Gênesis… Uma das coisas mais
raras de se encontrar nas ruas dessa nova era... São chamados assim, humanos
puros sem qualquer tipo de implante ou intervenção cirúrgica para fins de
instalação de implantes, como supostamente eram os homens na época da tão
difundida criação… Seres humanos desse tipo são verdadeiras raridades nesta era
atual apesar de não estarem próximos de uma extinção, justamente por serem tão
escassos principalmente nas grandes cidades, isso os torna preciosos… Com muito
valor comercial… Tudo nessa nova era mesclada entre horror, descrença e
tecnologia de ponta é moeda de troca, principalmente aquilo que remete à coisas
e situações que não podemos mais dispor como nos tempos dos mundos antigos...
Com toda a certeza, uma jovem gênesis, tem grande valor... O valor comercial
inicialmente, mas existem vários outros valores aos quais ela seria associada,
principalmente para os que detém o poder nessa época... O triste, é que nenhum
desses valores, pode-se dizer ser um "bom
valor"...
O cheiro da brisa da manhã
invadia as narinas da moça que começava à recobrar seus sentidos lentamente...
Ela tinha dificuldade em abrir os olhos mas não por qualquer ferimento, apenas,
o normal do despertar após várias horas de sono... O ar era profundamente limpo
e havia ruído de pássaros enquanto os sons de cidade estavam distantes...
Colocando as mãos sobre o rosto devido à leve claridade ela tentava se erguer
mas percebia ainda estar fraca demais e com dores pelo corpo... Ela toca-se,
sente curativos em ferimentos que ela nem lembrava ter sofrido e então
lembra-se do ataque... Os que a protegiam feridos, depois mortos, assim como os
que atacavam e em sua mente, aqueles olhos amarelos aterradores que pareciam
apesar da agressividade descomunal, querer protegê-la... Tudo era muito confuso
e estar naquelas condições com curativos, com certeza despertaram nela
perguntas padrões como, quem a curou, onde ela estava, o que estava
acontecendo... Todavia, junto à todas essas emoções repentinas e fortes, era
impossível ignorar que também, ela continuava incrivelmente maravilhada com o
frescor do ar e o som do campo, algo que ela julgou, nunca mais iria ouvir ou
sentir... Como que se cortasse esse embalo nostálgico, um som que destoava de
toda essa visão de interior surge na voz de um locutor de rádio, rádio de um
tipo de voz muito abafada e chiada onde o noticiário mencionava fatos, e dentre
os quais ela conseguiu distinguir apenas:
“- O corpo decapitado de um policial também foi encontrado dois
quarteirões da cena onde os outros três estavam em estado semelhante! Nas
palavras do chefe do departamento de polícia da área, o oficial morto teve este
triste fim ao entrar em confronto com os temíveis criminosos, fato este
ocorrido há três dias na periferia de SkyLand… Já testemunhas do bairro afirmam
que o policial morto fazia parte de milícias que cobravam valores mensais para
não interferir nos crimes do local... Junto ao corpo do policial foi encontrado
um origami com a inscrição “Shoryako” que segundo a tradução conseguida,
significa omissão! Enquanto uma testemunha que não quer se identificar, afirma
ter visto a cena e alega: "- Não dá para simplesmente apagar a imagem,
aqueles olhos amarelos observavam o corpo do James WhitHand, que é como o
chamavam... Logo em seguida os olhos desapareceram na escuridão... É por isso
que eu não me meto em confusões, a lei dele é brutal, mas só quem sai da linha
o encontra!”
Embora o som de rádio não fizesse
parte de suas lembranças de outros tempos, coisas como “- Estarei em casa novamente?” sussurravam em sua mente ao passo que
uma voz masculina, bastante clara e calma, mas ao mesmo tempo imponente, como
se lesse seus pensamentos naquele instante, respondia um pouco mais longe,
assustando-a é claro, tanto com seu falar quanto com o desligar o rádio que
havia dado a recente notícia...
“- Está dormindo há três dias... Uma amiga minha fez os curativos em
você e eu me mantive longe todo o tempo que ela te banhou e tratou, fique
tranquila..."
A moça então, sem olhar para onde
vinha a voz ainda, bastante assustada na verdade por não saber o que acontecia,
se recobriu novamente e ficou em silêncio, esperando por algum acontecimento,
sem dizer qualquer palavra... Eis que então a voz masculina novamente toma
espaço e se pronuncia:
"- Cogitei que sendo uma gênesi, você não deve ser de nenhuma cidade e
sim de algum local afastado que se mantém sobrevivendo apesar da atual
situação... Infelizmente você não está em casa, mas espero que este lugar possa
lhe trazer segurança e tranquilidade... Descanse por enquanto, está segura aqui
e há muitos ferimentos que precisam se curar...”
