terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 05 - Sangue e liberdade...


O dia havia sido terrível… Era sexta-feira, todos na faixa nos 25 anos como eu tinham estampado na testa a ideia de “sextou”, mas eu… Ah, eu só queria chegar na minha casa, tomar um banho demorado e dormir um sono reparador e tranquilo… Era tudo que eu buscava para aquela noite sem dúvida alguma…O metrô andava rápido era fato, mas ainda assim as duas horas de trajeto eram quase insuportáveis pois elas me lembravam o tempo todo de tudo que eu detestava no meu cotidiano… Aglomerações, barulho, som alto, pessoas entrando e saindo, ter de conviver com centenas de pessoas no mesmo dia, atender clientes de mau humor, suando, um calor devastador e o relógio sempre contra meus pensamentos…

As horas passam como uma espécie de sonolência e finalmente chego ao prédio... O elevador demora, a porta demora, o corredor demora para ser vencido, a chave demora para abrir a porta mas felizmente… Eu estava em casa… Morar sozinha e ser solteira era libertador para alguém avessa à regras e horários e se não fosse o sono, eu iria olhar a lua a noite toda pela janela... Fui largando as roupas pelo caminho assim que fechei todas as trancas da porta e entrei direto para o chuveiro onde gastei pelo menos dez minutos simplesmente debaixo do jato, recuperando o fôlego e a sanidade…

Termino o banho, vou até a geladeira… Um copo de leite e o sanduíche que ficou de ontem são mais que suficiente para o estômago não me tirar o sono e, quando finalmente entro no quarto, o ar condicionado já havia preparado o cenário para que o sono me abraçasse na minha cama cheirosa e macia… Sequer consigo descrever quanto tempo levei para dormir, mas foi quase instantâneo e o silêncio do local onde moro, foi fator decisivo para tal acontecimento…

Como que mergulhada em uma paz, sinto minha mente viajar e creio que poucos minutos após dormir comecei a sonhar… Tudo bem, eu estava dormindo como ansiei o dia todo e, estava na minha casa como implorei todo o dia, não havia porque reclamar de sonhar, mas… Ele foi bastante... Diferente… Me vi saindo pela janela do prédio, nunca olhava para mim mesma, mas a brisa revestia meu rosto e as luzes se passavam como flashes… Eu corri pelas ruas, eu pulei sobre casas, eu andei por campos e vegetações espessas e alguns lapsos em meio à isso era fato... Sentia-me livre, sentia-me liberta, sentia-me... Feliz... Então do nada comecei à retornar e no que pareceram poucos minutos, eu estava adentrando a janela do meu quarto novamente…

O diferencial extra, além de tudo que eu havia sentido naquele sonho tão real é que eu parecia não ter vindo sozinha, como se alguém tivesse me acompanhado de alguma forma… Então foi que o sonho virou pesadelo, pois no instante seguinte eu me via sobre alguém, eu arrancava pedaços de sua pele e as devorava com prazer… O sangue escorria, eu lambia o chão extasiada e já via o corpo praticamente devorado enquanto uma sensação de prazer sem igual parecia percorrer todas as minhas células de uma forma que eu não saberia explicar... Era embriagante, era delicioso e era isso que tornava o sonho, um pesadelo... Eu estava amando cada segundo transcorrido…

E a vítima? Era quem eu tinha cogitado, havia me acompanhado, eu havia trazido essa pessoa para devorá-la em meu quarto, como se fosse a coisa mais natural do mundo... Homem... Jovem... Cabelos medianos e castanhos… Roupa casual e chamou-me muito a atenção ao sapato, incrivelmente bonito e estiloso... Oras porque em um pesadelo desses o design do sapato me chamou a atenção…

Continuei minha "refeição" naquele sonho maluco e então em um instante, como se nunca tivesse existido ninguém, não havia mais sangue ao chão, não havia mais sequer um corpo, apenas sentia o sangue a escorrer pelo canto direito de minha boca e ao passar o dedo polegar pelo local, foi como se um arrepio percorresse meu corpo e a sensação era como a de um intenso orgasmo... Me atirei novamente sobre a cama, deitada de bruços adormecendo rapidamente outra vez…

Abro os olhos assustada, estou deitada na cama como deitei quando cheguei em casa... Outra coisa me chama a atenção rapidamente, eu estava nua e não havia deitado assim... Viro-me e sento-me ofegante na cama, cobrindo os seios e puxando o lençol para cima de meu corpo, temerosa de que houvesse mais alguém na casa, e apesar da janela aberta, não ouvi nenhum ruído no apartamento... Levantei-me lentamente enrolada no lençol, fechei a janela e respirei com calma, dizendo para mim mesmo:

"- Foi apenas um terrível pesadelo... Devo ter deitado sem roupa e nem percebi..."

