sábado, 11 de dezembro de 2021

Grund-Tharg - Cap. 12 - "- Em busca da chave mística!"


O silêncio pairava sob o ambiente escuro e malcheiroso do local onde o grupo havia batalhado e exaurido suas capacidades poucos instantes antes… A primeira premissa era de que o chão deveria estar repleto de cadáveres dos inimigos que derrotaram, mas a realidade não era essa… Como se em uma névoa que se esvai com o sopro do vento, todos os corpos e pedaços de criaturas derrubadas, desapareceram sem deixar vestígios… Esse era apenas mais um dos mistérios que se colocaram diante dos aventureiros, após a incursão nada convencional ou preparada para o interior do Fosso do Réptil… Grund-Tharg o menos desgastado física e espiritualmente, montava guarda atenta aos aliados que recuperavam suas condições físicas e mágicas, mas os terrores mentais pelos quais passaram, foram sem dúvidas os que mais os debilitaram, não restava dúvida alguma…

Trocaram poções de cura entre si para que pudessem vitalizar-se de forma mais rápida, uma vez que seriam necessárias várias horas de descanso assim como preces, aos que recebiam dons de suas divindades, para que suas condições normais em tão pouco tempo fossem restauradas naturalmente e eles não tinham esse tempo… Felizmente, a cortesia em formas de poções de cura do clérigo Wigferth adicionadas entre seus pertences pessoais de aventura, fez toda a diferença, naquele momento tenso e necessário…

Mas enquanto a parte física e mágica de cada um estava sendo restaurada, a moral e sentimentos do grupo, depois de todo o ocorrido, estava devidamente abalada… Cada um deles se considerava culpado em algum ponto, gerando uma sensação de auto reprovação em cada um deles de acordo com suas ações… Akron estava sentado sobre uma das pedras gigantes, sobras do combate furioso entre o bárbaro e a criatura grimlock, ainda envergonhado em ter que buscar ajuda dos demais para se livrar dos inimigos, ele que deveria e queria ser uma adição ao grupo, apenas conseguiu correr desesperadamente dos mortos-vivos esqueletos sendo literalmente socorrido por Jhon…

Jhon por sua vez, se sentia derrotado e fraco, visto ter exaurido tudo que tinha e ficado sem reservas para poder ajudar os demais ou mesmo combater os próximos inimigos que viessem… Como alguém que sempre se preparava antecipadamente para tudo e buscava antever cada passo dado, ele sentia-se vencido, se considerava alguém que não havia preparado a si mesmo corretamente e com isso, deixado seus aliados em condições de vida ou morte…

Syndra não tinha culpas dentro de si, mas sentia que talvez, ela não fosse útil de verdade ao grupo, uma vez que usou tudo que tinha e não conseguiu derrubar um simples, no contexto geral de monstros, rato atroz que fosse… Ela se considerava uma boa arcana, não havia soberba em seus sentimentos, mas considerava que havia treinado, se preparado, que tinha aprendido bastante e tinha condições de ser uma aventureira capaz, porém… A cena com a criatura elemental e posteriormente ter sido salva por Akron, lhe deixava bastante duvidosa quanto suas reais condições de combate e de ser realmente útil aos demais…

Nissa sim sentia o mundo sobre seus ombros, esta estava sentada recostada à parede, seu sentimento era pura e simplesmente vergonha, justo ela que em alguns momentos, embora não falasse ou demonstrasse, considerava-se uma maga muito acima das demais de seu nível, se viu diante de uma cena, ao seu modo de ver, ridícula, e enquanto os demais lutavam por suas vidas e pelas deles, enquanto eles enfrentavam mortos-vivos, criaturas selvagens e monstros elementais, Nissa fugiu desesperadamente de míseras baratas, um dos seres mais inofensivos dado o mundo em que viviam… Ter exposto esse lado dela, essa parte humana de sua alma aventureira, realmente a deixou bastante duvidosa de suas condições de realmente fazer parte de um grupo aventureiro…

Em silêncio, o gigante selvagem que montava guarda dedicadamente, sentia a culpa e a vergonha lhe corroer as entranhas… Tivesse sido mais paciente, tivesse esperado um pouco mais, tivesse confiado em seus companheiros e suas capacidades para resolver aquilo que ele não sabia, nenhum deles teria passado pela situação atual... A sensação de desolação e desânimo que eles vivenciavam agora, não estaria instaurada… Seus aliados poderiam ter morrido por sua conduta indevida e ele tinha total consciência disso…

Todos ficam alguns minutos mais pensativos e então é Jhon quem ergue-se e convoca a todos para seguir em frente, pois ainda precisavam encontrar a tal chave mística da qual foram incumbidos e haviam adentrado apenas pouco da fortaleza negra ao qual haviam julgado, estar destruída por completo… Não seria mais necessário explicar ou dizer, cada um deles entendia que deveriam aguardar o consenso de todos para tomar alguma decisão, até mesmo Grund-Tharg pensava seriamente sobre esse sentimento, uma vez que sua ação precipitada colocou a todos ali… Também todos tinham a certeza de que o grupo estava naquele momento, desconectado, frustrados consigo e em alguns momentos com seus aliados, sua união antes poderosa estava debilitada e isso poderia ser a ruína do grupo…

A grande sala que ficava ao centro de onde combateram, apesar de todo estrago ao redor, não apresentava qualquer arranhão… Perfilados, o grupo fica de frente ao que parecia ser a entrada e todos eles, mesmo sem perceber, suspiram fundo e tentam buscar o espírito e motivação para completarem sua missão… Grund empunha seu machado, assim como Jhon que saca sua espada cuidando da retaguarda dos oponentes, ambos sabiam sem uma única palavra que proteger fisicamente o grupo de qualquer ataque surpresa era a missão adequada aos dois naquele instante… Nissa e Akron vão à frente tentando analisar o local tanto sobre a presença de armadilhas físicas quanto arcanas, ao passo que Syndra, situada entre os dois posicionamentos da equipe, estendia sua percepção mágica para além da sala, tentando captar a mínima mudança nos planos da magia, evitando assim que fossem pegos por algum ataque ou armadilha arcana oculta, preparada ou lançada por qualquer inimigo à espreita…

Nissa então, diante do portão executa movimentos com as mãos e convoca sua magia “revelar trama mágica” buscando que toda e qualquer magia presente no mesmo fosse vista por qualquer um, facilitando assim a ação especialista de Akron que com sua visão e perícia aguçadas, conseguia analisar cada milímetro da entrada em busca de possíveis armadilhas… Foram em média de dois minutos analisando tudo minuciosamente, porém nada foi encontrado pelos dois aliados, fossem ataques surpresas físicos, mágicos ou armadilhas… O silêncio era sem dúvida perturbador visto que estavam dentro do antro inimigo…

Akron então tenta empurrar a porta diante deles, o que parecia ser o único acesso ao centro da construção e imediata e lentamente, uma pedra na própria porta desce, revelando abaixo dela o que parecia ser um local para encaixar uma mão, não uma mão humana, mas sim reptiliana devido ao formato e garras… Uma mão gigante, pelo menos seis vezes maior que uma mão humana, levando todos à cogitar, mesmo que intimamente, quem poderia ser o responsável por abrir e fechar tal sala, sendo detentor de uma mão tão gigante… Ao centro da mão, um olho fendido existia, ele brilhava e se apagava, mas mantinha-se como que limitado a apenas observar quem ali estava diante da entrada…

Akron leva seus dedos por dentro da mão buscando por algo, mas nada encontra nem nenhuma reação é sentida, deixando todos sem uma ideia de como avançar… Syndra então em uma última tentativa, expande sua aura novamente e por alguns instantes foca seu pensamento naquele ponto, naquele olho reptiliano ao centro e percebe algo que seria a chave para a solução do enigma… “- Parece que exatamente sobre o olho, a magia é sugada para dentro dele, em curtos intervalos de tempo…”

Jhon, Tharg e Akron nada sabiam argumentar sobre, mas Nissa pensou no que a aliada acabara de informar e então cogitou: “- Eu entendi… Isso pode ser uma espécie de criptograma...”

O jovem kelinttorita, Syndra e Akron ficam a observar a arcana esperando mais explicações sobre o que ela queria dizer com criptograma, enquanto Grund já sem vontade de questionar tanta coisa fora de seu entendimento apenas vira o rosto para o lado buscando manter a guarda de todos enquanto eles resolviam as “coisas confusas”... Akron percebendo que Grund não estava entendendo nada e sem querer deixar nítido que havia percebido o resmungar do selvagem, começa a falar: “- Você está se referindo à deixar mensagens através de figuras, de pinturas ou mesmo esculturas, que representem algo ambíguo, ou seja, parecem uma coisa mas querem dizer outra… Interessante… Nesse caso, qual sua interpretação de tudo Nissa, poderia explicar em detalhes para entendermos?”

Grund-Tharg embora procurasse não demonstrar atenção, estava completamente atento ao que Nissa iria dizer, pois apesar de bárbaro, ele era considerado a ovelha negra da tribo por ter a curiosidade e vontade de aprender coisas alheias à rotina do seu povo… Nissa então inicia sua explicação: “- Syndra disse que o olho fendido está sugando magia de tempos em tempos… Também temos uma mão gigante reptiliana, o que com certeza nos leva à pensar em mão de dragão… A mensagem que eu vejo aqui é que pode significar que na verdade o olho é uma espécie de sistema arcano de detecção, ele está “testando” quem colocar a mão sobre ele se possui elo com os dragões… E como sei que o elo que o olho está buscando é elo com dragões? Pela mão em profundidade que resguarda o olho, em formato de uma mão inconfundível de dragão… Parece bem claro para mim agora na verdade, o olho está testando a quem for abrir o portão se possui laço com aquilo que teria a mão que o resguarda e que na verdade é a fonte inicial de toda e qualquer magia, dragões! É um teste, um enigma para que somente quem tem a magia adequada possa adentrar tal lugar…”

Grund-Tharg se mantém de costas mas em sua mente a ideia ficou clara, isso o deixou mais confortável por estar compreendendo as ações do grupo. Jhon e Syndra acenam positivamente enquanto Akron insistia em mais detalhes, à fim de deixar o gigante mais próximo de suas decisões: “- Ok, a ideia é interessante e viria bem a calhar, SE tivéssemos um dragão ou algum meio-dragão conosco… Como abriremos essa porta então já que não possuímos tal ilustre integrante?”

Jhon Raven então dá passos à frente aproximando-se de Akron e de Grund, explicando ele desta vez: “- Todo feiticeiro nasce com magia em seu sangue… A diferença entre um feiticeiro e um mago é que o primeiro nasce com a magia o segundo precisa estudá-la e aprendê-la… Como a magia em seus primórdios se origina nos dragões, ou seja, dragões são os primeiros seres mágicos de qualquer informação que se tenha, Nissa como feiticeira possui sangue de dragão em suas veias, ela pode abrir essa porta!”

Finalmente o gigante pressentindo a ação através da fala entre seus aliados, vira-se para eles segurando seu machado firmemente e uma expressão satisfatória em seu rosto demonstrava que novo ânimo o preenchia enormemente: “- Pois bem… Me deem uma só oportunidade de agir e contemplem, meu machado e eu limparemos o caminho para vocês!”

Jhon posiciona-se ao lado de Tharg e contrariando seu estilo usual, sorri levemente: “- Não vai se divertir sozinho não, filho dos Corcéis Alados…” Akron assume posição entre os dois e logo atrás de Syndra, sacando suas adagas e preparando-se para o que poderia surgir lá de dentro ao passo que a maga, logo atrás de Nissa, dava suporte mágico de proteção e detecção enquanto a aliada abriria a passagem para a tão cobiçada sala diante deles…

Nissa então ativa sua aura mágica e toca sobre o olho fendido, uma reação potente ocorre, porta e arcana brilham em intenso poder mágico para logo em seguida tal brilho desaparecer, permitindo que a passagem antes lacrada agora subisse deixando livre uma entrada para os aventureiros em prontidão, e quando todos retesavam seus músculos para atacar ou potencializavam suas vontades para usar suas magias mais poderosas com a carga que certamente o inimigo entocado faria, o silêncio foi tudo que obtiveram como resposta, nenhum mínimo sinal de inimigos foi detectado ou mesmo visto pelos aventureiros, frustrando principalmente o gigante Grund-Tharg uma vez mais, que completamente irritado bate na parede ao lado com o punho fechado…

Nissa foi a primeira então, após a recepção vazia, à dar um passo para dentro do grande salão, acompanhada de Syndra, ambas com suas detecções mágicas ativadas… Akron as seguiu de perto e minuciosamente observava tudo com sua visão habilidosa para armadilhas e mecanismos… Jhon foi na sequência seguindo os aliados enquanto que Grund-Tharg ficou na porta, de costas para o interior onde todos estavam, guarnecendo a retaguarda do grupo uma vez mais, era tudo que podia fazer no momento se recriminava o selvagem… O montante total que puderam avistar de onde estavam, uma vez que consideraram o perímetro seguro, fora uma verdadeira sala de estar com muitas almofadas e armários, com diversas estantes repletas de livros… Era como uma biblioteca, misturada à um laboratório de feitiços, mas aconchegante ao extremo como um quarto, suficientemente acolhedor para que se pudesse viver lá dentro…

O lugar era por dentro muito mais amplo que se podia julgar por fora, com certeza efeito de poderosas magias que mantinham-se ativas mesmo sem a presença do conjurador que as ergueu… Algumas das paredes eram completamente mágicas, repletas de gravuras e artes, umas reconhecíveis outras indecifráveis… Nissa se aproxima delas e contempla, em seu conhecimento: “- Eu não compreendo o idioma, mas já o vi com certeza… São da era dos Methariuses…”

Akron, ainda cuidadoso mas curioso no mesmo patamar, se aproxima observando tudo e questiona:
“- O povo lendário que supostamente foi um antigo império humano magocrático, cuja influência foi sentida nos Reinos por milhares de anos?”

