quinta-feira, 24 de março de 2022

Grund-Tharg - Cap. 15 - "- Combate sem fim!"


No episódio anterior:

Jhon Raven de pronto fala à todos que em posição de combate, prestam atenção integral à tudo que o kellintorita tinha para dizer:

“- Eis a armadilha… Eis os que contribuem para a infelicidade dos presos bem como nos afasta de nossa missão… Hoje e agora, nós vamos derrubar estes inimigos… E para isso, precisamos seguir um plano que tracei, por isso, me escutem:”

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Os quatro meio dragões estavam à frente deles, separados por talvez cinquenta metros em meio ao breu mágico que envolvia o local misterioso… Grund ainda estava entre o grupo e os meios dragões, mais próximo do grupo era verdade mas pronto para partir em carga à qualquer instante, qualquer um notaria… Enquanto o jovem dragão branco, jovem em termos humanos afinal ele já deveria possuir pelo menos uns cem verões sem dúvida alguma, rugia por sobre a construção onde pousara, declarando seu domínio, provocando os guerreiros ao duelo que inevitavelmente aconteceria…

terça-feira, 15 de março de 2022

Perturbador - Caso 10 - O assalto!


O tumulto era grande, o abafamento daquele verão intragável não ajudava, a chuva atrapalhava bastante apesar de fraca e às vezes fazia a pistola não disparar… O alarme do banco soando alto, a cada freada de carro ou a cada grito eu cogitava que seria a polícia a chegar para me prender, e eu até quase queria isso depois do que vi… No entanto não era, e eu não iria encarar aquela coisa, eu estava conseguindo, eu estava fugindo, eu ia finalmente me dar bem, eu sentia isso!

Minha vida nunca foi fácil, mãe desconhecida, me deixou em uma calçada e fui recolhido pelo serviço público… Aí a lengalenga de vai e volta pra lares adotivos e tal, cada um pior que o outro, sempre cheio de gente babaca e a maioria, religiosos, alegando coisas sobre deus, céu e inferno, castigo após a morte para os pecadores, nossa... Como eu ria disso, tanta baboseira em uma vida só…

Cresci, atingi a maioridade e como qualquer serviço público, acham que alguém tinha um plano para o Spencer aqui quando saísse da aba do governo? Não, me soltaram nas ruas, se vira moleque… Drogas, espancamentos, furtos, bebida, cigarros, eis meus amigos e meus companheiros… O que sobra pra desgarrados como nós? Roubar, assaltar, óbvio… E assim surgiram os primeiros furtos, os assaltos à mão armada e enfim… Cá estou diante de um plano que finalmente deu certo…

Éramos oito, alugamos até um apartamento para onde iríamos após o assalto, era roubar e correr pra lá trocando de veículos diversas vezes no caminho e tudo quase deu certo pra todo mundo, mas no momento final, um carinha lá dentro se ergueu e comeu o Tommy na porrada para logo depois, comer ele de verdade… E eu não tô falando de putaria não, ele devorou ele parceiro, abriu uma bocarra sanguinolenta e mandou ele pra dentro… Os outros começaram a atirar nele e ele foi pra cima de todos, eu que não sou trouxa, corri com a grana antes de seja lá o que era aquilo fazer alvo no meu peito!

O troço foi assustador e eu não parava de pensar naquilo, no entanto, ao dobrar a esquina com a mala debaixo do braço, vi primeiro as luzes dos giroscópios, depois os gritos e o tiroteio começou… Milagrosamente não fui atingido mas, atingi e enviei três deles direto pro inferno, conseguindo entrar no beco à direita rapidamente, estreito como só ele mas eu me via correndo como nunca achei que correria!

Dobrei à esquerda e a à direita sem parar, aleatoriamente em cada esquina, pulei cercas, atravessei construções, eu simplesmente seguia buscando não dar um caminho aos policiais para me seguirem e quando menos esperei, finalmente atingi a estação de metrô. A mochila que havíamos comprado estava comigo, coloquei a mala da grana nela e a coloquei nas costas, tirando a jaqueta e a jogando no lixo, eu estava disfarçado agora, era só seguir o plano e ir para o apê esperar a poeira baixar…

