar
você e sua gente…”
O samurai se ajoelha e faz uma
reverência pedindo o perdão ao robusto ciborgue enquanto Honor e a moça ficam
sem ação... Era incrível perceber só então como tudo tinha sido conduzido à
fazer todos chegarem à revelação e que houvesse poder de decisão nas mãos do
samurai para tomar as atitudes necessárias... Aliado à isso, ainda existia uma
preocupação com a honra de Honor, que fatalmente refletiria nos demais, em seus
sentimentos, anseios e continuidade de sua sociedade… O espadachim então desfaz
a pose de reverência e puxa de sua mochila uma caixa, uma espécie de maleta
bastante espessa e tecnologicamente avançada, entregando-a nas mãos de ConstructHonor,
completando sua frase final: “- Isto vai
ajudar não só com sua perna, mas irá resolver o problema do seu povo se bem
administrado… Tenho certeza, ninguém saberá administrar isso melhor que você!”
ConstructHonor olha para a maleta
recebida, sua expressão era de comoção, não por ele, não por sua perna, mas por
ali estar contido praticamente a salvação de seu povo, algo que ele tanto
almejava e não via meios de atingir… Como se puxasse o fôlego supremo ele berra
à plenos pulmões fazendo até mesmo o espadachim e a moça se ocultarem atrás dos
braços: “- IRMÃOS… PREPAREM OS HORSETECHS, QUERO OS DOIS MELHORES EM FUNCIONAMENTO
PERFEITO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL!”
O Povo Sucata começou à se mover
rapidamente e partiram todos para cumprir as ordens de Honor enquanto sentado
ao chão, o gigante líder dos Sucata estende a mão emocionado ao guardião que
responde o cumprimento e era Honor quem expressava o sentimento dos dois: “- Me desafiou para conquistar o poder para
julgar Hurricane e assim me livrar da agonia de matar um dos meus… Teve a
decência de não me humilhar diante de meu povo no combate, mantendo minha honra
diante deles… Resolveu um mistério que estava destruindo minha paz e trouxe
justiça aos injustiçados... E agora me entrega a chave da salvação para meu
povo… Não tenho como agradecer nem que passe a eternidade à tentar fazê-lo… Meu
amigo!”
O guardião sorri levemente, se
sentia satisfeito com o desfecho daquele dia e assim a noite vinha chegando e, como
convidados de honra o guardião e a protegida que ainda se passava por homem,
passaram a noite no local de forma agradável e tranquila! Na manhã seguinte,
antes do sol nascer se colocavam em marcha agora devidamente montando um cavalo
mecânico, os chamados “HorseTech”,
movidos à energia solar, capaz de cruzar grandes distâncias sem precisar de
qualquer reparo ou descanso…
Chegando até ao topo da colina
que cercava o local da Gear Cradle, eles detém seu movimento para verificar o
último evento que o guardião queria assistir… A jovem também para e fica
olhando para o local tentando buscar algo e eis que então avista uma
movimentação mais ao longe, como se várias pessoas estivessem chegando ao local
sagrado dos Sucata… O espadachim entrega o binóculo à jovem que olhando pelo
mesmo, percebe na verdade se tratar de Hoshino seguido de vários ciborgues…
Ela olha para seu guarda-costas
sem entender do que se trava e este, com um semblante de tranquilidade explica…
“- Quando soube dos crimes de Hurricane
ele já tinha vendido três, e eu infelizmente não fui capaz de localizar em qual
arena eles estavam antes de suas destruições… À partir de então monitorei seus
passos e uma vez que ele entregava um ciborgue, eu interceptava o atravessador
sem que ele percebesse que eu estava agindo e com isso consegui resguardar cento
e vinte e cinco dos cento e vinte e oito que o maldito vendeu, os escondendo no
depósito de um amigo lá no vilarejo… Quando saímos ontem, pedi à Hoshino que
hoje pela manhã os conduzisse de volta ao seu lar, eles são muito amistosos e
atenderam à ele desde o primeiro momento com boa receptividade… Veja…”
O espadachim aponta para um local
mais à esquerda onde uma pequena figura corria e se abraçava em alguém e com o
binóculo a jovem pode confirmar, era a pequena ciborgue do dia anterior,
abraçando-se provavelmente a seu esperado KindWill, e lágrimas fartas
escorreram pelos olhos da moça ao observar a cena calorosa…
O homem de olhos amarelos então
vira seu HorseTech e começa à retomar a marcha enquanto ela ainda admirava a
cena incrível que acontecia no local… Questão de segundos apenas para se
despedir de um local que ficou tão pouco tempo mas viveu tão fortes emoções, e
então ela vira-se e acompanha seu guarda-costas contratado com algumas dúvidas
ainda em mente... Arriscando já ter liberdade para tal, ela questiona: “- Quanto a maleta que entregou à ConstructHonor…
Pode me explicar o que continha nela que o deixou tão feliz?”
