sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Herança Maldita - Capítulo 1


A noite já ia alto quando o jato comercial Pilatus PC-24 descia na pista de pouso do aeroporto da pequena e isolada cidade de Capurganá, na fronteira norte entre Colômbia e Panamá, perto já das vinte e uma horas daquela noite conturbada… A chuva caía forte e os trovões mantinham os pilotos em constante tensão devido aos riscos que aquele tempo ruim repentino e não previsto representava para todos na pequena aeronave… A minúscula cidade beira-mar, que é também a única fronteira terrestre da América do Sul com a América Central, tem apenas 225km de extensão e é quase toda formada por uma zona considerada das mais inóspitas e impenetráveis do mundo: uma selva tropical chamada Darién.

Com poucos habitantes e quase que totalmente isolada do restante do mundo, este pequeno pedaço do departamento colombiano de Choco, poderia ser ainda mais desconvidativo pois a região, além de pântanos e florestas absolutamente hostis, ainda conta com a presença de grupos paramilitares prontos para atirar em quem se aproximar do lugar errado. É neste local bastante procurado turisticamente, despojada de veículos terrestres uma vez que não existem acessos por terra para a mesma, que um jovem de aproximadamente vinte e seis anos de idade, observa ao pouso receoso dos pilotos, com tranquilidade incomum, enquanto sua mente vaga pelos motivos que o trouxeram até ali…

Enquanto Cessna se aproxima para fazer sua aterrissagem, o jovem relembra em sua mente as últimas noites conturbadas, com vislumbres de massas sombrias o atacando em seu sono, logo que todas aquelas notícias pelo mundo à fora começaram... Duvidando de si próprio mas sendo responsável o suficiente para não ignorar sem ter a certeza, ele mantém sua determinação na importância da vinda até Capurganá, local do último incidente aterrorizante... Ele retira um caderno de anotações de sua veste e começa à folear o mesmo com cuidado, analisando as escritas e anotações feitas por ele mesmo, que davam rumo e suporte para sua missão… Algumas páginas são passadas, ele então fecha o caderno e fica à pensar sobre tudo enquanto olhava o céu à relampejar como se o desafiasse:

“- Já se foram quase dois anos… Comecei à investigar esses acontecimentos por acaso, mas os relatos desses ataques e os sonhos surgirem quase que simultaneamente… Era impossível deixar isso passar depois de tanta coisa que vivemos… Eu não posso simplesmente ignorar isso tudo como já fiz em boa parte de minha vida… Se os relatos estão surgindo um após o outro, é fato que algo está acontecendo, e eu preciso comprovar com meus próprios olhos que estou errado…”

O jovem abre novamente seu caderno, folheia novamente e alguns recortes de jornais aparecem anexados às folhas do mesmo…

“Na Colômbia, criança é dilacerada por criatura aérea nefasta diante dos avós - Polícia nega os fatos e alega que predadores da floresta de Darien teriam atacado o menino devido ao mesmo ter entrado na mata fechada!”

“Homem é erguido até o céu e comido vivo por criatura com asas de envergadura de quase doze metros de ponta à ponta - Moradores do local chamado Capurganá na fronteira com o Panamá alegam se tratar de um demônio voador!”

“Animais desaparecem constantemente das propriedades, proprietários mencionam o bater de asas muito fortes antes do desaparecimento dos animais! Ufólogos acreditam em abdução, mas populares alegam se tratar da figura do folclore local “El Silbón”, uma lenda local da região conhecida como Floresta de Darien na selva Colombiana!”

“Grupo de jovens é atacado na floresta de Darien e um deles foi decapitado - Polícia defende tese de briga entre os jovens que estavam embriagados mas continua investigações!”

O jovem fecha novamente seu caderno uma vez que o avião concluía a aterrissagem enquanto remoía as manchetes lidas, notícias essas que traziam outras tantas que ele havia coletado durante vários meses à ponto de fazê-lo acreditar que realmente algo sinistro estava acontecendo naquele local… Em sua mente, enquanto os pilotos realizavam os procedimentos finais para que todos desembarcassem, ele pondera em pensamento:

“- Vai ser difícil obter informações, o local é muito isolado e pequeno, ao começar à fazer perguntas, irei atrair atenção desnecessária para o trabalho em questão… De qualquer forma eu preciso averiguar, eu preciso ter a certeza de que estes relatos realmente não passam de boatos associados à crendices locais e somente então eu poderei seguir minhas pesquisas com tranquilidade sem me sentir culpado por tudo... No entanto… Algo em meu íntimo me diz o contrário e tenho certeza que é “você” quem está me trazendo aqui…”

O jovem desce do avião e atravessa o pequeno aeroporto indo em direção à uma pousada bem próxima do local, sendo bem recebido uma vez que turistas são comuns (assim como principal fonte de renda) por ali. Logo ele estava em seu quarto, bastante rústico e simples era verdade mas, de roupas de cama simples e asseadas, um espaço de pouco mais de quatro metros sem contar ao banheiro era todo seu aposento, com um cama, uma escrivaninha e um frigobar ao canto… Ele solta seu material sobre a cama para tomar um banho e tão logo terminou, o jovem sentou-se em sua cama,  puxando papéis que trazia consigo, os analisando com calma como se buscasse por algo novo, e realmente era isso que ele tentava encontrar... Uma nova pista, um novo rumo, uma explicação plausível... O jovem analisa então os nomes das pessoas que relataram avistamentos, onde começa a definir, escrevendo em sua agenda, uma ordem das coisas que faria no dia seguinte… Com a chuva que caía lá fora, seria impossível olhar o local agora e sem um “norte” para se guiar, seria imprudência investigar às cegas em um país muito diferente do seu... Isso que sequer ele havia considerado a quantidade de florestas e capacidades de emboscadas em tal ambiente inóspito…

Confuso e bastante inquieto com a possibilidade de suas suspeitas terem sentido, o jovem apanha seu laptop e colocando sobre a escrivaninha, começa à pesquisar as lendas locais para encontrar o que mais se assemelha ao que ele busca e como ele já esperava, como aconteceu nos demais casos, os nomes citados por aqueles que viram ou comentavam sobre os ataques, batiam sempre com as lendas locais, mas o modus operandi nunca era o da lenda, e sempre apresentava a mesma brutalidade de todos os relatos… Carnificinas… Decapitações… Alimentar-se das vítimas… Agressividade e ataques sem sentido algum, como fome ou defesa…

Preocupado com o que concatenava, ele aciona um comunicador muito tecnologicamente avançado em seu pulso, abrindo uma linha de comunicação desconhecida para qualquer um que o observasse naquele momento, quando um homem já aparentando meia idade o recebe do outro lado com um sorriso… “- Estava preocupado sem notícias suas… Como está indo sua investigação?”