A jovem então toma coragem e
busca pela voz, avistando seu anfitrião alguns metros dela, sentado ao lado de
uma fogueira, com uma panela pendurada sobre o mesmo, cozinhando algo que antes
de mais qualquer outra consideração, cheirava muito bem e despertou uma gigante
fome na moça, sensação que ela conteve em silêncio apesar de lembrar-se que antes
do ataque sofrido, ela já não comia corretamente há quase dois dias… Enquanto
seu estômago roncava ela observava o anfitrião de aparência de pelos menos 35
anos que remexia o fogo alternando com um gole de chá talvez, com certeza
alguma bebida quente, seu estilo, aos olhos dela, lembrava muito os antigos
samurais da era feudal do Japão, algo bem diferente para os dias atuais ela
pensava... O cheiro de fumaça e de comida à fazia sentir confortável ao mesmo
tempo que lhe trazia memórias terríveis, memórias essas que a fizeram deitar-se
novamente, ficando por longos segundos em completo silêncio, esperando que o
homem falasse algo ou desse a entender quais seus propósitos... Os minutos
passaram-se e nada fora dito por ambos, apenas ela aguardava e o homem remexia
o fogo enquanto o que quer que estivesse cheirando tão bem na panela,
borbulhava...
Do nada ela percebe que o homem
se ergue de onde estava e vem em sua direção, ela se mantém imóvel sem olhar
para a direção da qual ele vinha até que ele surge ao seu lado, ajoelha-se e
segurando um chawan repleto de algo borbulhante e deliciosamente assemelhando
muito ao conhecido oden, fica a observá-la por segundos… O anfitrião então
coloca ao chão do lado de onde ela repousava o “chawan”, se direciona à ela tentando ajudá-la à sentar-se com
delicadeza… Sem saber como reagir ou que reação teria o homem caso ela
recusasse, a moça não oferece resistência e a fome que sentia à impulsionava à
tal ato igualmente, de forma que ele conseguiu facilmente que ela ficasse sentada,
tomando então a tigela em suas mãos, entregando à mesma para a jovem assustada
que ignorou todo e qualquer sentimento que a acometesse naquele momento,
focando sua existência daquele instante em uma única ação, e assim, começou à
comer com muita vontade e quase sem qualquer etiqueta, a refeição oferecida…
O homem por sua vez, demonstrando conhecimento das reações humanas, sabendo o que aconteceria logo em seguida, se levanta, vai até o fogo e traz consigo a panela fumegante e deliciosamente bem cheirosa, dessa vez sentando-se com as pernas cruzadas e a panela ao lado com uma concha dentro, ao que já recebia um olhar da moça, com a “chawan” vazia e embora sem usar qualquer palavra, “- Posso comer novamente?” diziam os olhos da moça suplicantes e receosos, o que com satisfação, e pela primeira vez demonstrando um esboço de sorriso, o anfitrião atendera com gosto, ficando a observá-la enquanto saciava sua fome…
Alguns segundos se passaram, o
anfitrião atento permanecia, porém, sem dizer qualquer palavra, enquanto a
moça, agora comendo com um pouco mais de calma, engole o que tinha à boca e
então fica um pouco pensativa, como se decidisse entre falar sobre si ou manter
o silêncio… Antes que ela optasse por uma delas, o homem que cuidava dela
argumenta, como que entendendo o dilema da jovem:
“- Seus guardiões morreram à protegendo, não por amor à você, mas porque
foram bem pagos para isso… Quem pagou à eles aquela quantia, com certeza não
estava interessado em seus dotes culinários ou tão pouco à quer como uma inocente
gueixa… E dado que você não estava acorrentada ou mesmo tentou fugir de seus
“guardiões”, considero que foi uma escolha sua estar seguindo com eles, o que
me leva à algumas considerações para tal decisão... No entanto, dado sua fome e
a satisfação de paz que teve nesses minutos desde que despertou eu apostaria em
uma única alternativa... Você provavelmente tinha uma vida pior que a vida que
terá nas mãos de quem o comprou!”