O guardião com seu “kasa” abaixado diante dos olhos sorriu e
explicou: “- Nanobots… Espécie de seres
microscópicos completamente tecnológicos que assim como nossas células tem a
função de reparar mecanismos… Falando mais claramente são recipientes com uma
espécie de pasta que se espalhada sobre um mecanismo com defeito, reconstrói o
mesmo como nosso corpo faz com nossos ferimentos... Tem o suficiente ali para a
perna do Honor e para restaurar o funcionamento perfeito de todo seu povo… Bem
administrado como sei que ele fará, poderão viver em paz e em bom funcionamento
por muito tempo…”
A moça sorri finalmente, era
reconfortante saber com que tipo de pessoa ela estava a viajar… As atitudes
dele nem sempre tinham uma explicação nítida ou instantânea, mas era inegável
que ele tivesse cometido alguma injustiça até agora… A jovem olha para trás uma
vez mais e como se confirmasse as palavras do guardião, ela avista ConstructHonor,
caminhando, em direção aos que chegavam… Sua atenção só foi removida da vila do
Povo Sucata ao ouvir a voz de seu guia que dizia…
“- Seijuro… Nishimura Seijuro é meu nome… E o seu?”
Sem acreditar no que estava
ouvindo, afinal ela havia feito essa pergunta tinha quase um dia de intervalo,
a jovem vira-se para olhar no rosto de seu guardião e o mesmo seguia sua
marcha, seu “kasa” abaixado, sem
expressar qualquer outra palavra ou expressão… Um sorriso e uma esperança de
que algo diferente do que abusos e escravidão poderia estar acontecendo em sua
vida mesmo que por pouco tempo, estampava o rosto da jovem protegida que se
anima em vencer a timidez e responde:
“- Sayuri… Noguchi, Sayuri…”
O guardião então sorri por
debaixo de seu “kasa” e completa,
satisfeito: “- Belo nome… Agora que fomos
oficialmente apresentados, acho que poderemos ser bons amigos… Seja bem-vinda
Sayuri! Aliás, bela atitude a sua de me ajudar a levar o grandalhão para o
centro da Gear Cradle!”
Sayuri sorri, principalmente por
saber que com seu porte físico e altura ela não ajudou em nada, mas o
reconhecimento de seu guardião, era algo muito bem-vindo, principalmente para
alguém com sua história passada...
Os dois seguem por alguns
segundos com os cavalos cibernéticos em passo lento, um sorriso em seus rostos
e o sol a nascer à frente deles como a brindar o começo daquele novo dia,
aquele novo começo... Ambos, embora não pudessem ler o pensamento um do outro,
se sentiam estranhamente satisfeitos por estarem conversando, algo que não
fazia parte do cotidiano de nenhum dos dois em seus dias anteriores, mas que se
tornava mais comum à cada momento...
O mundo estava mudando para os
dois e ambos recebiam muito bem essas mudanças em seus íntimos...
Uau! Simplesmente UAU!
ResponderExcluirQue conto de honra, sabedoria, espeterteza e mais honra perfeito cara...
Assim como os ciborgues, o Honor e a própria Sayuri(cujo nome descobrimos agora) eu fiquei também totalmente desconcertado com as ações do grande Seijuro(adorei o nome e finalmente posso usá-lo ao falar do protagonista)
A luta entre ele e Honor foi incrível, mas ainda ficava aquela bendita pulga aqui na orelha, querendo saber por que diabos ele estava fazendo aquilo...
E quando a revelação chega, desculpe o palavreado, mas... PUTAQUEOPARIUQUEFODA!!
Incrível o jeito do Seijuro de agir... Todo o teatro, como ele mesmo disse, bizarro, para arrancar a confissão do Hurricane, os cortes no corpo e, ao final, a execução do bastardo mecânico... Um timing perfeito de narração, de tirar o fôlego.
E ainda temos a cereja do bolo, com a bela e emocionante cena da pequena Litte Hands, depois complementada com a cena de longe do encontro dela com o Kind Will.