Fui à cozinha, peguei um copo de água e voltei sorvendo o líquido com satisfação, olhando para a cidade ao longe naquela noite esplêndida… Eu não via mais a lua, o que indicava que a noite havia transcorrido boa parte... Vou para o quarto novamente, e paro diante do espelho sem olhar para o mesmo, pois algo me chamou a atenção… O copo em que eu bebia estava manchado de sangue como se algo revestido de sangue tivesse tocado nele… Fiquei olhando para o mesmo e pensando como aquele sangue havia chegado ali... Olhei para minhas mãos, estavam intactas e foi então que resolvi olhar para o espelho…

O canto de minha boca, estava sujo de sangue, sangue já coagulado mas em um filete espesso… Tentei tocar no mesmo mas tinha medo de ser realidade e antes que eu decidisse meu dilema, senti algo incomodar em minha boca e tentei puxar... Fios de cabelos castanhos saem em meus dedos, no exato momento em que deixei o copo cair ao chão se quebrando, quando o espelho me mostrou a outra face daquela dúvida, que agora parecia se desmistificar de vez…

Logo ao lado da minha cama, eu avistei o sapato bonito, da marca que eu havia visto no sonho e um rastro de sangue que seguia para debaixo dela… O pânico sobrepôs a incredulidade inicial, assim como a sensação e o gosto de sangue sendo sorvido sobrepôs todo o resto das minhas emoções... Instinto era o que me preenchia agora e então, a janela estava aberta novamente e a noite me chamava para me sentir liberta novamente pela cidade cheia de corações pulsantes!

FIM

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 04 - A ponte...


A noite estava tranquila, a viagem se tornando incrivelmente agradável… A música era calma, mas não tanto que me desse sono, e o motor do carro que aluguei para visitar minha família depois de tanto tempo trabalhando na cidade vizinha, era suave e até gostoso de se ouvir…

A brisa se tornara muito reconfortante, quase fria, dava aqueles arrepios gostosos no braço e fazia, junto com o céu adornado de estrelas brilhantes, devido à baixa poluição luminosa do trajeto, um espetáculo à parte… Livre das pressões do trabalho e estudos, me sentia como que flutuando em lago calmo, em uma tarde de primavera e sol ameno…

Os quilômetros foram se passando, passei pela ponte de divisa entre os dois condados e sei lá porque depois de tanto tempo sem pensar sobre, me lembrei das lendas do local, sobre a criança que fora assassinada e arremessada da mesma... Seu corpo nunca fora encontrado... Isso aconteceu ainda nos tempos dos meus avós e tanto eles quanto vários outros narravam que, anos depois de sua morte, a menina começou a aparecer de novo, matando os desavisados que passavam sobre a ponte…

É fato que alguns acidentes aconteceram no local e apesar de todos terem sempre tido uma explicação lógica pelas investigações oficiais, me chamava muito a atenção como os acidentes concentravam-se sempre naquele ponto… Senhor Dunkles, senhora Carttman, os irmãos Billkors entre outros, morreram ao passar os limites da ponte, sofrendo acidentes terríveis e apesar de nunca encontrarem os corpos como a menina da lenda, ainda assim, todo mundo se convencia de que algo completamente explicável havia lhes acontecido…

Minha mente viajava pelas possibilidades de animais terem sumido com os corpos, ou mesmo o rio abaixo da ponte ter enterrado os mesmos ao fundo de seu leito lamacento, tentando não concordar com algo de sobrenatural acontecendo ali, afinal, seria bizarro demais para ser verdade... De repente o céu me chama a atenção, pois comecei a avistar muitos relâmpagos… Estranhei, pois a noite estava limpa, mas como tempestades e tornados são normais para nós, não dei atenção, apenas segui trajeto…