Ambos ficam em silêncio por
alguns instantes, a moça olha para ele e com lágrimas aos olhos voltando-se
logo em seguido ao seu “oden” ao
passo que começava novamente à comer mais rápido do que antes, como se quisesse
impedir com a comida, lembranças ou mesmo o pranto… O anfitrião baixa sua
cabeça e fica a olhar para o chão, como se respeitasse o momento da moça e sem
olhar para a mesma continua…
“- Não quero dificultar sua situação… Não precisa explicar nada se não
quiser… Apenas preciso decidir como agir com você… Preciso que defina o que
quer fazer depois que se recuperar…”
A moça então interrompe a comida
e fica à observar o homem que lhe falava algo que bateu fundo em sua alma… Ela
apesar do conforto e segurança que estava sentindo, estava nas mãos de um
estranho completo e considerava que talvez, se tivesse muita sorte, teria comida
em troca de serviços de qualquer natureza, porém... Diferente de qualquer
pensamento ou imaginação que ela pudesse ter tido, o estranho estava
perguntando à ela o que ela desejava fazer… Nunca em sua vida antes alguém
perguntou sua opinião sobre nada ou mesmo deu à entender que iria atender à
algo que ela quisesse fazer… Sua vida havia sido obediência e castigos... Como
alguém que vê o mar pela primeira vez, ainda sem reação, ela fica à observar o
anfitrião, que por sua vez, continua:
“- O valor que encontrei com seus guardas é suficiente para cumprir o
serviço, então, posso levá-la até seu comprador, cujas instruções que os mesmos
detinham me permitem saber quem a comprou e onde entregá-la… Particularmente eu
não acho que uma vida como escrava sexual possa ser melhor do que já viveu até
hoje, mas não tenho o direito de julgar sua decisão já que ela prejudica
somente à você… Por outro lado, poderia também levá-la de volta até sua casa
para que tente esquecer esse acontecimento e recomeçar, mas algo me diz que
você não parece ter interesse nessa opção visto que deixou essa vida para se
tornar uma aquisição de alguém repugnante o suficiente para querer você como
uma posse… Também poderia te conduzir até à cidade e apresentar à alguns amigos
para que inicie uma vida livre longe da situação anterior da qual fugiu, mas
temo que essa seja a pior de todas as opções, pois não conseguiria esconder sua
condição gênesi por muito tempo e em breve cairia nas mãos de outros
compradores ou talvez do próprio que já a comprou... Aliás, com certeza ele irá
procurar por você uma vez que não chegou até ele e que os dois mortos foram
muito bem pagos para tal serviço… Todas essas opções são viáveis, a única coisa
que não posso fazer é mantê-la aqui antes que cogite tal ideia… Assim sendo...
Eu preciso saber... Qual sua decisão, senhorita…”
O homem fica à aguardar um nome e
uma resposta para sua pergunta, mas parece que a moça ainda estava em choque
com o acontecimento e ele fez questão de respeitar isso… Alguns segundos se
passam, a jovem nada respondia e parecia em pânico sem saber o que dizer ou que
decisão tomar… O único lugar onde se sentiu em paz desde que se lembra, foram
aqueles poucos instantes na casa de um completo estranho e que ela julga ser o
retalhador do beco ou alguém à mando dele, como poderia ela se sentir em paz
diante de alguém que ela viu uma única vez e ainda assim, realizando coisas tão
brutais? Agora, diante dela, ferida e fraca, justo aquele homem que
supostamente demonstrou atos tão violentos, era uma das únicas sensações boas
que ela já havia sentido e de forma até ríspida, já havia dito que junto dele
não poderia ficar… O silêncio impera, homem brilha seus olhos em amarelo e se
levanta, saindo do lugar com uma frase simples e direta:
“- Vou deixar-lhe à sós com seus pensamentos e resolver algo, volto em
seguida para ouvir sua resposta senhorita sem nome, mas, queria deixar uma
reflexão... Quando os justos se omitem... São os inocentes que pagam o preço...”
O homem se retira pela porta dos
fundos do lugar e ela fica com a mão estendida, fazendo clara menção de querer
chamá-lo para dizer algo, para pedir algo, mas no fim se dá conta que mesmo que
ele se detivesse e à ouvisse, a resposta seria não… Além disso, as palavras
soaram duras, mas representavam uma grande verdade... Sua alma se contorce ao
lembrar de sua omissão no passado e o que isso lhe custou e ainda lhe custa...
