segunda-feira, 15 de março de 2021

Indomável - Cap. 2 - "- Decisões e dúvidas!"

Gênesis… Uma das coisas mais raras de se encontrar nas ruas dessa nova era... São chamados assim, humanos puros sem qualquer tipo de implante ou intervenção cirúrgica para fins de instalação de implantes, como supostamente eram os homens na época da tão difundida criação… Seres humanos desse tipo são verdadeiras raridades nesta era atual apesar de não estarem próximos de uma extinção, justamente por serem tão escassos principalmente nas grandes cidades, isso os torna preciosos… Com muito valor comercial… Tudo nessa nova era mesclada entre horror, descrença e tecnologia de ponta é moeda de troca, principalmente aquilo que remete à coisas e situações que não podemos mais dispor como nos tempos dos mundos antigos... Com toda a certeza, uma jovem gênesis, tem grande valor... O valor comercial inicialmente, mas existem vários outros valores aos quais ela seria associada, principalmente para os que detém o poder nessa época... O triste, é que nenhum desses valores, pode-se dizer ser um "bom valor"...

O cheiro da brisa da manhã invadia as narinas da moça que começava à recobrar seus sentidos lentamente... Ela tinha dificuldade em abrir os olhos mas não por qualquer ferimento, apenas, o normal do despertar após várias horas de sono... O ar era profundamente limpo e havia ruído de pássaros enquanto os sons de cidade estavam distantes... Colocando as mãos sobre o rosto devido à leve claridade ela tentava se erguer mas percebia ainda estar fraca demais e com dores pelo corpo... Ela toca-se, sente curativos em ferimentos que ela nem lembrava ter sofrido e então lembra-se do ataque... Os que a protegiam feridos, depois mortos, assim como os que atacavam e em sua mente, aqueles olhos amarelos aterradores que pareciam apesar da agressividade descomunal, querer protegê-la... Tudo era muito confuso e estar naquelas condições com curativos, com certeza despertaram nela perguntas padrões como, quem a curou, onde ela estava, o que estava acontecendo... Todavia, junto à todas essas emoções repentinas e fortes, era impossível ignorar que também, ela continuava incrivelmente maravilhada com o frescor do ar e o som do campo, algo que ela julgou, nunca mais iria ouvir ou sentir... Como que se cortasse esse embalo nostálgico, um som que destoava de toda essa visão de interior surge na voz de um locutor de rádio, rádio de um tipo de voz muito abafada e chiada onde o noticiário mencionava fatos, e dentre os quais ela conseguiu distinguir apenas:

- O corpo decapitado de um policial também foi encontrado dois quarteirões da cena onde os outros três estavam em estado semelhante! Nas palavras do chefe do departamento de polícia da área, o oficial morto teve este triste fim ao entrar em confronto com os temíveis criminosos, fato este ocorrido há três dias na periferia de SkyLand… Já testemunhas do bairro afirmam que o policial morto fazia parte de milícias que cobravam valores mensais para não interferir nos crimes do local... Junto ao corpo do policial foi encontrado um origami com a inscrição “Shoryako” que segundo a tradução conseguida, significa omissão! Enquanto uma testemunha que não quer se identificar, afirma ter visto a cena e alega: "- Não dá para simplesmente apagar a imagem, aqueles olhos amarelos observavam o corpo do James WhitHand, que é como o chamavam... Logo em seguida os olhos desapareceram na escuridão... É por isso que eu não me meto em confusões, a lei dele é brutal, mas só quem sai da linha o encontra!

Embora o som de rádio não fizesse parte de suas lembranças de outros tempos, coisas como “- Estarei em casa novamente?” sussurravam em sua mente ao passo que uma voz masculina, bastante clara e calma, mas ao mesmo tempo imponente, como se lesse seus pensamentos naquele instante, respondia um pouco mais longe, assustando-a é claro, tanto com seu falar quanto com o desligar o rádio que havia dado a recente notícia...

- Está dormindo há três dias... Uma amiga minha fez os curativos em você e eu me mantive longe todo o tempo que ela te banhou e tratou, fique tranquila..."