Destaco aqui também a beleza da estrutura do texto, com a história toda narrada de forma espetacular e a galeria de imagens, bem como algumas explicações técnicas sobre o Horsetech, deixadas para o final, como um extra perfeito, para uma história perfeita.
Para mim, isso é um sinal imenso de seu amadurecimento como escritor.
Me sinto honrado em poder ler essas linhas cara... Honrado mesmo.
Meus mais sinceros parabéns.
Grande Norb, que satisfação ler essas palavras e esse retorno... Indomável se tornou com toda a certeza a coisa mais "séria" que escrevi até hoje e minha meta pelo menos é que ela continue assim até seu dramático final já bolado aqui em minha mente... A ideia é que ele seja um personagem inteligente e sábio ao extremo (ele tem justificativas que embasam essa sabedoria alta que quero que ele tenha) aliado à um censo de justiça bem afiado e até brutal... Me lembrei de uma trama de Capitão América onda a agente affair dele vai com ele numa missão que ele poderia realizar facilmente, mas a ordem era pra ela ir com ele e o motivo? O agente que estava sendo caçado não era pra ser trazido vivo, mas a agente (acho que é a Sharon Carter) sabia que ele não mataria uma pessoa porque o governo mandou, ele é justo demais, e então ela foi enviada para cumprir essa parte! Eu quis aliar essa honra do América com a honra e bondade do Honor e criar um personagem que mesmo que descobrisse toda a verdade, não iria matar um dos seus, então o Seijuro, em nome da amizade e da justiça, fez a única coisa que poderia fazer para ter poder de decisão e não ser um assassino que veio de fora e matou um dos seus, o que desestabilizaria a união do Povo Sucata e colocaria em cheque a liderança do Honor... Da forma que fez, digamos ele seguiu todos os protocolos e assim pode executar o Hurricane sem bagunçar a delicada linha que mantém o humilde Povo Sucata unido... E claro, nesse impasse, ele não queria humilhar um amigo também, assim, achei interessante uma solução nesse estilo... Rurouni Kenshin ajuda muito nesses quesitos honra em batalha e teve bastante inspiração nessa luta, principalmente o modo que Seijuro venceu Honor sem o ferir... Little Hands serviu para mostrar que os Sucatas tinham integrantes de todos os estilos e demonstrar que embora com uma IA bem inapta, estavam a desenvolver vínculos sadios (embora algumas bestas como Hurricane) o que me dá uma margem boa pra utilizar eles de novo... Enfim cara, te agradeço de monte pela leitura, pela análise, pelo incentivo, pelo apoio sem fim aos meus projetos e que Indomável possa te cativar até o fim da trama! Grande abraço e obrigado por tudo! \0/
Excluir"...praticamente impossível de se crer ser possível executar..."
ResponderExcluirÉ com frases como estas que mostra a epicidade da sua obra, do seu talento...
O jogo com as palavras é algo que tu fazes com uma facilidade incrível.
Parece simples...
Coisa de gênio !
Coisa de mestre !
Quanto ao episódio, por caminhos heterodoxos, inacreditavelmente tortos e sinuosos temis uma grande demonstração de honra, num futuro em que esse valor vale menos que um prato de comida .
Sublime!
Esplêndido!!!
O guardião samurai é um lírio para os olhos .
Em nossa sociedade atual, já vemos que os verdadeiros valores estão casa vez mais escassos.
Regozijo em ver que num futuro apocalíptico sempre existirão pessoas de bem , embora não seja possível vislumbrar à primeira vista .
O indomável, acima de tudo é tudo aquilo o que almejamos e não temos coragem devido ao politicamente correto, de praticarmos.
É a coragem de fazer o que é certo , mesmo que por caminhos tortos.
É não ceder um milímetro sequer ao fácil em detrimento do que se acredita.
Parabéns pela grande lição desse capítulo espetacular sob todo os aspectos.
Cada vez mais seu fã!
Meu amigo Jirayrider, que comentário maravilhoso de se ler... O meu muito obrigado antecipado por tamanha consideração e amizade para comigo, destinando palavras tão incríveis para meu humilde trabalho! Mas vamos ao texto em si, e uma das coisas que tu citou me chamou bastante a atenção pois com certeza é uma das coisas que quero com Indomável - Mostrar o quanto fazer o certo é necessário até mesmo em eras pós apocaliptica!