O silêncio imperava e dava ênfase aos pensamentos tristes e tortuosos enquanto
ela larga a comida e começa à lacrimejar sem saber que caminho tomar… Seus
pensamentos divagam ao seu passado triste e sofrido, fazem uma torturante
viagem por tudo que ela considera que já sofreu até suas decisões finais e
quase morte... Um turbilhão de sentimentos como culpa, raiva, agonia,
arrependimento e tristeza se abatem dela quase a enlouquecendo, quando então um
ruído de metal na porta da frente se faz ouvir... A moça se assusta de forma
mais intensa e teme já ter ouvido aquele som… Eram armas como as que os guardas
que a guarneciam dias atrás usavam… Armas com empunhaduras de conexões neurais,
ligadas diretamente à seus usuários, como forma de registro e de rastreamento
para serem localizados em qualquer local por quem os armou!
Algumas risadas e então um
impacto forte e a porta do casebre vem abaixo revelando uma dezena de homens
com os mesmos trajes dos dois guardas, braços direitos repletos de implantes
cibernéticos que os permitiam usar as tais armas e ligavam-se diretamente à
seus córtex através de uma espécie de minicomputador fixado na base de sua nuca,
era um pré-requisito segundo haviam mencionado os dois falecidos para
integrarem a tropa... Recursos e poderio tecnológico contra diversos oponentes
em troca de sua humanidade e privacidade, eis o mundo que em que os seres
viviam nos dias de hoje...
Apontando as armas para dentro da
casa enquanto um que estava mais ao centro, retira o capacete que usava,
deixando à mostra seu rosto estampado com uma cicatriz que quase dividia sua
bochecha esquerda em duas, de onde corriam fios e circuitos indo até seu microcomputador
e espalhando-se por sobre o ombro descendo o braço direito como os demais… Seus
olhos eram também como dois visores, retangulares e rubros com uma luz serena e
espessa... Provavelmente traziam à ele visões diferenciadas e outros recursos,
conquistas que vieram junto com o posto de comandante provavelmente, o que
parecia ser visto que os que estavam na porta dão um passo para trás dando
lugar ao mesmo que por sua vez dá um passo à frente berrando:
“- Mas olha só que interessante… Seguimos o rastro do sinalizador que
foi jogado no rio e por sorte resolvemos investigar esse barraco que se via de
lá, mesmo não acreditando que seriam tão burros de esconderem-se próximo à onde
desovaram o localizador que a acompanhava mocinha!"
A moça então se lembra que em seu
pulso direito havia uma espécie de aparato preso, como uma fita mais espessa
que o normal, que os guardas anteriores haviam dito que servia para localiza-la
em qualquer situação... No referido, no entanto, naquele momento, havia apenas uma
leve vermelhidão, como se algo muito afiado tivesse tocado sua pele naquele
ponto... Ela olha novamente para o homem que seguia a berrar:
"- Viemos buscar comida, bebida e talvez algumas mulheres da roça para
nos divertir e vejam só qual não foi minha surpresa… A putinha de ouro do
chefe, deitada, limpinha, comendo refeiçãozinha… UAU! Meus amigos, que cena,
QUE CENA!"
O homem erguia os braços e
gesticulava exaltando a situação em que a jovem se encontrava, enquanto a mesma
se cobria com a coberta da cama cada vez mais intimidada... Percebendo o efeito
de suas palavras o homem, que parecia ser o capitão da força militar ali,
completa:
"- E a gente andando nesse monte de mato, com esses insetos nojentos,
pensando que você estava morta e que teríamos de andar o dia e a noite toda pra
achar seus restos e poder voltar pra casa, enquanto isso... A belezinha
virgenzinha aqui no bem bom… Mas que grande filhadaputagem hein? Bom, acabou o
recreio, levante-se e vamos embora ou..."
O homem da cicatriz então emite
um sorriso nefasto completando a pior frase que uma mulher, principalmente uma
jovem, poderia ouvir:
"- Terei que fazer o "esforço" de tirar de você aquilo que o
chefe está pagando tão caro… Aliás, eu e os rapazes aqui estamos há dias na
estrada, tudo que queremos é que nos dê um só motivo, um bem pequeninho assim,
pra podermos inventar qualquer mentira e... Te fazer suar... Afinal deve ser
diferente com uma mulher zerada como veio ao mundo, novinha, cheia de vida e
intocada... Chega dessas malditas prostitutas ciborgues, não é não pessoal?”