Repentinamente do nada, como se uma pedra tivesse sido arremessada em meu para-brisa com violência, o vidro dianteiro literalmente explodiu eu acabei no susto do acontecimento, freando o carro sem qualquer precaução adequada, fazendo o mesmo derrapar e rodopiar pela pista três vezes até que finalmente consegui deter o veículo ainda sobre a rodovia, felizmente sem acidentes ou maiores danos… Conforme minha respiração acalmava, comecei a olhar ao redor em busca de algo, mas nada consegui avistar, apenas a tempestade nos céus e tudo mais em completo silêncio, até demais…

Abri a porta do carro, coloquei os pés ao chão ficando em pé e então um calafrio percorreu meu corpo com o surgir de uma espécie de sibilo, como se alguém assoprasse com a língua tocando o céu da boca... Olhei temeroso para o chão e entre o pânico e o terror, vi aquele rosto, deformado, como se tivesse batido em algo durante uma queda brutal… Os braços completamente cheio de fraturas, o cérebro exposto por algum tipo de pancada e a pele... Era completamente pálida e molhada como se tivesse ficando submersa em água por muitos dias…

Minha primeira reação foi a mais natural de todas, sair dali aos berros, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, de suas unhas quebradas e sujas partiram garras aterrorizantes que agarraram minhas pernas de forma agressiva, eu senti cada uma delas perfurando tendões, veias e, sem forças, caí enquanto a criatura abria uma bocarra gigante com inúmeros dentes como se fosse a boca de um tubarão, arrancando com tal ato, uma de minhas pernas inteiras com a mordida que parecia ser impossível…

A dor era lancinante, não achei que fosse suportar e apesar de querer lutar por minha vida, só consegui gritar mais ao ver ela remover as garras de minha perna, não para me permitir uma fuga, mas para atacar de novo, perfurando desse vez meu peito com uma das mãos, arrancando meu coração de um forma que eu jamais imaginei ser possível, mostrando a mim o mesmo à pulsar em sua garra esquelética, como se saboreasse meu desespero e gritos... A segunda mão por sua vez, passou como um vento pela frente do meu campo de visão e então, tudo terminou para mim… Tudo que consegui ver e ouvir enquanto minha cabeça caía do tronco, era o barulho de ossos quebrando e meu corpo sendo devorado ao passo que a criatura focou de novo seus olhos frios em mim, voltando à uma forma infantil de menina, sorrindo e expressando-se com voz fantasmagórica:

“- Ficar na água tempo demais, dá fome…”

Eu grito sem que ninguém me ouça enquanto ela avançava para devorar minha cabeça e então os tachões da rodovia me fizeram despertar em pânico, quase saindo da estrada por ter dormido ao volante… Parei o carro de imediato, olhei o céu e ele estava límpido como antes… Abri a porta do carro vagarosamente, nada havia ao chão ou abaixo do veículo e o vento soprava como antes abençoado pelo brilho da lua como eu lembrava antes de fatalmente ter iniciado meu sonho…

Pego a garrafa de água, bebo nervosamente afinal, meu coração ainda estava disparado, tudo parecia ter sido tão real… Fico por alguns minutos ali até me acalmar e volto finalmente para o carro, para seguir minha viagem… Alguma coisa em mim queria que eu desse meia volta e desistisse da mesma, cheguei a ficar alguns segundos com o motor ligando ponderando sobre, mas então uma voz quase que sussurrava em meu íntimo, que havia sido um sonho, que eu não podia ceder para um medo tão absurdo e assim resolvi continuar, haviam mais de cinco anos que não via meus pais e eles me aguardavam…

Entrei no carro, reiniciei o trajeto e fiquei a pensar em tudo... Porque aquele sonho, o que isso queria dizer, será que a menina do rio existia e precisava de ajuda? Mudei a estação do rádio para uma música mais movimentado e quando voltei meu olhar para a auto-estrada novamente, o pânico instaurou-se em mim por completo… Eu terminara de cruzar a ponte da divisa, o céu estava repleto de relâmpagos com uma terrível tempestade e então meu para-brisa explode em mil pedaços me obrigado à frear, rodopiar e finalmente parar… Sequer sei se meus gritos foram ouvidos, mas me congelou a alma por completo, quando uma voz fria e assustadora cortou a noite quase sussurrando...