Foram cinco metrôs e pelo menos quatro ônibus sem qualquer incidente além do silêncio anormal, mas acreditava eu, era por conta dos disparos que foram muitos e devem ter zoado meus tímpanos… Cheguei ao apê, entrei e de dentro espiei por alguns minutos para fora, nada nem ninguém me seguiu, eu estava salvo, era só esperar tudo acalmar e ficar com a grana toda pra mim sem dividir com ninguém… Por vezes pensava que merda tinha sido aquela que comeu o Tommy, mas preferia deixar aquilo de lado, não era mais assunto meu, ele me fez um favor, agora era dormir e esperar tudo acalmar…

A noite passa turbulenta, várias imagens, vários acontecimentos, a criatura, o confronto com a polícia… Acordo suado e assustado, alguém está mexendo na porta… Era de manhã, dormi despreocupado demais, talvez tenham me seguido… Pego a arma, me escondo atrás do armário e fico ali aguardando, o coração à mil…

Dois homens adentram o local, um deles bem mais velho, parecia mostrar o lugar, o outro mais jovem, parecia estudante… Os dois ficam à conversar, meu ouvido está bagunçado ainda, não consigo ouvir direito mas com certeza eram policiais ou algum parceiro dos que morreram… Me mexo com calma por detrás do armário, aponto a arma para o mais jovem primeiro, pois ele poderia revidar e puxo o gatilho…

A arma não dispara e eu puxo o gatilho de novo… Mais uma, duas, três vezes, nada… A maldita deve ter emperrado com a chuva de ontem, mas vejo que eles observam tudo e erguem o colchão, estão claramente buscando o dinheiro, e eu não ia deixar isso acontecer… Parto pra cima deles, eles sequer me veem e eu ataco e então... Eu que jurava que o aquilo que tinha comido o Tommy e os outros era a coisa mais assustadora da minha vida, me vi sem chão literalmente, atravessando os dois invasores com meu punho sem tocá-los, assim como a parede e acabando por cair lá embaixo na rua…

Me levanto, olho pra mim, nenhum ferimento... Olho para os lados, vejo muitos seres que mais pareciam zumbis à cambalear e fitar sua visão em mim, assim como todos as demais pessoas que passavam pelas ruas normalmente, mas os fantasmas… Porque estavam ali? Um arrepio correu por minhas costas atingindo minha nuca...

Corro em pânico para o quarto, os dois intrusos continuam ali como se nada tivesse acontecido, tento socá-los de novo, nada outra vez… A arma não está mais na minha mão, devo tê-la perdido, tento chutar exaustivamente e nada, até que os dois começam a se dirigir à porta e finalmente consigo ouvir a frase do mais velho, respondendo ao questionamento do mais novo:

“- Não seu preocupe, está vazio tem trinta dias… Eu aluguei para um grupo estranho, mas descobri depois pelos jornais que eram assaltantes de banco… Provavelmente iriam usar o local como esconderijo, mas infelizmente todos morreram de forma misteriosa, menos um deles que foi alvejado com dezenas de tiros em um confronto com a polícia… Coisa muito triste meu jovem!”

Aquilo me atingiu como um soco no nariz, ardeu tudo por dentro de mim e imagens começaram a pular à minha mente… O confronto com a polícia, o confronto com a criatura dentro do banco… As cenas voltam segundos antes do monstro surgir e sei lá de que forma minha mente revela a verdade que eu ocultava de mim com todas as forças… Do lado de fora, de cima de um prédio, os atiradores da SWAT nos alvejaram um a um, morremos quase todos dentro do banco e eu sei lá como, fugi atirando para fora, atingi diversas pessoas inclusive crianças e idosos, até que a polícia me parou…

O terror toma conta de minha alma, eu havia morrido, eu não estava mais ali, havia trinta dias desde o ocorrido que pra mim haviam parecido apenas horas… Eu havia morrido, crivado de balas e sequer consegui reagir, justo quando minha vida ia mudar eu perdi ela… Mas… Espera... Não pode ser verdade... Se morremos, como o monstro nos atacou? O que era aquele monstro que devorou a todos… Teria sido tudo aquilo um sonho então? Não houve um monstro e eu fantasiei tudo em meus últimos momentos de vida, seria isso?