A moça então, sem olhar para onde vinha a voz ainda, bastante assustada na verdade por não saber o que acontecia, se recobriu novamente e ficou em silêncio, esperando por algum acontecimento, sem dizer qualquer palavra... Eis que então a voz masculina novamente toma espaço e se pronuncia:

"- Cogitei que sendo uma gênesi, você não deve ser de nenhuma cidade e sim de algum local afastado que se mantém sobrevivendo apesar da atual situação... Infelizmente você não está em casa, mas espero que este lugar possa lhe trazer segurança e tranquilidade... Descanse por enquanto, está segura aqui e há muitos ferimentos que precisam se curar...

A jovem então toma coragem e busca pela voz, avistando seu anfitrião alguns metros dela, sentado ao lado de uma fogueira, com uma panela pendurada sobre o mesmo, cozinhando algo que antes de mais qualquer outra consideração, cheirava muito bem e despertou uma gigante fome na moça, sensação que ela conteve em silêncio apesar de lembrar-se que antes do ataque sofrido, ela já não comia corretamente há quase dois dias… Enquanto seu estômago roncava ela observava o anfitrião de aparência de pelos menos 35 anos que remexia o fogo alternando com um gole de chá talvez, com certeza alguma bebida quente, seu estilo, aos olhos dela, lembrava muito os antigos samurais da era feudal do Japão, algo bem diferente para os dias atuais ela pensava... O cheiro de fumaça e de comida à fazia sentir confortável ao mesmo tempo que lhe trazia memórias terríveis, memórias essas que a fizeram deitar-se novamente, ficando por longos segundos em completo silêncio, esperando que o homem falasse algo ou desse a entender quais seus propósitos... Os minutos passaram-se e nada fora dito por ambos, apenas ela aguardava e o homem remexia o fogo enquanto o que quer que estivesse cheirando tão bem na panela, borbulhava...

Do nada ela percebe que o homem se ergue de onde estava e vem em sua direção, ela se mantém imóvel sem olhar para a direção da qual ele vinha até que ele surge ao seu lado, ajoelha-se e segurando um chawan repleto de algo borbulhante e deliciosamente assemelhando muito ao conhecido oden, fica a observá-la por segundos… O anfitrião então coloca ao chão do lado de onde ela repousava o “chawan”, se direciona à ela tentando ajudá-la à sentar-se com delicadeza… Sem saber como reagir ou que reação teria o homem caso ela recusasse, a moça não oferece resistência e a fome que sentia à impulsionava à tal ato igualmente, de forma que ele conseguiu facilmente que ela ficasse sentada, tomando então a tigela em suas mãos, entregando à mesma para a jovem assustada que ignorou todo e qualquer sentimento que a acometesse naquele momento, focando sua existência daquele instante em uma única ação, e assim, começou à comer com muita vontade e quase sem qualquer etiqueta, a refeição oferecida…

O homem por sua vez, demonstrando conhecimento das reações humanas, sabendo o que aconteceria logo em seguida, se levanta, vai até o fogo e traz consigo a panela fumegante e deliciosamente bem cheirosa, dessa vez sentando-se com as pernas cruzadas e a panela ao lado com uma concha dentro, ao que já recebia um olhar da moça, com a “chawan” vazia e embora sem usar qualquer palavra, “- Posso comer novamente?” diziam os olhos da moça suplicantes e receosos, o que com satisfação, e pela primeira vez demonstrando um esboço de sorriso, o anfitrião atendera com gosto, ficando a observá-la enquanto saciava sua fome…

Alguns segundos se passaram, o anfitrião atento permanecia, porém, sem dizer qualquer palavra, enquanto a moça, agora comendo com um pouco mais de calma, engole o que tinha à boca e então fica um pouco pensativa, como se decidisse entre falar sobre si ou manter o silêncio… Antes que ela optasse por uma delas, o homem que cuidava dela argumenta, como que entendendo o dilema da jovem:

- Seus guardiões morreram à protegendo, não por amor à você, mas porque foram bem pagos para isso… Quem pagou à eles aquela quantia, com certeza não estava interessado em seus dotes culinários ou tão pouco à quer como uma inocente gueixa… E dado que você não estava acorrentada ou mesmo tentou fugir de seus “guardiões”, considero que foi uma escolha sua estar seguindo com eles, o que me leva à algumas considerações para tal decisão... No entanto, dado sua fome e a satisfação de paz que teve nesses minutos desde que despertou eu apostaria em uma única alternativa... Você provavelmente tinha uma vida pior que a vida que terá nas mãos de quem o comprou!