“- Ficar na água tempo demais, dá fome...”

FIM

sábado, 15 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 03 - Nova moradia...


Sou moradora atualmente de uma região da Rússia que prefiro não indicar, tenho muito medo de ser localizada novamente, não sei como essas… Coisas, agem… Não citarei nomes ou cidades reais para que caso eles estejam entre nós não possam nos identificar uma vez mais, mas… Eu preciso expor meu caso a alguém e talvez, mais alguém tenha passado pelo mesmo e esteja lendo esta postagem neste momento… Como nome fictício eu escolhi Yuliya e se você já passou por isso, saiba, você não está sozinha neste acontecimento, existem mais pessoas com medo assim como você…

Alguns mitos parecem simplesmente mitos, você não acha plausível acreditar em contos de criaturas que assumem formas e matam pessoas ou outros seres… Eu sempre fui cética à esse ponto, para mim, essas coisas não passavam de lendas, nunca existiriam, nunca foram reais porém, depois de certo acontecimento, eu hoje não tenho mais tanta certeza…

Minha babushka contava histórias da Aswang, criatura mítica descrita como uma mistura de vampiro e bruxa. A criatura geralmente aparecia segundo ela em forma feminina, e era canibal assim como devoradora dos mortos ou qualquer coisa que possuísse carne. São capazes de se transformar em enormes cães pretos ou em javalis e alguns dizem que em muitos outros objetos também… Dizia minha babushka que elas tinham preferência por fetos ou crianças, mas de novo, meu ceticismo sempre considerou isso como uma história para assustar crianças que não seguiam ordens dos mais velhos.

Pois bem, depois de quinze anos de matrimônio, vim a descobrir que meu marido tinha uma amante, na verdade outra família, e nenhuma das duas sabia da outra… Quando descobri tudo e os motivos fúteis para tal traição, resolvi deixá-lo seguir junto de sua segunda (ou primeira, já não saberia dizer mais) família e parti para uma vida nova junto de minha pequena filha Layeva (também nome fictício) de apenas cinco anos… Juntos, ela, eu e nosso gato Tovarishch partimos para essa nova morada…

Compramos uma casa pequena, mas confortável e em bom estado, suficiente para nossas necessidades! Não tínhamos móveis em demasia, apenas o básico para nosso dia a dia e com essa praticidade, em pouco tempo estávamos instaladas de novo na nova casa, prontas e felizes para seguirmos novos rumos! Layeva se adaptou à vizinhança muito bem, eu também havia gostado de tudo e parecia que teríamos uma vida tranquila…

Certa noite, eram em torno de vinte e duas horas, creio que mais precisamente na terceira noite que estávamos na casa, minha filha me chamou novamente para dizer que a mesa de cabeceira de cama do quarto dela estava fazendo barulhos estranhos… Eu decidida a resolver isso de vez, subi as escadas pronta para contar para ela que isso seria impossível e quando adentrei ao quarto vi ela apontando para o móvel e ao redor dele, alguns tufos de pelos de nosso gato Tovarishch espalhados ao redor assim como sangue escorrendo de dentro do referido móvel… Minha filha me olhou e disse:

“- Mama… O Tovarishch entrou ali e não saiu mais…”

Eu calmamente sentei ao lado dela, a abracei para que sentisse segurança em mim e disse-lhe com toda tranquilidade que possuía:
“- Está tudo bem meu amor, Tovarishch entrou ali para brincar de se esconder e em breve ele voltará para se divertir com você… Por enquanto, vamos colocar o agasalho e vamos ver a babushka, ela deve ter biscoitos e chocolate quentinhos para você ter sono mais facilmente, venha com a mama!”