Ao que Nissa o observa e acena positivamente confirmando, Akron então se empolga e continua: 
“- Eram até onde sei uma hierarquia estrita por centenas de anos, divididos entre os nobres vivendo em enclaves voadores milhas acima do chão, e os plebeus que se estabeleceram por todo o lugar possível… Ouvi dizer também que durante seus anos de glória, que perduraram por mais de três mil, infelizmente apesar de tudo que haviam conquistado, a arrogância deles cresceu ao ponto de que tentassem se considerar divindades da magia e acabaram destruindo a trama mágica que acabou levando eras para se recuperar completamente! No redemoinho resultante desse ato egoísta, a maioria das cidades voadoras de Methariuses desabou ao chão e eles, com o passar dos anos, desapareceram misteriosamente…”

Nissa balança a cabeça em sinal positivo e continuou: “- Dessa forma Akron, existem muitas relíquias, algumas perigosas e outras não, que foram deixadas ou encontradas dessa época longínqua… Alguns se referem aos Methariuses como "primordiais", ou seja, os que vieram antes de todos os outros… Porém devido aos poderes que eles detinham, muitos místicos, feiticeiros, magos e principalmente necromantes, se dedicam a estudar esses “primordiais”, seus rituais e poderes em busca de capacidades que ninguém mais possui nos tempos atuais… O que posso supor é que quem vivia ou vive aqui, estivesse justamente em busca de poderes Methariuses com algum fim nefasto devido à natureza do local onde se encontra tudo isso…”

Tharg, embora ouvindo tudo e sentido satisfação em entender coisas novas, ainda tinha certo problema com muitas falas e pouca ação… Ele entendia que haviam momentos em que seu estilo de agir não era o adequado e, fazer parte daquele grupo significava ter de aturar muitos daqueles momentos, mas mesmo todo esse raciocínio não afastava dele o que sentia, uma profunda irritação com tamanha demora para “algo acontecer”, o que o levou a tentar uma mudança de rumos: “- Então o que temos de fazer aqui, digam-me por Thangdarth, que é colocar tudo abaixo até encontrarmos a tal chave!”

Jhon Raven que se mantinha em silêncio até então, tomou a frente e questionou: “- Essa com certeza é nossa missão principal Tharg, mas há algo que acho que ninguém ainda parou para pensar… Essa chave é fisicamente uma chave? Alguém tem alguma ideia de como ela é ou como devemos procurá-la? Se derrubarmos tudo como nosso estimado amigo deseja, saberemos separar a chave de escombros?”

Nesse instante uma forte onda de pensamento atinge a cabeça de Nissa de forma vigorosa a fazendo soltar um urro de dor, como se tivesse recebido um golpe no estômago… Todos então entram em prontidão de combate realizando um círculo ao redor da feiticeira e se preparam para agir ao mínimo sinal do inimigo, mas uma vez mais nada surge, ninguém os ataca e Nissa começa a acalmar seus espasmos até conseguir controlar as dores que a atingiam diretamente no cérebro… Tão logo ela conseguiu dissipar a dor aguda principal, tentou na sequência explicar aos demais o que acontecia com ela, buscando acalmar o grupo, embora ainda ofegante, fazendo com que novamente o grupo voltasse sua atenção para ela: “- Uma voz… Não… Um pensamento… Está me atingindo como um golpe do punho direito de um gigante, mas ao mesmo tempo… Parece estar fraco e... De alguma forma… Distante... Eu não consigo decifrar o que o pensamento diz, mas não parece hostil apesar da dor lancinante… Não é um ataque com certeza, eu consigo definir isso, mas sim, alguém está tentando comunicar-se comigo, diretamente com minha alma… Eu preciso me concentrar e tentar filtrar o que quer que seja…”

Jhon maneja sua espada e se posiciona de costas para Nissa ativando sua ligação com sua divindade! Grund-Tharg empunha seu machado e o coloca ao chão pronto para a ação; Akron com suas adagas aguça seus sentidos e espera por qualquer coisa enquanto Syndra se posiciona acionando seus escudos elementais para proteger o grupo e é então, que a feiticeira começa a conseguir definir palavras isoladas:

“- Parede… Ilusão… Prisão… Ajuda…”

Nissa se concentra, tenta buscar uma sincronia com quem quer que esteja tentando entrar em sua mente, era sem dúvida uma invasão, uma intrusão ao seu íntimo espiritual, mas de alguma forma que a jovem não sabia explicar, ela sentia que não haviam intenções malignas, era um claro pedido, não, um suspiro de socorro era mais apropriado dizer… Isso encheu a alma da aventureira de vontade e determinação, elevando cada vez mais suas capacidades sensoriais, capacidades essas que entrelaçaram-se com as de sua aliada Syndra, que sentiam as intenções e vibrações de Nissa, entrando como uma força de apoio descomunal que unia e amplificava a força mística da feiticeira!

Com um resultado inesperado e imprevisível, o esforço espiritual unido às forças de vontade de seus aliados e guardiões naquele momento, se tornou uma energia só, capaz de conseguir canalizar uma resistência sem igual e então, um grande clarão, uma explosão de energias que varreu o lugar atravessando paredes e tudo mais que existia como se nunca houvessem existido obstáculos físicos ali, e finalmente Nissa com os olhos transbordando em energia ergueu sua face olhando para a parede onde as gravuras dos Methariuses encontravam-se... Ela seguiu em direção à mesma com a mão direita erguida e espalmada, seguindo passo à passo, determinada, sem hesitar um único instante, atravessando-a, diante dos olhos estupefatos de todos, por completo, desaparecendo da visão do grupo!

Os demais a observando e acenando positivamente entre eles, a seguem, detendo-se por alguns instantes diante da parede repleta de gravuras… Jhon sendo o primeiro, ergueu a mão a frente tal qual Nissa, e assim como a feiticeira, o kelinttorita atravessa a parede como se uma miragem fosse… Os demais, prontos à não abandonarem seus aliados, realizam o mesmo gesto chegando ao lado oposto da parede, revelando à todos algo que nenhum deles esperava ver… Um gigantesco dragão, coberto de uma coloração amarelada com verde, jazia ao chão, repleto de algo como correntes de fumaça espessa e escura, certamente o mantendo prisioneiro ao local… Seu tamanho gigantesco e impressionante só conseguia ser superado pela expressão de agonia que denotava, estar sentindo os últimos momentos de sua vida escorrer por suas veias… Nissa diante dele se detém com lágrimas aos olhos e repete as palavras que havia separado inicialmente, “- Parede… Ilusão… Prisão… Ajuda… Você usou quase que suas últimas forças para me chamar… Perdão por ter demorado tanto à atender sua súplica…”

A Feiticeira então abre seus braços e começa a emanar suas auras arcanas, ao passo que Syndra se põe pouco atrás dela e busca fazer o mesmo ampliando os poderes da aliada uma vez mais… Tharg sem entender o que acontecia questionava, duvidoso: “- Elas estão pensando em soltar esse dragão?” Jhon acena positivamente e guarda sua espada enquanto Akron, fazendo o mesmo com suas adagas sorri despreocupadamente, deixando o selvagem mais temeroso ainda de que não compreendessem o que estavam a fazer naquele instante! Tentando fazê-los raciocinar friamente, Grund-Tharg segura mais firmemente seu machado, questionando uma vez mais: “- NISSA TEVE DIFICULDADE APENAS EM OUVIR A VOZ DESSE BICHO… SE O SOLTAREM, NENHUM DE NÓS SAI VIVO DAQUI, ESTÃO LOUCOS?”

Foi então que Akron virou-se para o selvagem e tentando colocá-lo à par de tudo novamente, como somente ele era capaz e prezava fazer, explana: “- Existem basicamente dois tipos de dragões meu caro Grund-Tharg, resumindo de uma forma muito modesta, que são os cromáticos e os metálicos! Os primeiros, representados óbvio pelos tipos vermelho, negro, azul, branco e verde, são malignos por natureza e temidos por todos, inclusive por outros dragões. Cruéis, agressivos e sedentos por tesouros, essas criaturas acham que todas as riquezas do mundo lhes pertencem; por isso, um dragão cromático considera que qualquer pessoa que tenha algum tesouro o roubou dele. Já os metálicos, são exatamente o oposto dos cromáticos, têm tendência boa. Claro que sssim como todos os dragões, eles gostam de acumular tesouros, mas, eles não o roubam, eles coletam tesouros sem dono. Esses dragões podem se desfazer de alguns de seus tesouros até se for em prol de um bem maior, apesar de ser muito difícil convencê-los a fazerem isso é verdade… No entanto, esses últimos são distinguidos obviamente também, por bronze, cobre, latão, ouro e prata… Então, considerando tudo que eu disse, observe a cor do pobre acorrentado aqui na frente amigo Grund… É um dragão de bronze, não nos fará mal algum desde que não o façamos a ele…”

Jhon Raven é quem completa a narrativa, atestando as palavras do aliado tiefling: “- É por isso que Nissa está certa, não podemos ignorar seu pedido de ajuda e deixá-lo aqui… Pelo contrário, ele está de alguma forma sendo morto, está privado da vida que um dragão deveria ter… Temos de libertá-lo e permitir que siga seu destino!”

Grund-Tharg ainda assim mantinha seu machado em mãos e vigiava tanto o dragão quanto ao redor deles, seu instinto de sobrevivência cultivado durante seus verões de existência e transmitido ao seu ser por eras de existências ancestrais bárbaras, não poderia ser suprimido apenas com falas, ele manteria a guarda de qualquer forma e torceria para que novamente os aliados estivessem certo… Nissa por sua vez vira seu rosto para o lado esquerdo e algo na parede ao longe chama sua atenção por algum motivo… Suas mãos giram no ar, ele convoca uma magia desconhecida por todos que se torna uma esfera poderosa e vibrante e enquanto concentra aquele poderoso ataque místico com dificuldade, ela sem olhar na direção do mesmo grita: “- THARG!! SUA MAÇA ESTRELA!! ATAQUE O PONTO NA PAREDE JUNTO DE MINHA MAGIA! LIBERE TODO SEU DESCONTENTAMENTO COM TANTO MARASMO EM ÚNICO GOLPE E NOS AJUDE A LIBERTAR ESTE PODEROSO SER!”

