domingo, 14 de fevereiro de 2021

Indomável - Cap. 1 - "- Olhos na escuridão!"

A noite já ia alta e nos céus turbulentos a chuva, embora não fosse torrencial, era forte o suficiente para molhar em questão de instantes... A cada novo estrondo entre as nuvens, os relâmpagos revelavam os vultos imóveis que cada objeto ou árvore representava na noite e que ainda não tivesse sido exposto pelas luzes de neon e multicoloridas do bairro afastado, mas igualmente iluminado como todo o resto em Kyoto Skyland...

Estamos no que se pode enumerar como ano 3075 após a vinda daquele que alguns chamaram de “messias” em livros antigos, livros esses que atravessaram séculos espalhando suas narrativas e que com certeza jamais imaginaram seus escritores que hoje, tais narrativas seriam pouco mais do que lendas como lobisomens, vampiros e tantos outros...

A população restante do planeta Terra, após tantos conflitos e a última grande guerra, se dividiu em suas crenças e expectativas, pois uma parcela embora pequena, mas muito significativa, havia deixado de ter esperança, deixou de acreditar em salvação, em salvadores, deixou de esperar por tempos melhores e vivem a cada dia como se fosse o último, o que para muitos desafortunados, infelizmente o é...

Mas para outros, uma grande maioria da população na verdade, esse mundo novo, infestado de cheiro de cigarro e poluição hipnotiza com promessas vazias, que são ao mesmo tempo fantásticas, de grandes ganhos e vida longa devido às novas tecnologias e ciências tanto mecânicas quanto medicinais, o que não permitia tempo ou vontade em buscar tais crendices que muito antigamente, apaziguavam guerras e a alma dos mais aflitos...

Sim, o mundo hoje nem de perto era o que já fora um dia, estava completamente fragmentado no quesito sociedade, novas raças surgiram, muitas mutações e ciborgues agora viviam pelas ruas com tamanha naturalidade como a vida o era antes da grande guerra, com os humanos implantados à preencher as grandes cidades para uma melhor chance de sobrevivência, apesar do sistema caótico, causando um cenário completamente avesso ao que os que viveram aqui dezenas e centenas de anos antes da destruição nuclear presenciaram...

Neste cenário de desesperança e muito caos é que inicia nossa história, mais exatamente acima de uma das árvores que nasceu nos restos do que já fora um ônibus escolar, agora destruído em algum confronto das gangues com a polícia de choque...

Ali, alguém observava a noite, inicialmente para obter paz de espírito ao toque suave da chuva refrescante e revigorante em seu rosto, prazer esse que era raro para o próprio ser e, naquele dia, ou melhor, naquela noite, durou bem menos instantes do que ele esperava, pois os sons da noite deixaram de ser apenas o esperado e aprazível ruído da chuva sobre as ruas asfaltadas, seus telhados e árvores como ele buscava, para se tornar mais um sinal, daqueles que ele batizara de "ingratos" à agir pela escuridão...

Entre a frustração de ter seu momento relaxante destruído e satisfação de encontrar mais "não merecedores" da vida para enviar ao julgamento das divindades, o vulto oculto sobre a copa, com olhos fechados, falava consigo mesmo...

“- Ingratos... Eles creem que podem ter tudo e não respeitam nada ou ninguém... Não compreendem que tiveram uma chance que muitos não tiveram... Tirar vidas inocentes, é imperdoável a qualquer um...”

Com um movimento quase imperceptível, o vulto desaparece em busca de algo que somente ele havia percebido na noite e os noticiários do dia seguinte teriam mais mortos a notificar, isso claro, se a polícia resolvesse fazer seu trabalho e dignar-se a tentar esclarecer o caso, o que tornaria público as ações que aconteceriam em instantes...

A chuva em Kyoto Skyland, principalmente sob a óptica noturna, que é quando os raios ultravioletas não a transformavam em gotas bastante desconfortantes que incomodavam a pele devido sua carga ácida, era prazerosa para a maioria dos seres... Ninguém sabia explicar direito, ou ninguém se importou em conseguir a explicação, mesmo nos dias avançados de hoje em, como a chuva foi capaz de receber influência da luz do sol à esse ponto, mas muitos acreditavam que a camada de ozônio bastante alterada, de alguma forma alterou os raios de luz que por sua vez incidem na composição da água que cai em forma de chuva...