O jovem meneia a cabeça negativamente, explicando: “- As pessoas que viram ou comentaram sobre todos os casos que tivemos conhecimento, referem-se sempre a criaturas de seu conhecimento local como Slenderman, Lobisomens, Chupa-Cabra, Yokais conforme a parte do planeta em que aconteceu… Aqui em Capurganá eles se referem ao mesmo tipo de ataque que já vimos nos outros casos, mas o responsável segundo os sobreviventes é chamado de “El Silbón”! Segundo a lenda, quando jovem este homem foi amaldiçoado pela mãe e o avô por ter matado seu pai a sangue frio, e como punição, tem de carregar os ossos do pai em um saco para todo sempre vagando entre o mundo dos vivos e dos mortos… Assim, enquanto paga sua punição, ele ataca bêbados e sexualmente pervertidos, em alguns casos arranca seus ossos e os carrega consigo dentro do saco, mas nunca sequer houve uma única vítima documentada do tal El Silbón… Já os relatos que temos recebido falam sobre vítimas reais, com cadáveres ou restos deles encontradas nas localidades… Consegue compreender a variável preocupante?”

No comunicador, o homem faz acenos positivos com a cabeça, como se concordasse preocupado com tudo e complementa: “- Sim… O tipo de ataque e de ferimentos brutais são os mesmos em qualquer lugar, mas as pessoas do local, sem saber como se referir ao terror, buscam em seus folclores alguma criatura maligna o suficiente para tal ato e atribuem à esse ser, mesmo que ele nunca tenha feito algo assim em nenhum relato contado…”

O jovem concorda, demonstrando que aquilo era importante de ser observado e então continua: “- Algo único está atacando em diversas partes do mundo… Ou podem ser vários, mas é fato que se trata de algo que provém pelo menos da mesma fonte digamos assim, e diferente das lendas, não são personagens folclóricos cumprindo suas narrativas... Alguma criatura está realmente matando pessoas e sem saber à quem culpar, os personagens míticos das lendas de cada lugar estão levando a culpa…”

O homem de meia idade ao ouvir aquelas palavras, questiona, com tranquilidade: “- Sua preocupação, além das pessoas, é que as criaturas míticas possam levar a culpa por isso?” O jovem prontamente meneia à cabeça em negativa, definindo seu ponto de vista: “- Meu temor é que quem está atacando e matando essas pessoas seja algo que deixamos escapar…”

Os dois ficam à se observar em tom de seriedade e então a conversa seguiu por mais alguns minutos com o jovem pedindo algumas pesquisas e cruzamento de informações para que ele pudesse analisar tudo melhor e finalmente recostou-se em sua cama, adormecendo profundamente em um sono bastante conturbado… Em sua mente repousante, escuridão chovia dos céus aterrorizantes por toda a volta, tomando as mais diversas formas bizarras e atacando à esmo… De alguma forma, quando se aproximavam dele, elas recuavam e tentavam novo ataque, e assim se mantiveram por várias horas com tais acontecimentos em mente, até que a manhã finalmente raiou…

O jovem desce cedo ao piso principal da pousada, pede algumas informações aos atendentes do lugar e logo, pegando uma maçã parte para fora, com uma mochila nas costas e duas garrafas de água como recurso ao calor intenso do local… Ele começa a caminhar pela pequena cidade e vai inteirando-se do local, criando um mini mapa em sua mente e começando a tentar visitar as pessoas que relataram ataques… Como era de se prever, todos à quem o jovem procurou se negaram a falar enquanto que em algumas das esquinas pelas quais passava, via oficiais de polícia acompanhando seu deslocamento durante a manhã inteira pela qual andou por Capurganá…

O investigador resolve chegar em comércios, bares, muito pouco se obteve, no máximo a maioria concorda que ouviram falar algo mas que creem ser apenas boatos para chamar a atenção para a cidade e trazer mais turistas… No entanto, se notava o medo nas pessoas, o sorriso nervoso, aquela sensação ambígua de “eu prefiro acreditar que é tudo mentira” e “não devo comentar nada senão vai sobrar pra mim”... Era visível essa expressão em cada frase dita ou em cada resposta obtida… Chegando à praia, era fácil também observar pessoas de visível poder financeiro se divertindo, a beleza do local era realmente exuberante e a vontade de crer que um lugar tão belo não comportaria tal terror era mais que bem-vinda, mas a mente do jovem investigador lhe dizia o contrário e insatisfeito com o que conseguiu até então, ele volta a andar pela cidade e desta vez dirige-se aos locais mais pobres da cidade…

Ruelas e casebres se estendiam por centenas de metros mato à dentro, uma boa parte dessas casas quase adentravam a selva no contraste de organização e recursos para a parte de praias e areias brancas frequentada pelos turistas... Um mundo à parte da Capurganá se mostrava diante do investigador, com cuidados e investimentos que iam na direção contrária de tudo que desfrutavam aqueles que lucravam com o turismo do local... A proximidade da vila com a floresta de Dárien, denotava um risco terrível ainda que não houvesse uma criatura medonha matando seres humanos e ainda assim, centenas de pessoas de todas as idades viviam ali… O jovem tenta conversar com os moradores, poucos se dispõe à falar, mas daqueles que conseguiu alguma informação, todos mencionavam El Silbón como o assassino, o homem que matou o pai e agora vaga como um monstro, carregando os ossos do genitor e arrancando de outros infelizes que surgem à sua frente… O povo humilde e pouco esclarecido daquele bairro pobre, realmente acreditava com todas as suas forças na lenda e todos temiam ser a próxima vítima, outros em alguns casos já se haviam sofrido tanto que conformavam-se com o provável destino que todos teriam… Uma das senhoras que se dispôs à falar, chorando e com revolta nas palavras exclamou:

“- O animal saiu da selva... Era grande, asas enormes, um pescoço que parecia sem fim… Voava baixo e quando nos demos conta, meu pequeno Uri já estava chorando em desespero, desaparecendo na garganta do monstro logo em seguida... El Silbón se converteu em um monstro, e levou meu querido neto… A polícia, o prefeito, ninguém fez nada... Qualquer um de nós poderá ser o próximo alvo de El Silbón…”

O jovem baixa a cabeça em respeito ao luto da pobre avó e nada podia fazer ou dizer que fosse minimizar sua dor… Os vizinhos aproximam-se, acodem a idosa em prantos e à conduzem para dentro de casa enquanto um outro senhor se aproximava, com voz humilde e respeitosa se dirigindo ao jovem:

“- Não somos uma prioridade para a cidade meu jovem… Somos apenas aquilo do qual a cidade não consegue se livrar, por isso não teremos ajuda, na verdade… Creio que esperam que El Silbón faça o trabalho por eles... Em breve algum de nós será a próxima vítima de El Silbón, então… Se puder não fazer mais perguntas, eu o agradeceria pois, ficar remexendo feridas tão dolorosas e incuráveis não é bem-vindo nesse instante… Se o senhor puder me compreender, eu agradeceria…”

Novamente o jovem se contorce em dor com as palavras, faz uma respeitosa reverência e vira-se saindo do local, com o coração pesado pela dor e perda daquelas pessoas desassistidas… O trajeto era curto, ele havia caminhado algo em torno de dez minutos e já estava quase ao centro da cidade turística, quando um grito de terror, vindo da rua da qual ele saiu cortou a noite alta, o fazendo voltar em velocidade extrema em direção ao local, mas ao chegar no mesmo, nada mais podia ser feito… Uma poça de sangue estava ao chão, os vizinhos choravam e gritavam enquanto uma sombra gigante desaparecia na noite trevosa e pedaços do corpo da senhora que havia acabado de falar com ele, chorando por seu neto perdido, estavam espalhados pela rua... Agora não eram mais parte da avó em luto, mas sim, restos da alimentação de um monstro… A cena era forte até mesmo para o jovem que tanto havia visto na vida já… O velho homem com quem havia conversado pede que ele vá embora, e assim ele obedece, ciente de nada que ele tivesse para oferecer seria útil naquele momento…

O jovem então com certa fúria o alimentando, mas também tomado pelo pesar e pela dor de nada ter feito pela senhora, perambula pelas vielas sujas e abandonadas enquanto o povo se ocultava e espreitava pelas frestas, todos em pânico, não só pelos ataques mas por saberem que estavam largados a própria sorte por aqueles que deveriam protegê-los… Na mente do jovem, fortes determinações se instauravam, ele cuidaria deles, ele patrulharia a noite toda e não deixaria mais ninguém morrer e, por um bom pedaço da noite até quase o sol raiar ele se manteve firme em seu propósito, embora não obtivesse sequer mais qualquer vislumbre da criatura aterradora… A sensação de fracasso era gigante e ele não conseguia compactuar com aquilo, não conseguia digerir o que ele considerava mais uma culpa sua… O sol raiou, o jovem chegou de volta à sua pousada, não tinha palavras para descrever a angústia que sentia.. O povo estava sofrendo, sendo assassinado e parecia que as autoridades preferiam não se manifestar nem permitir que o fizessem… Aquilo precisava mudar e ele iria resolver isso, custasse o que custasse… Exausto, ele tomou um banho e se jogou sobre a cama simples, adormecendo rapidamente e uma vez mais os sonhos estranhos com sombras o atacando de diversas maneiras permeava seu curto descanso…

Era próximo das doze horas quando o jovem finalmente despertou, sentindo o amargor de que, tudo que vira na noite passada não era um pesadelo e sim uma triste realidade… Com o peso da responsabilidade que ele se atribuía nas costas, vestiu-se e apanhou seu material de anotações, descendo novamente paras ruas, sempre vigiado de perto pelos policiais… Sem qualquer preocupação com os mesmos, ele senta-se à sombra de uma árvore na praça central revisando tudo e adicionando novas referências, até que uma criança, um pequeno garoto de não mais que nove anos chegou até ele… O jovem observou a criança, bastante magro e sujo, considerando que deveria ser alguém da parte pobre ou talvez, algum morador de rua... Instintivamente o investigador retira uma maçã da mochila oferecendo à ele: “- Está com fome?” O garoto o observa por alguns instantes e então escorrem lágrimas de seus olhos, enquanto o investigador se abaixa próximo a ele, questionando o que o fazia chorar, ao passo que o menino, após limpar as lágrimas comenta: “- O senhor é o tio que veio caçar o El Silbón? Ele matou minha mãe e eu não consigo vingar ela tio… Já procurei ele pela floresta, eu chamo ele mas ele não aparece… Você vai me ajudar a vingar minha mãezinha tio?”

O jovem então se compadece da situação e convida o pequeno a sentar-se com ele no banco da praça, pedindo que ele lhe contasse o que havia acontecido: “- Já fazem vinte dias tio... Ele não parece o El Silbón… Ele tem asas, um pescoço fino e horrível, sua cabeça é quase pontuda e ele caminha de um jeito assustador… As asas se misturam com as mãos e pés e seu grito faz o sangue da gente gelar… Minha mãe estava saindo comigo da faxina que ela estava fazendo, a gente tava quase chegando em casa então eu ouvi aquele grito assustador... Quando viramos ele vinha quase correndo em nossa direção… Minha mãe me empurrou para longe e ele à pegou… Segurou com as asas e a partiu em duas tio… Eu vi minha mãe morrer na minha frente tio, o sangue da minha mãe caiu em mi, e eu não pude fazer nada... Eu não consigo mais viver se não matar El Silbón tio… A polícia não quer caçá-lo e não deixa a gente pedir ajuda… O senhor vai me ajudar tio?”