Todos caem na risada, a moça
entre em desespero, olha para todos os lados buscando pelo homem que cuidava
dela mas ele havia saído… Sem opção ela tenta gritar, mas a voz não lhe sai, em
sua mente ela relembra o passado e com essa angústia no peito, tinha convicção
de que se seguisse caminho com aqueles soldados, era certo que não chegaria
viva ao seu contratante, eles tinham tudo preparado, estava explícito... Por
outro lado, se recusasse a ordem, com certeza seria morta ali mesmo… Em seu
íntimo ela chora e pensa, de que adiantou ter sido salva dias atrás para morrer
agora de forma tão cruel e toma a decisão de argumentar quando o soldado da
cicatriz endurece e eleva a voz, bradando:
“- Muito bem sua vagabunda com tudo original de fábrica, eu decido por
você então! Nós vamos…”
O som da voz do homem é
interrompida como se ele tivesse parado de falar ao se chocar com alguma coisa
ou prestado atenção em algo que mais ninguém via... Os demais soldados buscam
por o que quer que tenha tirado a atenção da fala de seu capitão e então, sem
qualquer aviso, jatos de sangue espirram do homem em todas as direções
aterrorizando à todos e como que em um passe de mágica, os olhos amarelos
surgem por detrás do já falecido capitão, enquanto o militar desandava ao chão
partido em duas partes milimetricamente iguais, espalhando seus órgãos, tecidos
e circuitos cibernéticos pelo chão em uma cena dantesca de revirar estômagos
mais fracos…
O homem de olhos amarelos, agora
visível à todos mas ainda os mantendo imóvel devido seu surgimento e atitudes
aterradoras, arremete com força sua espada radiante para trás fazendo com que o
sangue em excesso preso na lâmina fosse jogado para longe, caindo este sangue
pesadamente no rosto de outro soldado em pânico, escolhido ao acaso talvez para
tal acontecimento pelo atacante ou talvez, porque o mesmo tinha em seu lado
direito do rosto, uma câmera fixada com circuitos que corriam até seu pescoço e
por consequência ao seu microcomputador pessoal na base do crânio, provavelmente
o soldado responsável por gravar dados das missões para acompanhamento de seus
mandantes... A expressão no rosto do portador da espada no entanto, parecia
denotar que ele queria que tudo ficasse registrado!
Assim que a espada ficou "limpa", o misterioso agressor tomou
posição de combate e desapareceu novamente diante dos olhos de todos, deixando
no ar apenas um risco de energia amarela... Em frações de segundos, jatos de
sangue espirram de todos os soldados presentes no local enquanto os implantes atingidos
rodopiavam com pedaços de carne pelo ar, fazendo com que todos tombassem sem
sequer saber o que aconteceu à cada um deles, a única exceção foi o soldado com
o rosto repleto de sangue do corpo do capitão, que teve seu braço esquerdo, o
que ainda era carne e ossos, perfurado pela lâmina avassaladora, ficando preso
contra uma árvore com o impacto e estocada, enquanto os olhos amarelos surgiam
diante dele segurando o cabo da letal lâmina que o prendia contra o tronco da
planta:
“- Não achei que seriam tão burros à ponto de ficar circulando ao lado
de onde desovaram um rastreador, mas foram... Com isso, vocês vieram para longe
da cidade, onde ninguém os ouviria gritar e nenhum outro inocente seria ferido
pelo acordo de vocês com a moça indecisa ali... Agora, eu quero mandar meu
recado de forma sutil para o seu dono…”
O homem preso pelo braço estava
em pânico, os companheiros ainda convulsionavam e espirravam sangue enquanto o
ser de olhos amarelos se vira sem soltar o cabo da espada, olha para a moça que
ainda em pânico se escondia na cama dentro do casebre... Sua intensidade
energética em seus globos oculares some e até mesmo a jovem que o conhecera há
poucos dias, conseguia identificar o que a expressão do guerreiro dizia naquele
instante… Ele à questionava quanto à sua decisão e, ponderando as palavras
ditas pelo mesmo e os acontecimentos presenciados até então, sentiu finalmente
que se continuasse ali ia envolver inocentes naquela situação... Em seu íntimo
ela sentia, já havia cometido erros demais, ela não cometeria mais uma
atrocidade! Com esforço descomunal ela se ergue, fica em pé e determinada diz,
deixando com que os dois ali presentes ouvissem sua voz pela primeira vez:
“- Eu decido seguir minha viagem até meu comprador, mas... Eu escolherei
aquele que me levará em segurança até ele e este que empunha a espada é meu
novo escolhido!”