A mente de Grund-Tharg fervilha, em frações de milésimos de segundos vai da dúvida ao questionamento, do receio à determinação, da ponderação ao ímpeto e com uma velocidade impressionante, seu machado cai ao chão enquanto o selvagem partia buscando sua maça estrela entregue-lhe por Lady Betrayal, se lançando como um meteoro, quase unindo-se a rajada de energia empenhada por Nissa. No exato momento, de forma incrível, em que a esfera arcana atinge a parede, Grund-Tharg com força brutal e precisão inacreditável atinge o mesmo ponto, sendo no mesmo instante repelido e arremessado de volta para trás com a mesma capacidade destrtutiva, não vindo a se ferir com o golpe sofrido unicamente por ter sido colhido pela magia de retenção de Syndra que a aliada invocou no momento certo! Enquanto isso, a parede diante do poderoso ataque ruiu revelando em seu interior, um artefato bastante bizarro e até assustador, que igualmente de forma macabra, brilhava em intenso poder escurecido, perdendo pouco a pouco seu aspecto de trevas, até ficar como se tivesse de alguma forma se desativado, caindo ao chão logo em seguida, sem qualquer resquício de energia…

Ao mesmo instante que o item se desativou, os grilhões energéticos ao redor da criatura dracônica que detinham a mesma escuridão e prendiam todos os membros, cauda, pescoço e boca do dragão de bronze se desfazem lentamente e a poderosa criatura após alguns segundos, finalmente como se começasse a recuperar sua vitalidade, abre os olhos observando a todos que ali estavam, com olhar complacente e agradecido… Todos então lentamente se dirigem para próximo da cabeça, ainda recostada ao chão, da gigantesca criatura e ficam a observá-la... Até mesmo Grund-Tharg parecia finalmente baixar a guarda e aceitar que libertar a criatura era o correto e eis que então, sem mexer a boca, falando diretamente com suas mentes, a criatura se pronuncia…

“- Gratidão é o que me preenche a alma neste momento… Eu sou Shadrak… Sou grato a todos vós por terem detido sua missão para ajudar este ser… Se houver algo que eu possa fazer por vós, ficarei feliz em poder retribuir a gentileza…”

Todos ficam em silêncio diante da manifestação imponente do dragão diante deles... A ressoante voz mental do mesmo, parecia preencher à todos de bons sentimentos e nenhum deles cogitava pedir nada ao ser... Tharg ainda mantinha receio de um ataque, se fosse pedir algo seria não ter de batalhar com a criatura e nem isso lhe passou pela cabeça naquele momento… Jhon nada fazia em troca de outros favores, suas ações eram sem intenções de retorno, também não ansiava nenhum pedido… Syndra apenas admirava a criatura gigante e tão incrível diante seus olhos de maga, assim como Akron, que embora não tivesse o fascínio pelas artes místicas, tinha seu cérebro fervilhando de perguntas para preencher sua fome de conhecimento… Além disso, dentre eles todos sabiam que quem realmente havia realizado aquele resgate, era Nissa, então era de comum acordo, mesmo que nenhum deles pronunciasse isso, que se alguém tinha o direito de pedir algo em troca, era a feiticeira…

Mas diante do silêncio, a poderosa feiticeira marejava seus olhos e fazia uma reverência respeitosa e apenas pronunciou: “- Nunca havia tido a honra de estar tão próximo de um dos seres responsáveis pelo poder que nós feiticeiros carregamos… É uma honra estar aos pés de alguém tão importante no meu modo de vida, senhor Shadrak….”

Com olhos bondosos, o dragão de bronze sorri levemente, de novo dirigindo-se à todos mentalmente:
“- Entendi… Vocês estão em busca da chave para o acesso a torre do feiticeiro Adramanther, mas não sabem como ela é ou mesmo como encontrá-la… E apesar disso, não usaram o resgate que fizeram como moeda de troca para obter aquilo que é o objeto de vossa missão… Falarei de vós para nosso senhor Bahamut e o quanto, aventureiros como vocês ainda enchem de esperança os corações dos dragões mais otimistas… Porém nenhuma boa ação passa despercebida pelo universo, vocês não tiveram a intenção egoísta de me soltar em troca de algo, mas o algo que procuram é o mesmo que me mantinha aqui preso… Talvez, e só talvez, quem os enviou aqui, sabia de alguma forma de minha prisão e aliou uma coisa à outra…”

O dragão olha então para o artefato que havia saído da parede no momento do ataque conjunto de Nissa e Tharg, fazendo todos compreenderem que a “chave” era na verdade o item usado para aprisionar o poderoso ser… Nissa vai até ele e o apanha nas mãos, o artefato parecia um machado de guerra em tamanho diminuto, feito de algo que ela não conseguia identificar e ao centro, um crânio muito pequeno com olhos brancos que deixava clara não haver boas intenções quando da criação do artefato… A feiticeira direciona-se uma vez mais até Shadrak, visivelmente confusa, questionando: “- Se este artefato tinha a capacidade de manter a você, um dragão de bronze imóvel, com certeza não seria eu com a ajuda de toos meus aliados inclusive, quem conseguiria sobrepujar tal poder e libertá-lo… Como conseguimos apenas Grund-Tharg e eu interromper algo que o manteve preso por tanto tempo senhor? Não é compreensível para mim tal acontecimento…”

O dragão de bronze, conseguindo erguer sua cabeça do chão, continua a explicar diretamente em suas mentes: “- Este artefato se chama “O lamento da anulação”... Ele foi criado pelos Methariuses há mais tempo no passado longínquo do que nos é permitido lembrar… Foi feito com escamas de um dragão ainda recém-nascido e sacrificado em um ritual de magia das sombras… O minúsculo crânio é de um bebê halfling enquanto diversos outros itens igualmente arrancados com requintes de crueldade permeiam este objeto das trevas… A intenção dele, era conseguir deter o ímpeto dos dragões que tentavam derrubar o reinado de terror dos necromantes Methariuses, inibindo por completo o poder que emanamos… Este é sem dúvida, um dos poucos itens que realmente conseguem deter nossos dons ancestrais e talvez um dos únicos que ainda exista… Uma vez conjurada a magia sobre ele e determinado seu alvo, somente o conjurador ou a união de dois seres distintos e poderosos podem derrubar tal invocação…”

Tharg então é quem deixando de lado o receio, toma a frente e bastante sem preparo para lidar com a criatura que estava diante deles, corajosamente questiona: “- Se tudo que estás a dizer é verdade, esse tal lamento era para ainda estar enterrado fundo naquela parede e você… Senhor… Acorrentado como um escravo imundo, pois por mais que pudéssemos acreditar em nossa forças, Nissa e eu jamais íamos poder derrubar tal feitiçaria se era tão poderosa… Como isto veio a acontecer então?”

Os demais rapidamente observam Tharg o repreendendo com o olhar por agir de forma não polida com um dragão ao mesmo tempo em que todos eram capazes de se repreender por seu próprio pensamento, afinal, como esperar de Grund-Tharg ações polidas? Enquanto isso acontecia, Grund fazia uma expressão de quem questionava o porquê de o olharem daquela forma, afinal, em seu entendimento, ele havia sido respeitoso além do que era esperado de um bárbaro… O ser milenar então percebendo o impasse toma a palavra, dessa vez pronunciando-se em sua voz e não mais em pensamento, demonstrando estar mais recuperado a cada minuto que se passava… “- Não se preocupem com formalidades… Nós, dragões seguidores do deus de platina não analisamos um insulto pelas palavras, mas pelas intenções… Vós todos demonstram pureza de coração e honra em suas atitudes embora cada um de vós tenha métodos e conceitos completamente diferentes… Além do que fora citado agora, ainda percebo a união de vós como poucos conseguem… Me permitam exemplificar, as provações que vós passeis há pouco… Esses túneis pelos quais chegaram são criados para testar aqueles que caem nele em seus maiores temores e vejam suas honras estampadas nisso… O jovem abissal tifeling teme não poder ser útil diante de algum inimigo... Já o rígido e honrado seguidor do deus da morte teme não ser tão poderoso quanto crê que Kellintor espera… A maga dedicada crê suas magias não serem poderosas como a dos outros arcanos e a jovem e promissora feiticeira, demonstrou não temer mais nada além dos pequenos insetos milenares… Isso demonstra as preocupações e anseios de suas almas, vós sois uma equipe que busca o melhor de si em prol de seu aliado… E quando a união foi necessária, nem mesmo os dragões teriam sincronizado tão bem devido nosso orgulho muito exaltado que nos impede em certos momentos de certos atos… Mas aquele que mais se culpa por tudo que todos se lamentavam há pouco, é talvez o mais intrigante e revelador de todos, afinal, não conseguiram achar um temor em sua alma e quando todos estavam fatigados, ele se culpou por todos e tentou, mesmo com um coração selvagem e livre dentro de seu peito, se adaptar a vós todos, apenas para ser útil como ele crê que vós esperais dele… Pararam para pensar por esse ponto ao invés de crerem que todos falharam em seus testes?”

O dragão fica observando o grupo por alguns segundos… Todos baixam a cabeça e analisam as palavras ditas pelo gigante ser, quando então conseguindo mexer suas patas dianteiras, Shadrak ergue-se lentamente mexendo seu pescoço alongado finalmente e completando sua fala: “- Mas respondendo mais diretamente as perguntas e dúvidas de todos vós, eu peço que me ouçam nesta narrativa… Vós conseguistes quebrar a conjuração, pois unimos a resistência física do filho dos Corcéis Alados, a capacidade de conjuração da jovem feiticeira que fora ampliada pelos dons e força de vontade da maga poderosa, aos meus enfraquecidos e quase apagados dons... Unindo-se à tudo isso, ainda tivemos os poderes sagrados de Lady Betrayal, infundidos nesta maça estrela sagrada que vós empunheis no momento do ataque, corajoso Grund-Tharg… A união de quatro seres diretamente, com o apoio espiritual de todos que estavam aqui transmitindo suas vibrações, permitiu um milagre acontecer e agora, eu ganho novamente a liberdade pelo ato e altruísmo de todos vós…”

Todos então se entreolham e compreendem afinal… A maça estrela misteriosamente posta por Lady Betrayal em Grund ainda na cidade, não servia unicamente para os inimigos da fenda, mas continha também sua magia pura e sagrada… Se seguissem a missão como solicitado pela paladina, encontrar a chave que permitiria acessar a torre negra de Adramanther, iriam encontrar Shadrak e por final, a chave, que nada mais era do que o artefato que impedia o dragão de se libertar… Uma vez devolvendo a liberdade a ele, teriam a chave que os permitiria cumprir o resto de sua missão e ainda realizariam um ato altruísta… Tudo se encaixava de forma primorosa, até mesmo eles terem sido escolhidos para tal missão, uma vez que haviam saído do Fosso haviam poucos dias e Akron já havia sido prisioneiro em tal local… E quando todos começaram a se questionar de como tudo isso pode ter chegado até Lady Betrayal, eis que Shadrak, lendo os pensamentos do grupo e incrivelmente assumindo uma forma humana diante deles, responde antes que cogitassem qualquer explicação: “- Meu amigo Wigferth e minha amiga Laryana… Há muito buscavam por mim e não faziam ideia de meu cativeiro... Ele não conseguia me alcançar pela falta de feitiçaria em seu ser enquanto Laryana não o conseguia pelo poder do "Lamento da Anulação"... Quando aqui esteve da primeira vez que vós todos combateram dentro deste antro maligno, ele provavelmente conseguiu finalmente detectar minha essência, levando isso à estimada e antiga aliada Lady Betrayal, que buscava por mim tanto quanto eles, haviam muitas luas… Eis então que toda a operação tomou forma e aqui, estou eu livre uma vez mais graças a vós, aventureiros de coração livre…”

O dragão agora em forma humana se curva de maneira respeitosa e todos respondem da mesma forma, com exceção de Tharg que apenas balança a cabeça tentando entender porque todos estavam fazendo aquelas poses estranhas aos seus olhos… Quando todos então se olham novamente em pé, Shadrak move os braços, começa a ficar transparente e quando quase já desaparecia quase por completo, deixou suas últimas palavras: “- Conjurem a evocação do “Lamento da Anulação” no artefato e o arremessem de forma certeira ao pé da torre… Ele se encravará na rocha e inutilizará a mesma pelo tempo que o poder de sua magia permitir… Essa será a chance dos três que não possuem sangue de dragão invadirem a mesma e derrubar o necromante… As duas com sangue de dragão nas veias, se aproximarem-se do raio de ação, ficarão sem poderes igualmente… Eu lhes desejo muita sorte, bravos e unidos guerreiros!”

O dragão começa a elevar-se do chão quase que misturando-se com o ar, mas mesmo que sua imagem não fosse mais que uma transparência já, Shadrak percebe Syndra a se observar, considerando em seu íntimo que o dragão havia errado em sua fala, afinal, ela não tinha sangue de dragão nas veias, era uma maga, havia estudado para aprender, não era poderosa como Nissa, mas a voz do ser dracônico ecoou pelo local uma última, e encorajadora vez: “- Acredite em você jovem Syndra… Você não se valoriza como deveria… Seu poder não é fraco como imagina e há muito sobre você que ainda desconhece…”

Shadrak some e o grupo fica atônito diante de tantas revelações… A vinda ao Fosso havia mostrado muito mais do que eles esperavam… Compreenderam que ao invés de derrotados, eles apenas foram confrontados com seus temores, e isso lhes deu a oportunidade de melhoraram naquilo que consideram que falharam, mas muito mais que isso, o benevolente dragão de bronze deixou claro que, eles se completam… Sim, eles são fortes e poderosos individualmente, cada um à sua maneira e com isso podem vencer inimigos poderosos, mas, uma vez unidos, eles podem vencer quase qualquer coisa, esse era o recado final de Shadrak… As palavras do dragão aqueceram a alma de todos e mudaram o clima dentro do grupo, todos pareciam se perdoar e perdoar à quem quer que tivessem acusado pelos acontecimentos…

Uma vez que estavam novamente encorajados, de posse do artefato “Lamento da Anulação”, os aventureiros preparavam-se para iniciar a jornada de volta, e para tanto necessitariam encontrar primeiramente esse caminho de volta… Eles retiram-se de dentro da sala do necromante, não sem antes testar exaustivamente cada parede em busca de mais criaturas aprisionadas, mas não encontrando qualquer vestígio de qualquer caminho ou mesmo energias solicitando ajuda, começaram a buscar pelo lado externo da sala, por alguma passagem que os levasse de volta ao mundo exterior…