Ambos ficam em silêncio por alguns instantes, a moça olha para ele e com lágrimas aos olhos voltando-se logo em seguido ao seu “oden” ao passo que começava novamente à comer mais rápido do que antes, como se quisesse impedir com a comida, lembranças ou mesmo o pranto… O anfitrião baixa sua cabeça e fica a olhar para o chão, como se respeitasse o momento da moça e sem olhar para a mesma continua…

- Não quero dificultar sua situação… Não precisa explicar nada se não quiser… Apenas preciso decidir como agir com você… Preciso que defina o que quer fazer depois que se recuperar…

A moça então interrompe a comida e fica à observar o homem que lhe falava algo que bateu fundo em sua alma… Ela apesar do conforto e segurança que estava sentindo, estava nas mãos de um estranho completo e considerava que talvez, se tivesse muita sorte, teria comida em troca de serviços de qualquer natureza, porém... Diferente de qualquer pensamento ou imaginação que ela pudesse ter tido, o estranho estava perguntando à ela o que ela desejava fazer… Nunca em sua vida antes alguém perguntou sua opinião sobre nada ou mesmo deu à entender que iria atender à algo que ela quisesse fazer… Sua vida havia sido obediência e castigos... Como alguém que vê o mar pela primeira vez, ainda sem reação, ela fica à observar o anfitrião, que por sua vez, continua:

- O valor que encontrei com seus guardas é suficiente para cumprir o serviço, então, posso levá-la até seu comprador, cujas instruções que os mesmos detinham me permitem saber quem a comprou e onde entregá-la… Particularmente eu não acho que uma vida como escrava sexual possa ser melhor do que já viveu até hoje, mas não tenho o direito de julgar sua decisão já que ela prejudica somente à você… Por outro lado, poderia também levá-la de volta até sua casa para que tente esquecer esse acontecimento e recomeçar, mas algo me diz que você não parece ter interesse nessa opção visto que deixou essa vida para se tornar uma aquisição de alguém repugnante o suficiente para querer você como uma posse… Também poderia te conduzir até à cidade e apresentar à alguns amigos para que inicie uma vida livre longe da situação anterior da qual fugiu, mas temo que essa seja a pior de todas as opções, pois não conseguiria esconder sua condição gênesi por muito tempo e em breve cairia nas mãos de outros compradores ou talvez do próprio que já a comprou... Aliás, com certeza ele irá procurar por você uma vez que não chegou até ele e que os dois mortos foram muito bem pagos para tal serviço… Todas essas opções são viáveis, a única coisa que não posso fazer é mantê-la aqui antes que cogite tal ideia… Assim sendo... Eu preciso saber... Qual sua decisão, senhorita…

O homem fica à aguardar um nome e uma resposta para sua pergunta, mas parece que a moça ainda estava em choque com o acontecimento e ele fez questão de respeitar isso… Alguns segundos se passam, a jovem nada respondia e parecia em pânico sem saber o que dizer ou que decisão tomar… O único lugar onde se sentiu em paz desde que se lembra, foram aqueles poucos instantes na casa de um completo estranho e que ela julga ser o retalhador do beco ou alguém à mando dele, como poderia ela se sentir em paz diante de alguém que ela viu uma única vez e ainda assim, realizando coisas tão brutais? Agora, diante dela, ferida e fraca, justo aquele homem que supostamente demonstrou atos tão violentos, era uma das únicas sensações boas que ela já havia sentido e de forma até ríspida, já havia dito que junto dele não poderia ficar… O silêncio impera, homem brilha seus olhos em amarelo e se levanta, saindo do lugar com uma frase simples e direta:

- Vou deixar-lhe à sós com seus pensamentos e resolver algo, volto em seguida para ouvir sua resposta senhorita sem nome, mas, queria deixar uma reflexão... Quando os justos se omitem... São os inocentes que pagam o preço...