Vesti Layeva como podia, desci com ela no colo rapidamente pelas escadas em direção ao nosso carro! Abri a garagem nervosa e com o máximo de controle que consegui me colocar, saímos rapidamente da casa em direção à casa de minha mãe que ficava relativamente próxima, algo em torno de 30 minutos…

Layeva parecia não entender tudo, mas aceitou sem reclamar a saída repentina de casa… Para mim, enquanto a olhava no retrovisor, eu pensava… Não havia outra opção naquele momento, não havia outra maneira de proteger ela e a mim… No entanto... As histórias de minha babushka sobre a Aswang não paravam de martelar em minha cabeça uma vez que nós nunca tivemos uma mesa de cabeceira em nossos móveis…

FIM


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 02 - Pesadelos reais...


Eu me chamo Vanessa e tive, apesar de alguns percalços, uma vida boa desde que me lembro das coisas… Meu pai nos abandonou muito cedo é fato, eu era pequena, mal lembro dele mas, não faço verdadeiramente questão… É uma opção e deve viver sua vida como achar melhor, não guardo mágoas ou qualquer sentimento, preferi respeitar a vontade dele apenas… Assim, apesar das dificuldades, minha mãe e eu sempre vivemos juntas e sempre nos demos muito bem… Sempre afirmo que tive uma bela infância, uma adolescência consciente e hoje, já com meus vinte e quatro anos, me considero conduzida na vida…

Sempre vivemos uma vida real, sem crenças em coisas impossíveis ou milagres do céu... Tudo que precisamos devemos correr atrás, esse era nosso pensamento, o que é real é o que pode ser tocado, e assim como não há benesses do nada, nunca acreditei em coisas que não podem ser vistas, até que de fato eu as vi...

Apesar de nunca termos luxo, nunca nos faltou nada, sempre tivemos de comer, de vestir e serviço de saúde quando necessário... Minha mãe por sua vez sempre trabalhou e sempre foi uma mulher decidida e determinada… Nunca tivemos doenças graves ou enfermidades que nos tirassem quaisquer capacidades de sobreviver por conta própria, porém nos últimos anos, minha mãe começou a se sentir cansada, desorientada em alguns momentos, abatida e até mesmo desanimada em alguns dias, mas o que mais me preocupava é que ela parecia demonstrar medo em várias situações, algo que não era o normal dela…

Conversamos muito, ela me dizia apenas que dormia mal à noite e que isso a deixava debilitada… Sem querer ser intrusiva, eu apenas me preocupei em manter consultas regulares com o médico e cuidar dela e do seu bem-estar da melhor maneira que podia…

Os meses passaram e minha mãe passou a reclamar muito sobre pesadelos, que tinha vários deles por noite mas não dizia o que sonhava, por mais que eu tentasse me inteirar para ajudá-la… O médico recomendou um psicólogo, fomos, ela fez várias sessões mas os pesadelos segundo ela sempre continuavam e sua expressão havia mudado, ela parecia estar sempre em medo constante, olhava para o nada e se assustava, como se visse a um fantasma em diversos momentos… Dormia mais durante o dia que a noite, devido ao medo dos pesadelos e já não dormia mais sozinha… Tudo se tornava mais preocupante e não via um meio de ajudá-la…

Um dia fomos ao shopping e eu sugeri que ela esperasse na praça de alimentação, enquanto eu buscava nossa comida no restaurante. Quando voltei, a primeira coisa que fiz foi perguntar se estava tudo bem pois ela estava com uma aparência muito estranha e mais assustada do que o normal. Ela respondeu como sempre, que estava tudo bem, eu sabia que não mas, respeitei uma vez mais…

Finalizamos nosso almoço e fomos à escada rolante, quando ao virar para conversar com minha mãe, quase enfartei ao ver um homem com roupas do século passado segurando em um dos seus ombros e olhando pra mim com muita raiva. Na hora minha mãe percebeu minha cara de choque e perguntou (gritando) porque eu estava daquele jeito, ao passo que ao contar o que eu havia visto, ela começou a chorar e disse:

“- Você acabou de descrever o homem que tenta matar você todos os dias nos meus pesadelos minha filha... Ele disse que quando você o visse, seria o nosso último dia na Terra…”

FIM

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 01 - Traumas familiares...