Nisso um dos policiais que observava a cena desde antes, atravessa a rua não sem que o jovem o percebesse e ao se aproxima com olhar sério, sentencia: “- Não devia mentir para os visitantes Miguel, sua mãe morreu tem muitos anos e você vive contando essa mentira pra ganhar a confiança das pessoas e assim receber esmolas, refeições entre outros agrados… Eu já falei à você que isso é muito feio e sua mãe o iria reprovar se viva estivesse…” O menino se revolta, cospe em direção ao guarda e sai correndo, com lágrimas aos olhos… O jovem tenta deter o menino, mas o policial o interrompe e diz em troca: “- Venha comigo até a delegacia, se quer as informações verdadeiras sobre tudo, eu as tenho…”

O pequeno Miguel já havia desaparecido rua acima, restando ao jovem seguir o policial até a central, poucas quadras a frente de onde estavam, onde, assim que adentraram, foi convidado à sentar… Fora trazido dois copos com gelo e uísque, mas o jovem recusou a mesma… O homem da polícia então bebeu seu copo e se recostando para trás enquanto mais cinco policiais observavam a cena, iniciou: “- Veja… Não existem os tais ataques de El Silbón, ou qualquer outra criatura… As pessoas inventam coisas para chamar a atenção, a floresta de Darién inspira essas coisas e eles aumentam, modificam e iniciam essas situações… Somos uma cidade turística, muito conceituada, não queremos esse tipo de confusão aqui ou outros como você tentando contar uma história que não acontece…”

O jovem então franze o cenho como se discordasse completamente questionando: “- Mas as notícias no jornal, as pessoas encontradas mortas brutalmente, o próprio Miguel… A senhora que foi levada ontem diante de meus olhos na periferia... Tudo isso é inventando, senhor…” De pronto o anfitrião que ao que tudo indicava era o chefe ali, desfaz a postura escorada na cadeira para ficar próximo ao jovem, com ar de quem tentava intimidar: “- Gonzalez… Chefe de polícia Gonzalez.. E sim, tudo é invenção, de pessoas como você que vem aqui cavar histórias que não existem e tentar alavancar suas vendas de jornais e revistas às custas do sacrifício do ganha-pão de outros, tudo para se tornarem famosos… Não queremos isso por aqui e se eu o pegar de novo, incomodando os habitantes ou visitantes com esse assunto, você será expulso de nossa cidade… Fui bem claro senhor?”

Foi a vez do jovem sair do encosto da cadeira, aproximando-se do policial respondendo à ameaça com olhar sereno mas determinado e que poderia julgar o policial, de alguma forma, aquele olhar era ameaçador mesmo que ele não pudesse entender como: “- O mundo é bem mais amplo do que o senhor imagina Chefe Gonzalez, caso aqui não seja assim, informo que agir acima da lei contra alguém, sem uma acusação formal, baseada em provas, caracteriza abuso de poder… Tudo que conversamos está gravado neste dispositivo para não haver dúvidas…” O jovem ergue o pulso mostrando ao oficial o avançado comunicador em seu pulso, continuando logo em seguida: “- Importante também o senhor ter a noção, de que não sou um morador humilde de sua cidade, tenho respaldo para estar onde estou… Com um telefonema posso encher esta cidade de todo e qualquer tipo de autoridade e investigador, portanto, se tiver algo concreto contra mim, veja se tem sorte e tente me expulsar, até lá, mantenha-se longe de mim e do pequeno Miguel, chefe Gonzalez… Espero ter sido claro com o senhor também!”

O jovem investigador ergue-se saindo da delegacia deixando os demais policiais atônitos enquanto o chefe se remoía em sua incapacidade de contrariar as palavras do jovem que acabava de afrontar-lhe… Sem opções ou recursos, sem saber quem era de verdade o jovem e o que de fato ele poderia vir a fazer, Gonzalez nada pode fazer enquanto o investigador retornava à pousada! Enquanto caminhava, o jovem investigador mantinha a expectativa de ter recebido os retornos que pediu na noite passada e enquanto isso, ao longe, o pequeno Miguel o observava, assim como a força policial, por menor contingente que possuísse, sob ordens de Gonzalez, continuava à vigiá-lo ao longe, acreditando não ser notada pelo mesmo…

O jovem investigador adentra seu quarto, o notebook o aguardava sobre a mesa e uma mensagem insistente no canto inferior direito se manifestava no equipamento, solicitando sua atenção! O acontecimento pareceu agradar ao rapaz que prontamente clicou no mesmo fazendo um aceno de cabeça como se suas ansiedades tivessem sido atingidas… Novamente ele desce até o primeiro piso, compra alguns sanduíches e refrigerantes, voltando ao seu quarto onde decorreu a tarde toda analisando tudo que lhe fora enviado, respostas ao pedido que fez anteriormente ao homem de meia-idade no comunicador…

Relatos, informações, locais, datas, horários, circunstâncias… Fichas de vítimas, modus operandi, de pessoas relacionadas e testemunhas… O jovem foi inserindo todas aquelas variáveis em seu laptop, analisando cada um com cuidado, assim como conferindo os resultados e variantes para tentar encontrar uma pista, algo que explicasse de forma coerente, o que vinha acontecendo pelo mundo à fora… Tinha que existir uma explicação, fosse ela plausível ou fantástica, mas não havia a menor possibilidade de tudo isso começar a acontecer logo depois de tudo que ele testemunhou e participou… Aqueles ataques estavam de alguma forma interligados em algum sentido, e ele iria descobrir isso ou não teria mais paz em sua consciência… Aliado há tudo isso, o rapaz ainda busca em seu data-base pessoal informações de moradores conhecidos da região, cruzando informações e tentando assim, comprovar a tese que ele sustenta ser a verdadeira, em uma busca insana por acalmar seu interior com relação aos acontecimentos...