O homem se retira pela porta dos fundos do lugar e ela fica com a mão estendida, fazendo clara menção de querer chamá-lo para dizer algo, para pedir algo, mas no fim se dá conta que mesmo que ele se detivesse e à ouvisse, a resposta seria não… Além disso, as palavras soaram duras, mas representavam uma grande verdade... Sua alma se contorce ao lembrar de sua omissão no passado e o que isso lhe custou e ainda lhe custa... O silêncio imperava e dava ênfase aos pensamentos tristes e tortuosos enquanto ela larga a comida e começa à lacrimejar sem saber que caminho tomar… Seus pensamentos divagam ao seu passado triste e sofrido, fazem uma torturante viagem por tudo que ela considera que já sofreu até suas decisões finais e quase morte... Um turbilhão de sentimentos como culpa, raiva, agonia, arrependimento e tristeza se abatem dela quase a enlouquecendo, quando então um ruído de metal na porta da frente se faz ouvir... A moça se assusta de forma mais intensa e teme já ter ouvido aquele som… Eram armas como as que os guardas que a guarneciam dias atrás usavam… Armas com empunhaduras de conexões neurais, ligadas diretamente à seus usuários, como forma de registro e de rastreamento para serem localizados em qualquer local por quem os armou!

Algumas risadas e então um impacto forte e a porta do casebre vem abaixo revelando uma dezena de homens com os mesmos trajes dos dois guardas, braços direitos repletos de implantes cibernéticos que os permitiam usar as tais armas e ligavam-se diretamente à seus córtex através de uma espécie de minicomputador fixado na base de sua nuca, era um pré-requisito segundo haviam mencionado os dois falecidos para integrarem a tropa... Recursos e poderio tecnológico contra diversos oponentes em troca de sua humanidade e privacidade, eis o mundo que em que os seres viviam nos dias de hoje...

Apontando as armas para dentro da casa enquanto um que estava mais ao centro, retira o capacete que usava, deixando à mostra seu rosto estampado com uma cicatriz que quase dividia sua bochecha esquerda em duas, de onde corriam fios e circuitos indo até seu microcomputador e espalhando-se por sobre o ombro descendo o braço direito como os demais… Seus olhos eram também como dois visores, retangulares e rubros com uma luz serena e espessa... Provavelmente traziam à ele visões diferenciadas e outros recursos, conquistas que vieram junto com o posto de comandante provavelmente, o que parecia ser visto que os que estavam na porta dão um passo para trás dando lugar ao mesmo que por sua vez dá um passo à frente berrando:

- Mas olha só que interessante… Seguimos o rastro do sinalizador que foi jogado no rio e por sorte resolvemos investigar esse barraco que se via de lá, mesmo não acreditando que seriam tão burros de esconderem-se próximo à onde desovaram o localizador que a acompanhava mocinha!"

A moça então se lembra que em seu pulso direito havia uma espécie de aparato preso, como uma fita mais espessa que o normal, que os guardas anteriores haviam dito que servia para localiza-la em qualquer situação... No referido, no entanto, naquele momento, havia apenas uma leve vermelhidão, como se algo muito afiado tivesse tocado sua pele naquele ponto... Ela olha novamente para o homem que seguia a berrar:

"- Viemos buscar comida, bebida e talvez algumas mulheres da roça para nos divertir e vejam só qual não foi minha surpresa… A putinha de ouro do chefe, deitada, limpinha, comendo refeiçãozinha… UAU! Meus amigos, que cena, QUE CENA!"

O homem erguia os braços e gesticulava exaltando a situação em que a jovem se encontrava, enquanto a mesma se cobria com a coberta da cama cada vez mais intimidada... Percebendo o efeito de suas palavras o homem, que parecia ser o capitão da força militar ali, completa:

"- E a gente andando nesse monte de mato, com esses insetos nojentos, pensando que você estava morta e que teríamos de andar o dia e a noite toda pra achar seus restos e poder voltar pra casa, enquanto isso... A belezinha virgenzinha aqui no bem bom… Mas que grande filhadaputagem hein? Bom, acabou o recreio, levante-se e vamos embora ou..."

O homem da cicatriz então emite um sorriso nefasto completando a pior frase que uma mulher, principalmente uma jovem, poderia ouvir:

"- Terei que fazer o "esforço" de tirar de você aquilo que o chefe está pagando tão caro… Aliás, eu e os rapazes aqui estamos há dias na estrada, tudo que queremos é que nos dê um só motivo, um bem pequeninho assim, pra podermos inventar qualquer mentira e... Te fazer suar... Afinal deve ser diferente com uma mulher zerada como veio ao mundo, novinha, cheia de vida e intocada... Chega dessas malditas prostitutas ciborgues, não é não pessoal?

