O carro ia chegando calmamente diante da casa bastante tradicional ao estilo daquele país… Edward Hench, psicólogo formado e atuante há mais de cinco anos considerava que a cidade era boa, a vizinhança era boa, qualquer um se sentiria em um paraíso ao morar na pequena Ligonier, Pennsylvania… No entanto, não era o que aquela família vivia no seu dia a dia, por longos dois anos ele queria ajudá-los…
O psicólogo então desliga o motor do carro após alguns segundos observando a residência e se prepara para mais uma sessão triste, afinal, lidar com as emoções de uma criança em depressão não era algo fácil… Sem dúvida a psicologia era a carreira que escolheu e amava, mas ainda assim, alguns atendimentos eram tão intensos que acabavam por cobrar o preço por tal escolha… Separar o sofrimento dos outros dos próprios, ainda era difícil para Edward, porém ele seguia firme em seu propósito de ajudar sempre…
Ele desce do veículo seguindo em direção à casa, pronta e cordialmente é recebido pelos pais Adam e Loraine que o acompanham à sala de estar onde o chá estava servido aguardando a todos! Logo o filho caçula de nove anos, Robert, descia as escadas bastante abatido como era de costume, cumprimentando a todos e seguindo para sua poltrona preferida do ambiente… O casal se olha e então observam o psicólogo, todos entendiam o motivo da tristeza de Robert e estavam dispostos a tudo para ajudar o pequeno a superar a tragédia que a família vivia atualmente… Edward então, percebendo que Robert já estava acomodado, inicia a sessão em grupo tentando não prolongar aquilo por muito tempo:
“- E então Robert, há algo que queira nos contar hoje para iniciarmos nossa conversa?”
O pequeno então olha para todos e uma lágrima escorre por seu olho direito, no mesmo instante em que inicia a falar: “- Acho que nada de novo senhor Edward… Já contei isso tantas vezes, mas continua o mesmo de sempre, eu simplesmente odeio quando meu irmão Robbie tem que ir embora… Papai e mamãe me explicam sempre que ele está muito doente, que tenho sorte por ter um cérebro em que todas as substâncias químicas vão para onde devem ir direitinho, como um rio que segue seu curso. Quando reclamo que estou entediado sem um irmãozinho com quem brincar, eles tentam me fazer sentir bem dizendo que ele está muito mais entediado do que eu, já que está confinado a um quarto escuro em um hospício. Eu sempre imploro para que lhe deem uma última chance e algumas vezes sou atendido, como foi no verão passado, foram os dias mais felizes da minha vida… O Robbie voltou para casa várias vezes e eu me diverti muito nesse tempo, mas infelizmente, cada vez que ele vinha durava menos do que a anterior e toda vez, sem falta, começava tudo de novo. Os gatos dos vizinhos apareciam na caixa de brinquedos dele com os olhos arrancados, encontramos as lâminas de barbear do meu pai no escorregador no parquinho do outro lado da rua, as vitaminas da mamãe são trocadas por tabletes de detergente da máquina de lavar louças, nosso canário, ou o que restou dele amanheceram no micro-ondas e alguém empurrou a escada do senhor Louies que estava podando a árvore e ele veio a morrer com a queda sobre os fios elétricos da casa dele… Meus pais claro, estão mais receosos agora, usando “últimas chances” com moderação. Eles dizem que a condição mental dele o torna charmoso, que fica mais fácil para ele fingir que é normal e enganar os médicos que cuidam dele para que acreditem que ele está pronto para reabilitação. Que eu vou ter que aprender a conviver com meu tédio, se isso significar que estarei seguro longe dele.”
A descarga emocional das palavras do pequeno Robert narrando todos os acontecidos foi forte, foi tensa, foi avassaladora… A mãe Loraine levantou-se do sofá chorando e correu para a cozinha, o pai Adam foi atrás para confortá-la… Edward conteve-se por alguns instantes mas vendo o desespero da mãe, pediu licença à Robert e foi ter com os dois… Enquanto isso, Robbie retira do bolso uma pastilha de detergente da máquina de lavar louças, a observando com o olhar fixo e melancólico, balançando o pequeno item entre a mão, para logo em seguida observar a xícara de chá do psicólogo com um olhar que demonstrava certa alegria… Após alguns segundos, Robert guarda a pastilha de novo no bolso, com uma visão de insatisfação, quase que cochichando logo depois para si mesmo… “ - Odeio quando o Robbie tem que ir embora… Eu tenho que fingir que sou bonzinho até ele voltar outra vez…”
FIM
Uou! Mandou muito bem nesse novo conto cara!
ResponderExcluirA narrativa seguiu de forma perfeita, assim que vi a forma como o pequeno Robert começou a falar eu já saquei que o menino realmente tinha problemas, e não eram poucos problemas, mas essa cena final...
Cara, um tapão na orelha como dizem por aqui.
Foi um conto curto cirúrgico e perfeito pois, se fosse desnecessariamente prolongado perderia o impacto final.
Mandou bem demais cara!!
Fico muito contente que tenha curtido Norb, como sempre digo, essa não é minha praia, mas o exercício é muito válido pra tornar a gente mais capaz de escrever qualquer coisa, então, bora se esforçar pra melhorar sempre! Fico feliz de ter acertado a mão, prometo caprichar cada dia mais, muito obrigado meu amigo! \0/
ExcluirGrande Lanthys !
ResponderExcluirComeçaste bem o ano !
Tudo levava a crer que o problema era o menino do hospício ,a qual seu irmão sentia falta.
Mas,o problema é justamente o irmão mais novo que utiliza a demência do irmão como cortina de fumaça para as suas maldades.
Parabéns !
Surpreendeu !
Realmente escrever um conto de terror não é fácil, tu emocionar as pessoas é mais fácil do que assustá-las então, é complicado, mas, estou fazendo o meu melhor pra poder pelo menos figurar como conto de terror! Leio bastante e tiro ideias para os meus, fico feliz que esteja gostando, espero que eu consiga seguir em frente com esse projeto, muito obrigado Jirayrider! \0/
ExcluirAssim, realmente é bem estranho ler um texto seu que eu não tenha que dividir a leitura em dois ou três dias, mas isso não muda o fato de ser um texto muito bem escrito. Aproveitar o diálago pra explicar coisas para o leitor é algo que eu gosto bastante de fazer. Gosto de imaginar os personagens falando uns com os outros e imaginar todos os trejeitos que eles expressam nas cenas e aqui você manda muito bem com isso. Mas o meu comentário principal para este texto é: "Que muleque filho da puta!". Parabéns pela iniciativa de começar esses contos Lanthis. MAndou muito bem.
ResponderExcluirEita, Rodrigão lendo e comentando meus posts de novo, isso é que é um bom início de ano! \0/ Brigadão Rodrigo, é uma escrita totalmente nova para mim, realmente não é algo fácil de fazer e a todo instante tu pensa "pô, podia aparecer um super aqui e dar um pau em tal criatura", mas preciso me conter kkkk! Sobre os detalhes, é isso que tô buscando melhorar, narrar aquela gota de suor que escorre em silêncio completo e quando cai ao chão denota a posição da pessoa escondida! Fico feliz que tenha curtido, muito obrigado pela leitura e apoio de sempre, grande abraço amigão e valeu pela leitura! \0/
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