As horas transcorreram mais rápido do que ele queria, já se aproximavam das dezenove horas quando o jovem aciona um sistema de gravação em seu laptop e começa a fazer seu resumo de tudo que havia organizado, para posterior arquivo ou análise… "- Os ataques aconteceram em número de doze até agora… Eles estão espalhados pelo mundo, não existem mais de um monstro atacando em cada lugar até o momento… As vítimas, nada tem em comum, nenhum traço em suas fichas ou vidas os mostra com alguma similaridade maior que vinte por cento, ou seja, não há um padrão para as vítimas… Lugar errado, hora errado, simples e puramente até então… Os ataques não apresentam repetição em suas ações exceto brutalidade e ausência de qualquer padrão em cada uma delas… Também não há repetição entre a aparência física das criaturas, já foram mencionados lobos, serpentes, lagartos, criaturas aéreas e terrestres, não existe um padrão entre suas formas além da cor de trevas e a espécie de névoa obscura que liberam enquanto agem... Já as vítimas geralmente são dilaceradas, algumas tem apenas pedaços de carne arrancadas, outras quase ficaram somente restos de ossos… Algumas tem membros ou partes do corpo faltando, outros apenas ataques fatais como pescoço ou abdômen… Os ataques em geral acontecem de noite e seja qual for dos atacantes não tem qualquer preocupação em ser visto, como se não ponderasse entre ações e consequências delas… De todos os ataques, apenas três até agora tiveram a criatura abatida e aqui, entram alguns relatos estranhos… São poucos que foram coletados logo após os ocorridos e depois, mesmo procurados outra vez, quem fez tais descrições passou a negá-los como se nunca os tivesse feito e evitam falar do assunto novamente… Essas poucas pessoas em suas declarações iniciais e agora negadas, alegaram que os seres, após abatidos, se desfizeram em uma densa nuvem escura desaparecendo nos céus e que no lugar do monstro, ficou o cadáver de um ser humano…”

O jovem para por um instante sua gravação, salva o vídeo e o envia para armazenamento, tomando um gole de refrigerante e ligando novamente o dispositivo para concluir seu registro: “- As pessoas que narraram esta situação, deram nome às pessoas que ficaram no local do monstro abatido, nomes que depois não foram mais mencionados mas que através do nosso sistema consegui localizar… Essas pessoas realmente estão desaparecidas, ou não foram encontradas nos locais onde deveriam morar, ou seja, não existe uma história inventada ou alucinação coletiva, pessoas dos locais onde houveram ataques sumiram e, algumas delas estavam mortas no local onde deveria haver uma criatura abatida… Suas mortes foram de ferimentos idênticos ao que as criaturas sofreram… E um último ponto e talvez a única coincidência comprovada nesse caos todo… Todos os três mencionados como hospedeiro das criaturas, tinham extensa atividade maldosa em suas vidas… Sequestros, assassinatos, assaltos, agressão, corrupção entre outros…”

O jovem então pensa por alguns segundos, sua expressão demonstrava sua preocupação com tudo, mas acima disso, demonstrava sentir-se culpado pelo que estava acontecendo… Determinado, ele olha novamente para o laptop e conclui sua mensagem: “- Minha teoria é de que pessoas com afinidade com o mal foram envolvidos por aquela escuridão e deram vazão aos monstros que existem dentro deles… Essas criaturas atacam à noite fazendo vítimas unicamente para diversão ou alimento… Esta noite eu irei caçar esta criatura e irei confirmar se tudo que estou cogitando aqui é verdade… Existe uma criança nessa cidade que está fazendo isso sozinho e eu irei impedir que ele se torne uma nova vítima… Se eu por ventura não voltar pai, saiba que nossa missão está incompleta e devemos agir novamente!”

O jovem de traços orientais encerra a gravação e envia os arquivos para seu sistema de backup fechando então o laptop… A noite seria longa, ele pretendia não voltar dela de mãos vazias… Recostando-se na cama ele cerra os olhos buscando um sono reparador para se preparar para a ação da noite e em seu íntimo, nesta noite ele ficaria finalmente cara a cara com o que quer que fosse que estava possuindo pessoas pelo mundo, e entenderia se ele era o responsável ou não por tudo aquilo!

A noite chega, a umidade da chuva que havia caído durante a tarde unida ao calor dos últimos raios de sol criou uma névoa densa na cidade que parecia anunciar as tragédias que viriam naquela noite fatídica… O jovem desce as escadas e começa à caminhar pelas ruas da cidade, buscando locais que naturalmente ficariam mais escuros ou menos movimentados naquele momento… Pela lógica que traçou, a criatura não tem receio às multidões, seus ataques acontecem em locais inesperados e de maior facilidade de resultado positivo, o que significa que ele não escolhe um local, ele simplesmente ataca o que estiver à disposição, agindo como um predador, retornando logo às sombras… "- Na praia, seria difícil chegar e sair sem receber qualquer tipo de ataque então creio que ele vai em busca de pessoas desavisadas pelas sombras mesmo como fez com todos os outros... Hoje, você será caçado monstro maldito..."