O carro ia chegando calmamente diante da casa bastante tradicional ao estilo daquele país… Edward Hench, psicólogo formado e atuante há mais de cinco anos considerava que a cidade era boa, a vizinhança era boa, qualquer um se sentiria em um paraíso ao morar na pequena Ligonier, Pennsylvania… No entanto, não era o que aquela família vivia no seu dia a dia, por longos dois anos ele queria ajudá-los…

O psicólogo então desliga o motor do carro após alguns segundos observando a residência e se prepara para mais uma sessão triste, afinal, lidar com as emoções de uma criança em depressão não era algo fácil… Sem dúvida a psicologia era a carreira que escolheu e amava, mas ainda assim, alguns atendimentos eram tão intensos que acabavam por cobrar o preço por tal escolha… Separar o sofrimento dos outros dos próprios, ainda era difícil para Edward, porém ele seguia firme em seu propósito de ajudar sempre…

Ele desce do veículo seguindo em direção à casa, pronta e cordialmente é recebido pelos pais Adam e Loraine que o acompanham à sala de estar onde o chá estava servido aguardando a todos! Logo o filho caçula de nove anos, Robert, descia as escadas bastante abatido como era de costume, cumprimentando a todos e seguindo para sua poltrona preferida do ambiente… O casal se olha e então observam o psicólogo, todos entendiam o motivo da tristeza de Robert e estavam dispostos a tudo para ajudar o pequeno a superar a tragédia que a família vivia atualmente… Edward então, percebendo que Robert já estava acomodado, inicia a sessão em grupo tentando não prolongar aquilo por muito tempo:

“- E então Robert, há algo que queira nos contar hoje para iniciarmos nossa conversa?”

O pequeno então olha para todos e uma lágrima escorre por seu olho direito, no mesmo instante em que inicia a falar: “- Acho que nada de novo senhor Edward… Já contei isso tantas vezes, mas continua o mesmo de sempre, eu simplesmente odeio quando meu irmão Robbie tem que ir embora… Papai e mamãe me explicam sempre que ele está muito doente, que tenho sorte por ter um cérebro em que todas as substâncias químicas vão para onde devem ir direitinho, como um rio que segue seu curso. Quando reclamo que estou entediado sem um irmãozinho com quem brincar, eles tentam me fazer sentir bem dizendo que ele está muito mais entediado do que eu, já que está confinado a um quarto escuro em um hospício. Eu sempre imploro para que lhe deem uma última chance e algumas vezes sou atendido, como foi no verão passado, foram os dias mais felizes da minha vida… O Robbie voltou para casa várias vezes e eu me diverti muito nesse tempo, mas infelizmente, cada vez que ele vinha durava menos do que a anterior e toda vez, sem falta, começava tudo de novo. Os gatos dos vizinhos apareciam na caixa de brinquedos dele com os olhos arrancados, encontramos as lâminas de barbear do meu pai no escorregador no parquinho do outro lado da rua, as vitaminas da mamãe são trocadas por tabletes de detergente da máquina de lavar louças, nosso canário, ou o que restou dele amanheceram no micro-ondas e alguém empurrou a escada do senhor Louies que estava podando a árvore e ele veio a morrer com a queda sobre os fios elétricos da casa dele… Meus pais claro, estão mais receosos agora, usando “últimas chances” com moderação. Eles dizem que a condição mental dele o torna charmoso, que fica mais fácil para ele fingir que é normal e enganar os médicos que cuidam dele para que acreditem que ele está pronto para reabilitação. Que eu vou ter que aprender a conviver com meu tédio, se isso significar que estarei seguro longe dele.”

A descarga emocional das palavras do pequeno Robert narrando todos os acontecidos foi forte, foi tensa, foi avassaladora… A mãe Loraine levantou-se do sofá chorando e correu para a cozinha, o pai Adam foi atrás para confortá-la… Edward conteve-se por alguns instantes mas vendo o desespero da mãe, pediu licença à Robert e foi ter com os dois… Enquanto isso, Robbie retira do bolso uma pastilha de detergente da máquina de lavar louças, a observando com o olhar fixo e melancólico, balançando o pequeno item entre a mão, para logo em seguida observar a xícara de chá do psicólogo com um olhar que demonstrava certa alegria… Após alguns segundos, Robert guarda a pastilha de novo no bolso, com uma visão de insatisfação, quase que cochichando logo depois para si mesmo… “ - Odeio quando o Robbie tem que ir embora… Eu tenho que fingir que sou bonzinho até ele voltar outra vez…”

FIM

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...