Todos caem na risada, a moça entre em desespero, olha para todos os lados buscando pelo homem que cuidava dela mas ele havia saído… Sem opção ela tenta gritar, mas a voz não lhe sai, em sua mente ela relembra o passado e com essa angústia no peito, tinha convicção de que se seguisse caminho com aqueles soldados, era certo que não chegaria viva ao seu contratante, eles tinham tudo preparado, estava explícito... Por outro lado, se recusasse a ordem, com certeza seria morta ali mesmo… Em seu íntimo ela chora e pensa, de que adiantou ter sido salva dias atrás para morrer agora de forma tão cruel e toma a decisão de argumentar quando o soldado da cicatriz endurece e eleva a voz, bradando:

- Muito bem sua vagabunda com tudo original de fábrica, eu decido por você então! Nós vamos…

O som da voz do homem é interrompida como se ele tivesse parado de falar ao se chocar com alguma coisa ou prestado atenção em algo que mais ninguém via... Os demais soldados buscam por o que quer que tenha tirado a atenção da fala de seu capitão e então, sem qualquer aviso, jatos de sangue espirram do homem em todas as direções aterrorizando à todos e como que em um passe de mágica, os olhos amarelos surgem por detrás do já falecido capitão, enquanto o militar desandava ao chão partido em duas partes milimetricamente iguais, espalhando seus órgãos, tecidos e circuitos cibernéticos pelo chão em uma cena dantesca de revirar estômagos mais fracos…

O homem de olhos amarelos, agora visível à todos mas ainda os mantendo imóvel devido seu surgimento e atitudes aterradoras, arremete com força sua espada radiante para trás fazendo com que o sangue em excesso preso na lâmina fosse jogado para longe, caindo este sangue pesadamente no rosto de outro soldado em pânico, escolhido ao acaso talvez para tal acontecimento pelo atacante ou talvez, porque o mesmo tinha em seu lado direito do rosto, uma câmera fixada com circuitos que corriam até seu pescoço e por consequência ao seu microcomputador pessoal na base do crânio, provavelmente o soldado responsável por gravar dados das missões para acompanhamento de seus mandantes... A expressão no rosto do portador da espada no entanto, parecia denotar que ele queria que tudo ficasse registrado!

Assim que a espada ficou "limpa", o misterioso agressor tomou posição de combate e desapareceu novamente diante dos olhos de todos, deixando no ar apenas um risco de energia amarela... Em frações de segundos, jatos de sangue espirram de todos os soldados presentes no local enquanto os implantes atingidos rodopiavam com pedaços de carne pelo ar, fazendo com que todos tombassem sem sequer saber o que aconteceu à cada um deles, a única exceção foi o soldado com o rosto repleto de sangue do corpo do capitão, que teve seu braço esquerdo, o que ainda era carne e ossos, perfurado pela lâmina avassaladora, ficando preso contra uma árvore com o impacto e estocada, enquanto os olhos amarelos surgiam diante dele segurando o cabo da letal lâmina que o prendia contra o tronco da planta:

- Não achei que seriam tão burros à ponto de ficar circulando ao lado de onde desovaram um rastreador, mas foram... Com isso, vocês vieram para longe da cidade, onde ninguém os ouviria gritar e nenhum outro inocente seria ferido pelo acordo de vocês com a moça indecisa ali... Agora, eu quero mandar meu recado de forma sutil para o seu dono…

O homem preso pelo braço estava em pânico, os companheiros ainda convulsionavam e espirravam sangue enquanto o ser de olhos amarelos se vira sem soltar o cabo da espada, olha para a moça que ainda em pânico se escondia na cama dentro do casebre... Sua intensidade energética em seus globos oculares some e até mesmo a jovem que o conhecera há poucos dias, conseguia identificar o que a expressão do guerreiro dizia naquele instante… Ele à questionava quanto à sua decisão e, ponderando as palavras ditas pelo mesmo e os acontecimentos presenciados até então, sentiu finalmente que se continuasse ali ia envolver inocentes naquela situação... Em seu íntimo ela sentia, já havia cometido erros demais, ela não cometeria mais uma atrocidade! Com esforço descomunal ela se ergue, fica em pé e determinada diz, deixando com que os dois ali presentes ouvissem sua voz pela primeira vez:

- Eu decido seguir minha viagem até meu comprador, mas... Eu escolherei aquele que me levará em segurança até ele e este que empunha a espada é meu novo escolhido!