Observando o soldado da polícia que o acompanhava ao longe, mesmo que o soldado não percebesse estar sendo notado, o jovem dobra à esquerda na próxima rua e, longe da visão de todos executa um salto poderoso, subindo algo em torno de quatro metros com um único impulso, pousando perfeitamente sobre um telhado, onde deitou-se sobre o mesmo e ficou a observar a reação do soldado na rua abaixo… O pobre policial fica pasmo, corre para um lado, corre para outro, não sabia o que pensar da situação indo em direção à outra esquina buscando por alguma resposta… Sorridente, o jovem se ergue e começa à deslocar-se por sobre as casas de forma sutil e silenciosa, avançando longe de olhos curiosos até o ponto que julgou mais promissor para iniciar sua caça… Com um novo salto perfeito, assim que chegou à última casa antes da praça onde sentou-se antes com o pequeno Miguel, o jovem pousa ao chão, correndo para ocultar-se nas sombras e aguardar por algum sinal da presença da criatura…

O denso nevoeiro dificultava a visão, mas todos os seus sentidos estavam direcionados para, ao menor sinal de algo errado perceber tal acontecimento, porém o que primeiro surgiu à sua, fora o pequeno Miguel, avançando pela praça sozinho, indo em direção ao lado mais escuro da mesma que quase misturava-se com a selva poderosa que seguia metros adiante… O jovem investigador fez menção em seguir a criança rapidamente mas pressente o deslocamento de ar poderoso, algo vinha de encontro ao garoto e tudo que ele visou naquele instante, foi a segurança do pequeno! Com um movimento vertiginoso e preciso, o jovem se lança, apanhando o garoto no momento exato em que golpes de garras deixam de acertar Miguel e atingem suas próprias costas, abrindo ferimentos superficiais na mesma…

Com um rolamento ele consegue proteger o garoto entre seus braços enquanto se põe para fora da praça, automaticamente ficando na entrada da selva, um local mais perigoso ainda era fato, mas era a ação única possível para tirar o pequeno da linha de ataque. O jovem olha nos olhos do garoto, acreditando o mesmo estar em pânico, mas a reação foi totalmente inesperada… Com a força que tinha, o garoto se livra dos braços de seu salvador e grita furioso: “- Você não acreditou em mim tio… Ninguém acredita… Mas agora eu sei onde aquele bicho está, ele voou pra dentro da mata e eu vou vingar minha mãe com isso aqui!”

Uma barra de ferro enferrujada é ostentada pelo menino em suas mãos, que correndo adentra a mata antes que o  jovem investigador pudesse detê-lo, surpreso ainda com a reação apresentada pela criança! Observando rapidamente ao seu redor em busca do próximo ataque, o jovem sentia suas costas arder, o ferimento embora não fosse fatal havia machucado bastante, mas agora salvar a vida do pequeno Miguel era tudo para o jovem tinha em mente, embora soubesse que precisava ser cauteloso para estar vivo até poder confrontar a criatura, não poderia ser pego desprevenido de novo ou ele morreria antes de salvar o pequeno Miguel!

O jovem ganha a mata correndo, o pequeno Miguel era rápido, por vezes aparecia metros à frente correndo e então desaparecia de novo, era difícil guiar-se pelo local, mas devido seu tamanho reduzido, Miguel tinha mais vantagens e avançava ganhando distância entre eles! Súbito, um bater de asas, o breu completo à frente enquanto o jovem corria e eis que se houve o grito furioso do pequeno Miguel, indicando claramente que este havia se lançando em ataque como prometeu há pouco… Enquanto corria, o jovem investigador levemente olha para trás e grita: “- Se tem amor à sua vida retorne policial… Não creio que possa enfrentar o que nos aguarda a frente… Salve sua vida…”

O policial que embora surpreso ao descobrir que quem ele perseguia havia notado sua presença, não estava disposto à enfrentar a fúria do chefe de polícia Gonzales novamente caso ele deixasse o estrangeiro desaparecer de novo, e por isso, embora completamente aterrorizado, ele seguia atrás do salvador do menino como podia, esforçando-se para não perdê-lo de vista em nenhum momento…

A dupla então, com o jovem pouco mais à frente apenas, corre como nunca mas infelizmente chegam há tempo apenas de ver o trágico final… Uma criatura idêntica ao ser chamado quetzalcoatlus que viveu há oitenta e quatro milhões de anos atrás, porém de garras bem mais avantajadas e feito com se de uma matéria sombria, ostentava o corpo do pequeno garoto em suas duas garras ainda em pânico, cabeça e ombros na mão direita, pernas na mão esquerda, como se tivesse aguardado o jovem investigador chegar para seu cenário bizarro… O monstro guincha e dispara uma rajada de líquido negro e pegajoso na direção do policial enquanto o oriental se arremete contra ele tentando tirá-lo da linha de ataque, sendo então que ele próprio é banhado pelo líquido e rapidamente sua musculatura começa a se enrijecer e travar impedindo que ele faça qualquer movimento, por mais que forçasse seu corpo…

Na sequência, como se satisfeito com o resultado, o monstro então força as mãos em sentido contrário e, em uma cena macabra, rasga o corpo do pequeno Miguel ao meio diante dos olhos atônitos do investigador e do policial, causando sobre ele mesmo uma chuva torrencial de sangue oriundas das metades separadas da pequena vítima... Com vagar o monstro engole na sequência, de uma só vez a metade do corpo que repousava em sua garra direita, arremessando fora a outra parte, deixando toda a cena ainda mais tenebrosa do que já estava sendo…

Colocando seus braços que também eram asas de modo horrendo no chão, a criatura avançava em direção a eles lentamente enquanto que algo estranho começou a acontecer com o jovem investigador… Alheio a tudo aquilo, o policial Fernandez saca sua pistola e atira até descarregar sua munição completamente, mas parecia que a criatura se tornava gás no momento dos disparos ficando apenas seus olhos vermelhos à se manterem firmes em meio a escuridão… Uma vez mais o jovem investigador, dessa vez como se estivesse controlando algo dentro de si, pede: “- Fuja… Agora… Salve sua vida…”

O oficial tenta fugir aterrorizado com tudo que viu mas quando se vira de costas para sair em disparada, foi como se fosse atingido por um aríete, que na verdade eram as garras do monstro, cruzando as distâncias entre os dois, encravando-se exatamente sobre a medula espinhal da nova vítima., que bradando por socorro em sua agonia, foi perdendo as forças à cada nova tentativa de falar… Bastou um esforço mínimo para que uma boa parte da coluna vertebral e seus sistemas nervosos saíssem junto com a garra recolhida de dentro do corpo de Fernandez, deixando o cadáver ensanguentado do policial ao chão, em espasmos já não mais sentidos pelo jovem oficial de polícia…