Assim sendo, tanto "presas" quanto "caçadores", que basicamente é o que a sociedade se tornou atualmente, preferem o período da noite para ganhar as ruas e é neste ambiente aconchegante para uns e perigoso para outros que, ao contrário do que já foi a vida no passado, mais e mais seres saem atrás de suas metas de sobrevivência, sejam elas honestas - uma raridade nos dias atuais aliás - ou aquelas que contrariam as poucas leis efetivas destas novas terras para se satisfazer...

O ser alcança rapidamente o topo de um telhado localizado três quarteirões de onde estava anteriormente, abaixo deles no breu da noite, três homens e um garoto em uma rua pouco movimentada eram visíveis... Aparentemente o jovem voltava da feira ao ar livre com uma sacola quase vazia e mesmo diante do fedor exalado pelo lixo contido nos containers pichados que agora serviam para ocultar os quatro, sobre o topo do prédio de quatro andares, o agora "caçador" observava suas "presas" e conseguia até mesmo decifrar o aroma do objeto de disputa...

Peixe-seco, banana e pão, um verdadeiro banquete nestas épocas de pouca ou nenhuma posse da maioria esmagadora dos vivos, e em pouquíssima quantidade do referido alimento inclusive... O braço reluzente do jovem que segurava a sacola deveria impor respeito, afinal era um braço cibernético, mas ao invés disso, apresentava faíscas demonstrando sua inutilidade no momento e, não eram defeitos recentes, provavelmente a manutenção estava vencida e como grande maioria dos implantados, não havia dinheiro suficiente para manter seus componentes cibernéticos funcionando, o que se tornava um peso e não uma vantagem...

Os três homens cercam o garoto certeiros de estarem em vantagem - o que realmente estavam fisicamente falando - empunhando adagas, pistolas e correntes... Um dos meliantes tinha o olho esquerdo em vermelho indicando um implante visual que deveria conferir ao mesmo, visão noturna entre outras recompensas... O segundo exibia uma perna robótica no lugar da que provavelmente foi arrancada em algum "trabalho" enquanto o terceiro, deveria ter gasto uma verdadeira fortuna para ter um peitoral que protegia todo seu tórax como ele ostentava...

O de olho vermelho fala algumas coisas pesadas intimidando o jovem, os outros dois, cerca de um metro e meio de distância mais distantes, riam para aumentar a pressão psicológica sobre a vítima... O pequeno rapaz por sua vez, se urina completamente e chora fechando os olhos implorando por sua vida, enquanto se podia sentir a intenção do “olho vermelho” desde que ele decidiu tomar a atitude de encurralar o jovem naquele espaço... Tudo então ficava, ao "caçador", em câmera lenta...

A visão de uma viatura com um guarda da força policial pública dentro da mesma passando pela borda do local na rua adjacente e, ignorando por completo a ação dos "ingratos" não escapa da visão do "caçador", mas ele resolveria aquilo depois, no momento ele precisava agir ali e evitar mais um inocente afetado pela ação dos malditos...

O assaltante de olho vermelho puxa a adaga para trás e logo em seguida leva o punho para frente de novo buscando perfurar e matar a vítima, segundos apenas foram gastos para essa ação, mas esses segundos foram mais do que suficientes para o "caçador"...

Ao levar a adaga à frente para perfurar o jovem, "olho vermelho" percebe ao desferir o ataque que sua mão segurando a adaga voou pelos ares no sentido contrário, distante dele alguns metros, enquanto somente o restante do braço ensanguentado chegava até o rapaz, respingando sangue no rosto do mesmo...

Sem entender o que acontecia, pois não havia tido qualquer sensação de dor e sequer teve tempo para isso, o agora maneta "olho vermelho" vira-se para trás proferindo palavrões em busca de o que havia acontecido quando sem aviso algum, algo adentra por seu implante cibernético chamativo, atravessando seu crânio e parando somente ao cravar-se na parede ao lado da cabeça do jovem em prantos, que ainda não havia aberto seus olhos para testemunhar o fato...