Todas as portas dos corredores pelos quais entraram estavam lacradas, tanto física como magicamente, de alguma forma a magia que ainda existia no local era forte e incompreensível, acreditavam os aventureiros, magia dos seres denominados primordiais, aos quais muito do que fora utilizado ali parecia ter provindo… Grund-Tharg e Jhon andavam a esmo pelo local sem nada conseguir encontrar, enquanto Nissa e Syndra esgotavam suas opções mágicas sem nenhum sucesso para encontrar uma saída, quando de repente, Akron novamente salva o dia: “- Pessoal, aqui, encontrei algo, eu creio…”

Todos se aproximam com Jhon e Grund ainda protegendo a retaguarda do grupo, enquanto o tiefling explicava: “- Vejam, temos uma parte dessa estrutura levemente diferente das demais, pode ser apenas uma falha na construção, mas eu duvido muito… Peço um espaço de pelo menos dois metros caso alguma armadilha que eu não tenha detectado dispare…”

Os aventureiros abrem uma espécie de meio círculo e deixam o aliado trabalhar e então, tão logo ele pressionou o local com sua mão direita, ruídos de mecanismos, correntes e engrenagens são ouvidos por detrás da parede e em poucos instantes, uma parte da mesma ergue-se verticalmente, deixando à mostra, degraus que desciam de forma espiral em direção à escuridão completa… Syndra com um gesto faz com que em sequência, todas as tochas arcanas que estavam pelas laterais da descida acendessem, iluminando o caminho que mostrava-se uma escadaria sem mais qualquer adorno ou detalhe na mesma, pura e simplesmente uma escada, descendo para algum lugar…

Grund-Tharg então olha para todos e acena positivamente, empunhando sua maça estrela sagrada, seguindo em direção à escadaria para servir de batedor, quando Akron entra em sua frente e intervém: “- Grund… Podem haver armadilhas… Seu tamanho poderia dispará-las, eu vou à frente testando cada passo…”

Tharg olha muito sério para Akron, como se o analisasse por alguns instantes e também se manifesta:
“- Então eu estarei atrás de ti, e se algo acontecer estarei ali pra te ajudar!”

Akron acena positivamente com um sorriso, ele sinceramente não queria descer aquilo sozinho, mas o faria sem pestanejar pois sabia que de todos ele era quem tinha maior chances de encontrar qualquer mecanismo oculto, porém era fato que saber que o gigante estaria junto dele o deixava mais confiante e seguro... Pelo menos, pensava ele, não morreria solitário sem que ninguém soubesse, caso algo acontecesse, Grund-Tharg pelo menos saberia que ele havia partido… Tão logo os dois iniciaram sua descida, perceberam que Jhon, Nissa e Syndra os seguiam e foi Grund quem contestou: “- Esperem lá em cima, se algo desmoronar, vocês estão fora de risco e levarão à chave para Betrayal!”

Jhon, sem sequer parar de andar, respondeu ao comentário do aliado: “- Somos um grupo, uma equipe, vencemos juntos ou morreremos juntos meu amigo!” As palavras de Jhon reforçaram o que todos já estavam sentindo, um clima novo e poderoso tomava conta da equipe e decididos, sob a orientação e cuidados de Akron, iniciaram a longa descida!

Inicialmente imaginavam seriam apenas alguns metros de degraus, mas a verdade fora bem mais entediante, tornando-se intermináveis horas à descer sem cessar, e não tinham o menor sinal de estarem chegando ao seu final… Exaustos e deslocados com o mesmo ambiente descendo sem parar por tanto tempo, Akron já sequer testava as paredes e escadaria mais , uma vez que havia feito já tantas verificações sem sucesso… A sensação de estarem presos dentro daquele corredor descendente era bastante incômoda à todos e ambos já não tinham mais certeza se realmente estavam avançando ou presos em alguma espécie de labirinto mágico…

Enfim, talvez atendidos por um de seus deuses diante de tantos pedidos para encontrarem um fim aos degraus, o grupo surge diante de uma porta de ferro bastante reforçada e a mudança de cenário “despertou” à todos rapidamente! Akron, Nissa e Syndra novamente sondaram tudo, encontrando nenhuma armadilha assim como em toda a extensa descida… Uma vez que os especialistas atestaram a liberação da porta, Grund e Jhon colocaram as mãos na mesma e a abriram com vigor, revelando finalmente algo que não fosse um corredor, mas amplo e vasto espaço, com um abismo que separava aquela parte de uma espécie de “tigela” de metal gigante ao final… Ela equivalia com certeza ao tamanho de um dragão muito maior do que Shadrak e estava repleta de tesouros, itens, equipamentos, armaduras, armamentos e incontáveis outras coisas que eles sequer saberiam definir exatamente do que se tratavam…

Era algo gigante, um grupo de saqueadores poderia passar anos removendo tesouros dali e talvez nunca fosse concluído o trabalho, pensavam todos e imediatamente Akron lembrou-se de outro detalhe sobre dragões: “- Hã... Gente… Olhando para aquela coisa do outro lado cheio de pilhagens, me surgiu uma questão... Vejam, ainda sobre dragões, eles vivem em covis gigantes onde guardam suas riquezas; esses covis podem ser em montanhas, ruínas, florestas, dentre outros lugares a depender da subcategoria do dragão… Todos são ambiciosos por riquezas, principalmente ouro, e não gostam de abandonar seus tesouros por um período muito longo de tempo. Os dragões metálicos é fato, ao contrário dos cromáticos, têm tendência boa, mas assim como todos os dragões eles gostam de acumular tesouros, a única diferença é que não os roubam ou matam por ele, mas… Já pensaram que isso aqui pode ser o covil de um dragão? E se para piorar um pouco este for um covil de um dragão não metálico, já perceberam a encrenca em qual podemos estar no metendo?”

Antes que qualquer um deles pudesse dizer ou responder algo, um ruído ensurdecedor começou à se manifestar e o que parecia ser apenas uma cacofonia foi ficando mais forte, mais próximo e somente foi compreendido de verdade, quando as primeiras mãos cheias de garras, espadas e machados apareceram da imensidão do fosso que os separava da "tigela gigante" cheia de tesouros... Humanóides reptilianos, tais quais os que enfrentaram na entrada do Fosso durante a batalha anterior, centenas deles escalando e surgindo diante do grupo, avançando como loucos contra os aventureiros, prontos para matar e trucidar qualquer uma à frente deles!

Eis que aquele acontecimento, considerado um problema para a maioria dos aventureiros que por aquela masmorra tenebrosa se aventurasse, foi recebida com uma benção pelo grupo de guerreiros oriundos de WinterLess, principalmente por Grund-Tharg que observando a cena, sacou seu machado de guerra o segurando com as duas mãos, sorria largamente enquanto os seres reptilianos se aproximavam de forma feroz... O grupo todo preparou-se para o combate, mas nenhum deles avançou, nenhum deles iria tirar o tão esperado prazer do aliado selvagem, ninguém ousaria atacar primeiro que ele... O grupo agora se conhecia melhor, se entendia melhor, cada qual tinha suas preferências e metodologias, e eles sabiam que desde que ali chegaram, o bárbaro esperava por poder combater de novo... 

Grund-Tharg ligeiramente baixa seu ângulo de visão focando seus inimigos como se calculasse seus próximos movimentos e então, um urro ensurdecedor era o estopim para a tão esperada ação que o selvagem esperava: "- FINALMENTE RESOLVEREMOS TUDO COMO COMBATENTES!! EM FÚRIAAAAAA!!"

Grund se lançou contra os inimigos, seus olhos brilhavam em intenso vermelho, seus músculos pareciam se tonificar e ficar mais salientes e então a primeira leva de soldados o alcançou, unicamente para receber o primeiro golpe do bárbaro furioso, um ataque com seu machado, de forma lateral, atingindo na altura do abdômen dos répteis, toda a primeira fila de atacantes sem exceção foi atingida, os partindo ao meio com um único golpe, fazendo com que seus pedaços voassem aos ares banhando vários dos que estavam naquele local, inclusive o próprio bárbaro, com um sangue verde e fétido! Alguns dos reptilianos assustaram-se com a selvageria e foram, assim como os que ainda estavam atacando em carga, as próximas vítimas, pois Grund havia, com velocidade e perícia incrível, mudado de tática, segurando agora seu machado com a mão direita e maça estrela era empunhada pela mão esquerda, atacando de forma completa por todos os lados, sua saliva chegava à proliferar para fora de sua boca tamanha a ferocidade com que atacava seus inimigos! Tão grande e poderoso era o estrago que ele estava à fazer na fileira reptiliana, que nenhum dos inimigos ainda havia chegado nos demais aventureiros... Jhon, Akron, Nissa e Syndra detinham um leve sorriso aos lábios, observando o aliado divertir-se com o tão esperado combate e eis que finalmente a horda se tornou em centenas ao redor do selvagem e finalmente os aliados viam espaço para lutar sem interferir na "diversão" de Grund-Tharg!

O grupo então avança, com calma, com confiança, com determinação, cada qual ao seu melhor estilo destroçava os inimigos que chegavam! Nissa implodia e esmagava os inimigos com energias gravitacionais, Syndra os queimava ou congelava com poderes elementais, Akron atacava sem ser sequer visto, diretamente em pontos vitais, um único golpe e o inimigo tombava, enquanto Jhon, buscava geralmente os pescoços e dezenas de cabeças foram vistas voando em meio ao combate! Mas ao centro de tudo, o selvagem enfurecido dizimava à todos como uma máquina de demolição, crânios e tórax esmagados pelos golpes de maça, cabeças, braços, pernas e ventres rasgados e decepados pelos ataques brutais de machado, sem contar os chutes poderosos que arremessavam uns contra os outros e por vezes de volta ao precipício de onde haviam saído! A batalha estava dominada em menos de dois minutos, apenas dezenas restavam e todos eles estavam cercados por um único selvagem... Com velocidade e fúria o gigante desfere golpes quase imparáveis e mais pedaços de corpos e sangue verde jorravam diante de todos, pondo um fim ao combate tão aguardado...

O bárbaro então olha ao seu redor, nada havia restado, somente o silêncio, o cheiro de morte e seu arfar que começava à permitir cessar o frênesi do combate... Sua condição física começou à retornar ao normal, seus olhos novamente voltaram ao aspecto natural que sempre tiveram e tudo que restava agora era observar ao redor, em busca de mais reptilianos... 

O grupo novamente se reagrupa e enquanto Grund parecia se recompor, Akron ia cumprimentá-lo pelo combate e o inesperado acontece... Um terrível rugido se fez ouvir, uma criatura pelo menos três vezes maior que Shadrak surge da parte debaixo do abismo, negro, putrefato, com partes de seus ossos à mostra enquanto pedaços de carne pútrida ficavam penduradas em partes de seu corpo… A criatura abre suas asas e urra ferozmente, observando com olhos vermelhos e assustadores os aventureiros diante da criatura naquele momento… Todos empunham suas armas, preparam suas magias e se preparam para um confronto que provavelmente eles não tem a menor chance de vencer… Suas coragens atingem limites nunca imaginados, suas vidas dependem de superarem o terror e o desafio, eles venceram muitas coisas juntos e agora, uma provação máxima estava diante deles, porém antes de poderem tomar qualquer atitude, antes de poderem sequer se mover para atacar, criatura bafora, era uma mistura de um jato cáustico esverdeado com fedor nauseante, que veio com uma velocidade assustadora em direção ao grupo!

Nissa e Syndra ativam suas defesas mágicas e criam um escudo energético, Akron, Jhon e Tharg se colocam atrás das mesmas tentando dar suporte para que segurassem a rajada e quando o ataque dracônico finalmente venceu a magia e atingiu a todos, uma gigantesca explosão acontece, todos foram arremessados violentamente de encontra à porta que haviam recentemente aberto e sem conseguirem manter sua consciência ativa, desfalecem por completo em questão de segundos, completamente feridos e derrotados…

Tharg foi o primeiro à abrir os olhos… Aos poucos os outros integrantes começaram à recuperar seus sentidos, mas nenhum deles saberia dizer como acordou ou quanto tempo se passou desde o ataque da criatura… Ainda estavam no mesmo local onde caíram e o conteúdo da “tigela gigante” se mantinha no mesmo lugar… Eles estavam vivos apesar de feridos, mas de alguma forma, a criatura havia sumido… Os corpos dos reptilianos que venceram dessa vez ainda estavam ali, a batalha realmente existiu, mas o que aconteceu depois, eles ainda não conseguiam explicar completamente... Talvez o dragão putrefato  tivesse considerado que eles haviam morrido e saiu para realizar algum outro ato, o que fez explodir na mente de todos simultaneamente, que precisavam sair dali o quanto antes, afinal, a criatura poderia voltar à qualquer momento!