Então as sombras do quarto começaram a se materializar, a se condensar em uma coisa única, algo grotesco e assustador… Eu o reconhecia, eu já o tinha visto antes… A criatura no banco… Ela estava ali agora… Aterradora… Dentes e boca aterrorizantes… Sua voz ecoa como um sibilar de cobra e consigo finalmente definir suas palavras enquanto tentava me afastar e me proteger:

“- Não se preocupe… O que está vendo nada mais é que crenças de religiosos, alegando castigos após a morte para os pecadores, muita baboseira em uma vida só… Devia ter acreditado mais nas histórias religiosas sobre pecadores, entenderia seu destino mais facilmente agora…”

Eu tento gritar e pedir ajuda quando ele avança, mas fantasmas, apesar de sofrerem, geralmente não são ouvidos por ninguém…

FIM

quinta-feira, 3 de março de 2022

Perturbador - Caso 09 - Frases e verdades...


Era noite de quarta-feira, estávamos a assistir ao jogo de rúgbi pela liga mundial, parecia que seria uma noite tranquila, mas como bem diria Edward Murphy, "Se alguma coisa pode dar errado, dará" e eu iria comprovar isso no chamado de hoje!

Somos do 28º Batalhão Anti-Chamas da cidade de Fort Lauderdale e combater incêndios e salvar vidas é nossa principal missão ou motivo de vivermos! O alarme soou e parecia que nossos corpos reagiam como que em modo automático… Todos sabiam onde tudo estava, tudo havia sido treinado uma infinidade de vezes e em poucos minutos, completamente equipados e com adrenalina ao máximo, estávamos saindo do quartel general em direção à avenida 375, trajeto para a cidade vizinha!

O chamado da emergência avisava que um carro havia saído da pista, provavelmente devido à chuva forte daquela noite e que o carro que vinha logo atrás e avisou da emergência, não pode ficar no local pois estava trazendo uma mulher em vias de dar à luz, com extrema urgência para o centro médico! Isso queria dizer que, os demais que passassem sem ter visto o acidente, sequer saberiam que haviam pessoas que talvez precisassem de ajuda ali!

No entanto, embora a necessidade de velocidade, eu mantinha para mim o mantra de Leon Tolstói, “Os dois guerreiros mais poderosos são a paciência e o tempo!” Na nossa profissão, se não mantermos a sanidade e a serenidade, vidas são perdidas e isso não é admissível para qualquer soldado de resgate que se preze!

Bastaram minutos para chegarmos perto do indicado pelo veículo que informou o acidente, a chuva estava cada vez mais forte e seria difícil naquele breu todo, encontrarmos o local exato do ocorrido, poderíamos perder segundos vitais para salvar qualquer um deles e em um gesto de ansiedade talvez e da minha vontade de poder salvar aquelas pessoas, mentalizei a frase de Aristóteles “A esperança é o sonho do homem acordado!”

Eis que alguns metros à frente, como que em resposta à minha esperança manifestada, víamos alguém, em plena rodovia, acenando freneticamente os braços para chamar nossa atenção! A pessoa parecia estar bastante machucada, era uma mulher, aparentava seus trinta e cinco anos, cabelo loiro, blusa clara, calça jeans marinho… Havia sangue nela se percebia de longe, mas assim que ela sentiu que a seguiríamos, ela correu barranco abaixo acenando sempre, com certeza nos mostrando o caminho do acidente!

Socorristas, brigada de incêndio, equipamentos para cortar e remover ferragens, medicamentos, macas, tudo que fosse necessário para agirmos no local seguia conosco e de forma incrível, a mulher se mantinha sempre distante de nós por mais que corrêssemos… Enquanto a coitada seguia valente como nenhum de nós conseguiria ser, minha mente insistia em buscar frases e lembrei da célebre frase de Erich Remarque, “No desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre. De outra forma não sobreviveriam.” Aquilo era uma grande verdade e como esperado, seguimos firmes, bastaram alguns minutos para acharmos o veículo, capotado, gasolina vazando e de longe se ouvia o choro de um bebê, provavelmente preso às ferragens!