O guerreiro então acena positivamente com um semblante de satisfação em sua expressão e ativando novamente a energia que emanava de seus olhos, volta-se para o soldado, retira a espada com força de seu braço o deixando cair ao chão para logo em seguida agarra-lo pelo pescoço completando:

- O recado está dado... Complemento dizendo, que… Aceitarei o dobro do que já peguei pelo serviço… Todos que vierem tentar se envolver no meu trabalho de entrega, morrerão como esses aqui... Conforme o local e data no contrato combinado, lá estaremos, isso é tudo!

O espadachim de olhos amarelos então arremessa o soldado ao chão, esperando o mesmo se erguer em susto tentando fugir para conectar um chute em suas nádegas o arremetendo para frente com força, fazendo com que o mesmo saísse correndo em desespero do local! Limpando a lâmina de sua espada, para então a guardar logo em seguida, o anfitrião vira-se para a moça e aproxima-se dela com um leve sorriso:

- Não creio ter sido a melhor opção, mas você se impôs e tomou sua decisão... Eu a respeito por isso! Partimos dentro de dois dias, até lá descanse e se recupere... Eu cuidarei de você e não te deixarei sozinha até que esteja nas mãos de seu novo dono!

A moça desaba sobre a cama e chora compulsivamente enquanto o anfitrião se afastava do local para remover os corpos e restos da frente de sua cabana… Entre lágrimas, a ela sente que decidiu algo que fará bem aos outros, mas novamente ela duvidava de si mesmo como sempre duvidou, teria tomado a melhor decisão? Claro que não, ela pensava na sequência, mas tudo que ela queria neste momento, embora tivesse parecido ser uma decisão completamente altruísta, era ficar um pouco mais ao lado daquele que causou-lhe sensações de segurança e conforto como nunca teve em sua vida… Mesmo que tivesse de viver o inferno depois, aqueles dias ao lado do guerreiro valeriam por sua vida inteira, assim ela pensava, e então as lágrimas começaram à parar e um leve sorriso começou a se formar, um sorriso que há muito ela não conseguia mais expressar… Apesar de tudo, ela estava feliz, naquele momento...

Alguns metros mais à frente do local de combate, empilhando os corpos e restos para queimar, o homem que empunhava uma espada assassina e letal diante de inimigos maldosos, pensava para si mesmo sobre tudo que estava acontecendo… Ele sequer sabia o nome da moça, mas algo muito forte o conectava a ela… Ele sentiu algo nostálgico e familiar nela quando a viu no beco naquela noite... Poderia ser aquela situação uma vez mais?

Não, pensava ele, porque justo agora, quando ele realmente não merecia algo assim visto a vida que vinha vivendo… De qualquer forma, em seu íntimo ele sabia que algo muito forte o fazia ter o intuito de proteger a jovem moça, mesmo que ela decidisse seguir sua missão de se tornar o brinquedo de alguém... Enquanto ela estivesse decidindo por si, e não causando mal à inocentes, ele cuidaria dela…

O fogo eliminava o fedor e o sangue do local, purificava a carnificina de poucos instantes atrás... O guerreiro ao lado das chamas, assim como a moça que observava à tudo da cama de dentro da casa, ambos observavam há algumas dezenas de quilômetros a cidade de SkyLand... As pontes, as torres dos poderosos, os avatares holográficos vendendo e ofertando a vida frenética e cheia de recursos dos dias atuais, bem como os veículos aéreos e o tumulto da noite naquela pequena periferia que era visível dali... Percorria lhes o íntimo o quanto conseguiam embora tão perto, se sentir tão longe de todo aquele alvoroço de seres... As matas eram raras, mas devido à tecnologia elas não mais eram necessárias, ou devastadas, tudo que se precisasse podia ser feito em 3D, sem necessidade de usufruir da natureza e com isso, lá estavam eles em um paraíso desconhecido para ela e incrivelmente pessoal para ele... Sem olhar um para o outro, ambos observaram atentos o crepitar das chamas e, em seus corações, uma frase queimava intensamente:

- Porque isto está acontecendo desta maneira?

Continua...

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...