O grupo se auxilia, Grund-Tharg coloca Akron sobre as costas e carrega Nissa nos braços, enquanto Jhon traz Syndra em seu colo! Os dois guerreiros usam toda sua força e correm como nunca para aumentar seu impulso e chegar ao outro lado, mas tão logo se lançam, percebem que a distância não seria vencida com um simples pulo, por mais potente que fossem suas condições físicas! Então, quando imaginaram que fossem cair precipício abaixo sem chances de sobrevivência, as energias místicas de Nissa e Syndra os envolvem os fazendo flutuar até o outro lado, onde caíram pesadamente devido o enfraquecimento mais que natural de todos…

Assim que tocaram o chão da “tigela gigante” a mesma estremeceu e começou a elevar-se, não havia para onde fugir, não havia para onde ir, e o teto da caverna se aproximava deles conforme a “tigela” subia… Todos entendem que o fim deles chegou e cada qual reza à sua divindade por uma passagem tranquila quando então a luz se faz presente no exato momento em que iam chocar-se contra o teto da caverna, e o que havia se transformado em terror, mudou para esperança, pois de alguma forma eles atravessam o teto sem qualquer resistência, surgindo dentro de um novo espaço cavernoso de onde olhando pela gigantesca abertura à frente, se podia ver claramente a Floresta Enluarada e o sol em todo seu esplendor à brilhar no amplo espaço diante deles…

Akron e era quem despertava e exclamava ao ver a cena: “- Uma entrada para coleta e armazenamento de riquezas… Tudo que eles roubaram ou se apoderaram, era trazido aqui pelas carroças, vejam as marcas… A plataforma acionada unicamente pelo lado de dentro, subia para receber o carregamento, descendo assim que repleta para se ocultar novamente… Engenhoso é verdade…”

Jhon Raven foi o próximo à falar, ainda bastante ofegante: “- Então, não era um covil... Tão pouco aquilo era um cromático ou metálico… O mistério se intensifica, mas agora, a cidade poderá recolher esse achado, impedindo que eles tenham acesso à formas de custear as crueldades que realizavam dentro desse fosso… Creio que se pedirmos à Wigferth ele poderá…”

Instantaneamente o clérigo surge diante deles, acompanhado de sua consorte Laryana, sem qualquer explicação, exclamando: “- Bom vê-los inteiros meus amigos… Sábia decisão à de vocês em destruir as fontes de barganha desses cultistas… A cidade saberá dar conta dos materiais amaldiçoados, devolver o que puder à seus donos e isolar aquilo que não puder continuar a existir… Eu queria levá-los de volta à cidade para descansarem mas, o local não é adequado neste momento, por isso, Laryana os teleportará daqui para o vilarejo mais próximo, onde aliados estarão esperando para tratar de vocês como se na cidade estivessem… Desculpem novamente a falta de jeito, mas a situação é bastante complicada no momento, desejo-lhes sorte nobres amigos e tenham certeza, estarei sempre que possível junto de vocês!”

Com dois gestos a vulga bruxa faz surgir dezenas de arcanos para teleportar o conteúdo da plataforma para a cidade de WinterLess enquanto ela própria se ocupa de concentrar seus dons e envia magicamente dali… Cansados e feridos, ainda mais exauridos pelo teleporte, o grupo observa estar em um gramado e enxergar uma fumaça ao longe... Também percebem alguém se aproximando deles no local onde caíram, e logo em seguida, todos novamente desfalecem ficando então à mercê da sorte e das circunstâncias que os aguardam…

Galeria de Imagens:

Shadrak - O dragão de bronze

Wigferth - Clérigo de Luthander


Laryana - A bruxa


Soldados Repitlianos


Artefato Methariuse - O Lamento da Anulação

O dragão putrefato que atacou os aventureiros no suposto covil do tesouro:

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Nipo Heroes - Time Dimensional!!

Fala galera, beleza? Estamos adicionando mais uma página ao nosso blog, onde semanalmente (se tudo der certo) estaremos adicionando uma edição do nosso Nipo Heroes - Time Dimensional, o PodCast que fizemos por muito tempo dentro do programa HibikiCast. São muitas horas de bate-papo e boas músicas de Tokusatsu, Animes entre outros tipos de mídia, aumentando assim a quantidade de conteúdo de nosso blog e deixando arquivado e disponível para consulta enquanto nosso blog existir! Espero que curtam as edições e sempre que quiserem deixar seu comentário ou entrar em contato conosco sobre, estaremos à disposição!

Acesse nossa página clicando no banner abaixo, ou no menu lateral, "Nipo Heroes - Time Dimensional"!


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Herança Maldita - Capítulo 1


A noite já ia alto quando o jato comercial Pilatus PC-24 descia na pista de pouso do aeroporto da pequena e isolada cidade de Capurganá, na fronteira norte entre Colômbia e Panamá, perto já das vinte e uma horas daquela noite conturbada… A chuva caía forte e os trovões mantinham os pilotos em constante tensão devido aos riscos que aquele tempo ruim repentino e não previsto representava para todos na pequena aeronave… A minúscula cidade beira-mar, que é também a única fronteira terrestre da América do Sul com a América Central, tem apenas 225km de extensão e é quase toda formada por uma zona considerada das mais inóspitas e impenetráveis do mundo: uma selva tropical chamada Darién.

Com poucos habitantes e quase que totalmente isolada do restante do mundo, este pequeno pedaço do departamento colombiano de Choco, poderia ser ainda mais desconvidativo pois a região, além de pântanos e florestas absolutamente hostis, ainda conta com a presença de grupos paramilitares prontos para atirar em quem se aproximar do lugar errado. É neste local bastante procurado turisticamente, despojada de veículos terrestres uma vez que não existem acessos por terra para a mesma, que um jovem de aproximadamente vinte e seis anos de idade, observa ao pouso receoso dos pilotos, com tranquilidade incomum, enquanto sua mente vaga pelos motivos que o trouxeram até ali…

Enquanto Cessna se aproxima para fazer sua aterrissagem, o jovem relembra em sua mente as últimas noites conturbadas, com vislumbres de massas sombrias o atacando em seu sono, logo que todas aquelas notícias pelo mundo à fora começaram... Duvidando de si próprio mas sendo responsável o suficiente para não ignorar sem ter a certeza, ele mantém sua determinação na importância da vinda até Capurganá, local do último incidente aterrorizante... Ele retira um caderno de anotações de sua veste e começa à folear o mesmo com cuidado, analisando as escritas e anotações feitas por ele mesmo, que davam rumo e suporte para sua missão… Algumas páginas são passadas, ele então fecha o caderno e fica à pensar sobre tudo enquanto olhava o céu à relampejar como se o desafiasse:

“- Já se foram quase dois anos… Comecei à investigar esses acontecimentos por acaso, mas os relatos desses ataques e os sonhos surgirem quase que simultaneamente… Era impossível deixar isso passar depois de tanta coisa que vivemos… Eu não posso simplesmente ignorar isso tudo como já fiz em boa parte de minha vida… Se os relatos estão surgindo um após o outro, é fato que algo está acontecendo, e eu preciso comprovar com meus próprios olhos que estou errado…”

O jovem abre novamente seu caderno, folheia novamente e alguns recortes de jornais aparecem anexados às folhas do mesmo…

“Na Colômbia, criança é dilacerada por criatura aérea nefasta diante dos avós - Polícia nega os fatos e alega que predadores da floresta de Darien teriam atacado o menino devido ao mesmo ter entrado na mata fechada!”

“Homem é erguido até o céu e comido vivo por criatura com asas de envergadura de quase doze metros de ponta à ponta - Moradores do local chamado Capurganá na fronteira com o Panamá alegam se tratar de um demônio voador!”

“Animais desaparecem constantemente das propriedades, proprietários mencionam o bater de asas muito fortes antes do desaparecimento dos animais! Ufólogos acreditam em abdução, mas populares alegam se tratar da figura do folclore local “El Silbón”, uma lenda local da região conhecida como Floresta de Darien na selva Colombiana!”

“Grupo de jovens é atacado na floresta de Darien e um deles foi decapitado - Polícia defende tese de briga entre os jovens que estavam embriagados mas continua investigações!”

O jovem fecha novamente seu caderno uma vez que o avião concluía a aterrissagem enquanto remoía as manchetes lidas, notícias essas que traziam outras tantas que ele havia coletado durante vários meses à ponto de fazê-lo acreditar que realmente algo sinistro estava acontecendo naquele local… Em sua mente, enquanto os pilotos realizavam os procedimentos finais para que todos desembarcassem, ele pondera em pensamento:

“- Vai ser difícil obter informações, o local é muito isolado e pequeno, ao começar à fazer perguntas, irei atrair atenção desnecessária para o trabalho em questão… De qualquer forma eu preciso averiguar, eu preciso ter a certeza de que estes relatos realmente não passam de boatos associados à crendices locais e somente então eu poderei seguir minhas pesquisas com tranquilidade sem me sentir culpado por tudo... No entanto… Algo em meu íntimo me diz o contrário e tenho certeza que é “você” quem está me trazendo aqui…”

O jovem desce do avião e atravessa o pequeno aeroporto indo em direção à uma pousada bem próxima do local, sendo bem recebido uma vez que turistas são comuns (assim como principal fonte de renda) por ali. Logo ele estava em seu quarto, bastante rústico e simples era verdade mas, de roupas de cama simples e asseadas, um espaço de pouco mais de quatro metros sem contar ao banheiro era todo seu aposento, com um cama, uma escrivaninha e um frigobar ao canto… Ele solta seu material sobre a cama para tomar um banho e tão logo terminou, o jovem sentou-se em sua cama,  puxando papéis que trazia consigo, os analisando com calma como se buscasse por algo novo, e realmente era isso que ele tentava encontrar... Uma nova pista, um novo rumo, uma explicação plausível... O jovem analisa então os nomes das pessoas que relataram avistamentos, onde começa a definir, escrevendo em sua agenda, uma ordem das coisas que faria no dia seguinte… Com a chuva que caía lá fora, seria impossível olhar o local agora e sem um “norte” para se guiar, seria imprudência investigar às cegas em um país muito diferente do seu... Isso que sequer ele havia considerado a quantidade de florestas e capacidades de emboscadas em tal ambiente inóspito…

Confuso e bastante inquieto com a possibilidade de suas suspeitas terem sentido, o jovem apanha seu laptop e colocando sobre a escrivaninha, começa à pesquisar as lendas locais para encontrar o que mais se assemelha ao que ele busca e como ele já esperava, como aconteceu nos demais casos, os nomes citados por aqueles que viram ou comentavam sobre os ataques, batiam sempre com as lendas locais, mas o modus operandi nunca era o da lenda, e sempre apresentava a mesma brutalidade de todos os relatos… Carnificinas… Decapitações… Alimentar-se das vítimas… Agressividade e ataques sem sentido algum, como fome ou defesa…

Preocupado com o que concatenava, ele aciona um comunicador muito tecnologicamente avançado em seu pulso, abrindo uma linha de comunicação desconhecida para qualquer um que o observasse naquele momento, quando um homem já aparentando meia idade o recebe do outro lado com um sorriso… “- Estava preocupado sem notícias suas… Como está indo sua investigação?”

O jovem meneia a cabeça negativamente, explicando: “- As pessoas que viram ou comentaram sobre todos os casos que tivemos conhecimento, referem-se sempre a criaturas de seu conhecimento local como Slenderman, Lobisomens, Chupa-Cabra, Yokais conforme a parte do planeta em que aconteceu… Aqui em Capurganá eles se referem ao mesmo tipo de ataque que já vimos nos outros casos, mas o responsável segundo os sobreviventes é chamado de “El Silbón”! Segundo a lenda, quando jovem este homem foi amaldiçoado pela mãe e o avô por ter matado seu pai a sangue frio, e como punição, tem de carregar os ossos do pai em um saco para todo sempre vagando entre o mundo dos vivos e dos mortos… Assim, enquanto paga sua punição, ele ataca bêbados e sexualmente pervertidos, em alguns casos arranca seus ossos e os carrega consigo dentro do saco, mas nunca sequer houve uma única vítima documentada do tal El Silbón… Já os relatos que temos recebido falam sobre vítimas reais, com cadáveres ou restos deles encontradas nas localidades… Consegue compreender a variável preocupante?”