O “reinado” da criatura parecia absoluto visto que devido ao veneno da saliva arremessada sobre o jovem investigador o monstro considerava que teria sua terceira vítima, porém um urro abafado de esforço começou a emanar, uma evaporação começou pelo corpo do jovem e logo em seguida, com o aumentar do urro que começava à se tornar abrangente pela floresta, os olhos do mesmo fendem-se como de um réptil e uma explosão de terra, fogo e calor acontece, impedindo que o monstro conseguisse ver o que estava a acontecer… A próxima sensação da criatura foi seu abdômen sendo atingido violentamente para logo em seguida ser jogado contra as árvores próximas pelo ataque inesperado e brutal…

Diante do monstro, a imagem do jovem investigador novamente surge, dessa vez envolto por uma mescla de coisas que pareciam os elementos do planeta, era como se terra, água, fogo, ar, relâmpagos e luz o rodeassem de uma forma inexplicável, ao passo que ao mesmo tempo e sem qualquer aviso, um grande vento invadiu o local, sendo o monstro arrebatado contra as árvores locais ficando imóvel, tamanha era a pressão exercida sobre ele! Em meio aquele poderoso tufão, apenas o jovem, envolto por essa grande energia, se mantinha de pé... O oriental enfurecido cruza os braços ao peito, os abrindo logo em seguida de forma vigorosa como se recebesse algo que se direcionava à ele como uma feixe de luz, emergindo então da escuridão como um poderoso clarão vermelho de energia...

Assim que os ventos cessaram, o monstro não mais poderia reconhecer o jovem à sua frente, pois agora, trajando uma vestimenta vermelha com protetores metálicos, ele deixava de ser apenas um ser qualquer para se tornar aquele que finalmente o enfrentaria em uma batalha mortal… Caminhando lenta e ameaçadoramente, o agora guerreiro aponta o dedo para o monstro sentenciando: “- Matar pessoas por diversão... Afrontar suas vidas, causar-lhes medo... Tudo para sentir essa falsa alegria que corrompe sua permissão à ser considerado digno de viver entre os humanos... Eu agora sou a linha de frente de defesa destas pessoas, não vou permitir que continue a viver depois do que fez! Pelas pessoas abandonadas pelo governo egoísta e corrupto desta cidade que permitiu tal atrocidade, eu irei te destruir pedaço por pedaço, MALDITO!!”

Como um míssil, o guerreiro vermelho avança em fúria executando um pequeno impulso para colocá-lo na altura de seu alvo em pleno deslocamento e então o ataque se inicia… O punho direito do jovem se choca contra o peito gigante do monstro sombrio, fraturando diversas de suas costelas em um único ataque o arremetendo para trás com brutalidade por entre a selva densa, pousando o guerreiro ao chão com destreza incrível, olhando novamente para a criatura, tendo deixado explícito que sua ação estava apenas se iniciando….

“– Irracional ou não, controlado ou não, essa matança termina agora… Eu vou vingar Miguel… Sua mãe… E todos os outros... PREPARE-SE!!”

O guerreiro vermelho então desaparece, reaparecendo logo em seguida diante do monstro de trevas que começa à se reerguer, derrubando árvores com sua força monstruosa, mas novamente pego de surpresa, recebe em cheio um poderoso upper que atinge violentamente a parte de baixo do crânio do mosntro o arremetendo as alturas! Com vigor e poder incrível, o guerreiro vermelho se lança até o monstro, o acompanha no voo sem controle, indo inclusive mais alto que a próprio criatura, o atingindo uma vez mais ao crânio, dessa vez de cima pra baixo com as duas mãos unidas, o arremetendo com violência ao solo onde se estatelou com brutalidade por entre a vegetação intensa do local onde lutavam… O monstro, mesmo ostentando a névoa negra e uma pele resistente, ainda assim sentia o poder dos impactos e não sabia entender ou não expressava tal entendimento, de como mero humano estaria fazendo aquilo com ele, de qualquer forma, era notável que por algum raciocínio ou herança genética, de alguma forma em seu íntimo, o monstro por alguma razão temia em travar aquele combate…

O guerreiro por sua vez, erguendo levemente as suas duas mãos a altura do peito assumindo uma pose similar a um lutador de boxe, para por alguns segundos e convoca o monstro à se erguer e vir para o combate novamente, encarando-o por debaixo de seu capacete com seus olhos fendidos e expressão nada amistosa... O monstro por sua vez, acreditou que poderia, apesar de tudo que já havia acontecido, encarar o desafio e dar fim a este inimigo como fez com suas demais caças, se lançando então furioso contra o jovem que, aparentemente calmo, aguardou até o último segundo quando então bradou:

“ – DRAKO-GLADIATOR!!”

O guerreiro puxa seu punho direito para trás o arremetendo à frente novamente com força, mas agora suas mãos estão envoltas em escamas vermelhas com garras e labaredas que as revestiam de forma incrível, dando-lhe nova extensa proteção e poder... Com uma velocidade muito acima de qualquer artista marcial, o guerreiro se lança contra o monstro onde se podia ver a evolução que o poder invocado havia lhe proporcionado… Seus golpes se multiplicavam, seus impactos eram possantes, suas investidas certeiras e seus chutes, apesar de não possuírem escamas como os punhos, ainda assim eram devastadores. Como o mais hábil guerreiro que parecia dominar qualquer estilo de luta, o jovem desferia golpes que agora não apenas quebravam ossos mas perfuravam, rasgavam e mutilavam... Se visto de cima, parecia que o jovem era incrivelmente composto por mais pernas e braços do que ele realmente tinha e a de maneira alguma a criatura conseguia acompanhar ou prever seus movimentos poderosos e destrutivos, acumulando ferimento atrás de ferimento até que repentinamente o guerreiro se arremete para trás com um salto rotatório perfeito, pousando de forma pesado ao chão e socando o solo no mesmo instante com seu punho direito criando uma explosão ígnea que avançou rumo ao monstro com poder descomunal atingindo-o com um calor e explosão imensurável que literalmente o mandou rodopiando pelos ares, já sem suas asas, que foram totalmente destruídas, vindo a cair logo em seguida, pesadamente ao chão metros adiante…