O guerreiro então acena
positivamente com um semblante de satisfação em sua expressão e ativando
novamente a energia que emanava de seus olhos, volta-se para o soldado, retira
a espada com força de seu braço o deixando cair ao chão para logo em seguida
agarra-lo pelo pescoço completando:
“- O recado está dado... Complemento dizendo, que… Aceitarei o dobro do
que já peguei pelo serviço… Todos que vierem tentar se envolver no meu trabalho
de entrega, morrerão como esses aqui... Conforme o local e data no contrato
combinado, lá estaremos, isso é tudo!”
O espadachim de olhos amarelos
então arremessa o soldado ao chão, esperando o mesmo se erguer em susto
tentando fugir para conectar um chute em suas nádegas o arremetendo para frente
com força, fazendo com que o mesmo saísse correndo em desespero do local!
Limpando a lâmina de sua espada, para então a guardar logo em seguida, o
anfitrião vira-se para a moça e aproxima-se dela com um leve sorriso:
“- Não creio ter sido a melhor opção, mas você se impôs e tomou sua
decisão... Eu a respeito por isso! Partimos dentro de dois dias, até lá
descanse e se recupere... Eu cuidarei de você e não te deixarei sozinha até que
esteja nas mãos de seu novo dono!”
A moça desaba sobre a cama e chora compulsivamente enquanto o anfitrião se afastava do local para remover os corpos e restos da frente de sua cabana… Entre lágrimas, a ela sente que decidiu algo que fará bem aos outros, mas novamente ela duvidava de si mesmo como sempre duvidou, teria tomado a melhor decisão? Claro que não, ela pensava na sequência, mas tudo que ela queria neste momento, embora tivesse parecido ser uma decisão completamente altruísta, era ficar um pouco mais ao lado daquele que causou-lhe sensações de segurança e conforto como nunca teve em sua vida… Mesmo que tivesse de viver o inferno depois, aqueles dias ao lado do guerreiro valeriam por sua vida inteira, assim ela pensava, e então as lágrimas começaram à parar e um leve sorriso começou a se formar, um sorriso que há muito ela não conseguia mais expressar… Apesar de tudo, ela estava feliz, naquele momento...
Alguns metros mais à frente do
local de combate, empilhando os corpos e restos para queimar, o homem que empunhava
uma espada assassina e letal diante de inimigos maldosos, pensava para si mesmo
sobre tudo que estava acontecendo… Ele sequer sabia o nome da moça, mas algo
muito forte o conectava a ela… Ele sentiu algo nostálgico e familiar nela
quando a viu no beco naquela noite... Poderia ser aquela situação uma vez mais?
Não, pensava ele, porque justo
agora, quando ele realmente não merecia algo assim visto a vida que vinha
vivendo… De qualquer forma, em seu íntimo ele sabia que algo muito forte o
fazia ter o intuito de proteger a jovem moça, mesmo que ela decidisse seguir
sua missão de se tornar o brinquedo de alguém... Enquanto ela estivesse
decidindo por si, e não causando mal à inocentes, ele cuidaria dela…
O fogo eliminava o fedor e o
sangue do local, purificava a carnificina de poucos instantes atrás... O
guerreiro ao lado das chamas, assim como a moça que observava à tudo da cama de
dentro da casa, ambos observavam há algumas dezenas de quilômetros a cidade de
SkyLand... As pontes, as torres dos poderosos, os avatares holográficos
vendendo e ofertando a vida frenética e cheia de recursos dos dias atuais, bem
como os veículos aéreos e o tumulto da noite naquela pequena periferia que era
visível dali... Percorria lhes o íntimo o quanto conseguiam embora tão perto,
se sentir tão longe de todo aquele alvoroço de seres... As matas eram raras,
mas devido à tecnologia elas não mais eram necessárias, ou devastadas, tudo que
se precisasse podia ser feito em 3D, sem necessidade de usufruir da natureza e
com isso, lá estavam eles em um paraíso desconhecido para ela e incrivelmente
pessoal para ele... Sem olhar um para o outro, ambos observaram atentos o
crepitar das chamas e, em seus corações, uma frase queimava intensamente:
“- Porque isto está acontecendo desta maneira?”
Uau! Que capítulo excelebte.
ResponderExcluirEu adoro quando você destaca os detalhes tecnológicos em meio às cenas, como você perfeitamente fez com a chegada dos caçadores na cabana, descrevendo muito bem os implantes.
A decisão que a jovem tomou era realmente a única que ela podia tomar, pelas opções apresentadas até aqui...
Algo me diz, no entanto, que essa dupla, a Moça e o Olhos Amarelos (curto muito tbm o lance de ninguém ter sido nomeado ainda) ainda podem acabar ficando juntos, não de forma romântica, mas por algo mais que reforce a ligação entre eles.