No comunicador, o homem faz acenos positivos com a cabeça, como se concordasse preocupado com tudo e complementa: “- Sim… O tipo de ataque e de ferimentos brutais são os mesmos em qualquer lugar, mas as pessoas do local, sem saber como se referir ao terror, buscam em seus folclores alguma criatura maligna o suficiente para tal ato e atribuem à esse ser, mesmo que ele nunca tenha feito algo assim em nenhum relato contado…”

O jovem concorda, demonstrando que aquilo era importante de ser observado e então continua: “- Algo único está atacando em diversas partes do mundo… Ou podem ser vários, mas é fato que se trata de algo que provém pelo menos da mesma fonte digamos assim, e diferente das lendas, não são personagens folclóricos cumprindo suas narrativas... Alguma criatura está realmente matando pessoas e sem saber à quem culpar, os personagens míticos das lendas de cada lugar estão levando a culpa…”

O homem de meia idade ao ouvir aquelas palavras, questiona, com tranquilidade: “- Sua preocupação, além das pessoas, é que as criaturas míticas possam levar a culpa por isso?” O jovem prontamente meneia à cabeça em negativa, definindo seu ponto de vista: “- Meu temor é que quem está atacando e matando essas pessoas seja algo que deixamos escapar…”

Os dois ficam à se observar em tom de seriedade e então a conversa seguiu por mais alguns minutos com o jovem pedindo algumas pesquisas e cruzamento de informações para que ele pudesse analisar tudo melhor e finalmente recostou-se em sua cama, adormecendo profundamente em um sono bastante conturbado… Em sua mente repousante, escuridão chovia dos céus aterrorizantes por toda a volta, tomando as mais diversas formas bizarras e atacando à esmo… De alguma forma, quando se aproximavam dele, elas recuavam e tentavam novo ataque, e assim se mantiveram por várias horas com tais acontecimentos em mente, até que a manhã finalmente raiou…

O jovem desce cedo ao piso principal da pousada, pede algumas informações aos atendentes do lugar e logo, pegando uma maçã parte para fora, com uma mochila nas costas e duas garrafas de água como recurso ao calor intenso do local… Ele começa a caminhar pela pequena cidade e vai inteirando-se do local, criando um mini mapa em sua mente e começando a tentar visitar as pessoas que relataram ataques… Como era de se prever, todos à quem o jovem procurou se negaram a falar enquanto que em algumas das esquinas pelas quais passava, via oficiais de polícia acompanhando seu deslocamento durante a manhã inteira pela qual andou por Capurganá…

O investigador resolve chegar em comércios, bares, muito pouco se obteve, no máximo a maioria concorda que ouviram falar algo mas que creem ser apenas boatos para chamar a atenção para a cidade e trazer mais turistas… No entanto, se notava o medo nas pessoas, o sorriso nervoso, aquela sensação ambígua de “eu prefiro acreditar que é tudo mentira” e “não devo comentar nada senão vai sobrar pra mim”... Era visível essa expressão em cada frase dita ou em cada resposta obtida… Chegando à praia, era fácil também observar pessoas de visível poder financeiro se divertindo, a beleza do local era realmente exuberante e a vontade de crer que um lugar tão belo não comportaria tal terror era mais que bem-vinda, mas a mente do jovem investigador lhe dizia o contrário e insatisfeito com o que conseguiu até então, ele volta a andar pela cidade e desta vez dirige-se aos locais mais pobres da cidade…

Ruelas e casebres se estendiam por centenas de metros mato à dentro, uma boa parte dessas casas quase adentravam a selva no contraste de organização e recursos para a parte de praias e areias brancas frequentada pelos turistas... Um mundo à parte da Capurganá se mostrava diante do investigador, com cuidados e investimentos que iam na direção contrária de tudo que desfrutavam aqueles que lucravam com o turismo do local... A proximidade da vila com a floresta de Dárien, denotava um risco terrível ainda que não houvesse uma criatura medonha matando seres humanos e ainda assim, centenas de pessoas de todas as idades viviam ali… O jovem tenta conversar com os moradores, poucos se dispõe à falar, mas daqueles que conseguiu alguma informação, todos mencionavam El Silbón como o assassino, o homem que matou o pai e agora vaga como um monstro, carregando os ossos do genitor e arrancando de outros infelizes que surgem à sua frente… O povo humilde e pouco esclarecido daquele bairro pobre, realmente acreditava com todas as suas forças na lenda e todos temiam ser a próxima vítima, outros em alguns casos já se haviam sofrido tanto que conformavam-se com o provável destino que todos teriam… Uma das senhoras que se dispôs à falar, chorando e com revolta nas palavras exclamou:

“- O animal saiu da selva... Era grande, asas enormes, um pescoço que parecia sem fim… Voava baixo e quando nos demos conta, meu pequeno Uri já estava chorando em desespero, desaparecendo na garganta do monstro logo em seguida... El Silbón se converteu em um monstro, e levou meu querido neto… A polícia, o prefeito, ninguém fez nada... Qualquer um de nós poderá ser o próximo alvo de El Silbón…”

O jovem baixa a cabeça em respeito ao luto da pobre avó e nada podia fazer ou dizer que fosse minimizar sua dor… Os vizinhos aproximam-se, acodem a idosa em prantos e à conduzem para dentro de casa enquanto um outro senhor se aproximava, com voz humilde e respeitosa se dirigindo ao jovem:

“- Não somos uma prioridade para a cidade meu jovem… Somos apenas aquilo do qual a cidade não consegue se livrar, por isso não teremos ajuda, na verdade… Creio que esperam que El Silbón faça o trabalho por eles... Em breve algum de nós será a próxima vítima de El Silbón, então… Se puder não fazer mais perguntas, eu o agradeceria pois, ficar remexendo feridas tão dolorosas e incuráveis não é bem-vindo nesse instante… Se o senhor puder me compreender, eu agradeceria…”

Novamente o jovem se contorce em dor com as palavras, faz uma respeitosa reverência e vira-se saindo do local, com o coração pesado pela dor e perda daquelas pessoas desassistidas… O trajeto era curto, ele havia caminhado algo em torno de dez minutos e já estava quase ao centro da cidade turística, quando um grito de terror, vindo da rua da qual ele saiu cortou a noite alta, o fazendo voltar em velocidade extrema em direção ao local, mas ao chegar no mesmo, nada mais podia ser feito… Uma poça de sangue estava ao chão, os vizinhos choravam e gritavam enquanto uma sombra gigante desaparecia na noite trevosa e pedaços do corpo da senhora que havia acabado de falar com ele, chorando por seu neto perdido, estavam espalhados pela rua... Agora não eram mais parte da avó em luto, mas sim, restos da alimentação de um monstro… A cena era forte até mesmo para o jovem que tanto havia visto na vida já… O velho homem com quem havia conversado pede que ele vá embora, e assim ele obedece, ciente de nada que ele tivesse para oferecer seria útil naquele momento…

O jovem então com certa fúria o alimentando, mas também tomado pelo pesar e pela dor de nada ter feito pela senhora, perambula pelas vielas sujas e abandonadas enquanto o povo se ocultava e espreitava pelas frestas, todos em pânico, não só pelos ataques mas por saberem que estavam largados a própria sorte por aqueles que deveriam protegê-los… Na mente do jovem, fortes determinações se instauravam, ele cuidaria deles, ele patrulharia a noite toda e não deixaria mais ninguém morrer e, por um bom pedaço da noite até quase o sol raiar ele se manteve firme em seu propósito, embora não obtivesse sequer mais qualquer vislumbre da criatura aterradora… A sensação de fracasso era gigante e ele não conseguia compactuar com aquilo, não conseguia digerir o que ele considerava mais uma culpa sua… O sol raiou, o jovem chegou de volta à sua pousada, não tinha palavras para descrever a angústia que sentia.. O povo estava sofrendo, sendo assassinado e parecia que as autoridades preferiam não se manifestar nem permitir que o fizessem… Aquilo precisava mudar e ele iria resolver isso, custasse o que custasse… Exausto, ele tomou um banho e se jogou sobre a cama simples, adormecendo rapidamente e uma vez mais os sonhos estranhos com sombras o atacando de diversas maneiras permeava seu curto descanso…

Era próximo das doze horas quando o jovem finalmente despertou, sentindo o amargor de que, tudo que vira na noite passada não era um pesadelo e sim uma triste realidade… Com o peso da responsabilidade que ele se atribuía nas costas, vestiu-se e apanhou seu material de anotações, descendo novamente paras ruas, sempre vigiado de perto pelos policiais… Sem qualquer preocupação com os mesmos, ele senta-se à sombra de uma árvore na praça central revisando tudo e adicionando novas referências, até que uma criança, um pequeno garoto de não mais que nove anos chegou até ele… O jovem observou a criança, bastante magro e sujo, considerando que deveria ser alguém da parte pobre ou talvez, algum morador de rua... Instintivamente o investigador retira uma maçã da mochila oferecendo à ele: “- Está com fome?” O garoto o observa por alguns instantes e então escorrem lágrimas de seus olhos, enquanto o investigador se abaixa próximo a ele, questionando o que o fazia chorar, ao passo que o menino, após limpar as lágrimas comenta: “- O senhor é o tio que veio caçar o El Silbón? Ele matou minha mãe e eu não consigo vingar ela tio… Já procurei ele pela floresta, eu chamo ele mas ele não aparece… Você vai me ajudar a vingar minha mãezinha tio?”

O jovem então se compadece da situação e convida o pequeno a sentar-se com ele no banco da praça, pedindo que ele lhe contasse o que havia acontecido: “- Já fazem vinte dias tio... Ele não parece o El Silbón… Ele tem asas, um pescoço fino e horrível, sua cabeça é quase pontuda e ele caminha de um jeito assustador… As asas se misturam com as mãos e pés e seu grito faz o sangue da gente gelar… Minha mãe estava saindo comigo da faxina que ela estava fazendo, a gente tava quase chegando em casa então eu ouvi aquele grito assustador... Quando viramos ele vinha quase correndo em nossa direção… Minha mãe me empurrou para longe e ele à pegou… Segurou com as asas e a partiu em duas tio… Eu vi minha mãe morrer na minha frente tio, o sangue da minha mãe caiu em mi, e eu não pude fazer nada... Eu não consigo mais viver se não matar El Silbón tio… A polícia não quer caçá-lo e não deixa a gente pedir ajuda… O senhor vai me ajudar tio?”

Nisso um dos policiais que observava a cena desde antes, atravessa a rua não sem que o jovem o percebesse e ao se aproxima com olhar sério, sentencia: “- Não devia mentir para os visitantes Miguel, sua mãe morreu tem muitos anos e você vive contando essa mentira pra ganhar a confiança das pessoas e assim receber esmolas, refeições entre outros agrados… Eu já falei à você que isso é muito feio e sua mãe o iria reprovar se viva estivesse…” O menino se revolta, cospe em direção ao guarda e sai correndo, com lágrimas aos olhos… O jovem tenta deter o menino, mas o policial o interrompe e diz em troca: “- Venha comigo até a delegacia, se quer as informações verdadeiras sobre tudo, eu as tenho…”

O pequeno Miguel já havia desaparecido rua acima, restando ao jovem seguir o policial até a central, poucas quadras a frente de onde estavam, onde, assim que adentraram, foi convidado à sentar… Fora trazido dois copos com gelo e uísque, mas o jovem recusou a mesma… O homem da polícia então bebeu seu copo e se recostando para trás enquanto mais cinco policiais observavam a cena, iniciou: “- Veja… Não existem os tais ataques de El Silbón, ou qualquer outra criatura… As pessoas inventam coisas para chamar a atenção, a floresta de Darién inspira essas coisas e eles aumentam, modificam e iniciam essas situações… Somos uma cidade turística, muito conceituada, não queremos esse tipo de confusão aqui ou outros como você tentando contar uma história que não acontece…”

O jovem então franze o cenho como se discordasse completamente questionando: “- Mas as notícias no jornal, as pessoas encontradas mortas brutalmente, o próprio Miguel… A senhora que foi levada ontem diante de meus olhos na periferia... Tudo isso é inventando, senhor…” De pronto o anfitrião que ao que tudo indicava era o chefe ali, desfaz a postura escorada na cadeira para ficar próximo ao jovem, com ar de quem tentava intimidar: “- Gonzalez… Chefe de polícia Gonzalez.. E sim, tudo é invenção, de pessoas como você que vem aqui cavar histórias que não existem e tentar alavancar suas vendas de jornais e revistas às custas do sacrifício do ganha-pão de outros, tudo para se tornarem famosos… Não queremos isso por aqui e se eu o pegar de novo, incomodando os habitantes ou visitantes com esse assunto, você será expulso de nossa cidade… Fui bem claro senhor?”

Foi a vez do jovem sair do encosto da cadeira, aproximando-se do policial respondendo à ameaça com olhar sereno mas determinado e que poderia julgar o policial, de alguma forma, aquele olhar era ameaçador mesmo que ele não pudesse entender como: “- O mundo é bem mais amplo do que o senhor imagina Chefe Gonzalez, caso aqui não seja assim, informo que agir acima da lei contra alguém, sem uma acusação formal, baseada em provas, caracteriza abuso de poder… Tudo que conversamos está gravado neste dispositivo para não haver dúvidas…” O jovem ergue o pulso mostrando ao oficial o avançado comunicador em seu pulso, continuando logo em seguida: “- Importante também o senhor ter a noção, de que não sou um morador humilde de sua cidade, tenho respaldo para estar onde estou… Com um telefonema posso encher esta cidade de todo e qualquer tipo de autoridade e investigador, portanto, se tiver algo concreto contra mim, veja se tem sorte e tente me expulsar, até lá, mantenha-se longe de mim e do pequeno Miguel, chefe Gonzalez… Espero ter sido claro com o senhor também!”