ExcluirIndomável é um ser que tem uma bagagem muito grande em sua vida, de acontecimentos e de vivência, ele já viu muita coisa dar certo e errado e chegou à um ponto onde ele considerou que todo ser, é responsável por fazer seu mundo pessoal ser correto e expandir isso como puder ao mundo dos demais... O certo é o certo mesmo que ninguém faça... Essa é sem dúvida uma mensagem que quero passar, principalmente por conta do que vivemos hoje em nossos dias...
Seijuro tem uma conduta que quer dizer, sempre farei o certo, doa à quem doer, e sempre procurarei ser justo e não prejudicar ninguém justo com suas ações... Dentro desse dogma que ele mesmo criou, sua vida é conduzida e quem for contra isso, ou o deixa quieto ou encara a katana dele... Simples, direto e brutal assim e bem como dissestes, é o estilo que a gente gostaria de seguir mas não pode...
Sem palavras Jirayrider, agradeço imensamente teu apoio, incentivo, além de uma análise tão bem feita do que estou tentando apresentar com estes personagens... Espere por muitas surpresas, principalmente com os personagens principais, verás que nem tudo segue uma linha! kkkkkk! Abração e valeu por tudo! \0/
Ah! O clima de romance entre guardião e protegida só se faz mais claro kkkk
ResponderExcluirEsse Jirayrider casamenteiro....
Nossa... Aldo. O que dizer aqui?
ResponderExcluirVocê rompeu as barreiras do Tokusatsu de vez é elaborou um personagem digno das bilheterias de Hollywood ou quadrinhos da DC, sei lá.
Eu me sinto lendo um cenário apocalíptico futurista e repleto ao mesmo tempo de coisas rústicas.
O amor entre o Indomável e a protegida é algo que parece claro... No entanto, parece que um grande sofrimento vai surgir nessa relação ainda.
A batalha do Seijuro com Honor e suas razões para tal... PQP.... divino.
Essa série é uma obra de arte e tem que ser mostrada ao grande público. Como grande escritor que é, você.mostra a.pobreza de alma vigente unida à degradação do mundo. Ou seja, você nos apresenta o caminho para o qual caminha a sociedade. Mas, mais que isso... Você joga de modo escrachado na nossa cara a alternativa a seguir e como seguir.
Aplaudo de pé este baita trabalho literário. Divino!
Você é o rei!
Grande amigo Artur, preciso de novo iniciar o comentário já com minha frase mais usada ultimamente, "não mereço mas agradeço!" :) Nada se compara a receber um comentário desses enaltecendo uma história que tentamos mostrar e por essa consideração e amizade que demonstra nas tuas palavras, eu agradeço, de coração!
ExcluirPois é cara, eu quis sair totalmente da ideia tokusatsu (ainda vai ter elementos mas, fugiu bastante é fato) pra tentar, como diz Norberto, me desafiar e ver se era capaz de criar algo que não utilizasse a mesma fórmula que as séries usam, e então, surgiu a ideia do Indomável... Um personagem à moda antiga, vivendo mais de 1000 anos no nosso futuro, com conceitos e pensamentos considerados estranhos mas que representam a base do que ele conheceu... E junto a isso, vem exatamente o que tu citou acima, mostrar o que o mundo poderá se tornar, se não começarmos a corrigir os erros de hoje, o mundo poderá se tornar algo completamente selvagem e brutal com o passar dos anos... Indomável é acima de tudo, uma forma de avisar às pessoas que se dispõe à leitura, o quanto o ser humano está deixando de fazer o certo para fazer o conveniente... Não estou incentivando ninguém a sair sendo juiz e carrasco kkkk, mas sim um convite à reflexão e ao íntimo de cada uma de nós... Estamos fazendo tudo que podemos pra mudar nosso mundo para melhor? Fica a pergunta... Muito obrigado pela leitura e incentivo de sempre meu amigo, não sabe quão bem isso me faz e o quanto isso me impulsiona à seguir em frente com minhas obras, de coração agradeço a atenção e positivismo para com Indomável! \0/
Eitaaa!!! Que episódio fantástico cara. Tem algumas coisas que eu gostaria de comentar mas de antemão já quero dizer, na verdade já disse mas vou dizer novamente: Eu adoro esse personagem. Sério mesmo. Agora vamos aos comentários.