Um excelente trabalho cara! Tá mandando muito bem!!
Grande Norb, o cara que me fez determinar a concluir NeoChangeman, satisfação te ver acompanhando minha nova saga, espero que eu nunca perca o fio da meada e possa seguir adiante com bons retornos!
ExcluirOs implantes tecnológicos, eu curti muito imaginar e criar essas coisas, me vejo pensando em Robocop entre outros ciborgues, assim como o filme de Ghost in the Shell e fico tentando criar coisas diferenciadas para cada personagem apresentado de acordo com sua necessidade ou atitude, nesse caso eu achei que seria algo bem cruel para quem fez e bem egoísta para quem aceitou, tipo, vou meter circuitos nos caras só pra saber onde estão à cada instante enquanto que eles, aceitaram se mutilar pra ganhar dinheiro e poder... Então tenho procurado associar os implantes de acordo com as "necessidades" de qualquer um que aparecer pra ficar algo útil e digamos, que o implantando tivesse um motivo pra fazer, fico feliz que esteja curtindo!
Sobre a decisão da jovem, com certeza com a segurança que sentiu ia querer ficar de empregada dele e viver ali, mas ele não aceitaria a situação e muito menos quer ter um "alvo" chamando a atenção para as pessoas que vivem ao redor, ou seja, os inocentes como ele diz... Ainda temos muito a apresentar sobre o olhos amarelos e sobre a jovem, em pouco entenderás melhor a situação e poderá ver este episódio de hoje com mais clareza, mas é fato que ficar ali ela não poderia... Assim, só sobrou a opção de seguir com ele afinal era mais tempo protegida, sensação que ela curtiu e, quem sabe ele muda de ideia, ela tá pensando... Enfim, deixarei para os episódios revelarem senão já conto tudo aqui kkkkk
Sim, não quis revelar nomes ainda porque não se apresentou oportunidade para tal, tipo, os momentos que eles tiveram juntos não era para apresentações, visto que haviam coisas mais urgentes à serem resolvidas antes de formalidades, sem falar que o nosso anfitrião não é dado à formalidades, já pudemos perceber... Bom, o que posso dizer é que aguarde e confie, em breve tudo se explica!
Muito obrigado pelas palavras e pelo apoio cara, fico muito feliz que esteja curtindo e espero que eu possa continuar à surpreender ao ponto de termos mais uma saga acompanhada por todos vocês! Um grande abraço e obrigado pela parceria de sempre! \0/
Concordo com o comentário do Norberto .
ResponderExcluirNão entendo porque não entrou no Mind 3000.
Na minha opinião, tem tudo a ver .
O episódio em si, foi fabuloso, aliás, normal , vindo do Lanthys.
Tudo é épico! Majestoso!
O indomável ao mesmo tempo que é um "prestador de serviços", como ele mesmo diz , tem seu código de ética próprio.
Está sendo muito bem construído.
Gostei da narrativa da jovem e seu dilema.
Muito bom!
Sinceramente, não espero estar vivo para vivenciar um cenário como este , mostrado na saga .
Creio que não me adaptaria e seria um dos primeiros a morrer.
Um mundo sem valores, seria algo insuportável pra mim .
Ao me colocar no lugar dos personagens que vivem essa realidade, senti o drama.
Só essa reflexão, vale o capítulo!
Parabéns, meu amigo !
Grande Jirayrider, mais uma vez obrigado por estar lendo minha obra e me apoiando e incentivando como sempre fez! Indomável é um personagem e uma aventura como nunca tentei antes então espero que eu não perca o foco e nem que tu perca o gosto pela aventura!
ExcluirSobre o MindStorm 3000, Indomável não se encaixa, apesar do cenário similar, porque pretendo criar coisas e situações que não existe em uma cenário Cyberpunk, assim sendo, se eu ficasse no Mind 3000, eu estaria limitado em certos aspectos não podendo fazer surgir temas e acontecimentos pelo simples fato de não fazerem parte desse cenário! Então criei o Cyber Chronicles, cenário apocalíptico, com inclusão do Cyberpunk mas que pode conter desde misticismo e magia até extraterrestres e situações similares, uma simples tentativa de ter mais liberdade com a escrita e evitar que meus acontecimentos aqui influenciam ou causem problema à qualquer outra ideia dentro do MindStorm 3000, entende?