Os outros dois, devido a velocidade da ação, levaram alguns segundos para compreender que uma espada havia perfurado seu comparsa e assim que percebem, retesam seus músculos para agir em suas defesas, mas, a radiância da lâmina diante deles foi a única coisa que demonstrou seu trajeto, rasgando a cabeça do “olho vermelho”, indo em direção à cintura da “perna mecânica”, partindo o mesmo ao meio e espalhando suas vísceras pelo chão!

Igualmente sem tempo hábil para decifrar o que aconteceu aos "colegas", o "peitoral de aço" vislumbrou um brilho em direção ao seu pescoço e logo em seguida sua cabeça voou pela rua, espirrando sangue novamente no garoto, que agora começava a conter o choro percebendo que algo ou alguém havia atendido suas preces e vindo o amparar naquele momento de grande medo, ou pelo menos assim ele pensava...

O silêncio toma conta de tudo, o rapaz começa a abrir os olhos e vislumbrar a cena dantesca, buscando pelo responsável pelas mortes e claro, cogitando já desta feita que ele ia ser o próximo dada a brutalidade dos acontecimentos, mas tudo que conseguiu ver foi um par de olhos na escuridão da rua, que o observava sem piscar, como se o analisasse...

Limpando as lágrimas e ainda trêmulo, visto os segundos que transcorreram sem que ele fosse atacado pelos "olhos amarelos", o jovem arrisca e agradece: “- O... Obrigado... Seja lá quem for... Isto era para minha mãe... Mas... Pode levar... Me deixe vivo para cuidar dela... É suficiente pra mim... Eu lhe imploro...

Os olhos o observam ainda em silêncio, a alimentação que ele carregava era obviamente cara para alguém pobre, mas seu senso de justiça julgou que de alguma forma ele a adquiriu honestamente, seu íntimo sentia isso...

Os olhos então se fecham, um som de deslocamento pode ser ouvido e então logo em seguida, apenas uma voz ecoara pela noite, como uma resposta e um aviso: “- Não se corrompa e não haverá dívidas comigo... Se corrompa e me verá de novo... E então sim será a última coisa que verá!

O garoto agradece sem palavras, junta sua sacola e corre para o lado mais iluminado da rua, agradecendo baixinho por mais um dia de vida e por mais uma noite poder voltar para casa e cuidar de sua mãe, seu único bem neste mundo revirado ao avesso e que assim ainda o fazia agradecer por estar vivo...

Já o "caçador" que atuou no impasse entre o jovem e os meliantes, enquanto se deslocava pelas sombras, lembrava de tempos passados, tempos de honra, tempos de justiça e de punição aos maus... Lembra também que já esteve em todos os lados que um ser humano poderia estar e agradece pela oportunidade de ter encontrado seu caminho...

Certo ou errado, aquela era o caminho que ele tinha elegido para si, o mais próximo da justiça e da honra que ele conseguia visualizar e estar naquela condição e, mesmo que não existisse a promessa feita à única que verdadeiramente conhecia seu passado, ele seguiria sempre o caminho da justiça, sua punição e sua redenção únicas plausíveis e, não importava qual “ingrato” morreria por isso...

Em sua mente, sendo que uma vez ele trilhou caminhos difíceis e os sobrepujou, em situações muito mais adversas segundo ele julga, sua mente não tolerava em tempos amenos quem se voltava ao egoísmo visando para isso sobrepujar os mais fracos... A estes, o fio de sua lâmina ancestral era a única recompensa... Eis o código que ele seguia desde seu aprendizado naquela vez...

Sob o topo de uma das milhares torres de comunicações que perfurava os céus de SkyLand, o “caçador” detém seus movimentos e novamente admira os relâmpagos, sorve a chuva fresca uma vez mais permitindo que o sangue dos últimos "ingratos" punidos escorresse de seu corpo...