A mãe provavelmente era quem estava nos guiando, não conseguiu ajudar o bebê e foi à rodovia nos encontrar! Graças ao esforço dela, estávamos ali agora porém, diferente do que pensamos, o bebê não estava preso a nada, estava solto dentro do carro, de alguma forma ele foi jogado do assento e chorava muito devido ao susto provavelmente… Claro, era fato que sem o socorro ele morreria com a explosão que estava por acontecer, mas os ferimentos eram sem dúvida mínimos, o pequeno não corria mais riscos…

Removemos o bebê de meio dos ferros distorcidos o mais rápido que pudemos e então nos voltamos para o outro ocupante do carro, o motorista, que era o único ainda dentro do mesmo e se notava, pelo estado do corpo, estar sem vida já, infelizmente… No entanto, olhando com um pouco mais de atenção, o que chocou na verdade, não fora o estado do corpo ou mesmo a tristeza de perder uma vida, mas sim, os trajes e descrição daquela pessoa morta… Aparentava seus trinta e cinco anos, cabelo loiro, blusa clara e calça jeans marinho…

Olhamos todos uns para os outros e depois buscamos pela mulher que havia nos conduzido até ali e não mais a avistamos em lugar algum… Nenhum de nós era capaz de dizer qualquer coisa diante daquilo, daquela cena que tantos de nós já havíamos em algum momento ouvido relatar, a cena sobrenatural e porque não dizer fantástica, do fantasma determinado da mãe à buscar ajuda à seu filho prestes à morrer, mas era fato também que em sua grande maioria, ninguém acreditaria algo assim ser realmente verdade… No íntimo de meu ser, tentando resolver aquela sentença sem qualquer explicação, como sempre fiz em minha vida eu busquei uma frase famosa que me ajudasse a pelo menos acalmar meu coração diante daquilo e eis que a expressão proferida pelo inesquecível Shakespeare me veio à mente como um raio: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia…”

O carro começou a incendiar, todos tentaram correr e eu fui até a ribanceira para ver se havia mais alguém e então novamente o impossível me saltava aos olhos… Ao fundo do vale, perto da margem do rio, eu avisto novamente a mulher que nos guiou até ali… De pronto me ponho a questionar, como ela foi parar lá, como estava de braços abertos a nos chamar, como ela podia se manter de pé caindo por quase oito metros de altura… Então ouço meu colega gritar meu nome, viro-me para o veículo, a explosão acontece, eles são jogados para lá e eu ribanceira abaixo e assim, a visão que jamais conseguirei explicar…

A mulher, que havia nos trazido até ali, não era a mãe, não era um fantasma, era algo que eu não sabia definir, que explodiu em tentáculos e uma bocarra terrivelmente assustadora e repleta de dentes aterrorizantes… Sem ter onde me agarrar, como mudar minha queda, apenas caí direto em sua boca, senti seus dentes e meus ossos quebrando e meus órgãos sendo triturados… A explosão encobriu os sons, a chuva e o rio, diante da visão de meus colegas, deu destino a meus restos mortais… Meus últimos suspiros físicos foram dados dentro do estômago ácido do que quer que fosse aquela criatura e então, talvez por conta de tantas frases que já havia dito e da situação sem igual em que me encontrava, pela primeira vez eu não tinha uma frase para citar, e finalmente morri, consumido pelo ser…

Aí você se perguntaria, como estou contando essa história então? Venha comigo, se imagine dentro de uma jaula, com grades fortes e duas janelas para observar para fora… As janelas são os olhos de meu corpo, meus antigos olhos e a jaula é meu corpo agora possuído… A criatura ou seja lá o que for, ao consumir meu corpo se transformou em mim assim como antes de transformou na mãe do bebê e sabe-se lá quantos antes… Como o monstro não podia digerir minha alma, aqui estava eu, agarrado ao que me restou da materialidade, chorando dia e noite com o que ele é capaz de fazer, atacando e atraindo mais e mais pessoas para as encostas das rodovias, devorando tantas quanto pode, e o pior de tudo, sequer sei dizer porque não abandonou meu corpo assumindo a forma de suas novas vítimas…

Impotente, traumatizado, amarrado à meu corpo sem poder abandoná-lo, eu o vejo matar e matar sem parar, enganando homens, mulheres e crianças… Diante de tudo aquilo e do que seria minha eternidade, me restou buscar um último acalento, um último lampejo do que fui um dia, trazendo com toda força do meu ser ainda resistente, uma última expressão antes de deixar de existir pra sempre, sendo consumido por completo pela fúria insana daquele que agora era minha jaula e que nos tornou dois seres em um único corpo… Creio que a frase foi deveras adequada…

"Ou você morre como herói, ou vive o bastante para se tornar o vilão" - Harvey Dent

FIM

Grund-Tharg - Cap. 25: "- Aproximação pelo Monte Egophia!"

O dia amanhecia, como há muitos dias não acontecia, com o grupo despertando em camas, dentro de moradias, o cheiro de comida nova emanava pe...