Quanto ao "olhos amarelos" e a "jovem", isso será trabalhado bem lentamente pois esse assunto é digamos, o foco principal da trama e eu quero ser bem cuidadoso com o que revelar e quando revelar! Terás grandes surpresas eu creio, uma delas virá pelo quinto episódio se minhas contas estiverem certas, mas claro que em cada capítulo, "coisas" vão sendo ditas ou mostradas que irão te conduzindo ao mistério que existe por detrás desses acontecimentos atuais... Ela não entende porque se afeiçoa à ele... Seria porque é o primeiro que a protegeu? Ou ela tem algum trauma que a fez sentir assim? E ele, um cara tão "lobo solitário", sentiu algo nela nostálgico que ainda não soube explicar e agora, se sente impelido à ajudar a mesma... O que se esconde por detrás dessa trama? Estaria alguém influenciando os dois sem que percebessem? OU tem mais coisas aí? Be prepared, se tudo der certo, eu trarei boas novas em breve!
No mais, meu muito obrigado pela leitura, pelo incentivo, pelo apoio e pela palavra amiga de sempre, que desperta minhas melhores capacidades de escrita e me fazer querer escrever mais e melhor sempre! Grande abraço meu amigo, força, foco e fé! \0/
Caraca velho!! Que coisa linda de se ver. Que texto bom de se ler. Vi as cenas como um filme na minha cabeça. Ainda fica meio nebuloso o estilo do nosso 'Heroi'. O que ele é e o por que ele faz o que faz, mas a personagem em questão dessa vez acaba sendo a 'Moça'. Ainda sem nome, sem destino e sem rumo, é a ela que nossa mente é apresentada. Uma pessoa completamente perdida que infelizmente não tem muitas opções de viver uma vida melhor. Para todos os lados que ela olhe, seu destino é tortuoso, ou será usada como escrava sexual de alguem, ou passara a vida fugindo de mercenários e compradores por ser uma genesis, ou ainda voltar a vida que tinha que ja devia ser o inferno na terra a ponto dela decidir de próprioa vontade ser vendida para outra pessoa(ou alguma situção inesperada a forçou a decidir assim). O que da pra saber é que nosso heroi deu a opção a ela, respeitou a decisão e estará ao seu lado nessa jornada até o momento de entregá-la a seu comprador.
ResponderExcluirApenas uma opção ela não cogitou. Lutar por si própria. Aprender a se defender dentro desse mundo cruel ao qual ela se encontra. Porém, não há como julgar. Talvez, se entregar a aquele que a comprou possa ser a maneira dela de lutar e manter mais vidas intactas, talvez ela ache que assim ninguém mais precise morrer.
Enfim, parabéns Lanthis pelo texto. A cada paragrafo você consegue nos submergir mais e mais ao novo universo, nos desvencilhando da realidade e nos impondo um novo mundo cheio de mistérios.
Observação: Desculpe a demora em ler.
Grande abraço!!
Grande Rodrigo, nada à se desculpar meu velho, importante é que tu leu e melhor ainda que tu gostou! Indomável tá sendo único pra mim pois é algo fora de qualquer eixo do que já escrevi e tem uma conduta de acontecimentos totalmente ainda não programado, digo, algumas coisas estão cogitadas e preparadas, mas definido mesmo, 100%, nada ainda temos! O Indomável tem vários segredos e mistérios ainda à se mostrar, assim como a jovem, e as ponderações que tu fez são bem interessantes pois, muitos dos personagens em Indomável estão interligados de forma que tu não imagina, então vários deles escondem segredos que estão alinhavados e serão mostrados mais à frente... Existe um início, meio e fim, e um esqueleto mór já preparado, mas os detalhes que levarão os leitores até esses detalhes, esses ainda são surpresas até pra mim, por isso, esteja preparado para muita surpresa! Um cuidado especial que estou tendo é em contar aos poucos, os porquês de muitas coisas, personalidades, atitudes, capacidades, entre tantos outros... Uma coisa posso te garantir, não deixarei nenhuma explicação sem justificativa, pode contar comigo! Agradeço pela leitura, pelo apoio e incentivo de sempre e que Indomável continue a te cativar com sua jornada através do ano 3075! \0/
ExcluirAh, meu amigo. Isso tinha que entrar no Mindstorm 3000 sim.
ResponderExcluirEssa obra é maravilhosa. O caçador e um personagem frio, pragmático e até cruel. Tradicional num cenário até moderno e de trevas.
Entendi que você quer inserir novos elementos,mas acho que merecia ir pro 3000.
Aplaudo de pé a sua obra.