Ele respira à plenos pulmões o ar menos pesado da noite, talvez o oxigênio fosse purificado pelos ventos da chuva forte, ele não saberia dizer, mas agradecia por aqueles segundos de paz e conforto diante de tantas atrocidades... Os minutos passam... A chuva cai... O vento sopra... Os relâmpagos iluminam... Ele abre os braços e como se recebesse os elementos da noite ficando assim por vários minutos, no topo de um dos prédios completamente lotado de lâmpadas de neon e outras luzes fortemente chamativas...

Uma paz momentânea e rara invadia seu coração e ele pedia aos deuses que aquele momento perdurasse para muito além de minutos, mas como a maioria das pessoas desta era considerava, os deuses não pareciam ouvir mais pedidos... O ser então se preparava para ter um momento de meditação profunda quando uma vez mais seus olhos se abrem abruptamente, cheiros e sons chegam aos seus sistemas auditivos e olfativos de forma abrupta...

Seus ouvidos se aguçam, seu faro completa os sons, os pelos de seu corpo pareciam receptores de localização enquanto que completamente imóvel em qualquer sentido físico que se pudesse imaginar, captava os ruídos que poucos conseguiam ouvir ou sentir...

Passos distantes, mas frenéticos, com certeza demonstravam estar em fuga de algo ou alguém... Um deles estava cansando mais do que o esperado, e não era sua respiração que estava abalada, seu fôlego estava em boas condições, mas ainda assim estava em defasagem se comparado aos demais... Se eram humanos, o que era o mais aceitável pelo cheiro, seriam pelo menos dois homens e uma mulher...

Um ouvido menos treinado poderia confundir os passos da mulher com os passos de uma criança devido ao pouco peso, mas o intervalo entre cada pisada, deixava claro sua estatura adulta... Além disso, seus cheiros confirmavam conforme se aproximavam que eram realmente humanos, feromônios diferentes exalavam pelo ar e o da mulher, era bastante diferente e mais forte que os demais...

Mais estranho de tudo isso era que o cheiro que ele sentia na jovem mulher parecia-lhe nostálgico... Talvez usasse alguma fragrância que ele sentira em algum lugar em sua vida, ou poderia ela ter estado perto de alguém cujo cheiro fosse familiar, mas ele não conseguia por mais que tentasse definir o que era essa "nostalgia" que o cheiro da mulher em fuga lhe trazia...

O “caçador” então deixa de tentar identificar o cheiro familiar e pensa na outra pergunta importante e ainda sem resposta... Porque estavam aqueles três naquele local afastado onde poucos além dos moradores, que ele reconheceria pelo cheiro facilmente, se aventurariam a ir? As pupilas do "caçador" inacreditavelmente se modificavam em segundos, ficando em forma de fenda como olhos felinos em intenso amarelo, para logo voltarem ao normal e perder seu brilho, fazendo com que o ser se colocasse de pé, pronto para se deslocar em busca de suas respostas... “- Que esses malditos tombem antes de macular este lugar novamente...

A visão para qualquer um andando pelas ruas da atual Kyoto era basicamente uma selva de pedra multicolorida, cheia de becos e prédios, governado por poucos, povoado por muitos, o que releva a pelo menos quarenta por centro da população deste novo Japão, a pobreza extrema enquanto quem consegue ter alguma dignidade, ou melhor dizendo, dinheiro para ter uma sobrevivência digna, dificilmente o consegue por meios tradicionais, pois até mesmo os antigos “empregos fixos”, hoje não conseguem se manter apenas dentro da lei...

Prostitutas, garotas e garotos de programa, robôs sexuais, vendedores de todo tipo de objeto ou artifício ou ainda situação se aglomeravam em alguns pontos enquanto outros ficavam mais desertos, essa era a nova era, nua e crua, danificada e desmoralizada pelo próprio ser humano, e aqui, ou você se vira, ou você morre...

Apesar disso, muitos consideram que essa nova era trouxe milagres incríveis que compensam tais mudanças, mas na verdade os maiores difusores dessa “boa nova”, são os mesmos que lucram com a atual tecnologia e facilidade que em tempos antigos não eram viáveis...