ExcluirQuando o episódio anterior começou com o espadachim guardião desafiando o grandioso(literalmente) construct Honor, eu imaginei que ele o desafiaria única e exclusivamente para poder derrotá-lo e assim passar pela área controlada pelo povo sucata, mas quando esse episódio começa, mesmo com todas as informações do episodio passado, a gente fica completamente perdido. Primeiro, porque nós dois sabemos que ele não tem a mínima necessidade de desafiar o lider do povo sucata para passar por ali, se ele quisesse, não seriam esses inimigos que o parariam tamanha sua habilidade, segundo, que se a razão não era simplesmente passar, e eles eram amigos, por que do desafio.
Mas quando o episodio vai caminhando para seu meio, claramente a gente percebe que tem muito mais dentro dessa atitude do que simplesmente passar por ali com ela, e logo nossa desconfiança é contemplada com a verdade. Primeiro, a estratégia de luta revelada assim que Honor gira pela terceira ou quarta vez na perna direita e a mesma se despedaça fazendo-o ir ao chão, depois, a traição que vem a tona, de um dos integrantes do povo sucata, mostrando que a filha da putagem ultrapassou as décadas e está ainda mais presente nessa realidade que a série indomável apresenta. Mesmo dentro de um povo onde teoricamente todos se acolhem e se respeitam, tentando sobreviver a margem da sociedade que chamamos de vivos, ainda assim, pela possibilidade de uma vida melhor encontramos os filhos da puta.
Mas o que eu acho que pra mim foi um ponto auto do episódio, foi logo no final quando temos uma interação um pouco mais "intima digamos", do espadachim que revela seu nome respondendo a pergunta da garota, e a mesma que em retribuição também revela seu nome. O legal é o seguinte aqui. O que eu percebo, a cada episódio, são as pequenas nuances de avanço do relacionamento dos dois. A cada episódio uma pequena amostra de proximidade entre eles é inserida no relacionamento e claro, eu não espero que isso termine em romance, mas eu acho que conforme eles vão se aproximando, vão se tornando importante um para o outro. Eu vi isso acontecer em Garo e sinceramente eu gosto disso, desse desenvolvimento comedido e que faz sentido para ambos. Não é um relacionamento por relacionamento. Tudo é construído aos poucos para que ali no final, tudo se justifique. Parabéns por essa série e por esse episódio. Vida longa ao Espadachim!! Alias, é um prazer conhecê-lo senhor Seijuro!!
Grande Rodrigo, recém agora revisando os textos foi que vi que não tinha te respondido aqui, pelo qual peço desculpas enormemente, deve ter sido a correria ou sei lá o que, mas foi mal, muito mal! Vamos ao comentário: Quando idealizei este episódio, seria tão somente para conseguir os HorseTech que eles iriam negar, então, ele desafiara Honor para os obter, mas aí pensei que ele poderia obter esses HorseTech em outros lugares, e tudo seguia pro rumo de que, ele não precisaria passar por aquilo por qualquer motivo que fosse, então, pra eu poder mostrar esse povo que eu queria e ainda ter algum combate, eu precisava ser inteligente e bolar algo diferente... Fui avançando no episódio e logo de cara na primeira recepção, surgiu a ideia de um "líder" da patrulha dos Sucata e que ele era avesso aos visitantes, e assim surgia o Hurricane... Só que sem ter um motivo ele não podia ser avesso, pensei no básico dos vivos vs máquinas, mas ainda assim parecia pouco... Então quando o Honor surgiu, veio a ideia de incrementar a trama com todo esse acontecido e as ideias foram brotando e eis que esse episódio se tornou o que se tornou! Eu fico realmente muito feliz que tenha te cativado dessa forma e que toda essa "confusão" que criei possa ter ficado legal, fico feliz realmente! Quanto ao relacionamento entre Seijuro e Sayuri, acho que tu pegou o fio da meada, quero que seja algo realmente no estilo Garo, mas citando exclusivamente a parte de um ser importante pro outro, eu quero fugir totalmente da questão romance por ser muito óbvio e previsível, então, eu pesei bastante em tudo que vem pela frente pra poder, pouco a pouco ir mostrando esse crescimento entre os dois com ela se fortificando e tendo mais atitudes e ele encontrando algo que não seja matança e punição... São personagens que precisam um do outro por vários motivos e eu quero mostrar o melhor de cada um deles, vai ser demorado com certeza, mas eu espero fazer jus à todas essas palavras que tu citou! Fico realmente agradecido pelo apoio, pelo incentivo e principalmente, pelo comentário completo, forte, que demonstra a leitura e domínio de tudo que foi acontecido, e isso me deixa muito feliz, muito obrigado cara, de coração! Grande abraço! \0/
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