O jovem investigador ergue-se saindo da delegacia deixando os demais policiais atônitos enquanto o chefe se remoía em sua incapacidade de contrariar as palavras do jovem que acabava de afrontar-lhe… Sem opções ou recursos, sem saber quem era de verdade o jovem e o que de fato ele poderia vir a fazer, Gonzalez nada pode fazer enquanto o investigador retornava à pousada! Enquanto caminhava, o jovem investigador mantinha a expectativa de ter recebido os retornos que pediu na noite passada e enquanto isso, ao longe, o pequeno Miguel o observava, assim como a força policial, por menor contingente que possuísse, sob ordens de Gonzalez, continuava à vigiá-lo ao longe, acreditando não ser notada pelo mesmo…

O jovem investigador adentra seu quarto, o notebook o aguardava sobre a mesa e uma mensagem insistente no canto inferior direito se manifestava no equipamento, solicitando sua atenção! O acontecimento pareceu agradar ao rapaz que prontamente clicou no mesmo fazendo um aceno de cabeça como se suas ansiedades tivessem sido atingidas… Novamente ele desce até o primeiro piso, compra alguns sanduíches e refrigerantes, voltando ao seu quarto onde decorreu a tarde toda analisando tudo que lhe fora enviado, respostas ao pedido que fez anteriormente ao homem de meia-idade no comunicador…

Relatos, informações, locais, datas, horários, circunstâncias… Fichas de vítimas, modus operandi, de pessoas relacionadas e testemunhas… O jovem foi inserindo todas aquelas variáveis em seu laptop, analisando cada um com cuidado, assim como conferindo os resultados e variantes para tentar encontrar uma pista, algo que explicasse de forma coerente, o que vinha acontecendo pelo mundo à fora… Tinha que existir uma explicação, fosse ela plausível ou fantástica, mas não havia a menor possibilidade de tudo isso começar a acontecer logo depois de tudo que ele testemunhou e participou… Aqueles ataques estavam de alguma forma interligados em algum sentido, e ele iria descobrir isso ou não teria mais paz em sua consciência… Aliado há tudo isso, o rapaz ainda busca em seu data-base pessoal informações de moradores conhecidos da região, cruzando informações e tentando assim, comprovar a tese que ele sustenta ser a verdadeira, em uma busca insana por acalmar seu interior com relação aos acontecimentos...

As horas transcorreram mais rápido do que ele queria, já se aproximavam das dezenove horas quando o jovem aciona um sistema de gravação em seu laptop e começa a fazer seu resumo de tudo que havia organizado, para posterior arquivo ou análise… "- Os ataques aconteceram em número de doze até agora… Eles estão espalhados pelo mundo, não existem mais de um monstro atacando em cada lugar até o momento… As vítimas, nada tem em comum, nenhum traço em suas fichas ou vidas os mostra com alguma similaridade maior que vinte por cento, ou seja, não há um padrão para as vítimas… Lugar errado, hora errado, simples e puramente até então… Os ataques não apresentam repetição em suas ações exceto brutalidade e ausência de qualquer padrão em cada uma delas… Também não há repetição entre a aparência física das criaturas, já foram mencionados lobos, serpentes, lagartos, criaturas aéreas e terrestres, não existe um padrão entre suas formas além da cor de trevas e a espécie de névoa obscura que liberam enquanto agem... Já as vítimas geralmente são dilaceradas, algumas tem apenas pedaços de carne arrancadas, outras quase ficaram somente restos de ossos… Algumas tem membros ou partes do corpo faltando, outros apenas ataques fatais como pescoço ou abdômen… Os ataques em geral acontecem de noite e seja qual for dos atacantes não tem qualquer preocupação em ser visto, como se não ponderasse entre ações e consequências delas… De todos os ataques, apenas três até agora tiveram a criatura abatida e aqui, entram alguns relatos estranhos… São poucos que foram coletados logo após os ocorridos e depois, mesmo procurados outra vez, quem fez tais descrições passou a negá-los como se nunca os tivesse feito e evitam falar do assunto novamente… Essas poucas pessoas em suas declarações iniciais e agora negadas, alegaram que os seres, após abatidos, se desfizeram em uma densa nuvem escura desaparecendo nos céus e que no lugar do monstro, ficou o cadáver de um ser humano…”

O jovem para por um instante sua gravação, salva o vídeo e o envia para armazenamento, tomando um gole de refrigerante e ligando novamente o dispositivo para concluir seu registro: “- As pessoas que narraram esta situação, deram nome às pessoas que ficaram no local do monstro abatido, nomes que depois não foram mais mencionados mas que através do nosso sistema consegui localizar… Essas pessoas realmente estão desaparecidas, ou não foram encontradas nos locais onde deveriam morar, ou seja, não existe uma história inventada ou alucinação coletiva, pessoas dos locais onde houveram ataques sumiram e, algumas delas estavam mortas no local onde deveria haver uma criatura abatida… Suas mortes foram de ferimentos idênticos ao que as criaturas sofreram… E um último ponto e talvez a única coincidência comprovada nesse caos todo… Todos os três mencionados como hospedeiro das criaturas, tinham extensa atividade maldosa em suas vidas… Sequestros, assassinatos, assaltos, agressão, corrupção entre outros…”

O jovem então pensa por alguns segundos, sua expressão demonstrava sua preocupação com tudo, mas acima disso, demonstrava sentir-se culpado pelo que estava acontecendo… Determinado, ele olha novamente para o laptop e conclui sua mensagem: “- Minha teoria é de que pessoas com afinidade com o mal foram envolvidos por aquela escuridão e deram vazão aos monstros que existem dentro deles… Essas criaturas atacam à noite fazendo vítimas unicamente para diversão ou alimento… Esta noite eu irei caçar esta criatura e irei confirmar se tudo que estou cogitando aqui é verdade… Existe uma criança nessa cidade que está fazendo isso sozinho e eu irei impedir que ele se torne uma nova vítima… Se eu por ventura não voltar pai, saiba que nossa missão está incompleta e devemos agir novamente!”

O jovem de traços orientais encerra a gravação e envia os arquivos para seu sistema de backup fechando então o laptop… A noite seria longa, ele pretendia não voltar dela de mãos vazias… Recostando-se na cama ele cerra os olhos buscando um sono reparador para se preparar para a ação da noite e em seu íntimo, nesta noite ele ficaria finalmente cara a cara com o que quer que fosse que estava possuindo pessoas pelo mundo, e entenderia se ele era o responsável ou não por tudo aquilo!

A noite chega, a umidade da chuva que havia caído durante a tarde unida ao calor dos últimos raios de sol criou uma névoa densa na cidade que parecia anunciar as tragédias que viriam naquela noite fatídica… O jovem desce as escadas e começa à caminhar pelas ruas da cidade, buscando locais que naturalmente ficariam mais escuros ou menos movimentados naquele momento… Pela lógica que traçou, a criatura não tem receio às multidões, seus ataques acontecem em locais inesperados e de maior facilidade de resultado positivo, o que significa que ele não escolhe um local, ele simplesmente ataca o que estiver à disposição, agindo como um predador, retornando logo às sombras… "- Na praia, seria difícil chegar e sair sem receber qualquer tipo de ataque então creio que ele vai em busca de pessoas desavisadas pelas sombras mesmo como fez com todos os outros... Hoje, você será caçado monstro maldito..."

Observando o soldado da polícia que o acompanhava ao longe, mesmo que o soldado não percebesse estar sendo notado, o jovem dobra à esquerda na próxima rua e, longe da visão de todos executa um salto poderoso, subindo algo em torno de quatro metros com um único impulso, pousando perfeitamente sobre um telhado, onde deitou-se sobre o mesmo e ficou a observar a reação do soldado na rua abaixo… O pobre policial fica pasmo, corre para um lado, corre para outro, não sabia o que pensar da situação indo em direção à outra esquina buscando por alguma resposta… Sorridente, o jovem se ergue e começa à deslocar-se por sobre as casas de forma sutil e silenciosa, avançando longe de olhos curiosos até o ponto que julgou mais promissor para iniciar sua caça… Com um novo salto perfeito, assim que chegou à última casa antes da praça onde sentou-se antes com o pequeno Miguel, o jovem pousa ao chão, correndo para ocultar-se nas sombras e aguardar por algum sinal da presença da criatura…

O denso nevoeiro dificultava a visão, mas todos os seus sentidos estavam direcionados para, ao menor sinal de algo errado perceber tal acontecimento, porém o que primeiro surgiu à sua, fora o pequeno Miguel, avançando pela praça sozinho, indo em direção ao lado mais escuro da mesma que quase misturava-se com a selva poderosa que seguia metros adiante… O jovem investigador fez menção em seguir a criança rapidamente mas pressente o deslocamento de ar poderoso, algo vinha de encontro ao garoto e tudo que ele visou naquele instante, foi a segurança do pequeno! Com um movimento vertiginoso e preciso, o jovem se lança, apanhando o garoto no momento exato em que golpes de garras deixam de acertar Miguel e atingem suas próprias costas, abrindo ferimentos superficiais na mesma…

Com um rolamento ele consegue proteger o garoto entre seus braços enquanto se põe para fora da praça, automaticamente ficando na entrada da selva, um local mais perigoso ainda era fato, mas era a ação única possível para tirar o pequeno da linha de ataque. O jovem olha nos olhos do garoto, acreditando o mesmo estar em pânico, mas a reação foi totalmente inesperada… Com a força que tinha, o garoto se livra dos braços de seu salvador e grita furioso: “- Você não acreditou em mim tio… Ninguém acredita… Mas agora eu sei onde aquele bicho está, ele voou pra dentro da mata e eu vou vingar minha mãe com isso aqui!”

Uma barra de ferro enferrujada é ostentada pelo menino em suas mãos, que correndo adentra a mata antes que o  jovem investigador pudesse detê-lo, surpreso ainda com a reação apresentada pela criança! Observando rapidamente ao seu redor em busca do próximo ataque, o jovem sentia suas costas arder, o ferimento embora não fosse fatal havia machucado bastante, mas agora salvar a vida do pequeno Miguel era tudo para o jovem tinha em mente, embora soubesse que precisava ser cauteloso para estar vivo até poder confrontar a criatura, não poderia ser pego desprevenido de novo ou ele morreria antes de salvar o pequeno Miguel!

O jovem ganha a mata correndo, o pequeno Miguel era rápido, por vezes aparecia metros à frente correndo e então desaparecia de novo, era difícil guiar-se pelo local, mas devido seu tamanho reduzido, Miguel tinha mais vantagens e avançava ganhando distância entre eles! Súbito, um bater de asas, o breu completo à frente enquanto o jovem corria e eis que se houve o grito furioso do pequeno Miguel, indicando claramente que este havia se lançando em ataque como prometeu há pouco… Enquanto corria, o jovem investigador levemente olha para trás e grita: “- Se tem amor à sua vida retorne policial… Não creio que possa enfrentar o que nos aguarda a frente… Salve sua vida…”

O policial que embora surpreso ao descobrir que quem ele perseguia havia notado sua presença, não estava disposto à enfrentar a fúria do chefe de polícia Gonzales novamente caso ele deixasse o estrangeiro desaparecer de novo, e por isso, embora completamente aterrorizado, ele seguia atrás do salvador do menino como podia, esforçando-se para não perdê-lo de vista em nenhum momento…

A dupla então, com o jovem pouco mais à frente apenas, corre como nunca mas infelizmente chegam há tempo apenas de ver o trágico final… Uma criatura idêntica ao ser chamado quetzalcoatlus que viveu há oitenta e quatro milhões de anos atrás, porém de garras bem mais avantajadas e feito com se de uma matéria sombria, ostentava o corpo do pequeno garoto em suas duas garras ainda em pânico, cabeça e ombros na mão direita, pernas na mão esquerda, como se tivesse aguardado o jovem investigador chegar para seu cenário bizarro… O monstro guincha e dispara uma rajada de líquido negro e pegajoso na direção do policial enquanto o oriental se arremete contra ele tentando tirá-lo da linha de ataque, sendo então que ele próprio é banhado pelo líquido e rapidamente sua musculatura começa a se enrijecer e travar impedindo que ele faça qualquer movimento, por mais que forçasse seu corpo…

Na sequência, como se satisfeito com o resultado, o monstro então força as mãos em sentido contrário e, em uma cena macabra, rasga o corpo do pequeno Miguel ao meio diante dos olhos atônitos do investigador e do policial, causando sobre ele mesmo uma chuva torrencial de sangue oriundas das metades separadas da pequena vítima... Com vagar o monstro engole na sequência, de uma só vez a metade do corpo que repousava em sua garra direita, arremessando fora a outra parte, deixando toda a cena ainda mais tenebrosa do que já estava sendo…

