sábado, 15 de janeiro de 2022

Perturbador - Caso 03 - Nova moradia...


Sou moradora atualmente de uma região da Rússia que prefiro não indicar, tenho muito medo de ser localizada novamente, não sei como essas… Coisas, agem… Não citarei nomes ou cidades reais para que caso eles estejam entre nós não possam nos identificar uma vez mais, mas… Eu preciso expor meu caso a alguém e talvez, mais alguém tenha passado pelo mesmo e esteja lendo esta postagem neste momento… Como nome fictício eu escolhi Yuliya e se você já passou por isso, saiba, você não está sozinha neste acontecimento, existem mais pessoas com medo assim como você…

Alguns mitos parecem simplesmente mitos, você não acha plausível acreditar em contos de criaturas que assumem formas e matam pessoas ou outros seres… Eu sempre fui cética à esse ponto, para mim, essas coisas não passavam de lendas, nunca existiriam, nunca foram reais porém, depois de certo acontecimento, eu hoje não tenho mais tanta certeza…

Minha babushka contava histórias da Aswang, criatura mítica descrita como uma mistura de vampiro e bruxa. A criatura geralmente aparecia segundo ela em forma feminina, e era canibal assim como devoradora dos mortos ou qualquer coisa que possuísse carne. São capazes de se transformar em enormes cães pretos ou em javalis e alguns dizem que em muitos outros objetos também… Dizia minha babushka que elas tinham preferência por fetos ou crianças, mas de novo, meu ceticismo sempre considerou isso como uma história para assustar crianças que não seguiam ordens dos mais velhos.

Pois bem, depois de quinze anos de matrimônio, vim a descobrir que meu marido tinha uma amante, na verdade outra família, e nenhuma das duas sabia da outra… Quando descobri tudo e os motivos fúteis para tal traição, resolvi deixá-lo seguir junto de sua segunda (ou primeira, já não saberia dizer mais) família e parti para uma vida nova junto de minha pequena filha Layeva (também nome fictício) de apenas cinco anos… Juntos, ela, eu e nosso gato Tovarishch partimos para essa nova morada…

Compramos uma casa pequena, mas confortável e em bom estado, suficiente para nossas necessidades! Não tínhamos móveis em demasia, apenas o básico para nosso dia a dia e com essa praticidade, em pouco tempo estávamos instaladas de novo na nova casa, prontas e felizes para seguirmos novos rumos! Layeva se adaptou à vizinhança muito bem, eu também havia gostado de tudo e parecia que teríamos uma vida tranquila…

Certa noite, eram em torno de vinte e duas horas, creio que mais precisamente na terceira noite que estávamos na casa, minha filha me chamou novamente para dizer que a mesa de cabeceira de cama do quarto dela estava fazendo barulhos estranhos… Eu decidida a resolver isso de vez, subi as escadas pronta para contar para ela que isso seria impossível e quando adentrei ao quarto vi ela apontando para o móvel e ao redor dele, alguns tufos de pelos de nosso gato Tovarishch espalhados ao redor assim como sangue escorrendo de dentro do referido móvel… Minha filha me olhou e disse:

“- Mama… O Tovarishch entrou ali e não saiu mais…”

Eu calmamente sentei ao lado dela, a abracei para que sentisse segurança em mim e disse-lhe com toda tranquilidade que possuía:
“- Está tudo bem meu amor, Tovarishch entrou ali para brincar de se esconder e em breve ele voltará para se divertir com você… Por enquanto, vamos colocar o agasalho e vamos ver a babushka, ela deve ter biscoitos e chocolate quentinhos para você ter sono mais facilmente, venha com a mama!”

Vesti Layeva como podia, desci com ela no colo rapidamente pelas escadas em direção ao nosso carro! Abri a garagem nervosa e com o máximo de controle que consegui me colocar, saímos rapidamente da casa em direção à casa de minha mãe que ficava relativamente próxima, algo em torno de 30 minutos…

Layeva parecia não entender tudo, mas aceitou sem reclamar a saída repentina de casa… Para mim, enquanto a olhava no retrovisor, eu pensava… Não havia outra opção naquele momento, não havia outra maneira de proteger ela e a mim… No entanto... As histórias de minha babushka sobre a Aswang não paravam de martelar em minha cabeça uma vez que nós nunca tivemos uma mesa de cabeceira em nossos móveis…

FIM


4 comentários:

  1. Grande Lanthys !

    Saudações Jirayrideranas...

    Ore, Sanjou!!!!

    Maravilhoso conto onde você nos ensina a grande verdade .

    Não devemos acreditar demasiadamente em tudo mas, também ,não podemos ser céticos radicais .

    Toda a lenda tem um fundo de verdade.

    A protagonista do conto fala por si .


    Quando ela sentiu que o que aconteceu com o gato foi misterioso e cruel , os contos de sua mãe passaram a fazer sentido .


    Só quem passa,sabe!

    Grande lição !

    Adorei ,meu amigo !

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    1. Grande Jirayrider, muito obrigado pela leitura, comentário e apoio de sempre! Pois é cara, parto de um princípio que, toda e qualquer lenda ou criação, parte de algo real ou de algo criado e divulgado que também teve um fundo, mesmo que pequeno de verdade... Como vamos nós, simples mortais saber onde termina a ficção e onde começa a realidade? Yuliya descobriu essa linha perigosa... Grande abraço e obrigado uma vez mais! \0/

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  2. Essa sua nova empreitada, com contos curtos de terror, está se mostrando um acerto incrível!
    A evolução constante, do primeiro até esse, está visível e escancarada.
    Usar a primeira pessoa ajuda muito a gente a imergir na história e a evolução do texto ficou perfeito, o modo como você apresenta a criatura, de forma quase casual, até o ocorrido no final, com a revelação da Yuliya, optando por um final onde não ocorre um simples "jump scare", mas que deixa em aberto e para a imaginação do leitor, o que poderia acontecer depois exemplifica mais a evolução nesse estilo de escrita que vc insiste em dizer que não domina... bom, te digo que, se não domina tá quase lá.
    Meus parabéns por mais esse conto.

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    1. Norb meu grande amigo, incentivador e pessoa na qual me espelho muitas vezes tanto para a veia criativa quando para a disciplina de estudar, me melhorar e consequentemente melhorar minhas criações, mais uma vez obrigado pelo apoio e incentivo! Sim, eu tenho recebido comentários negativos por conta de não concluir a trama, muita gente me diz, "queria ver o que vem depois", mas eu prefiro deixar a imaginação do leitor trabalhar ou mesmo, levar isso a frente em algum outro projeto! Fico contente que a trama de Yuliya e sua filha tenha cativado e espero que os próximos possam ser melhores ainda, fazendo com esse voto de confiança ("se não domina está quase lá"), possa ser alcançado em breve! Gratidão meu amigo, grande abraço! \0/

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