Nessa era, se um órgão vital parar, desde que tenha o capital necessário, ele é substituído por um novo, cibernético, totalmente autossustentável na maioria das vezes e sem qualquer chance de sofrer de doenças novamente... Na verdade, sequer é preciso adoecer para fazer isso, se tiver os fundos para tal, pode fazer substituições e melhoras em seu corpo com implantes e próteses de qualquer sortilégio...

Para reforçar tal ideia, basta verificar que algumas práticas do passado ainda se mantém, ou seja, a boa e velha pirataria sobreviveu aos tempos, e se pode conseguir implantes de baixo custo também nas mãos de vendedores ambulantes que o conduzem ao "cirurgião" que fará tal processo, às vezes pela quinta parte do valor normal de mercado, o que claro significa também, que se pode esperar os mesmo de suas qualidades e durabilidades, sem falar nos riscos de uma cirurgia de inserção dos componentes mal feita, ou mal higienizada feita por pessoas que se julgam aptos à isso e na verdade não o estão...

Tudo nesta era é negociável, tudo é adaptável, tudo tem valor de troca e desta feita esse novo mundo ganhou espaço, tudo mesmo, até as coisas mais inimagináveis viram moeda de troca nesses tempos impensáveis desta nova era...

O "caçador" se posiciona acima de um letreiro em neon que anunciava vagas para diversão sexual com robôs, enquanto os três que ele havia detectado tentam adentrar o beco ao lado e se ocultar do que quer os estivesse perseguindo... Sem mover-se um milímetro que fosse, oculto pela luz ofuscante e pela chuva forte, mesmo com os trovões e a torrente, seu faro e sua visão não perdiam os andarilhos noturnos de sua percepção e eis que finalmente os inimigos se revelam correndo em busca de suas "caças"...

Facilmente aquele que observava de trás do letreiro reconhece o "trabalho" dos perseguidores, eram traficantes de escravos, em número de sete, buscavam pelos fugitivos para usurpar algo para usar como moeda de troca em alguma outra negociação, e dado que uma mulher jovem estava entre os em fuga, agora tudo ficava claro, a "moeda de troca" que eles "caçavam" era clara agora... O acontecimento estava desvendado, era hora de agir...

Os sete adentram o beco, eles buscam pelos refugiados e então um impacto entre poças de água existentes no beco se faz ouvir... Os fugitivos se mantém escondidos, os traficantes buscam pelo som que denotava que alguém havia chegado ao local e ambos ao mesmo tempo conseguem apenas ver os olhos amarelos brilhantes em meio à escuridão...

Os sete começam a dar passos para trás como se temessem a imagem que viam, embora somente os olhos, devido à escuridão, eram possíveis de serem definidos... Um relâmpago clareia o local e a silhueta do ser, o recém-chegado era definida e um deles que estava mais próximo dos fugitivos sussurra em pânico...

“- Bakemono..."

Os olhos desaparecem e somente o clarão do neon e dos relâmpagos refletidos na lâmina ancestral que o ser empunhava era possível de serem vistas! O suposto líder, aterrorizado com a cena que só havia ouvido falar até então, corre em direção aos refugiados para pegar o que veio buscar e fugir enquanto os outros ocupavam o demônio que ele temia e exatos cinco segundos foi o necessário para que duas ações acontecessem...

Enquanto o ser de olhos amarelos avançava, cabeças e corações foram seus alvos... Um golpe giratório atingiu o pescoço do primeiro, atravessando o mesmo de forma fácil como se nenhuma resistência oferecesse e sua cabeça voou pelos ares espirrando sangue, movimento brutal este que o atacante aproveitou para arremeter sua lâmina à frente de forma vigorosa, perfurando com precisão macabra o coração do segundo!

O terceiro veio por detrás do "bakemono" buscando um ponto cego para se aproveitar, mas seu destino foi tão terrível como os demais até então, pois com o cabo da espada empunhada fortemente, um movimento de recuo com técnica indescritível e o meliante teve perfurado também seu peito, assim como o segundo, mas sem a sutileza de um corte que a retidão da lâmina fazia, e assim, seu tórax foi literalmente destroçado pelo golpe fazendo inclusive com que a parte traseira de seu corpo explodisse para fora tamanho o impacto!