Colocando seus braços que também eram asas de modo horrendo no chão, a criatura avançava em direção a eles lentamente enquanto que algo estranho começou a acontecer com o jovem investigador… Alheio a tudo aquilo, o policial Fernandez saca sua pistola e atira até descarregar sua munição completamente, mas parecia que a criatura se tornava gás no momento dos disparos ficando apenas seus olhos vermelhos à se manterem firmes em meio a escuridão… Uma vez mais o jovem investigador, dessa vez como se estivesse controlando algo dentro de si, pede: “- Fuja… Agora… Salve sua vida…”

O oficial tenta fugir aterrorizado com tudo que viu mas quando se vira de costas para sair em disparada, foi como se fosse atingido por um aríete, que na verdade eram as garras do monstro, cruzando as distâncias entre os dois, encravando-se exatamente sobre a medula espinhal da nova vítima., que bradando por socorro em sua agonia, foi perdendo as forças à cada nova tentativa de falar… Bastou um esforço mínimo para que uma boa parte da coluna vertebral e seus sistemas nervosos saíssem junto com a garra recolhida de dentro do corpo de Fernandez, deixando o cadáver ensanguentado do policial ao chão, em espasmos já não mais sentidos pelo jovem oficial de polícia…

O “reinado” da criatura parecia absoluto visto que devido ao veneno da saliva arremessada sobre o jovem investigador o monstro considerava que teria sua terceira vítima, porém um urro abafado de esforço começou a emanar, uma evaporação começou pelo corpo do jovem e logo em seguida, com o aumentar do urro que começava à se tornar abrangente pela floresta, os olhos do mesmo fendem-se como de um réptil e uma explosão de terra, fogo e calor acontece, impedindo que o monstro conseguisse ver o que estava a acontecer… A próxima sensação da criatura foi seu abdômen sendo atingido violentamente para logo em seguida ser jogado contra as árvores próximas pelo ataque inesperado e brutal…

Diante do monstro, a imagem do jovem investigador novamente surge, dessa vez envolto por uma mescla de coisas que pareciam os elementos do planeta, era como se terra, água, fogo, ar, relâmpagos e luz o rodeassem de uma forma inexplicável, ao passo que ao mesmo tempo e sem qualquer aviso, um grande vento invadiu o local, sendo o monstro arrebatado contra as árvores locais ficando imóvel, tamanha era a pressão exercida sobre ele! Em meio aquele poderoso tufão, apenas o jovem, envolto por essa grande energia, se mantinha de pé... O oriental enfurecido cruza os braços ao peito, os abrindo logo em seguida de forma vigorosa como se recebesse algo que se direcionava à ele como uma feixe de luz, emergindo então da escuridão como um poderoso clarão vermelho de energia...

Assim que os ventos cessaram, o monstro não mais poderia reconhecer o jovem à sua frente, pois agora, trajando uma vestimenta vermelha com protetores metálicos, ele deixava de ser apenas um ser qualquer para se tornar aquele que finalmente o enfrentaria em uma batalha mortal… Caminhando lenta e ameaçadoramente, o agora guerreiro aponta o dedo para o monstro sentenciando: “- Matar pessoas por diversão... Afrontar suas vidas, causar-lhes medo... Tudo para sentir essa falsa alegria que corrompe sua permissão à ser considerado digno de viver entre os humanos... Eu agora sou a linha de frente de defesa destas pessoas, não vou permitir que continue a viver depois do que fez! Pelas pessoas abandonadas pelo governo egoísta e corrupto desta cidade que permitiu tal atrocidade, eu irei te destruir pedaço por pedaço, MALDITO!!”

Como um míssil, o guerreiro vermelho avança em fúria executando um pequeno impulso para colocá-lo na altura de seu alvo em pleno deslocamento e então o ataque se inicia… O punho direito do jovem se choca contra o peito gigante do monstro sombrio, fraturando diversas de suas costelas em um único ataque o arremetendo para trás com brutalidade por entre a selva densa, pousando o guerreiro ao chão com destreza incrível, olhando novamente para a criatura, tendo deixado explícito que sua ação estava apenas se iniciando….

“– Irracional ou não, controlado ou não, essa matança termina agora… Eu vou vingar Miguel… Sua mãe… E todos os outros... PREPARE-SE!!”

O guerreiro vermelho então desaparece, reaparecendo logo em seguida diante do monstro de trevas que começa à se reerguer, derrubando árvores com sua força monstruosa, mas novamente pego de surpresa, recebe em cheio um poderoso upper que atinge violentamente a parte de baixo do crânio do mosntro o arremetendo as alturas! Com vigor e poder incrível, o guerreiro vermelho se lança até o monstro, o acompanha no voo sem controle, indo inclusive mais alto que a próprio criatura, o atingindo uma vez mais ao crânio, dessa vez de cima pra baixo com as duas mãos unidas, o arremetendo com violência ao solo onde se estatelou com brutalidade por entre a vegetação intensa do local onde lutavam… O monstro, mesmo ostentando a névoa negra e uma pele resistente, ainda assim sentia o poder dos impactos e não sabia entender ou não expressava tal entendimento, de como mero humano estaria fazendo aquilo com ele, de qualquer forma, era notável que por algum raciocínio ou herança genética, de alguma forma em seu íntimo, o monstro por alguma razão temia em travar aquele combate…

O guerreiro por sua vez, erguendo levemente as suas duas mãos a altura do peito assumindo uma pose similar a um lutador de boxe, para por alguns segundos e convoca o monstro à se erguer e vir para o combate novamente, encarando-o por debaixo de seu capacete com seus olhos fendidos e expressão nada amistosa... O monstro por sua vez, acreditou que poderia, apesar de tudo que já havia acontecido, encarar o desafio e dar fim a este inimigo como fez com suas demais caças, se lançando então furioso contra o jovem que, aparentemente calmo, aguardou até o último segundo quando então bradou:

“ – DRAKO-GLADIATOR!!”

O guerreiro puxa seu punho direito para trás o arremetendo à frente novamente com força, mas agora suas mãos estão envoltas em escamas vermelhas com garras e labaredas que as revestiam de forma incrível, dando-lhe nova extensa proteção e poder... Com uma velocidade muito acima de qualquer artista marcial, o guerreiro se lança contra o monstro onde se podia ver a evolução que o poder invocado havia lhe proporcionado… Seus golpes se multiplicavam, seus impactos eram possantes, suas investidas certeiras e seus chutes, apesar de não possuírem escamas como os punhos, ainda assim eram devastadores. Como o mais hábil guerreiro que parecia dominar qualquer estilo de luta, o jovem desferia golpes que agora não apenas quebravam ossos mas perfuravam, rasgavam e mutilavam... Se visto de cima, parecia que o jovem era incrivelmente composto por mais pernas e braços do que ele realmente tinha e a de maneira alguma a criatura conseguia acompanhar ou prever seus movimentos poderosos e destrutivos, acumulando ferimento atrás de ferimento até que repentinamente o guerreiro se arremete para trás com um salto rotatório perfeito, pousando de forma pesado ao chão e socando o solo no mesmo instante com seu punho direito criando uma explosão ígnea que avançou rumo ao monstro com poder descomunal atingindo-o com um calor e explosão imensurável que literalmente o mandou rodopiando pelos ares, já sem suas asas, que foram totalmente destruídas, vindo a cair logo em seguida, pesadamente ao chão metros adiante…

O monstro então, mesmo cambaleante e praticamente destruído, se ergue uma vez mais em fúria e tenta se recompor… Ele urra, ele tenta fazer algo para se manter superior a quem o estava praticamente destruindo, quando o jovem responde a sua tentativa de continuar a espalhar sua destruição e morte pelo mundo, se lançando como uma locomotiva contra o local da explosão e um novo impacto que aniquilaria qualquer ser vivo é desferido! Naqueles segundos finais, naquele momento derradeiro antes que o punho em chamas e revestido de escamas e garras poderosas perfurasse o peito gigante da criatura, uma última frase é dita pelo guerreiro vermelho:

“- Seja você quem for… Individualidade ou mesmo coletividade… Não importa onde esteja… Eu vou te achar, e te eliminar… Você não vai recomeçar seu império através de suas sombras… KEMONO!”

O impacto acontece, as árvores e vegetações são arremetidas para longe, a poeira e detritos da selva começam à deixar de obstruir tudo com o passar dos segundos enquanto um clarão vermelho toma conta do lugar e o guerreiro dá novamente lugar ao jovem investigador… Arfando e bastante incomodado com tudo que aconteceu, com seus sentidos ele busca pelos restos de Miguel e percebe que tudo fora incinerado, até mesmo o corpo do policial Fernandez, porém, poucos metros à frente de si, jazia inerte e carbonizado em várias partes, exalando ainda a névoa sombria que começava à subir aos céus e desfazer-se, com uma perfuração ao peito denotando ser o hospedeiro do monstro, o chefe de polícia Gonzalez, confirmando todas as suspeitas do jovem, que instintivamente baixou a cabeça, pedindo perdão à Miguel, sua mãe e todas as demais vítimas…

O investigador então vira-se e começa a sair do local, a chuva começa a cair enquanto ele abre seu brace iniciando não a conclusão do caso, mas o início de uma nova investida que deveria ser tomada o quanto antes... Suas palavras firmes mas carregadas de dor, preenchiam o ambiente:

“- Pai… Infelizmente eu estava certo… O policial Gonzalez tinha extensa ficha de corrupção, tortura e até estupros… A maldade puxa a maldade… As sombras de Kemono exaladas naquela nuvem foram atraídas à pessoas com um interior tão maligno e frio como o das sombras… Nossa batalha ainda não terminou… Eu vou encontrar esses monstros e destruir todos eles, vou completar aquilo que iniciamos, eu prometo!”

O jovem Ryuichi Tsurugi segue em direção à cidade e o mal que assolava o mundo, agora tinha um inimigo à altura!

FIM?

Galeria de imagens:

O Quetzalcoatlus (Quetzalcoatlus northropi):
Pterossauro gigantesco, com uma envergadura de quase 12 metros, era umas das maiores criatura voadoras de todos os tempos. É o último pterossauro conhecido, que viveu há aproximadamente entre 68 e 66 milhões de anos atrás, sobrevivendo até mesmo ao fim do período de Cretáceo (Maastrichtiano), na América do Norte. Apesar de seu tamanho enorme, o animal inteiro provavelmente pesaria aproximadamente 100 quilos apenas, sendo excelente planador, capaz de cobrir grandes distâncias em um voo único. Seu pescoço era extremamente longo, suas mandíbulas eram esbeltas com dentes afiados provavelmente para pegar peixes, mas acredita-se que ele deveria comer carne de dinossauros e outros animais mortos que encontrasse. Douglas Lawson foi o primeiro a achar um fóssil de Quetzalcoatlus, no parque nacional de Curva Grande no Texas, E.U.A.. Ao contrário da maioria dos outros fósseis de pterossauro estes restos não foram achados em estratos marinhos mas na areia e lodo da planície inundada de um grande rio. O fato de os Quetzalcoatlus terem um pescoço longo e que ele podia planar incitou a ideia que ele poderia ser como um abutre e poderia se alimentar tranquilamente de corpos em decomposição de dinossauros mortos., porém alguns paleontologistas, notando as mandíbulas esbeltas e longas sugerem que sondasse rios, pântanos e lagoas para comer moluscos e crustáceos. Outros já pensam que ele voava baixo em cima dos mares rasos e mornos para pegar peixes na superfície. Lawson nomeou o Pterossauro com o nome do deus da serpente emplumada dos Astecas, por o nome Quetzalcoatl.

Dados do Pterossauro:
Nome: Quetzalcoatlus
Nome Científico: Quetzalcoatlus northropi
Época: Cretáceo
Local onde viveu: América do Norte.
Peso: Cerca de 100 quilos
Tamanho: 12 metros de envergadura.
Alimentação: Carnívora

Vislumbres da cidade de Capurganá - Colombia:

A temida Floresta de Dárien:

A histórica Região de Darién ou Tampão de Darién, abarca a província panamenha de Darién, as comarcas indígenas de Kuna Yala, Madugandí, Wargandí, Emberá-Wounaan, os distritos de Chimán e leste de Chepo, todos no Panamá, e o norte dos departamentos de Chocó e Antioquia, a oeste do golfo de Urabá, na Colômbia. Tem cerca de 160 km de comprimento e 50 km de largura. É banhada pelo golfo de Darién e pelo golfo do Panamá. É uma área selvagem, no limite da América Central e América do Sul. Ainda hoje em dia não há vias terrestres de comunicação que atravessem a região. Nela se interrompe a Rodovia Pan-americana, que liga a maior parte dos países das Américas. A região inclui dois parques nacionais: o Parque Nacional de Darién do Panamá e o Parque Nacional Los Katios da Colômbia. Devido às dificuldades de comunicação e acesso, é ainda uma zona de atividade de dois grupos rebeldes colombianos: as Autodefesas Unidas da Colômbia, de extrema-direita, e o Exército de Libertação Nacional, de extrema-esquerda.

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...