O monstro então, mesmo cambaleante e praticamente destruído, se ergue uma vez mais em fúria e tenta se recompor… Ele urra, ele tenta fazer algo para se manter superior a quem o estava praticamente destruindo, quando o jovem responde a sua tentativa de continuar a espalhar sua destruição e morte pelo mundo, se lançando como uma locomotiva contra o local da explosão e um novo impacto que aniquilaria qualquer ser vivo é desferido! Naqueles segundos finais, naquele momento derradeiro antes que o punho em chamas e revestido de escamas e garras poderosas perfurasse o peito gigante da criatura, uma última frase é dita pelo guerreiro vermelho:

“- Seja você quem for… Individualidade ou mesmo coletividade… Não importa onde esteja… Eu vou te achar, e te eliminar… Você não vai recomeçar seu império através de suas sombras… KEMONO!”

O impacto acontece, as árvores e vegetações são arremetidas para longe, a poeira e detritos da selva começam à deixar de obstruir tudo com o passar dos segundos enquanto um clarão vermelho toma conta do lugar e o guerreiro dá novamente lugar ao jovem investigador… Arfando e bastante incomodado com tudo que aconteceu, com seus sentidos ele busca pelos restos de Miguel e percebe que tudo fora incinerado, até mesmo o corpo do policial Fernandez, porém, poucos metros à frente de si, jazia inerte e carbonizado em várias partes, exalando ainda a névoa sombria que começava à subir aos céus e desfazer-se, com uma perfuração ao peito denotando ser o hospedeiro do monstro, o chefe de polícia Gonzalez, confirmando todas as suspeitas do jovem, que instintivamente baixou a cabeça, pedindo perdão à Miguel, sua mãe e todas as demais vítimas…

O investigador então vira-se e começa a sair do local, a chuva começa a cair enquanto ele abre seu brace iniciando não a conclusão do caso, mas o início de uma nova investida que deveria ser tomada o quanto antes... Suas palavras firmes mas carregadas de dor, preenchiam o ambiente:

“- Pai… Infelizmente eu estava certo… O policial Gonzalez tinha extensa ficha de corrupção, tortura e até estupros… A maldade puxa a maldade… As sombras de Kemono exaladas naquela nuvem foram atraídas à pessoas com um interior tão maligno e frio como o das sombras… Nossa batalha ainda não terminou… Eu vou encontrar esses monstros e destruir todos eles, vou completar aquilo que iniciamos, eu prometo!”

O jovem Ryuichi Tsurugi segue em direção à cidade e o mal que assolava o mundo, agora tinha um inimigo à altura!

FIM?

Galeria de imagens:

O Quetzalcoatlus (Quetzalcoatlus northropi):
Pterossauro gigantesco, com uma envergadura de quase 12 metros, era umas das maiores criatura voadoras de todos os tempos. É o último pterossauro conhecido, que viveu há aproximadamente entre 68 e 66 milhões de anos atrás, sobrevivendo até mesmo ao fim do período de Cretáceo (Maastrichtiano), na América do Norte. Apesar de seu tamanho enorme, o animal inteiro provavelmente pesaria aproximadamente 100 quilos apenas, sendo excelente planador, capaz de cobrir grandes distâncias em um voo único. Seu pescoço era extremamente longo, suas mandíbulas eram esbeltas com dentes afiados provavelmente para pegar peixes, mas acredita-se que ele deveria comer carne de dinossauros e outros animais mortos que encontrasse. Douglas Lawson foi o primeiro a achar um fóssil de Quetzalcoatlus, no parque nacional de Curva Grande no Texas, E.U.A.. Ao contrário da maioria dos outros fósseis de pterossauro estes restos não foram achados em estratos marinhos mas na areia e lodo da planície inundada de um grande rio. O fato de os Quetzalcoatlus terem um pescoço longo e que ele podia planar incitou a ideia que ele poderia ser como um abutre e poderia se alimentar tranquilamente de corpos em decomposição de dinossauros mortos., porém alguns paleontologistas, notando as mandíbulas esbeltas e longas sugerem que sondasse rios, pântanos e lagoas para comer moluscos e crustáceos. Outros já pensam que ele voava baixo em cima dos mares rasos e mornos para pegar peixes na superfície. Lawson nomeou o Pterossauro com o nome do deus da serpente emplumada dos Astecas, por o nome Quetzalcoatl.

Dados do Pterossauro:
Nome: Quetzalcoatlus
Nome Científico: Quetzalcoatlus northropi
Época: Cretáceo
Local onde viveu: América do Norte.
Peso: Cerca de 100 quilos
Tamanho: 12 metros de envergadura.
Alimentação: Carnívora

Vislumbres da cidade de Capurganá - Colombia:

A temida Floresta de Dárien:

A histórica Região de Darién ou Tampão de Darién, abarca a província panamenha de Darién, as comarcas indígenas de Kuna Yala, Madugandí, Wargandí, Emberá-Wounaan, os distritos de Chimán e leste de Chepo, todos no Panamá, e o norte dos departamentos de Chocó e Antioquia, a oeste do golfo de Urabá, na Colômbia. Tem cerca de 160 km de comprimento e 50 km de largura. É banhada pelo golfo de Darién e pelo golfo do Panamá. É uma área selvagem, no limite da América Central e América do Sul. Ainda hoje em dia não há vias terrestres de comunicação que atravessem a região. Nela se interrompe a Rodovia Pan-americana, que liga a maior parte dos países das Américas. A região inclui dois parques nacionais: o Parque Nacional de Darién do Panamá e o Parque Nacional Los Katios da Colômbia. Devido às dificuldades de comunicação e acesso, é ainda uma zona de atividade de dois grupos rebeldes colombianos: as Autodefesas Unidas da Colômbia, de extrema-direita, e o Exército de Libertação Nacional, de extrema-esquerda.

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...