Puxando a espada novamente à frente, desenhando um corte transversal de baixo para cima com o reflexo das luzes na lâmina aterradora, o quarto traficante teve seu corpo aberto, de um flanco à outro passando pelo coração do mesmo enquanto esse mesmo arco continuou, assumindo uma trajetória linear agora, separando a cabeça do quinto integrante da gangue de seu corpo, restando assim, apenas o sexto "ingrato" que foi abatido de forma violenta com um impacto fulminante da bainha da lâmina, golpe esse que afundando seu crânio para dentro, abriu diversas rachaduras no mesmo deixando-o ao chão com massa encefálica à escorrer...

No mesmo instante em que o “caçador” realizava seus movimentos, o líder dos traficantes, de posse de uma adaga circular recoberta de cravos de metal, corria em direção aos fugitivos, sua meta era a mulher, pegá-la e desaparecer dali antes que o ser que golpeava seus comparsas se liberasse, mas ele não esperava resistência e a enfrentou, pois, um dos homens que a acompanhava a mulher se colocou à frente tentando impedir o avanço do criminoso...

Infelizmente e com muita facilidade o bravo, mas agora morto herói, teve seu peito perfurado sem piedade! Se apressando como nunca fez antes o traficante avançou e o último acompanhante também tenta detê-lo, agarra-o pelos punhos, lutam, mas este acompanhante era o que estava mais lento quando o "caçador" escutava seus passos, e o motivo, ele havia levado um tiro, seu ombro sangrava muito e infelizmente, também não foi páreo para o traficante furioso e assustado. Um golpe preciso e potente ao pescoço, esmagou a traqueia e quebrou suas vértebras lombares, retirando o agente do combate, restando apenas o traficante e a mulher, assustada e acreditando serem aqueles seus últimos minutos...

O traficante se arremessa, sua intenção era usá-la como refém ou matá-la se ameaçado, sua mão ia à frente pronto para agarrar ou retalhar, porém sua sorte terminava ali...

Apesar de parecer que detinha vantagens visto que o oponente misterioso tinha seis para derrubar, uma dor lancinante em sua mão esticada à frente chegou aos seus receptores implantados mais rápido que a dor do impacto da mesma ao chão, onde a lâmina do “bakemono” havia à perfurado prendendo-a com o movimento ao asfalto molhado encerrando assim sua ação...

O traficante olha para cima, percebe os olhos amarelos a o observar com expressão de raiva, o vulto misterioso e que havia derrubado seis enquanto ele tentou chegar à mulher, agora estava entre o "mão furada" e a jovem mulher... O homem, que ostentava implantes cibernéticos em seu pescoço, talvez para substituir parte do corpo danificada por cânceres ou mesmo outras doenças devido a seus vícios, tenta se mover e ameaçar, que mataria a mulher se ele não o soltasse...

Como em resposta, um sorriso muito discreto correu pela boca do portador da espada com a tentativa de blefe do "ingrato" à sua frente, afinal, ele não tinha como ir à lugar algum quanto mais ameaçar a jovem...

Um brilho então demonstrava o deslocamento da espada e enquanto ainda esbravejava o traficante ficou em silêncio repentinamente, pois seu maxilar caía ao chão com um golpe que ele sequer viu como aconteceu e quando tentou levar a mão ao queixo para descobrir porque não conseguia mais falar, a espada assassina desceu novamente dos céus abrindo seu crânio em dois, encerrando a jornada deste "ingrato" nas terras que o "caçador" protegia ou em qualquer outra...

Aterrorizada, em pânico, ferida e sem entender quem era quem naquela cena dantesca, associado ao medo e à velocidade de que todos os fatos aconteceram, tudo que a jovem mulher fugitiva conseguiu gravar antes de desmaiar, foram os dois olhos amarelos a se aproximar dela lentamente... O "caçador" a observa de perto, suas narinas à cheiram enquanto ele passa à mão no rosto da mesma para remover a sujeira que impedia visualizar seu semblante, e por alguns segundos ele fica a observar a caída...

"- Uma gênesis... Aqui... E porque seu cheiro parece tão familiar?"

Continua...

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...